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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

REPARAÇÃO DO CRIVO QUEBRADO

Deixando, pois, as humanidades, resolveu procurar um lugar ermo, seguido apenas pela aia, que o amava com ternura. Chegaram, assim, a certa localidade chamada Enfide, onde, entretidos pela caridade de muitos homens de virtude, ficaram morando junto à igreja de S. Pedro Apóstolo

Um dia, a ama pediu às vizinhas que lhe emprestassem um crivo para limpar o trigo; tendo-o, porém, deixado descuidadamente sobre a mesa, o crivo caiu e quebrou-se, ficando partido em dois pedaços. Logo que voltou e o encontrou nesse estado, a mulher começou a chorar muito, aflita por ver quebrada a vasilha que tomara por empréstimo. Quando, porém, o piedoso e bondoso jovem Bento encontrou a ama chorando, compadecido pela sua dor, pegou nos dois cacos do vaso e, levando-os consigo, se entregou à oração com lágrimas. Quando se ergueu da oração, viu junto de si o crivo de tal forma íntegro que nenhum vestígio se podia descobrir da fratura. Então, pronta e carinhosamente consolou a ama, devolvendo-lhe inteiro o vaso que levara em cacos.

Este fato passou ao conhecimento de todos os habitantes do lugar, e foi tido com tanta admiração que penduraram à porta da igreja o crivo restaurado, a fim de que os contemporâneos e os pósteros todos ficassem sabendo em que grau de perfeição o jovem Bento principiara a graça da vida monástica. A vasilha ficou por muitos anos exposta aos olhares de todos, pendendo à porta da igreja até aos tempos dos Lombardos.

Bento, porém, mais apetecendo os maus tratos que os louvores do mundo, e preferindo fatigar-se de trabalhos por Deus a ser alçado pelos favores desta vida, fugiu ocultamente da ama e foi dar a um retiro deserto no lugar denominado, distante de Roma cerca de quarenta milhas. Aí brota uma água fresca e transparente que, correndo com abundância, primeiro forma um grande lago, do qual deriva, afinal, um rio.

Quando para ali se encaminhava em fuga, encontrou certo monge de nome Romano, que lhe perguntou para onde ia. Ciente do seu desejo, não só guardou segredo mas ainda lhe prestou ajuda e lhe deu o hábito do monacato, servindo-o no que podia.

Chegado a tal lugar, o homem de Deus recolheu-se à apertadíssima gruta, onde morou três anos ignorado por todos, excetuando o monge Romano. Este último vivia num mosteiro próximo, sob a regra do abade, a cujo olhar piedosamente furtava algumas horas para levar a Bento, em determinados dias, a parte do pão que conseguia subtrair ao próprio consumo. Não havia caminho do mosteiro de Romano ate a gruta, por causa do alto rochedo que por cima da gruta fazia saliência; mas Romano, do alto dessa pedra, costumava fazer descer o pão pendurado numa corda comprida à qual prendera uma campainha para que o homem de Deus, ao ouvir o toque, soubesse que era a hora de baixar o alimento, e saísse para tomá-lo.

Um dia, porém, o antigo inimigo, invejando a caridade de um e a refeição do outro, quando viu descer o pão, atirou uma pedra e quebrou a campainha. Romano, não obstante, não desistiu de prestar por meios aptos o seu serviço.

No entanto, Deus todo-poderoso queria, de um lado, descansar Romano do trabalho, e, por outro lado, exibir aos homens, para exemplo, a vida de Bento, a fim de que brilhasse como lâmpada sobre o candelabro, iluminando todos os que estão na casa. Por isso, o Senhor dignou-se de aparecer a certo presbítero que morava longe e acabava de preparar, no dia de Páscoa, a própria refeição; disse-lhe: "Preparas delícias para o teu próprio gozo, enquanto o meu servo em tal lugar é atormentado pela fome'." O sacerdote levantou-se imediatamente e no próprio dia da solenidade da Páscoa, com os alimentos que para si preparara, saiu na direção indicada, procurando o homem de Deus através dos montes escarpados, pelos vales e fossas do terreno, até que o achou escondido na gruta. Depois de rezarem, assentaram-se bendizendo a Deus todo-poderoso; após suaves colóquios sobre a vida eterna, o recém-chegado disse estas palavras: "Eia, tomemos alimento, porque hoje é Páscoa." Respondeu-lhe o homem de Deus: "Sei que é Páscoa, pois mereci a graça de te ver". Morando longe dos homens, Bento ignorava que a solenidade pascal era naquele dia; mas o venerável presbítero de novo lho asseverou: "Em verdade hoje é Páscoa, o dia da Ressurreição do Senhor. De modo nenhum te fica bem jejuar, pois aqui fui mandado justamente para que juntos partilhemos as dádivas de Deus todo-poderoso". Louvando, pois, o Senhor, tomaram alimento; e, finda a refeição e o colóquio, voltou o padre para a sua igreja.

Por esse mesmo tempo também alguns pastores o encontraram escondido na caverna. Vendo-o entre os arbustos, vestido de peles, julgaram a principio que fosse um animal selvagem; mas, quando ficaram a conhecer o servo de Deus, muitos se converteram da sua mente animal para a graça de uma vida piedosa. Assim o nome de Bento tornou-se conhecido pelos arredores; já desde então, Bento começou a ser visitado por muitos, que, trazendo-lhe a refeição para o corpo, levavam em troca nos corações, o alimento de vida que procedia dos lábios do santo.

Publicada por Manuel Figueiredo, in http://historiaselendasdomundo.blogspot.com.br/2010/01/reparacao-do-crivo-quebrado.html.

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