Sobre a Beatificação
e Canonização de Pio X
I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO.
E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO
DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PETRÓPOLIS.
FREI DESIDÉRIO KALVERKAMP, O. F. M.
PETRÓPOLIS, 15-5-1958.
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO.
E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO
DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PETRÓPOLIS.
FREI DESIDÉRIO KALVERKAMP, O. F. M.
PETRÓPOLIS, 15-5-1958.
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- BEATIFICAÇÃO DE PIO X
- I. Breve Quoniam, de Beatificação de Pio X, de 3-VI-1951; II. Discurso na tarde do mesmo dia 3-VI-1951 à multidão de fiéis aglomerada na Praça de S. Pedro, no ato de veneração de Pio X;
- CANONIZAÇÃO DE PIO X
- III. Discurso quando da Canonização, 29-V-1954.
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BEATIFICAÇÃO DE PIO X
O Santo Padre Pio X foi elevado às honras dos altares em solene cerimônia celebrada na Basílica do Vaticano, em 3 de junho de 1951. Arquivamos a versão portuguesa do Breve Quoniam, pelo qual lhe foi reconhecido o título e o culto de Beato, e a do discurso que Sua Santidade Pio XII dirigiu na tarde do mesmo dia à multidão de fiéis aglomerada na Praça de S. Pedro, no ato de veneração ao seu glorioso Predecessor.
I. Breve Quoniam, de Beatificação de Pio X, de 3-VI-1951:
1. Porque “Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo para a santificar” (Ef 5, 25), nunca faltaram nem poderão faltar, entre os fiéis, os que se avantajem aos outros em virtude, de modo que os seus exemplos sejam propostos à imitação. Por isso, em todos os tempos, uma nobilíssima falange de Santos e de Bem-aventurados, ingente multidão “que ninguém pode contar, de todas as nações e tribos e línguas” (Apoc 7, 9), homens e mulheres de todas as idades e condições, não cessarão de acrescer a beleza e multiplicar a alegria da Esposa de Cristo, até à consumação dos séculos.
2. A essa fulgidíssima falange até a Nós, que, embora sem méritos, estamos ao leme da Barca de Pedro em tempos tão procelosos, concedeu o benigníssimo Senhor que, especialmente no passado Ano Santo, acrescentássemos muitos ilustres heróis, cujo triunfo celebramos com grande alegria do Nosso espírito. Mas aprouve à suavíssima clemência de Deus conceder hoje ao Vigário de Cristo na Terra uma graça que, há mais de dois séculos, isto é, desde o ano de 1712, em que Pio V foi inscrito no cânone dos Santos por Clemente XI, não foi concedida a nenhum dos Nossos Predecessores: poder agregar ao número dos Bem-aventurados outro Sumo Pontífice, um Pontífice que Nós próprio conhecemos, cujas exímias virtudes admiramos de perto, ao qual prestamos dedicada e devotamente a Nossa colaboração — Pio X.
3. Nasceu Ele na humilde aldeia de Riese, na diocese de Treviso, a 2 de junho de 1835, filho de João Batista Sarto e Margarida Sanson, ambos de condição humilde, mas ilustres pela honestidade e virtude antiga, aos quais Deus circundou de uma coroa de dez filhos. Batizado no dia seguinte, recebeu o nome de José Melchior. Menino de índole vivaz e alegre, sob a direção da sua estilosíssima mãe distinguiu-se de tal modo na piedade que o pároco da freguesia não duvidou proclamá-lo “a mais nobre alma” da paróquia. Depois de completar os estudos elementares na escola local, levado pelo seu grande desejo de estudar mais, frequentou os estudos secundários, dirigindo-se para isso todos os dias, durante quatro anos, muitas vezes de pés descalços, ao próximo povoado de Castelfranco. Recebeu o Sacramento da Confirmação em 1º de setembro de 1845, e fez a Primeira Comunhão em 6 de abril de 1847 e, como mostrasse constante vontade de abraçar o estado eclesiástico, em setembro de 1850 mereceu ver satisfeito o seu ardente desejo de receber as vestes talares e em novembro seguinte, mercê do interesse do Cardeal Tiago Mônico, Patriarca de Veneza e seu patrício, entrou, radiante de alegria, no prestigioso Seminário de Pádua. Quanto aí progrediu em piedade e doutrina pode facilmente deduzir-se do seguinte testemunho dos superiores daquele Seminário: “a nenhum inferior em disciplina, de grandíssima inteligência, de suma memória, de máxima esperança” (Arquivo do Sem. de Pádua). Os fatos confirmaram plenamente a previsão. Ordenado sacerdote na igreja principal de Castelfranco em 18 de setembro de 1858, alguns dias depois celebrou solenemente a Missa-Nova (não se trata da missa protestantizada de Paulo VI, por óbvio) na terra natal, em meio da maior alegria dos seus, sobretudo da sua digníssima mãe, bem como de todos os conterrâneos. No mês de novembro, foi nomeado coadjutor do piedosíssimo pároco de Tômbolo, cuja saúde era bastante precária. Imediatamente, aquele venerando sacerdote e os paroquianos, quase todos agricultores, experimentaram e admiraram os egrégios dotes do jovem coadjutor, a sua humildade, pobreza, jovialidade, zelo assíduo em auxiliar de todos os modos o próximo e, além disso, a sua invulgar perícia na pregação. O Bispo de Treviso, ao conhecer estas excelentes qualidades, em 1867 escolheu José Sarto para reger a paróquia mais importante de Salzano. E aí se revelou cada vez mais em quanto amor de Deus e do próximo ele se distinguia pela suavidade de caráter, mansidão, modéstia, amor da pobreza, especialmente durante a terrível peste do ano de 1873.
4. Passados nove anos em Salzano, foi nomeado Cônego da Catedral de Treviso, Chanceler da Cúria Episcopal e ainda Diretor espiritual do Seminário. Estes cargos tão honrosos como cheios de responsabilidade, e só aceitos por obediência, pois detestava honrarias e dignidades, exerceu-os com a costumada diligência e perícia, ele que sempre foi inimigo declarado da ociosidade. Em 1879, ficando vaga a Sé de Treviso, foi eleito por unanimidade de sufrágios Vigário Capitular. E também neste ofício deu tais provas de prudência e competência que, em 1884, com aplauso universal, embora contra sua própria vontade e vã relutância, foi nomeado Bispo de Mântua.
5. Sagrado nesta cidade de Roma, na igreja de Santo Apolinário, a 16 de novembro, entrou na diocese em abril do ano seguinte, para logo começar a difundir com maior profusão os tesouros de generosidade da sua alma a favor do novo rebanho místico confiado aos seus cuidados, “fazendo-se tudo para todos” (1 Cor 9, 22), a fim de conquistar a todos para Cristo e prover às muitas e graves necessidades da Igreja Mantuana. Deve recordar-se, antes de mais, o seu ardentíssimo zelo para que os Seminaristas, como o requeriam os tempos e as circunstâncias, fossem convenientemente educados, para que as associações católicas fossem verdadeiramente ativas e fosse acrescido o decoro da Sagrada Liturgia. Desde então, desapareceram desconfianças e inimizades, arrancaram-se vícios muito inveterados, suprimiram-se escândalos, restaurou-se o cumprimento dos mandamentos de Deus, cresceu maravilhosamente a fé, reforçou-se a honestidade dos costumes. Que admira, pois, que entre os Mantuanos o Bispo José Sarto gozasse fama da santidade, ele que, movido unicamente pela ardentíssima caridade cristã, costumava não só distribuir aos numerosíssimos pobres dinheiro, alimentos e vestuário, mas até beijar-lhes de joelhos os pés?
6. Leão XIII, de gloriosa memória, que tinha grande estima e singular afeto ao Bispo de Mântua, no Consistório de 12 de junho de 1893, alistou-o entre os Cardeais e, três dias depois, nomeou-o Patriarca de importante Igreja de S. Marcos de Veneza, a fim de que se visse claramente que a honra da Púrpura Cardinalícia, mais do que à Sé, embora digníssima, se conferia ao homem de méritos excepcionais.
7. A maravilhosa cidade, Rainha do Adriático, que há tanto esperava um novo Patriarca, recebeu-o com enorme júbilo e universal aplauso em 24 de novembro de 1894, e logo os Venezianos de todas as condições foram conquistados pela sua afabilidade e virtude. Realmente, excetuadas as vestes e os distintivos próprios da dignidade cardinalícia, nada mudou na vida íntima e nos usos do Servo de Deus. A mesma humildade e desprezo de si próprio, o mesmo amor à pobreza e ao trabalho, o mesmo ardentíssimo e constante zelo pela glória de Deus e salvação das almas.
8. Como em Mântua, assim em Veneza se preocupou antes de mais com restaurar a disciplina e promover a santidade do Clero, renovar e fomentar a piedade do povo e a prática das virtudes cristãs, restaurar a dignidade das sagradas cerimônias e do canto eclesiástico, reformar os costumes, abolir abusos, reivindicar com suavidade e fortaleza os direitos da Igreja.
9. Falecido Leão XIII em 1903, o Cardeal José Sarto, a 4 de agosto do mesmo ano, foi elevado ao fastígio do Sumo Pontificado que aceitou, com relutância e com lágrimas, “como uma cruz”, tomando o nome de Pio X. Estabelecido na Cadeira de São Pedro, vendo o que exigia o bem da Religião e o que reclamavam os tempos, tomou como lema do seu pontificado esta sublime e insigne divisa: instaurare omnia in Christo. O Servo de Deus, tendo experimentado que nada poderia contribuir mais eficazmente para a renovação dos homens em Cristo do que a vida do Clero, esforçou-se com particular empenho por que todos os chamados para o serviço do Senhor se distinguissem pela piedade, ciência e obediência.
10. Por isso é que na primeira Carta Encíclica “E supremi” quis abrir a sua alma ao Clero, exortando-o vivamente a só se compenetrar das coisas celestes e só a estas procurar. Volvendo particulares cuidados para os Seminários da Itália, deu-lhes nova organização e favoreceu neles muitíssimo o estudo das ciências sagradas e profanas; excitou os cultores da filosofia cristã a pugnarem pela verdade tomando por guia S. Tomás; erigiu em Roma o Instituto Bíblico e, por ocasião do seu cinquentenário sacerdotal, numa suavíssima exortação, estimulou todo o Clero a observar diligentemente os deveres do próprio ministério. Mandou reunir as leis da Igreja, até então dispersas por muitos volumes, em um corpo adaptado às condições do tempo e reorganizou a Cúria Romana para que se tornasse mais rápido o expediente dos serviços.
11. Preocupado ao máximo com a eterna salvação das almas, providenciou para que fosse devidamente ensinado o catecismo às crianças e adultos; estabeleceu sábias normas para a pregação; ordenou que a música sacra se conformasse com a majestade das sagradas funções. Fautor da santidade e da inocência, inspirado pelo amor divino, introduziu o uso da Comunhão frequente e até cotidiana e estabeleceu que as crianças se aproximassem da Primeira Comunhão desde os mais tenros anos; além disso, alimentou e acendeu em todos os filhos da Igreja maior amor ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Mestre infalível da fé, na memorável Encíclica “Pascendi” denunciou e reprimiu com o necessário rigor doutrinas que formavam uma triste síntese de todos os erros.
12. Acérrimo defensor da Religião e fortíssimo guarda da liberdade da Igreja de Cristo, cônscio do seu ofício pastoral, aboliu o chamado Veto civil na eleição do Pontífice Romano; repudiou impavidamente as leis da separação do Estado da Igreja; à França, afligida pela perseguição, deu novos Bispos, e resistiu à audaciosa erupção da malícia dos homens. Para defesa da Religião, restaurou a disciplina da Ação Católica e tornou-a mais sólida; deu novo desenvolvimento à ação social dos católicos: conduziu com sapientíssimas leis as associações operárias para o caminho religioso; reforçou as Ordens Religiosas com mais oportunas normas jurídicas.
13. A fim de promover e preservar a fé cristã, erigiu em Roma novas paróquias e fomentou por todas as formas a vida paroquial; proveu às múltiplas necessidades das Dioceses; difundiu no mundo a palavra de Deus com a missão de arautos do Evangelho; empregou todos os esforços para reconduzir à unidade da Igreja os Orientais dissidentes e, como verdadeiro Pai amantíssimo dos pobres e dos órfãos, nunca deixou de atender a quaisquer desgraças do seu povo.
14. Não vencido pelo trabalho, mas esmagado de acerbíssima dor por causa da infeliz e cruel guerra europeia declarada nesses dias, começou a sentir-se mal em 15 de agosto de 1914 e, tendo-se agravado rapidamente a doença, no dia 19 chegou ao extremo. Confortado com todos os Sacramentos da Igreja, a 20 do mesmo mês trocou placidamente a vida mortal pela eterna, chorado por todo o mundo católico e logo proclamado Santo, como a primeira e a mais nobre vítima da guerra que já se alastrava com furor. Celebradas solenes exéquias na Basílica de S. Pedro a 23 de agosto, foi sepultado nas Grutas Vaticanas, no lugar que em vida tinha escolhido para o seu túmulo. O povo católico considerava-o imediatamente, à conta das exímias virtudes que lhe tinham adornado a vida, como intercessor junto da Majestade Divina.
15. Por isso, muitos Cardeais, Arcebispos e Bispos, Vigários e Prefeitos Apostólicos, associações piedosas e sobretudo agremiações da Ação Católica, Universidades católicas e fiéis de todas as condições pediram instantemente a esta Sé Apostólica que se decretassem as honras dos Bem-aventurados a esse ilustre Pai da família cristã. E pareceu que Deus confirmou com milagres esta crescente fama de santidade.
16. Portanto, depois dos processos ordinários, começou a tratar-se da causa de beatificação do Venerável Servo de Deus Pio X junto da Sagrada Congregação dos Ritos, tendo Nós assinado por mão própria a Comissão de Introdução a 12 de fevereiro de 1943. Concluído tudo o que devia tratar-se em tal juízo, iniciou-se a discussão acerca das virtudes cardeais e teologais do Servo de Deus, que, depois de apuradas investigações e provas e das costumeiras sessões, por decreto publicado a 3 de setembro do mesmo ano Nós declaramos terem atingido grau heroico. Passando-se depois ao exame dos milagres que se diziam operados por intercessão daquele Venerável Pastor da Igreja, e dos quais se tratou nas Congregações Antepreparatória, Preparatória e finalmente Geral, celebradas na Nossa presença a 30 de janeiro de 1951, Nós, consideradas atentamente todas as coisas, declaramos constar a verdade de dois desses milagres e promulgamos o respectivo decreto a 11 de fevereiro deste mesmo ano.
17. Restava apenas um exame: se o Servo de Deus poderia seguramente (tuto) alistar-se entre os Bem-aventurados. Esta dúvida foi proposta pelo Nosso Venerável Irmão Clemente Mícara, Cardeal da Santa Igreja Romana, Bispo de Velletri, Pró-Prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos e Ponente ou Relator da Causa, na Congregação Geral celebrada na Nossa presença no dia 20 do mesmo mês e ano. Todos os presentes, quer os Cardeais pertencentes à S. Congregação dos Ritos, quer os Prelados Oficiais e os Padres Consultores, deram unânime resposta afirmativa.
18. Nós, porém, em assunto de tamanha importância diferimos o Nosso parecer, a fim de que, ao proferirmos tão grave sentença, Deus, a quem invocamos em fervorosas preces, Nos assistisse com especialíssimo auxílio. Enfim, no dia 4 do mês de março deste ano de 1951, chamados expressamente por Nós o referido Cardeal Pró-Prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, o Venerável Irmão Afonso Carinci, Arcebispo titular de Seleucia na Isáuria, Secretário da mesma S. Congregação, bem como o dileto filho Salvador Natucci, Promotor Geral da Fé, depois de termos piedosamente celebrado o Sacrifício Eucarístico, declaramos que se podia com segurança (tuto) proceder à solene Beatificação do Venerável Servo de Deus o Papa Pio X.
19. Sendo assim, Nós, satisfazendo os votos da Igreja Universal, por força desta Carta e pela Nossa autoridade Apostólica, permitimos que o Venerável Servo de Deus o Papa Pio X seja doravante chamado Beato, e que o seu corpo e relíquias, não podendo todavia ser levados em procissão, sejam expostos à veneração pública dos fiéis, e permitimos ainda que as imagens do mesmo Beato sejam adornadas de raios. Concedemos, além disso, pela mesma Nossa autoridade, que do novo Beato se recite anualmente o Ofício do Comum de um Sumo Pontífice com lições próprias por Nós aprovadas, e se celebre Missa do mesmo Comum com a oração própria aprovada, segundo as rubricas do Missal e do Breviário Romano. Porém, apenas permitimos a recitação do dito Ofício e a celebração da Missa na diocese de Treviso, onde nasceu o Bem-aventurado, nas de Mântua e de Veneza, onde exerceu santamente o ministério episcopal, e enfim na de Roma, onde como Bispo da Igreja Católica e Supremo Pastor da grei cristã terminou os seus dias. Permitimos esse Ofício a todos os que são obrigados a recitar as Horas canônicas, e, quanto à Missa, concedemo-la a todos os sacerdotes, quer do clero secular, quer do religioso, que vão celebrá-la nas igrejas ou capelas em que se faça a festa do mesmo Bem-aventurado.
20. Finalmente, permitimos que as solenidades da Beatificação do Venerável Papa Pio X, segundo as normas litúrgicas, se possam celebrar nas referidas igrejas e capelas, em dias que forem designados pela legítima autoridade eclesiástica, dentro dum ano desde que forem celebradas na Sacrossanta Patriarcal Basílica Vaticana. Sem que obstem, etc.
Dado em Roma, junto de S. Pedro, sob o anel do Pescador, no dia 3 do mês de junho, Domingo dentro da Oitava do Sagrado Coração de Jesus, ano de 1951, décimo terceiro do Nosso Pontificado.
PIO XII PAPA.
II. Discurso na tarde do mesmo dia 3-VI-1951 à multidão de fiéis aglomerada na Praça de S. Pedro,no ato de veneração de Pio X:
1. Uma alegria celestial inunda o Nosso coração; um hino de louvor e de gratidão ao Onipotente irrompe dos Nossos lábios, por o Senhor Nos ter concedido elevar às honras dos altares o Nosso Bem-aventurado Predecessor, Pio X. É também alegria e reconhecimento de toda a Igreja, que vós visivelmente representais, diletos filhos e filhas, reunidos aqui sob os Nossos olhos como um mar vivo, ou que, espalhados pela superfície da terra, Nos escutais na exultação deste dia bendito.
2. Realizou-se um anelo comum. Deste os tempos da sua piedosa morte, enquanto ao seu túmulo se dirigiam sempre numerosas e devotas peregrinações, de todas as Nações afluíam súplicas a implorar a glorificação do imortal Pontífice. Elas emanavam dos mais elevados graus da Hierarquia eclesiástica, do Clero secular e regular, de todas as classes sociais e especialmente das mais humildes, entre as quais ele próprio tinha nascido como flor puríssima. E eis que estes anelos são ouvidos; eis que Deus, nos arcanos desígnios da Sua Providência, escolheu o seu indigno sucessor, para satisfazê-los e fazer resplandecer, nesta triste penumbra que ofusca o caminho ainda incerto do mundo de hoje, o fulgente astro da sua branca figura, a fim de traçar o caminho e firmar os passos da humanidade transviada.
3. Mas, enquanto a alegria de que o Nosso coração transborda nos impele irresistivelmente a cantar nele as maravilhas de Deus, a Nossa voz hesita, como se as palavras devessem faltar-Nos, insuficientes como são para exaltar dignamente, ainda que em rápidos quadros, a vida e as virtudes do Sacerdote, do Bispo, do Papa, na prodigiosa ascensão desde a pequenez da aldeia natal e desde a humildade do nascimento aos cumes da grandeza e da glória sobre a terra e no céu.
4. Desde há mais de dois séculos não se tinha elevado sobre o Pontificado romano um dia de esplendor comparável a este, nem tinha vibrado com tal veemência e concórdia a voz a cantar hinos de todos aqueles para os quais a Cátedra de Pedro é a rocha sobre a qual ancorou a sua fé, o farol que conforta a sua indefectível esperança, o vínculo que os firma na unidade e na caridade divina.
5. Quantos, também de entre vós, conservam viva no seu espírito e no seu coração a lembrança do novo Bem-aventurado! Quantos reveem em pensamento, como o revemos Nós próprio, aquele rosto em que transparecia uma bondade celeste! Quantos o sentem perto, muito perto de si, a este Sucessor de Pedro, este Papa do século vinte, que no formidável furacão provocado pelos que negam a Cristo e pelos seus inimigos, soube demonstrar desde o princípio uma consumada experiência no manejo do leme da barca de Pedro, e que Deus chamou a Si, quando já, violenta, bramia a tempestade! Que dor, que desânimo, ao vê-lo desaparecer, no auge da angústia de um mundo revolto!
6. Mas eis que a Igreja o vê hoje reaparecer, não já como um piloto lutando afanosamente em direção à barra contra os elementos desencadeados, mas como um Protetor glorioso, que do céu a envolve com o seu olhar protetor, em que brilha a aurora de um dia de consolação e de força, de vitória e de paz!
Virtudes do Beato Pio X.
7. Quanto a Nós, que estávamos então no início do Nosso sacerdócio, já ao serviço da Santa Sé, não poderemos jamais esquecer a Nossa intensa comoção, quando, ao meio-dia daquele 4 de agosto de 1903, da Loggia da Basílica Vaticana a voz do Cardeal Primeiro Diácono anunciou à multidão que aquele Conclave — tão importante sob tantos aspectos! — tinha dirigido a sua escolha para o Patriarca de Veneza, José Sarto.
8. Foi então pronunciado pela primeira vez perante o mundo o nome de Pio X. Que ia significar este nome para o Papado, para a Igreja, para a humanidade? Quando hoje, decorrido quase meio século, Nós perpassamos pelo espírito a sucessão dos graves e complexos acontecimentos que o encheram, a Nossa fronte inclina-se e os Nossos joelhos dobram-se em admirada adoração dos desígnios divinos, cujos mistérios lentamente se revelam aos pobres olhos humanos, à medida que se consumam no curso da história.
9. Ele foi Pastor, bom Pastor. Parecia que tinha nascido para o ser. Em todas as jornadas do caminho, que pouco a pouco o conduzia do humilde lar natal, pobre de bens da terra, mas rico de fé e virtudes cristãs, até ao vértice supremo da Hierarquia, o Filho de Riese permaneceu sempre igual a si próprio, sempre simples, afável, acessível a todos, na sua casa paroquial da aldeia, na cadeira capitular de Treviso, no bispado de Mântua, na Sé patriarcal de Veneza, no esplendor da Púrpura romana, e continuou a ser o mesmo na majestade soberana, sobre a sédia gestatória e sob o peso da Tiara, no dia em que a Providência, modeladora longínqua das almas, inclinou o espírito e o coração dos seus Pares a confiar-lhe o cetro, caído das mãos enfraquecidas do grande Ancião Leão XIII nas suas mãos paternalmente firmes. Precisamente de tais mãos tinha o mundo necessidade então.
10. Não tendo podido desviar da sua cabeça o terrível encargo do Sumo Pontificado, ele, que tinha sempre fugido às honras e às dignidades, como outros, ao invés, fogem de uma vida ignorada e obscura, aceitou entre lágrimas o cálice das mãos do Pai divino.
11. Mas uma vez pronunciado o seu Fiat, este Humilde, morto para as coisas terrenas e todo em anelos pelas coisas celestes, demonstrou no seu espírito a indomável firmeza, a robustez viril, a grandeza da coragem, que são as prerrogativas dos Heróis da santidade.
12. Desde a sua primeira Encíclica, foi como se uma chama luminosa se tivesse erguido para esclarecer as inteligências e acender os corações. Não de modo diferente sentiam os discípulos de Emaús inflamarem-se-lhes os corações, enquanto o Mestre falava e lhes revelava o sentido das Escrituras (Lc 24, 32).
13. Não tendes porventura experimentado também este ardor, queridos filhos, que vivestes naqueles dias e ouvistes dos seus lábios o exato diagnóstico dos males e dos erros do tempo, e juntamente indicados os caminhos e os remédios para os curar? Que clareza de pensamento! Que força de persuasão! Era certamente a ciência e a prudência de um profeta inspirado, a intrépida franqueza de um João Batista e de um Paulo de Tarso; era a ternura paterna do Vigário e Representante de Cristo, atento a todas as necessidades, solícito a todos os interesses, a todas as misérias dos seus filhos. A sua palavra era trovão, era espada, era bálsamo; comunicava-se intensamente a toda a Igreja e estendia-se muito ao longe com eficácia; atingia o irresistível vigor, não só pela incontestável substância do conteúdo, mas também pelo seu íntimo e penetrante calor. Sentia-se nela ferver a alma de um Pastor que vivia em Deus e de Deus, sem outro objetivo senão levar para Ele os seus cordeiros e as suas ovelhas. Por isso, se ele, fiel às venerandas tradições seculares dos seus antecessores, conservou substancialmente todas as solenes (já não faustosas) formas exteriores do cerimonial pontifício, naqueles momentos o seu olhar suavemente triste, fixo num ponto invisível, mostrava que não para si próprio, mas para Deus, ia toda a honra.
14. O mundo, que o aclama hoje na glória dos Bem-aventurados, sabe que ele percorreu os caminhos assinalados pela Providência, com uma fé capaz de transportar montanhas, com uma esperança inconcussa, mesmo nas horas mais escuras e incertas, com uma caridade que o impelia a votar-se a todos os sacrifícios pelo serviço de Deus e pela salvação das almas.
15. Por estas virtudes teológicas, que eram como o travejamento fundamental da sua vida e que ele praticou num grau de perfeição, que superava incomparavelmente toda a excelência puramente natural, o seu Pontificado refulgiu como nas idades de ouro da Igreja. Acudindo em todos os instantes à tríplice fonte destas virtudes-rainhas, o Bem-aventurado Pio X iniciou e consumou o curso de toda a sua vida com o exercício heroico das virtudes cardeais: fortaleza tetragonal contra as vicissitudes da sorte, justiça de uma inflexível imparcialidade, temperança que se confundia com a renúncia total de si próprio, prudência inteligente, mas prudência do espírito que é “vida e paz”, distinta da “sabedoria da carne, que é morte e inimiga de Deus” (cf. Rom 8, 6-7).
16. Será porventura verdade, como alguns afirmaram ou insinuaram, que no caráter do Bem-aventurado Pontífice a fortaleza muitas vezes prevaleceu sobre a prudência? Tal pôde ser a opinião de adversários, cuja maior parte eram também inimigos da Igreja. Na medida, porém, em que essa opinião foi partilhada por outros, ainda que admiradores do zelo apostólico de Pio X, essa apreciação é desmentida pelos fatos, quando se observa a sua solicitude pastoral pela liberdade da Igreja, pela pureza da doutrina, pela defesa do rebanho de Cristo dos perigos iminentes, que nem sempre encontrava em alguns toda aquela compreensão e íntima adesão, que deveria esperar-se deles. Agora que o mais minucioso exame perscrutou a fundo todos os atos e vicissitudes do seu Pontificado, agora que se conhece a sequência daquelas vicissitudes, nenhuma hesitação, nenhuma reserva é já possível e deve reconhecer-se que, ainda nos períodos mais difíceis, mais ásperos, mais graves e de mais responsabilidade, Pio X, assistido pela grande alma do seu fidelíssimo Secretário de Estado, o Cardeal Merry del Val, deu prova daquela iluminada prudência, que nunca falta nos santos, ainda que nas suas aplicações se encontre em contraste, doloroso mas inevitável, com os falazes postulados da prudência humana e puramente terrena.
17. Com o seu olhar de águia mais perspicaz e mais seguro que a vista curta dos míopes raciocinadores, via o mundo tal qual era, via a missão da Igreja no mundo, via com olhos de santo Pastor qual era o seu dever no seio de uma sociedade descristianizada, de uma cristandade contaminada ou, pelo menos, assediada pelos erros do tempo e pela perversidade do século.
18. Iluminado pelo resplendor da verdade eterna, guiado por uma consciência delicada, lúcida, de rígida retidão, ele tinha muitas vezes, sobre o dever de momento e sobre as resoluções a tomar, intuições cuja perfeita retidão desconcertava muitos que não eram dotados das mesmas luzes.
19. Por natureza, ninguém mais doce, mais amável do que ele, ninguém mais amigo da paz, ninguém mais paternal. Porém, quando nele falava a voz da sua consciência pastoral, não tinha em conta senão o sentimento do dever: este impunha silêncio a todas as considerações da fragilidade humana; cortava cerce todas as tergiversações; decretava as disposições mais enérgicas, ainda que penosas ao seu coração.
20. O humilde “cura de aldeia”, como algumas vezes se quis chamar — e não é desdouro nenhum para si — em face dos atentados contra os direitos imprescindíveis da liberdade e da dignidade humana, contra os sagrados direitos de Deus e da Igreja, sabia erguer-se como um gigante com toda a majestade da sua autoridade soberana. Então o seu “non possumus” fazia tremer e às vezes retroceder os poderosos da terra, animando ao mesmo tempo os hesitantes e galvanizando os tímidos.
21. A esta força diamantina do seu caráter e da sua conduta, manifestada logo desde os primeiros dias do seu Pontificado, se deve atribuir, primeiro a estupefação e depois a aversão daqueles que quiseram fazer dele o “signum cui contradicetur”, revelando assim o fundo escuro das suas próprias almas.
22. Não há, pois, excessivo predomínio da fortaleza sobre a prudência. Ao contrário, estas duas virtudes, que dão como que o crisma àqueles a quem Deus predestina para governar, foram em Pio X equilibradas a tal ponto que, examinados objetivamente os fatos, ele se mostrou tão eminente numa, quanto excelso na outra. Não é porventura esta harmonia de virtudes, nas altas regiões do heroísmo, o selo da santidade perfeita?
As grandes obras de seu Pontificado.
23. Um homem, um pontífice, um santo de tal estatura dificilmente encontrará o historiador que saiba traçar todo o conjunto da sua figura e, ao mesmo tempo, todos os seus múltiplos aspectos. Porém, até a simples e descarnada enumeração das suas obras e das suas virtudes, tal como Nós próprio podemos, neste momento, fazê-la em breves e incompletos quadros, basta para causar a mais viva admiração.
24. Dele pode certamente dizer-se que em todos os campos, para que dirigiu a atenção e a mão, entrou assistido de uma inteligência clara, alta e ampla, e por uma rara qualidade de espírito que o tornava tão feliz na análise como potente na síntese, imprimindo a todas as suas obras tanto o selo da universalidade, como o da unidade, que o levava a tudo reunir e tudo restaurar em Cristo.
25. Defensor da fé, arauto da verdade eterna, guarda das mais santas tradições, Pio X revelou um sentido finíssimo das necessidades, das aspirações, das energias do seu tempo. Por isso ocupa um posto entre os mais gloriosos Pontífices, depositários fiéis, na terra, das chaves do reino dos céus, e aos quais a humanidade é devedora de todo o seu verdadeiro adiantamento no reto caminho do bem e de todo o seu verdadeiro progresso.
26. O seu zelo pelo influxo moral da Igreja fez dele um incomparável promotor das ciências sagradas e profanas. Será necessário recordar o novo impulso dado aos estudos bíblicos? o eficaz incremento aos filósofos e teólogos, segundo o método, a doutrina e os princípios do Doutor Angélico? E, na ordem das ciências humanas, será preciso mencionar a reorganização do Observatório astronômico? no campo das artes, a renovação da música sacra, a reorganização da Pinacoteca?
27. Ele, porém, não foi um mecenas estranho ou um teórico puro, satisfeito só com marcar um fim, dar uma ordem e depois deixar aos outros a execução completa. A sua obra era um contributo essencial, era uma direção efetiva. Sagaz em abster-se de minúcias inúteis, chegava, contudo, ao concreto e ao particular, determinando com exatidão e sentido prático os caminhos que haviam de seguir-se, a fim de que o objetivo fosse conseguido facilmente, rapidamente, plenamente. Assim procedeu na Codificação do direito canônico, que pode dizer-se a obra-mestra do seu Pontificado. Desde o princípio se lança a ela com a iluminada coragem dos grandes, encara cheio de ânimo o “arduum sane munus” e dedica-se-lhe com incansável assiduidade. E embora — para usar as palavras do seu Sucessor Bento XVI (cf. Allocut. Consist., 4 de dezembro de 1916: Acta Ap. Sedis, vol. 8, p. 466) — não lhe fosse dado levar até ao fim a imensa tarefa, todavia só ele deve ser considerado autor daquele Código (is tamen unus huius Codicis habendus est auctor), e por isso o seu nome deverá ser para sempre celebrado como um dos mais ilustres Pontífices na história do direito canônico, junto a um Inocêncio III, a um Honório III, a um Gregório IX.
28. Se em cada uma destas empresas é movido sempre pelo zelo da glória de Deus e pela salvação e perfeição das almas, com que solicitude teve de aplicar-se à formação dos próprios pastores do sagrado rebanho, de quem depende mais diretamente e imediatamente a honra de Deus e a santificação das almas? Dizem-no os seus constantes esforços para dotar a Esposa de Cristo de um clero digno da sua altíssima missão, pela santidade e doutrina. E quem poderá reler sem comoção a paternal exortação Haerent animo (4 ag. 1908), em que se reflete nitidamente a sua alma sacerdotal, na lembrança jubilar da sua ordenação?
29. Penetrado do pensamento de S. Paulo de que o sacerdote é constituído para todos os homens em todas as coisas que concernem a Deus (cf. Heb 5, 1), ele nada esquece daquilo que pode contribuir para o mais eficaz exercício desta sublime missão.
30. Antes de mais nada, em difundir o conhecimento vivo da doutrina cristã. Assim, promulga sábias instruções para confirmar a sua necessidade, determinar o seu objeto, esclarecer o seu método (Enc. Acerbo nimis, 15 de abril de 1905). Não lhe basta: ele próprio trata de que seja composto um novo catecismo, para adaptar este ensino a todas as idades e a todas as inteligências. Não lhe basta ainda: em alguns domingos explica ele pessoalmente o Santo Evangelho do dia aos fiéis das paróquias de Roma. Com razão lhe chamaram, por isso, o Papa da doutrina cristã.
31. O árido vácuo, que o espírito sectário do século tinha cavado em redor do sacerdócio, ele se apressa a preenchê-lo, mediante a colaboração ativa dos leigos no apostolado. Apesar das circunstâncias adversas e até estimulado por elas, Pio X procura, se não inicia ele próprio, com renovadas diretrizes, a formação de um laicado forte na fé, unido em perfeita disciplina aos vários graus da Hierarquia eclesiástica. E quanto hoje se admira na Itália e no mundo, no vasto campo da Ação Católica, demonstra quão providencial foi a obra do nosso Bem-aventurado, a qual reverbera sobre ele uma luz que, durante a sua vida, só a poucos foi dado pressagiar plenamente. Por isso, as falanges da Ação Católica, entre as almas eleitas que recordam e veneram como precursoras e promotoras do seu salutar movimento, devem colocar, por justo título, o Bem-aventurado Pio X.
32. Outro obstáculo de suma gravidade se opunha à restauração de uma sociedade cristã e católica: por um lado, a divisão no próprio seio da sociedade e, por outro, a ruptura que separava a Igreja do Estado, particularmente na Itália. Com a largueza e a claridade de vistas próprias dos santos, ele, sem permitir a mínima lesão dos princípios imutáveis e invioláveis, sabe traçar as regras para a organização de uma ação popular cristã, mitigar o rigor do “non expedit”, e preparar, a largo prazo, o terreno para aquela conciliação que deveria trazer a paz religiosa à Itália.
33. Mas o que é singularmente próprio deste Pontífice é ter sido ele o Papa da Santíssima Eucaristia no nosso tempo. Aqui fulgura, com reflexos quase divinos, a íntima consonância e comunhão de sentimentos do Vigário de Cristo com o próprio espírito de Jesus. Se Nos calássemos neste ponto, levantar-se-ia uma multidão de criancinhas de ontem e de hoje a cantar hosanas Àquele que soube abater as seculares barreiras que as mantinham afastadas do seu Amigo dos tabernáculos. Só numa alma sabiamente cândida e evangelicamente infantil como a sua, podia encontrar resoluto eco o ardente suspiro de Jesus: Deixai vir a mim as criancinhas! e juntamente a compreensão do dulcíssimo desejo de estas correrem para os braços do divino Redentor. Assim foi ele que deu Jesus às criancinhas e as criancinhas a Jesus. Se Nos calássemos, falariam os próprios altares do SS. Sacramento, para testemunhar a exuberante floração de santidade, que por obra deste Pontífice da Eucaristia brotou em inumeráveis almas, para as quais a comunhão frequente e diária é hoje cânone fundamental de perfeição cristã.
Conclusão e oração.
34. Diletos filhos e filhas! Passa por nós uma hora de glória nesta tarde luminosa. É glória que toca muito de perto o Pontificado romano, glória que se irradia por toda a Igreja, glória que brota aqui perto em redor do túmulo de um humilde filho do povo, a quem Deus escolheu, enriqueceu e exaltou. Mas, sobretudo, é glória de Deus, porque em Pio X se revela o arcano da sábia e benigna Providência que assiste a Igreja e por ela o mundo, em todas as épocas da história. Que ia significar — perguntávamos Nós no princípio — o nome de Pio X? Parece-Nos vê-lo agora claramente.
35. Pela sua Pessoa e pela sua obra, quis Deus preparar a Igreja para os novos e árduos deveres que os tormentosos tempos futuros lhe reservavam. Preparar a tempo uma Igreja concorde na doutrina, firme na disciplina, eficiente em seus Pastores; um laicado generoso, um povo instruído; uma juventude santificada desde os primeiros anos; uma consciência cristã atenta aos problemas da vida social. Se hoje a Igreja de Deus, longe de retroceder em face das forças destruidoras dos valores espirituais, sofre, combate e pela divina virtude avança e redime, deve-se em grande parte à ação clarividente e à santidade de Pio X. Hoje aparece manifesto como todo o seu Pontificado foi sobrenaturalmente dirigido segundo um desígnio de amor e de redenção, para dispor os ânimos a afrontar as nossas mesmas lutas e para assegurar as nossas e as futuras vitórias.
36. Vós, portanto, que o sentis presente, vivo e perto, na obra realizada na sua vida e na tutela que desde hoje exercerá sobre vós, confiai na sua intercessão e rezai conosco, assim:
37. Ó Bem-aventurado Pontífice, servo fiel do teu Senhor, humilde e fiel discípulo do divino Mestre, na dor e na alegria, nos trabalhos e nos cuidados experimentado Pastor no rebanho de Cristo, dirige o teu olhar para nós que estamos prostrados diante dos teus virginais despojos. Árduos são os tempos em que vivemos; duras as fadigas que exigem de nós. A Esposa de Cristo, confiada outrora aos teus cuidados, encontra-se de novo em graves angústias. Os seus filhos estão ameaçados por inumeráveis perigos na alma e no corpo. O espírito do mundo, como leão rugindo, anda em redor, procurando a quem devorar. Não poucos caem como vítimas dele. Têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem. Cerram a vista à luz da eterna verdade; escutam a voz de sereias que lhes insinuam mensagens enganosas. Tu, que foste aqui grande suscitador e guia do povo de Deus, sê auxílio e intercessor para nós e para todos os que professam seguir a Cristo. Tu, cujo coração se partiu de dor, quando viste o mundo precipitar-se em luta sangrenta, socorre à Humanidade, socorre a Cristandade, agora exposta a semelhantes perigos; obtém da Misericórdia divina o dom de uma paz duradoura e, como acréscimo dela, o regresso dos espíritos àquele sentido de verdadeira fraternidade, única que pode restaurar entre os homens e as nações a justiça e a concórdia queridas por Deus. Assim seja.
CANONIZAÇÃO DE SÃO PIO X
Num ambiente de excepcional solenidade foi canonizado, no dia 29 de maio de 1954, o Papa Pio X. Nesta ocasião, proferiu Sua Santidade Pio XII o seguinte discurso, traduzido pelos Serviços de Imprensa da Rádio Vaticano:
III. Discurso quando da Canonização, 29-V-1954:
1. Esta hora de fulgente triunfo, que Deus, exaltador dos humildes, dispôs e, por assim dizer, apressou, para selar a maravilhosa ascensão do seu servo fiel, Pio X, à suprema glória dos altares, enche o Nosso espírito de alegria; dela participais vós muito abundantemente, Veneráveis Irmãos e diletos filhos aqui presentes. Damos, portanto, fervorosas ações de graças à divina bondade por Nos ter concedido viver este extraordinário acontecimento, tanto mais que, talvez pela primeira vez na história da Igreja, a canonização formal dum Papa é proclamada por quem teve antes o privilégio de estar ao seu serviço na Cúria Romana.
2. Fausto e memorando este dia, não só para Nós, que o contamos entre os dias felizes do Nosso Pontificado, a que a Providência reservou também dores e solicitudes tão numerosas; mas para a Igreja toda, que, espiritualmente reunida à Nossa volta, exulta a uníssono com ardentes vibrações de religiosa comoção.
3. O nome querido de Pio X, nesta tarde radiosa, perpassa dum extremo ao outro da terra, exaltado das maneiras mais diversas. Por toda parte desperta pensamentos de celestial bondade, fortes impulsos de fé, de pureza e de piedade eucarística, e ressoa como perene testemunho da presença fecunda de Cristo na sua Igreja. Deus, por outro lado, correspondendo generosamente, ao exaltar o seu servo, testemunha a excelsa santidade de Pio X. Por esta, mais ainda do que pelo seu supremo cargo, ele foi na vida ínclito campeão da Igreja, e como tal é hoje o Santo dado aos nossos tempos pela Providência.
4. Desejamos que vós contempleis, precisamente a esta luz, a gigantesca e mansa figura deste Santo Pontífice, para que, quando descerem as sombras sobre este memorando dia e se extinguirem as vozes do imenso hosana, permaneça, como bênção para as vossas almas e como penhor de salvação para o mundo, a lembrança da sua solene canonização.
5. O programa do seu Pontificado foi por ele solenemente anunciado já na primeira Encíclica (E supremi, de 4 de outubro de 1903), em que declarava, como único propósito seu, instaurare omnia in Christo (Ef 1, 10), isto é, concentrar, reconduzir tudo à unidade em Cristo. Mas perguntava-se a si mesmo, olhando com amor para as almas tresmalhadas e hesitantes do seu tempo: Qual é o caminho que nos leva a Jesus Cristo? E respondia: é a Igreja! Resposta que vale ontem como hoje e pelos séculos afora. Por isso foi a sua primeira solicitude, incessantemente mantida até à morte, tornar a Igreja, na prática, sempre mais apta e acolhedora para conduzir os homens a Jesus Cristo. Com este intento, concebeu ele a arrojada empresa de renovar o corpo das leis eclesiásticas, para dar a todo o organismo eclesiástico funcionamento mais regular, maior segurança e agilidade de movimento, como pedia o mundo dominado por crescente dinamismo e complexidade. É bem verdade que este trabalho, por ele próprio definido como arduum sane munus, se adaptava ao eminente sentido prático e ao vigor do seu caráter; mas só esta conformidade com o temperamento do homem não parece fornecer o motivo último dessa difícil empresa. A raiz profunda da obra legislativa de Pio X deve procurar-se principalmente na sua santidade pessoal, na sua íntima persuasão de que a realidade de Deus, por ele sentida em comunhão incessante de vida, é a origem e o fundamento de toda a ordem, de toda a justiça e de todo o direito no mundo. Onde está Deus, há ordem, justiça e direito; e, por outro lado, toda a ordem justa, defendida pelo direito, manifesta a presença de Deus. Mas, na terra, que instituição devia manifestar mais eminentemente esta fecunda relação entre Deus e o direito, senão a Igreja, Corpo Místico do próprio Cristo? Deus abençoou abundantemente a obra do bem-aventurado Pontífice, de modo que o Código de Direito Canônico será sempre o grande monumento do seu Pontificado, e Pio X poderá considerar-se o Santo providencial do tempo presente.
6. Este espírito de justiça e de direito, de que ele foi testemunha e modelo para o mundo contemporâneo, penetre nas salas das Conferências dos Estados, nas quais se discutem problemas gravíssimos da família humana, em particular o modo de afugentar para sempre o temor de pavorosos cataclismos e de assegurar aos povos longa e feliz era de tranquilidade e paz.
7. Invicto campeão da Igreja e Santo providencial dos nossos tempos, se revelou também Pio X na segunda empresa característica da sua obra, e que, em conjunturas por vezes dramáticas, deu a impressão duma luta travada por um gigante em defesa dum tesouro inestimável: a unidade interior da Igreja no seu íntimo fundamento — a fé. Já desde a meninice, tinha a Providência Divina preparado o seu eleito numa família humilde, baseada na autoridade, nos sãos costumes e na fé escrupulosamente vivida. Sem dúvida, qualquer outro Pontífice, em virtude da graça de estado, teria combatido e teria rechaçado os assaltos tendentes a ferir a Igreja no seu fundamento. É necessário, porém, reconhecer que a lucidez e a firmeza, com que Pio X dirigiu a vitoriosa luta contra os erros do modernismo, mostram o grau heroico em que a virtude da fé ardia no seu coração de santo. Pensando unicamente em conservar intacta, para o rebanho que lhe fora confiado, a herança de Cristo, o grande Pontífice não conheceu fraquezas diante de pessoas de qualquer dignidade ou autoridade, nem vacilações diante de doutrinas fascinadoras mas falsas, dentro da Igreja ou fora, nem qualquer temor de atrair sobre si ofensas pessoais ou de ver malsinadas as suas puras intenções. Teve clara consciência de lutar pela mais santa causa de Deus e das almas. À letra se verificaram nele as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo ao Apóstolo S. Pedro: “Pedi por ti para que não desfaleça a tua fé, e tu… confirma os teus irmãos” (Lc 22, 32). A promessa e a ordem de Cristo suscitaram mais uma vez, na rocha indefectível dum Vigário seu, a têmpera indômita do atleta. É justo que a Igreja lhe decrete neste momento a glória suprema, no mesmo lugar em que refulge há séculos, sempre viva, a glória de Pedro, confundindo assim um e outro numa só apoteose. Exalta reconhecidamente a Pio X e invoca ao mesmo tempo a sua intercessão, para que não se renovem tais lutas. Aquilo de que então propriamente se tratava, era a conservação da união íntima da fé com o saber. Era bem de tão grande valor para toda a humanidade, que esta segunda obra do santo Pontífice transcende o próprio mundo católico.
8. O modernismo separava e opunha o princípio e o objeto da fé e da ciência, realizando nos dois campos vitais tão profunda cisão que equivalia à morte. Foi o que se viu na prática. O homem, que na passagem do século estava já dividido no seu íntimo, embora ainda com a ilusão de possuir a harmonia e a felicidade, baseadas num progresso puramente humano, sentiu-se despedaçado sob o peso duma realidade bem diferente.
9. Pio X viu, com olhar vigilante, aproximar-se esta catástrofe espiritual, esta desilusão amarga, especialmente para os meios cultos. Intuiu como tal fé aparente, fundada não em Deus revelador mas em bases puramente humanas, redundaria no ateísmo. Descobriu do mesmo modo o fatal destino dessa ciência, que contrariava a natureza e livremente se manietava. Com efeito, inibia-se a si mesma de caminhar para a Verdade e o Bem absoluto, deixando assim o homem sem Deus, defronte da invencível obscuridade em que para ele tudo se envolvia. Restava-lhe apenas a atitude da angústia ou da arrogância.
10. O Santo contrapôs a tão grande mal a única salvação possível e real: a verdade católica, bíblica, da fé, aceita como rationabile obsequium (Rom 12, 1) prestado a Deus e à sua revelação. Coordenou deste modo fé e ciência, aquela como extensão sobrenatural e às vezes confirmação da segunda, e esta como caminho que leva à primeira. Restituiu assim ao homem cristão a unidade e a paz do espírito, condições imprescritíveis de vida.
11. Todos os que se voltam hoje para esta verdade, impelidos pela indigência e pela angústia, têm a felicidade de na Igreja a poderem encontrar perfeita. Devem agradecê-lo à visão de Pio X. Ele é de fato benemérito por ter preservado do erro a verdade, seja nos crentes, que lhe gozam a plena luz, seja naqueles que sinceramente a buscam. Para os outros, a firmeza que mostrou diante do erro pode ainda parecer pedra de escândalo; mas, na realidade, foi o serviço de maior caridade que um Santo podia prestar a todos os homens, como Chefe da Igreja.
12. A santidade, que nas mencionadas empresas de Pio X se revela como inspiradora e guia, resplandece ainda mais diretamente nas ações ordinárias da sua vida particular. Primeiramente, praticou em si mesmo o programa de concentrar e reconduzir tudo à unidade em Cristo. Como humilde pároco, como Bispo, como Sumo Pontífice, sempre viveu persuadido que a santidade, a que Deus o destinava, era a santidade sacerdotal. Nenhuma santidade pode Deus estimar mais num sacerdote da Nova Lei, do que a própria dum representante do Sumo e Eterno Sacerdote. Ora, Jesus Cristo deixou à Igreja, até voltar para o juízo final, a perene memória, a perpétua renovação do sacrifício da Cruz na Santa Missa (1 Cor 11, 24-26), e, por meio deste Sacramento da Eucaristia, deu-se a si mesmo como alimento das almas: “Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 58).
13. Antes de tudo, sacerdote no ministério eucarístico: eis o retrato mais fiel de S. Pio X. O seu ideal foi servir como sacerdote no ministério da Eucaristia e cumprir o mandamento do Senhor: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). Desde o dia da ordenação até á sua morte como Pontífice, não conheceu outro caminho para chegar ao heroísmo do amor de Deus e à generosa correspondência ao Redentor do mundo, que por meio da Eucaristia “derramou, por assim dizer, as riquezas do seu divino amor para com os homens” (Conc. Trid. sess. XIII, cap. 2). Uma das provas mais expressivas da sua consciência sacerdotal foi o cuidado com que renovou a dignidade do culto, e especialmente com que modificou certos hábitos. Promoveu para isso com decisão a frequência da Comunhão, mesmo cotidiana, e levou a ela sem hesitar as crianças. Como que as tomou em suas mãos para as oferecer ao abraço do Deus escondido nos altares. Daí resultou nova primavera de vida eucarística para a Esposa de Cristo.
14. Na profunda visão que tinha da Igreja como sociedade, Pio X reconheceu à Eucaristia o poder de alimentar substancialmente a vida íntima desta e de a elevar bem acima de todas as outras sociedades humanas. Só a Eucaristia, em que Deus se dá ao homem, pode fundar uma vida de sociedade digna dos seus membros, cimentada mais no amor que na autoridade, rica de obras e tendente ao aperfeiçoamento de cada um, quer dizer, uma vida “escondida com Cristo em Deus”.
15. Providencial exemplo para o mundo hodierno, em que a sociedade terrena, tornada, sempre e cada vez mais, uma espécie de enigma para si mesma, procura com ansiedade o meio de encontrar de novo a sua própria alma! Para isso, o mundo deve tomar como modelo a Igreja reunida à volta do altar. No mistério eucarístico, o homem descobre e sente concretamente o seu passado, o seu presente e o seu futuro como unidade em Cristo (cf. Conc. Trid. l. c.). Consciente desta solidariedade com Cristo e com os próprios irmãos, e fortalecido com ela, cada membro duma e doutra sociedade, a terrena e a sobrenatural, será capaz de haurir do altar a vida interior que lhe alimente a dignidade e o valor de pessoa. Esta vida está presentemente a ponto de ser subvertida pela técnica e pela excessiva organização da existência inteira, do trabalho e até do descanso. O segredo e a fonte da renovação da vida social, parece repetir o santo Pontífice, está só na Igreja e por ela na Eucaristia, que é “vida escondida com Cristo em Deus”.
16. Daqui se deduz a grave responsabilidade dos ministros do altar, a quem compete o dever de abrir às almas o manancial salvador da Eucaristia. É vasta a ação que um sacerdote pode exercer para salvar o mundo moderno; mas uma é sem dúvida a mais digna, eficaz e de efeitos mais duradouros: fazer-se distribuidor da Eucaristia, depois de ele próprio se alimentar dela abundantemente. O seu trabalho deixaria de ser sacerdotal, se, mesmo que fosse pelo zelo das almas, ele colocasse em segundo lugar a vocação eucarística. Conformem os sacerdotes a sua mentalidade com a inspirada sabedoria de Pio X, e orientem confiadamente, à luz do sol eucarístico, toda a sua atividade pessoal e apostólica. Do mesmo modo, os Religiosos e as Religiosas, que vivem com Jesus debaixo do mesmo teto e se alimentam todos os dias da sua carne, considerem como norma segura o que o santo Pontífice declarou numa ocasião importante: que os laços que os prendem a Deus por meio dos votos e da vida em comum não devem ser sacrificados a nenhum outro serviço para bem do próximo, por legítimo que seja (cf. Ep. ad Gabrielem M., Antist. Gen. Fr. a Scholis Crist., 23 Apr. 1905: Pii X P. M. Acta, v. II, pp. 87-88).
17. Na Eucaristia deve a alma mergulhar as raízes, para haurir a seiva sobrenatural da vida interior. Esta não é só um bem fundamental das almas consagradas ao Senhor, mas também necessidade de todo o cristão, a quem Deus deseja salvar. Sem a vida interior, qualquer atividade, por mais alta que seja, se degrada numa espécie de ação mecânica, e não pode ter a eficácia própria dum ato vital.
18. Eucaristia e vida interior: eis a mais alta e universal pregação, que Pio X dirige nesta hora, do esplendor da glória, a todas as almas. Na qualidade de apóstolo da vida interior, apresenta-se ele — na idade da máquina, da técnica e da organização — como o Santo e o guia dos homens de hoje.
19. Sim, ó S. Pio X, glória do sacerdócio, esplendor e honra do povo cristão; — Tu, em quem a humildade pareceu irmanar-se com a grandeza, a austeridade com a mansidão, a piedade simples com a doutrina profunda; Tu, Pontífice da Eucaristia e do catecismo, da fé íntima e da firmeza impávida; volve o teu olhar para a Santa Igreja, que tu tanto amaste e a que dedicaste o melhor dos tesouros, que a Divina Bondade com mão pródiga depositou no Teu espírito; obtém-lhe a incolumidade e a constância, no meio das dificuldades e das perseguições dos nossos tempos; socorre esta pobre humanidade, em cujas dores tiveste tanta parte, que elas vieram por fim a interromper as palpitações do teu grande coração; faz que neste mundo agitado triunfe aquela paz, que deve ser harmonia entre as nações, acordo fraterno e sincera colaboração entre as classes sociais, amor e caridade entre os homens; assim, graças à tua intercessão, aqueles anelos ardentes, que esgotaram a tua vida apostólica, serão transformados em feliz realidade, para glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina pelos séculos dos séculos. Assim seja!
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Papa PIO XII, Sobre a Beatificação e Canonização de Pio X — I. Breve Quoniam, de Beatificação de Pio X, de 3-VI-1951; II. Discurso na tarde do mesmo dia 3-VI-1951 à multidão de fiéis aglomerada na Praça de S. Pedro, no ato de veneração de Pio X; III. Discurso quando da Canonização, 29-V-1954.
Fonte: Coleção Documentos Pontifícios – 83, Petrópolis: Vozes, 1958, 2ª. ed., 32p.
Endereço breve desta transcrição: http://wp.me/pw2MJ-2Cr
Vide mais: http://farfalline.blogspot.com/2015/09/sao-pio-x-indice-artigos-documentos.html.
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