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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Há dois dias para São João Apóstolo e Evangelista no calendário litúrgico?

Martírio de São João Evangelista em Porta Latina
by Charles Le Brun

CURIOSIDADE SOBRE SÃO JOÃO EVANGELISTA


São João, o único dos Apóstolos a morrer de morte natural (em Éfeso), é considerado como mártir, embora tenha sobrevivido, ao banho de azeite fervente. Por um infrequente privilégio, a Igreja consagrou-o com duas festas, uma das quais corresponde ao suplício da Porta Latina (a de ontem, 06 de maio) e a outra ao seu dia natalício, isto é, à sua morte (a 27 de dezembro).

Com o nome de São João em Porta Latina, é reconhecido como patrono dos impressores, livreiros, encadernadores, papeleiros, copistas de manuscritos, gravadores ao buril ou talha doce, porque São João aparece representado, com frequência, escrevendo o Apocalipse junto à sua águia, de cujo peito pende um tinteiro. Mas estes patrocínios podem explicar-se, mais simplesmente, pela cuba de azeite onde foi imerso. Os impressores empregavam uma tinta oleosa que compararam com o azeite. Outro tanto ocorre com os gravadores. A tela que empregam os fabricantes de papel macera-se em cubas e os encadernadores também empregam peles curtidas em cubas de madeira. A cuba de azeite fervente que originou quase todos os patrocínios de tão diversos ofícios. E, também, por esta razão São João era invocado contra as queimaduras. Contudo, alguns destes patrocínios têm outra origem. Visto que Cristo lhe confiara a sua mãe, a Santíssima Virgem, do alto da cruz, se converteu em Virginis custos e, por extensão, em Virginum custos, isto é, protector das virgens e das viúvas. Por causa da legenda da taça do veneno, São João também protegia contra os venenos. Chamava-se "vinho de São João" ou "Johannesminne" a um sacramental que protegia contra o veneno, e, em geral, contra as intoxicações alimentares. É a este título que, às vezes, São João aparece representado nas fachadas das farmácias (por exemplo em Romans, no Delfinado), formando parelha com Esculapio o deus médico, que também, tem, como atributo, uma serpente. Outro dos seus milagres, a transmutação das canas em ouro e dos pedregulhos em pedras preciosas lhe valeram o patrocínio dos alquimistas em busca da pedra filosofal. 



Já no dia 27 de dezembro se celebra propriamente a memória do discípulo que Jesus amava e a quem confiou Sua Mãe, a Virgem Maria, do alto da Cruz, pouco antes de entregar o espírito ao Pai. 


No Ocidente, o seu culto desenvolveu-se naturalmente em Roma, dado que na Porta Latina padeceu o suplício do banho de azeite fervente. Nesse lugar, edificou-se um oratório sob a avocação de S. Giovanni in Oleo (S. João em azeite). Contudo, a principal igreja edificada em sua honra foi a Basílica de São João de Latrão (San Giovanni in Laterano) que, entre outras relíquias, possui a taça que continha o veneno que lhe ofereceram para beber. 



Uma Vita



São João

O Cordeiro, que parece frágil, é Ele o vencedor


de Lorenzo Bianchi

Segundo o que fontes antigas nos dizem, João, o predileto de Jesus e irmão de Tiago Maior, foi o único dos apóstolos que não morreu pelo martírio, mas de morte natural, em idade avançada. Depois da ressurreição de Jesus, foi o primeiro, ao lado de Pedro, a receber de Maria Madalena o anúncio do sepulcro vazio, e foi o primeiro a chegar até ele, entrando, porém, depois de Pedro. Após a ascensão de Jesus ao céu, os Atos dos Apóstolos o mostram ao lado de Pedro por ocasião da cura do aleijado no Templo de Jerusalém e, depois, no discurso no Sinédrio, em seguida do qual foi capturado e, também com Pedro, encarcerado. Com o mesmo Pedro, dirige-se à Samaria. Em 53, João ainda se encontra em Jerusalém: Paulo o nomeia (Gl 2, 9), ao lado de Pedro e Tiago, como uma das “colunas” da Igreja. Mas, por volta de 57, Paulo só fala de Tiago Menor em Jerusalém: João, portanto, já não está lá, tendo-se transferido para Éfeso, como testemunham unanimemente as fontes antigas, entre as quais basta-nos citar Irineu (Contra as heresias, III, 3, 4): “A Igreja de Éfeso, que Paulo fundou e em que João permaneceu até a época de Trajano, é testemunha verídica da tradição dos apóstolos”.

A permanência de João em Éfeso, onde escreve o Evangelho (segundo o mesmo Irineu afirma), é interrompida, como as fontes antigas nos dizem, pela perseguição sofrida sob Domiciano (imperador de 81 a 96), provavelmente por volta do ano de 95. É nesse ponto que se insere a tradição, registrada por muitos autores antigos, de sua viagem a Roma e de sua condenação à morte numa caldeira de argila cheia de óleo fervente, da qual saiu ileso por milagre. A fonte mais antiga a falar do martírio é Tertuliano, por volta do ano 200: “Se fores à Itália, encontrarás Roma, de onde podemos beber nós também a autoridade dos apóstolos. Como é feliz essa Igreja, à qual os apóstolos ofereceram a doutrina por completo, acrescentando-lhe seu sangue, onde Pedro se identifica com o Senhor na paixão, onde Paulo é coroado com a mesma morte de João Batista, onde o apóstolo João, mergulhado sem se ferir em óleo fervente, é condenado ao exílio numa ilha” (A prescrição contra os hereges, 36). Outro testemunho é o de Jerônimo, que escreve no final do século IV: “João terminou sua vida com uma morte natural. Mas, se lermos as histórias eclesiásticas, aprenderemos que ele também foi posto, em razão de seu testemunho, numa caldeira de óleo fervente, da qual saiu, como atleta, para receber a coroa de Cristo, e que logo depois foi relegado à ilha de Patmos. Veremos ainda que não lhe faltou a coragem do martírio e que ele bebeu o cálice do testemunho, idêntico ao que beberam os três jovens na fornalha de fogo, embora o perseguidor não tenha derramado seu sangue” (Comentário ao Evangelho segundo Mateus, 20, 22). Às antigas fontes cristãs sobre o martírio de João em Roma, podemos hoje acrescentar com boa dose de credibilidade (graças a um estudo de Ilaria Ramelli) a alusão do pagão Juvenal (inícios do século II), que, na Sátira IV, critica Domiciano contando o episódio da convocação do Senado para decidir o que fazer com um enorme peixe, vindo de longe e trazido ao imperador, que é destinado a ser cozido numa panela muito funda. Em Roma, no lugar que a tradição aponta como do martírio, perto da Porta Latina, no interior do cinturão dos Muros Aurelianos, encontra-se o templo octogonal de São João em Óleo, cujas estruturas atuais remontam a 1509, mas que seguramente deve ter estado ali presente (não sabemos se na forma atual, nem se originariamente dedicado ao culto pagão de Diana) desde época anterior à construção da vizinha igreja de São João em Porta Latina, que vem da época do papa Gelásio I (492-496).

Eusébio nos diz que, por Domiciano, João “foi condenado ao confinamento na ilha de Patmos em razão do testemunho que deu do Verbo divino” (História eclesiástica, III, 18, 1), e toma essa notícia das palavras do próprio João no Apocalipse, em que o apóstolo diz de si mesmo que foi deportado “em razão da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Ap 1, 9). Lá, nessa ilha das Espórades a cerca de setenta quilômetros de Éfeso, João escreve o Apocalipse. Depois da morte de Domiciano, em 96, o apóstolo volta a Éfeso, como o mesmo Eusébio testemunha: “Naquela época, João, o predileto de Jesus, ao mesmo tempo apóstolo e evangelista, ainda vivia na Ásia, onde, tendo voltado do exílio na ilha pela morte de Domiciano, dirigia as Igrejas daquela região” (História eclesiástica, III, 23, 1). João morre em Éfeso, talvez em 104, e lá é sepultado. Por volta de 190, Polícrates, bispo de Éfeso, numa carta endereçada ao papa Vítor, diz: “Também João, aquele que se abandonou no peito do Senhor, que foi sacerdote e trouxe a insígnia de mártir [aqui, talvez, no sentido de testemunha] e mestre, jaz em Éfeso” (o trecho é citado em Eusébio, História eclesiástica, V, 24, 2). Seu túmulo, visível até hoje, encontra-se numa câmara funerária subterrânea na colina de Ayasuluk, a um quilômetro e meio da antiga Éfeso. No princípio do século IV, foi ali construído um martyrion quadrangular de cerca de 20 x 19 metros, citado no Itinerário de Egéria; em torno dele foi construída, cerca de um século depois, uma igreja cruciforme, demolida no século VI pelo imperador Justiniano, que mandou erigir em seu lugar uma grandiosa basílica para os numerosos peregrinos, intitulada ao apóstolo, com três naves, 110 metros de comprimento e mais ou menos a metade dessa medida de largura. O túmulo de João fica na cripta sob o altar. Toda a colina foi cercada por um muro para proteger o santuário e as dependências. Destruída a basílica, por um terremoto e vários saques, suas ruínas imponentes, objeto de diversas pesquisas arqueológicas e restaurações, foram parcialmente reerguidas recentemente.
Fontes:




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