A BEATIFICAÇÃO DO MAL?
Por Júlio Loredo[1].
A notícia repercutiu em todo o mundo e foi comentada geralmente de forma positiva: Dom Helder Câmara, o Arcebispo Vermelho, o arauto das ditaduras comunistas, o promotor da revolução no Brasil para impor uma ditadura popular, o partigiano da Teologia da Libertação marxista, o defensor do aborto e do divórcio, o inimigo da “Humanæ Vitæ”, corre em direção às honras dos altares, por ter seu processo de beatificação já ultrapassado a “fase romana”.
É uma daquelas “canonizações mediáticas” infelizmente cada vez mais comuns na vida da Igreja de hoje[2]: tende-se a dar mais importância à ditirâmbica propaganda feita em torno do personagem por seus fãs[3], do que à sua doutrina e aos fatos concretos de sua vida, muitas vezes descurados ou deformados, senão quando excluídos[4]. É como se, em um processo penal, faltasse o contraditório[5], e, ao ditar a sentença, o Juiz se baseasse mais nos comentários da imprensa do que nos atos do processo.
Para o italiano médio, a figura de Mons. Helder Pessoa Câmara (1909-1999), conhecido como Dom Helder[6], bispo auxiliar do Rio de Janeiro, e, depois, arcebispo metropolitano de Olinda-Recife, é pouco conhecida[7]. As poucas notícias que filtram provêm de forjas propagandísticas tão desequilibradas que eu não hesito em as definir como beirando o ridículo. Recordo-me, à época de seu desaparecimento, em agosto de 1999, a mídia italiana competindo para ver quem lhe conferia o título mais sonoro: “Profeta dos pobres”, “Santo das favelas”, “Voz do Terceiro Mundo” , “Santo Helder da América” e assim por diante[8].
Militante filo-nazista
Dom Helder Câmara iniciou sua vida pública como militante na Direita filo-nazista[9].
Ele foi, de fato, hierarca da Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento fundado por Plinio Salgado[10]. Em 1934, o então padre Câmara tornou-se membro do Conselho Superior da AIB. Dois anos depois, tornou-se secretário pessoal de Salgado e, então, secretário nacional da AIB, tomando parte, como protagonista, das reuniões e das marchas paramilitares que macaqueavam as dos nazistas na Alemanha. Suas convicções filo-nazistas eram tão profundas que se fizera ordenar padre vestindo debaixo da batina o uniforme das milícias integralistas, a famigerada “camisa verde”.
Em 1946, o arcebispo do Rio de Janeiro quis torná-lo seu bispo auxiliar, mas a Santa Sé rejeitou por causa de sua anterior militância integralista. A nomeação veio somente seis anos depois. Nesse ínterim, ele havia amadurecido sua transição do integralismo filo-nazista para o progressismo filo-marxista.
Quando, em 1968, o escritor brasileiro Otto Engel escreveu uma biografia de Mons. Câmara, recebeu “ordini sommari” da Cúria de Olinda-Recife que o advertiram para não publicar[11]. O arcebispo não queria dar a conhecer seu passado filo-nazista, desafiando a liberdade de imprensa e também a objetividade histórica[12].
Da JUC ao PC. A Ação Católica brasileira
Em 1947, o padre Câmara foi nomeado assistente geral da Ação Católica Brasileira, que, sob sua influência, começou a deslizar para a Esquerda até abraçar, em alguns casos, o marxismo-leninismo. A migração foi particularmente evidente na JUC (Juventude Universitária Católica), à qual Câmara era particularmente ligado. Luiz Alberto Gomes de Souza, ex-secretário da JUC, escreve: “A ação dos militantes da JUC (...) desaguava em um compromisso que, aos poucos, se revelou socialista”[13].
A revolução comunista em Cuba (corria o ano de 1959) foi acolhida com entusiasmo pela JUC. Segundo Haroldo Lima e Aldo Arantes, dirigentes da JUC, “a recrudescência das lutas populares e o triunfo da revolução cubana em 1959 abriram a JUC à ideia de uma revolução brasileira”. A guinada à Esquerda foi muito facilitada pelo envolvimento da JUC com a UNE (União Nacional de Estudantes), ligada ao Partido Comunista. “Como resultado de sua militância no movimento estudantil — continuam Lima e Arantes — a JUC foi obrigada a definir uma agenda política mais ampla para os cristãos de hoje. Foi assim que, no congresso de 1960, aprovou um documento (...) em que anunciava sua adesão ao socialismo democrático e à ideia de uma revolução brasileira”[14].
Durante o governo de Esquerda do presidente João Goulart (1961-1964), uma facção radical tomou forma dentro da JUC, inicialmente chamada de O Grupão, depois transformada em Ação Popular (AP), que, em 1962, se autodenominou socialista. No congresso de 1963, a AP aprovou os próprios Estatutos nos quais “se abraçava o socialismo e se propunha a socialização dos meios de produção”. Estatutos que continham, entre outras coisas, um louvor à revolução soviética e um reconhecimento da “importância decisiva do marxismo na teoria e na práxis revolucionária”[15].
Essa guinada à Esquerda, no entanto, não parou por aí. No congresso nacional de 1968, a Ação Popular proclamou-se marxista-leninista, passando a se chamar Ação Popular Marxista-Leninista (APML). Visto que nada mais a separava do Partido Comunista, em 1972 decidiu se dissolver e se incorporar ao Partido Comunista do Brasil. Por causa dessa migração, muitos militantes da Ação Católica acabaram por participar da luta armada durante os anos de chumbo do Brasil.
Contra a opinião de não poucos bispos, Mons. Helder Câmara foi um dos mais entusiastas e convictos defensores, ou melhor, foi o promotor da migração para a Esquerda na Ação Católica. Mesmo que mostrasse preferência por métodos não violentos, nunca condenou aqueles que seguiram os caminhos da guerrilha[16].
Contra Paulo VI
Em 1968, enquanto Paulo VI se preparava para publicar a Encíclica “Humanæ Vitæ”, Mons. Helder Câmara se posicionou abertamente contra o Pontífice, qualificando sua doutrina sobre os contraceptivos como “um erro destinado a torturar as esposas e a perturbar a paz de muitos lares”[17].
Em um poema que realmente causou agitação, o arcebispo de Olinda-Recife ironizava também acerca das mulheres “vítimas” da doutrina da Igreja, compelidas, segundo ele, a gerar “Monstrinhos”: “Filhos, filhos, filhos! Se é o coito que você quer, deve procriar! Mesmo que seu filho nasça sem vísceras, com as perninhas de palito, a cabeçona de balão, feio de morrer!”[18].
Mons. Helder Câmara defendia também o divórcio, abraçando a posição das igrejas ortodoxas, as quais “não excluem a possibilidade de um novo casamento religioso para aqueles que foram abandonados [pelo cônjuge]”. Questionado se isso não daria razão aos laicistas, ele respondeu: “O que importa que alguém cante vitória, se tiver razão?”[19].
O inquieto arcebispo também clamava, em alto e bom som, pela ordenação sacerdotal das mulheres. Dirigindo-se a um grupo de bispos durante o Concílio Vaticano II, perguntava com insistência: “Digam-me, por favor, se achais que há algum argumento realmente decisivo que impeça às mulheres o acesso ao sacerdócio, ou se se trata de um mero preconceito masculino?”[20].
E pouco importa se o Concílio Vaticano II tenha depois excluído explicitamente essa possibilidade. Segundo Dom Helder, “devemos ir além dos textos conciliares [cuja] interpretação cabe a nós”.
Mas as divagações não paravam por aí. Em uma conferência realizada diante dos Padres Conciliares, em 1965, ele afirmava: “Creio que o homem criará artificialmente a vida, chegará à ressurreição dos mortos e transformará em realidade o antigo sonho de [Serge] Voronoff [médico russo naturalizado francês, célebre por sua pretensão de alcançar milagrosos resultados de rejuvenescimento de pacientes homens, enxertando neles glândulas genitais de macacos]”[21].
Ao lado do cardeal Suenens[22], Dom Helder foi um dos principais coordenadores da corrente ultraprogressista no Concílio e, posteriormente, o arauto daquela “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura” condenada por Bento XVI. Ele foi, por exemplo, o principal proponente do famigerado “Pacto das Catacumbas”, um manifesto dos Padres conciliares a favor de uma “Igreja pobre”, sem propriedades, sem aparatos, quase sem liturgia[23].
Dom Helder desempenhou, ainda, um papel central também na nomeação de bispos progressistas no Brasil. Secretário de 1952 a 1964 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), atuou, juntamente com o Núncio Apostólico Mons. Armando Lombardi (1954-1964), para colocar, nos cargos de comando da Igreja no Brasil, prelados alinhados com a corrente que mais tarde desembocaria na Teologia da Libertação. Não surpreende, portanto, que, quando condenou essa corrente em 1984, João Paulo II tenha se deparado com a rebelião de não poucos bispos brasileiros, que ameaçavam até o cisma se ele insistisse nessa linha[24].
Alinhado com a União Soviética, China e Cuba
As tomadas de posições de Dom Helder a favor do comunismo (ainda que por vezes lhe criticasse o ateísmo) eram numerosas e consistentes[25].
Tornou-se tristemente notório seu discurso de 27 de janeiro de 1969, em Nova York, durante a VI Conferência Anual do Programa Católico de Cooperação Interamericana. Discurso de tal modo alinhado com o comunismo internacional que lhe valeu o epíteto de Arcebispo Vermelho, apelido que ficou indissoluvelmente ligado a seu nome. Depois de ter duramente repreendido os EUA por sua política antissoviética, Dom Helder propôs um drástico corte nas Forças Armadas do País, ao mesmo tempo em que pedia à URSS que mantivesse suas capacidades bélicas para poder fazer frente ao “imperialismo”. Consciente das consequências de tal estratégia, ele se defendeu a priori: “Não me digais que tal abordagem colocaria o mundo nas mãos do comunismo!”.
Após o ataque aos Estados Unidos, Mons. Helder Câmara passou a tecer o panegírico da China de Mao Tsé-Tung, à época em plena “Revolução Cultural”, que causou milhões de mortes. O Arcebispo Vermelho pediu formalmente a admissão da China comunista na ONU, com a consequente expulsão de Taiwan. E encerrou seu discurso com um apelo em favor do ditador cubano Fidel Castro, à época ocupado em promover sangrentas guerrilhas na América Latina. Pediu também que Cuba fosse readmitida na OEA (Organização dos Estados Americanos), da qual havia sido expulsa em 1962.
Este discurso, tão descaradamente pró-comunista e antiocidental, foi denunciado pelo prof. Plinio Corrêa de Oliveira no manifesto “O Arcebispo Vermelho abre as portas da América e do mundo ao comunismo”: “As declarações contidas no discurso de Dom Helder traçam uma política de rendição incondicional do mundo, e especialmente da América Latina, ao comunismo. Estamos diante de uma realidade chocante: um bispo da Santa Romana Igreja empenha o prestígio decorrente de sua dignidade como sucessor dos Apóstolos para demolir os bastiões da defesa militar e estratégica do mundo livre diante do comunismo. O comunismo, ou seja, o inimigo mais radical, implacável, cruel e insidioso que já se tenha lançado contra a Igreja e a civilização cristã”[26].
Um projeto de revolução comunista para a América Latina
Mas, talvez, o episódio que mais espanto tenha causado foi o chamado “affaire Comblin”.
Em junho de 1968, vazou na mídia brasileira um documento-bomba preparado sob a égide de Mons. Helder Câmara pelo sacerdote belga Joseph Comblin, professor do Instituto Teológico (Seminário) de Recife. Tratava-se de um Relatório destinado ao Conselho Episcopal Latino-Americano. O documento propunha, sem rodeios, um plano subversivo para desmantelar o Estado e instaurar uma “ditadura popular” de matriz comunista. Aqui estão alguns pontos:
Contra a propriedade. No documento, Pe. Comblin defende uma tríplice reforma — agrária, urbana e empresarial — partindo do pressuposto de que a propriedade privada e, portanto, o capital, sejam intrinsecamente injustos. Qualquer uso privado de capital deve ser proibido pela lei.
Igualdade total. O objetivo, diz Pe. Comblin, é estabelecer a igualdade total. Toda hierarquia, tanto no campo político-social, quanto naquele eclesiástico, deve, portanto, ser abolida.
Revolução político-social. No campo político-social, essa revolução igualitária preconiza a destruição do Estado por mão de “grupos de pressão” radicais, que, uma vez tomado o poder, deverão instaurar uma férrea “ditadura popular” para amordaçar a maioria, considerada “ indolente”.
Revolução na Igreja. Para permitir que essa minoria radical governe sem obstáculos, o documento propõe a virtual anulação da autoridade dos bispos, que estariam sujeitos ao poder de um órgão composto apenas por extremistas, uma espécie de Politburo eclesiástico[27].
Abolição das Forças Armadas. As Forças Armadas devem ser dissolvidas, e suas armas distribuídas ao povo[28].
Censura da imprensa, rádio e TV. Até que o povo alcance um nível aceitável de “consciência revolucionária”, a imprensa, o rádio e a TV devem ser rigorosamente controlados. Quem não concordar deve deixar o País.
Tribunais Populares. Acusando o Poder Judiciário de ser “corrompido pela burguesia”, pe. Comblin propõe a instituição de “tribunais populares extraordinários” para aplicar o rito processual sumário contra qualquer um que se oponha a esse vento revolucionário.
Violência. No caso em que não fosse possível implementar esse plano subversivo através de meios normais, o professor do seminário do Recife considerava legítimo recorrer às armas para instaurar, “manu militari”, o regime que teorizava[29].
O apoio de Mons. Helder Câmara
O “Documento Comblin” teve, no Brasil, o efeito de uma bomba atômica. Em meio à acalorada polêmica que se seguiu, o padre Comblin não negou a autenticidade do documento, mas disse que era “apenas um rascunho” (sic!). Por sua vez, a Cúria de Olinda-Recife admitiu que tal documento provinha, sim, do seminário diocesano, esclarecendo, porém, que “não é um documento oficial” (ainda sic!).
Interpretando a legítima indignação do povo brasileiro, o prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, então, uma carta aberta a Mons. Helder Câmara, publicada em 25 jornais. Lemos na carta: “Estou seguro de interpretar o sentimento de milhões de brasileiros ao pedir a Sua Excelência que expulse do Instituto Teológico do Recife e da Arquidiocese o agitador que se aproveita do sacerdócio para esfaquear a Igreja, e abusa da hospitalidade brasileira para pregar o comunismo, a ditadura e a violência no Brasil”[30].
Mons. Helder Câmara respondeu evasivamente: “Todos têm o direito de discordar. Eu apenas ouço todas as opiniões”. Mas, ao mesmo tempo, confirmou padre Comblin como professor do Seminário, respaldando-o com sua autoridade episcopal. Por fim, o governo brasileiro revogou a autorização de residência do padre belga, que teve que deixar o País.
Mostrando a indignação provocada no povo brasileiro pelo “Documento Comblin”, a TFP recolheu, em 58 dias, 1.600.368 assinaturas em apoio a uma “Reverente e Filial Mensagem” a Paulo VI, pedindo-lhe de pôr freio à infiltração comunista na Igreja em América Latina[31]. Mensagem que permaneceu rigorosamente sem resposta. E deu-se o contrário. Em janeiro de 1970, o Pontífice recebeu o Arcebispo Vermelho em audiência privada. Ao sair, diante dos microfones, Dom Helder qualificou a audiência como “muito cordial” e “reconfortante”. Em seguida declarou: “O Brasil deveria pensar em modelos socialistas”[32].
Teologia da Libertação
Mons. Helder Câmara é lembrado também como um dos paladinos da chamada “Teologia da Libertação”, condenada pelo Vaticano em 1984.
Duas declarações sintetizam esta teologia. A primeira, do compatrício de Dom Helder, o então frade franciscano Leonardo Boff: “O que propomos é marxismo, materialismo histórico, na teologia”[33]. A segunda, do sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez, fundador dessa corrente ideológica: “O que entendemos aqui por teologia da libertação é a participação no processo político revolucionário”[34]. Gutiérrez também nos explica o sentido dessa participação: “Somente indo além de uma sociedade dividida em classes[35]. (…) Somente eliminando a propriedade privada da riqueza criada pelo trabalho humano, poderemos lançar as bases de uma sociedade mais justa. É por isso que os esforços para projetar uma nova sociedade na América Latina estão cada vez mais orientados para o socialismo”[36].
Amigo dos pobres e da liberdade?
Mas, talvez, a maior lorota sobre Mons. Helder Câmara é a de apresentá-lo como amigo dos pobres e defensor da liberdade.
O título de defensor da liberdade cai muito mal em quem enalteceu algumas das ditaduras mais sangrentas que marcaram o Século XX: primeiro, o nazismo; depois, o comunismo, em todas as suas variantes: soviética, cubana, chinesa…
Sobretudo, porém, o título de amigo dos pobres não convém mesmo a alguém que apoiava regimes que causaram uma pobreza tão espantosa que foram descritos pelo então Cardeal Joseph Ratzinger como “a vergonha do nosso tempo”[37].
Uma análise cuidadosa da América Latina — país por país — mostra claramente que, lá onde foram aplicadas as políticas propostas por Dom Helder, o resultado foi um notável aumento da pobreza e do descontentamento popular. Já onde foram aplicadas políticas opostas, o resultado foi um aumento geral do bem-estar popular.
Um exemplo para todos: a reforma agrária, da qual Dom Helder foi o principal impulsionador no Brasil, e que, ao contrário, tem se revelado “o pior fracasso de política pública em nosso país”, nas palavras insuspeitas de Francisco Graziano Neto, presidente do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) [1995; Governo Fernando Henrique Cardoso], ou seja, o órgão do Governo responsável pela implementação da reforma agrária[38]. Segundo o ministro Gilberto Carvalho [2011–2015; Governo Dilma Rousseff], a maioria dos assentamentos (as cooperativas agrícolas criadas pela reforma agrária) virou “favela rural”, com grandes sofrimentos para os camponeses[39]. Sob esse prisma, Dom Helder não seria tanto o “santo das favelas” quanto o “santo criador de favelas”.
Os teólogos da libertação não querem ajudar os pobres, mas impor o “princípio da pobreza”: sem propriedade e sem riqueza não haveria hierarquia e, portanto, o mundo teria alcançado a utopia comunista. O leitor interessado em aprofundar o tema pode consultar meu livro “Teologia da Libertação”[40].
Em conclusão. Para alguém como eu, que há décadas estuda o movimento da Teologia da Libertação, tanto em suas versões marxistas originais quanto nas mais atualizadas, e o protagonismo de Mons. Helder Pessoa Câmara no processo de demolição da Igreja e da sociedade civil, resulta verdadeiramente difícil vê-lo elevado às honras dos altares. Seria quase como canonizar o Mal. Mas a este ponto não me surpreendo com mais nada...
Tradução: Giulia d’Amore.
© Reprodução autorizada porque citada a fonte: https://www.atfp.it/notizie/305-chiesa/2400-la-beatificazione-del-male
APÊNDICE
Em complemento ao artigo acima, divulgamos uma famosa poesia de Dom Hélder que pode ser já chamado Servo Deus. Tem já estampas para devoção privada…
“Sonhei que o Papa enlouquecia
E ele mesmo ateava fogo
Ao Vaticano.
E à Basílica de S. Pedro…
Loucura sagrada,
Porque Deus atiçava o fogo
Que os bombeiros
Em vão
Tentavam extinguir.
O Papa, louco,
Saía pelas ruas de Roma,
Dizendo adeus aos Embaixadores,
Credenciados junto a Ele;
Jogando a tiara no Tibre;
Espalhando pelos Pobres
O dinheiro todo
Do Banco do Vaticano…
Que vergonha para os Cristãos!
Para que um Papa
Viva o Evangelho,
Temos que imaginá-lo
Em plena loucura!…”
Cf. “Quem foi realmente Dom Helder Câmara?”. Visto em https://www.abim.inf.br/quem-foi-realmente-dom-helder-camara, em 07/02/2023.
Notas:
1 - Julio Loredo, presidente da Sociedade Italiana para a Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), é um orador, escritor e jornalista católico de renome e autor do best-seller "Teologia da Libertação - Um salva-vidas de chumbo para os pobres", uma refutação-denúncia da Teologia da Libertação. Atualmente reside em Milão.
2 - Onde está escrito “Igreja”, leia-se “Igreja Conciliar”. Aqui, o autor usa corretamente o termo “Igreja de hoje” para se referir à Igreja que surgiu do Concílio Vaticano II. — Nota da tradutora (NdT).
3 - Outro termo correto, porque não se trata de “devotos”, mas de verdadeiros fãs. — NdT.
4 - Assim, se está a reescreve a História, segundo os interesses meramente humanos e geralmente políticos. — NdT.
5 - O contraditório é um princípio da processualística penal pelo qual o juiz ou tribunal, antes de proferir as suas decisões, deve ouvir a acusação e a defesa, as quais devem ter a mesma possibilidade de se pronunciarem sobre as atuações ou condutas processuais realizadas pela contraparte, como, por exemplo, em matéria de prova. — NdT.
6 - No Brasil, para os bispos se usa o tratamento “Dom”, ao invés de “Monsenhor”.
7 - No Brasil também pouco se sabe, na atualidade, acerca dessa figura. O que não deixa de ser um erro, tendo em vista todo o mal que fez e que ainda faz através de suas criaturas políticas. — NdT.
8 - Júlio Loredo, “L’altro volto di Dom Helder”, Tradizione Famiglia Proprietà, novembro de 1999, pp. 4-5.
9 - Nenhuma surpresa, o Nazismo, diferentemente do que se pensa, é de Esquerda, não de Direita. O partido de Hitler, em português, se chamava “Partido dos Trabalhadores”, e era socialista. — NdT.
10 - Distanciando-se do racismo de Hitler, Salgado, no entanto, abraçava seu messianismo nacionalista. Há, inclusive, indícios de que teria atuado como espião para o Terceiro Reich (Cf. João Fábio Bertonha, “Plínio Salgado — Biografia Política: 1895-1975”, Universidade de São Paulo, 2019).
11 - Massimo Introvigne escreve que Otto recebeu ordem de não publicar a biografia “resultado de uma longa e cansativa pesquisa devido à ânsia do Arcebispo de colocar entre parênteses certas fases políticas de sua carreira, em particular a fase fundamentalista. Na realidade, o volume de Engel tratou desses assuntos tabu de uma forma aberta e honesta, sem, por outro lado, exagerar sua importância. As demais biografias repetem a tese oficial sempre defendida por Mons. Câmara: foi um modesto 'pecado da juventude', devido apenas ao fato de a AIB ser o único ambiente onde algumas reivindicações sociais poderiam ser feitas para os ‘pobres’.”. Cf. Cristianità n. 346, 2008: “Come i progressisti non’ vinsero al Concilio Ecumenico Vaticano II. Una recensione di ‘Roma, due del mattino’, di Mons. Hélder Câmara”. Visto em https://alleanzacattolica.org/come-i-progressisti-non-vinsero-al-concilio-ecumenico-vaticano-ii-una-recensione-di-roma-due-del-mattino-di-mons-helder-camara, em 04/02/2023. — NdT.
12 - Margaret Williams Todaro, “Pastors, Prophets and Politicians. A Study of the Brazilian Catholic Church, 1916-1945”, Columbia University, 1971, p. 396. Cit. in Massimo Introvigne, “Una battaglia nella notte. Plinio Corrêa de Oliveira e la crisi del secolo XX nella Chiesa”, Sugarco, Milano, 2008, p. 59. — NdT.
13 - Luiz Alberto Gomes de Souza, “A JUC. Os estudantes católicos e a política”, Editora Vozes, Petrópolis 1984, p. 156.
14 - Haroldo Lima e Aldo Arantes, “História da Ação Popular. Da JUC ao PC do B”, Editora Alfa-Omega, São Paulo 1984, pp. 27-28.
15 - Ibid., p. 37. Veja-se também Julio Loredo, “Teologia della liberazione. Un salvagente di piombo per i poveri”, Cantagalli, Siena, 2014, pp. 92ss. — NDT: Este livro foi traduzido para o português: “Teologia da Libertação. Um salva-vidas de chumbo para os pobres”, pela Editora Petrus.
16 - Veja-se, por exemplo, Scott Mainwarning, “The Catholic Church and Politics in Brazil, 1916-1985”, Stanford University Press, 1986, p. 71.
17 - Helder Pessoa Câmara, “Obras Completas”, Editora Universitária, Instituto Dom Helder Câmara, Recife, 2004, p. 363. Cit. in Massimo Introvigne, “Come i progressisti non vinsero al Concilio. Una recensione di ‘Roma, due del mattino’, di monsignor Hélder Câmara”, Cesnur (vide nota 11). Cfr. também Massimo Introvigne, “Una battaglia nella notte. Plinio Corrêa de Oliveira e la crisi del secolo XX nella Chiesa”, pp. 111ss.
18 - Helder Pessoa Câmara, “Obras Completas”, pp. 390-391. Cit. in Massimo Introvigne, “Come i progressisti non vinsero al Concilio. Una recensione di ‘Roma, due del mattino’, di monsignor Hélder Câmara” (vide nota 11). — NdT: a poesia de Helder Câmara sobre as crianças eventualmente deformadas, a marca da eugenia nazista da qual parece nunca ter se dissociado de fato.
“Filhos, filhos, filhos!...
Se é o prazer que queres,
(Mas o que mais te resta, Pobrezinha?)
Deves procriar,
Deves procriar!
Mesmo que teu filho
Venha a ser um esqueletinho,
Venha a ser um ratinho horrendo
Que nem mesmo os ratos
Conseguirão aceitar
(Há ratinhos graciosos,
Encantadores camundongos)
Filhos, filhos, filhos!...
Se é o coito que queres
(Mas tu sabes o que é o querer?)
Deves procriar,
Deves procriar!
Mesmo que teu filho
Te nasça sem vísceras,
As perninhas de palito,
A cabeçona de balão,
Feio de morrer."
A circular “poética” termina com uma invocação à Virgem para que peça ao Pai Celestial “... para não colaborar com o nascimento de Monstrinhos” (ibid., p. 392). A não inclusão da discussão sobre os anticoncepcionais no Concílio foi uma das grandes derrotas dos progressistas desse estampo.
19 - Helder Pessoa Câmara, "Obras Completas", p. 377. Cit in Ibid.
20 - Helder Pessoa Câmara, "Obras Completas", p. 397. Cit in Ibid.
21 - Helder Pessoa Câmara, "Obras Completas", pp. 397-398. Cit. in Ibid.
22 - Leo-Jozef Suenens (1904-1996) foi arcebispo de Malinas-Bruxelas (1961 a 1979) e cardeal (desde 1962). Foi também presidente da Conferência Episcopal Belga. Com opiniões e tendências progressistas e liberais, defendeu o “aggiornamento” da Igreja Católica no Concílio Vaticano II, do qual foi nomeado um dos quatro moderadores por Paulo VI. Após o Concílio, tentou implementar reformas e influenciar a Igreja a aceitar a sua interpretação liberal do chamado “espírito conciliar”, tornando-se um crítico da Cúria Romana e da Encíclica “Humanæ Vitæ”, que proibia a contracepção por meios artificiais. No Concílio, trabalhou com Bea, Montini e Lercaro para implementar o ecumenismo, o diálogo e adaptação da Igreja ao mundo moderno. Na abertura da segunda Sessão do Concílio, em 1963, defendeu abrir o diaconato aos homens casados, sendo ovacionado de pé (coisa que era terminantemente proibida) inclusive por observadoras religiosas e leigas. Seus contributos para o desenvolvimento da Renovação Carismática Católica lhe valeram o Prêmio Templeton, em 1976. Esse prêmio, que estimulava as pesquisas e trabalhos no campo espiritual, foi conferido a pessoas como Madre Teresa de Calcutá, Roger Schütz (fundador da “Comunidade Taizé”), Chiara Lubich (fundadora dos “Focolares”), Billy Graham (protestante), Inamullah Khan (Antigo secretário-geral do “Congresso Mundial Muçulmano Moderno”), Immanuel Jakobovits (Rabino Chefe da Grã-Bretanha e da Comunidade Britânica de 1967 a 1991), entre outros; os “católicos” são todas personalidades progressistas e/ou ligadas a movimentos de origem protestante. — NdT.
23 - Cfr. Roberto de Mattei, “Il Concilio Vaticano II. Una storia mai scritta”, Lindau, Torino, 2010. Um dos principais coordenadores do campo tradicionalista foi outro brasileiro: o prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Cfr. Benjamin A. Cowan, “Moral Majorities across the Americas. Brazil, the United States and the Creation of the Religious Right”, University of North Carolina Press, 2021. — NDT: O livro de de Mattei foi traduzido pela Editora Ambientes & Costumes: “O Concilio Vaticano II - Uma História Nunca Escrita”.
24 - Veja-se, por exemplo, “Dez bispos criticam o silêncio imposto a Boff”, Folha de São Paulo, 11-05-1986.
25 - Veja-se, por exemplo, Adenilson Ferreira de Souza, “Atividade política da Igreja Católica no Brasil: as demandas da sociedade brasileira transnacionalizadas por dom Helder Camara (1968-1978)”, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2010.
26 - Plinio Corrêa de Oliveira, “O Arcebispo vermelho abre as portas da América e do mundo para o comunismo”, Revista “Catolicismo” Nº 218, fevereiro 1969.
27 - O “politburo” ou “bureau político” é o comitê executivo dos partidos comunistas; no caso, trataria de “governar” a Igreja. — NdT.
28 - O que chega a ser irônico, uma vez que em todas as revoluções as armas foram tiradas do povo. Mas é óbvio que quando um comunista diz “o povo” está querendo dizer “eles”, porque para eles o povo não se autodetermina porque não tem consciência revolucionária e precisa ser tutelado por... eles. — NdT.
29 - Veja-se Plinio Corrêa de Oliveira, “TFP pede medidas contra padre subversivo”, Revista “Catolicismo”, Nº 211, julho 1968 (https://www.pliniocorreadeoliveira.info/1968_211_CAT_TFP_pede_medidas.htm).
30 - Cf. “Quem foi, afinal, D. Hélder Câmara?”, visto em https://ipco.org.br/quem-foi-afinal-d-helder-camara, em 07-02-2023. Aqui se lê: “E o quê que fez a Igreja face a esta atitude revolucionária de D. Hélder Câmara? Cerca de cinco anos após a sua morte, ocorrida em agosto de 1999, D. Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda-Recife, enviou uma carta à Santa Sé pedindo a abertura do processo de beatificação e de canonização de D. Hélder. Menos de dez dias depois da recepção da carta, a Congregação para a Causa dos Santos emitiu parecer favorável e, a 7 de abril de 2015, o Bispo comunista recebeu o título de "Servo de Deus'. Segundo consta, o Papa Francisco deseja beatificá-lo em breve. Kyrie, eleison!”. — NdT.
31 - Cf. “Um homem, um ideal, uma gesta. Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira”, Edições Brasil de Amanhã, 1982, pp. 246ss.
32 - Plinio Corrêa de Oliveira, “D. Helder cria problema — Comunistas aplaudem”, Folha de S. Paulo, 01-02-1970.
33 - Leonardo Boff, “Marxismo na Teologia”, Jornal do Brasil, 06-04-1980.
34 - Gustavo Gutiérrez, “Praxis de libertação e fé cristã, Appendice a Id., Teologia da libertação”, Editora Vozes, Petrópolis 1975, p. 267.
35 - Que, por sinal, foi dividida em classe por eles mesmo. — NdT.
36 - Gustavo Gutiérrez, “Liberation Praxis and Christian Faith”, in “Lay Ministry Handbook”, Diocese de Brownsville, Texas, 1984, p. 22.
37 - Congregação pela Doutrina da Fé, Instrução “Libertatis Nuntius”, 1984, XI, 10.
38 - Francisco Graziano Neto, “Reforma Agraria de qualidade", O Estado de S. Paulo, 17-04-2012.
39 - Fernando Odila, “Política agrária federal criou ‘favelas rurais’, diz ministro”, Folha de S. Paulo, 09-02-2013.
40 - Julio Loredo, “Teologia della liberazione. Un salvagente di piombo per i poveri”, pp. 315-338. — NDT: vide nota n. 15.
41 - Hélder Câmara, foi declarado o patrono brasileiro dos direitos humanos. A lei que concede o título foi publicada no Diário Oficial da União após sanção do presidente Michel Temer. Cf. https://www.psb40.org.br/noticias/dom-helder-camara-e-declarado-patrono-brasileiro-dos-direitos-humanos, visto em 07-02-2023. — NdT.
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