Dia dos Avós – origem e comemoração legítima
Por Giulia d'Amore para o Pale Ideas.
Geralmente, as festas do mundo – dia do motorista, dia do pintor, dia da família etc. – têm origens profanas, via de regra maçônicas, para substituir, na lembrança dos cristãos, as festas dos Santos. O diabo é chamado “macaco de Deus” porque O imita sempre que pode, para confundir o homem, e é, de fato, a sua assinatura, onde pode ser reconhecido e desmascarado. Aqui, o diabo macaqueia a Igreja – que erradicou festas pagãs pelo bem das almas, criando (e não “substituindo”) novas festas, mais benfazejas aos cristãos para garantir que guardassem a Fé – e substitui as festas cristãs por outras similares – o dia do motorista, por exemplo, substitui a festa de São Cristóvão; e se vê até mesmo “padres” modernistas dando ênfase a esse detalhe secundário em detrimento do que realmente importa, a memória do Santo – e, às vezes, totalmente contrárias à fé católica, como o dia da mulher, ou o dia do orgulho (sic) LGBT...
No caso do Dia dos Avós, não é assim, porque os Santos avós de Nosso Senhor Jesus Cristo são a motivação original da data em que se celebram e honram (ou se deveria) os avós porque é no dia de Santa Ana, ou Sant’Ana, que ocorre a festa. E isso porque Paulo VI/Montini juntou, na década de 1960, as festas em honra dos Santos avós de Jesus, celebradas sempre em separado, como se verá mais abaixo.
Entre os vários mistérios sobre Jesus Cristo e sua família, está a figura da avó materna, com uma história pouco conhecida. Apesar disso, é no dia da Padroeira das grávidas – porque Santa Ana foi mãe tardiamente e Maria foi fruto de um milagre, ou melhor dizendo, de um mistério – que se celebra o Dia dos Avós, por causa da história da dedicação dos pais de Maria, que se mantiveram unidos mesmo nas adversidades.
Breve Vita de Santa Ana e São Joaquim
Santa Ana era casada com São Joaquim, homem virtuoso e rico, da estirpe de Davi, e viviam em Jerusalém. Como era o costume da época, Santa Ana casou cedo, mas não teve filhos, mesmo após vinte anos de matrimônio. Por causa disso, São Joaquim foi censurado pelo sacerdote Rubén, que o impediu de sacrificar no Templo por não ter dado filhos a Israel, o que era visto como punição divina por causa de algum pecado. Homem justo, não repudiou a esposa, e juntos suportaram as humilhações, com resignada paciência, rezando e oferecendo mortificações. Um dia São Joaquim decidiu fazer penitência sozinho, no deserto, entre os pastores, onde ficou 40 dias isolado. Enquanto isso, um Anjo apareceu a Santa Ana, anunciando a iminente concepção. O mesmo Anjos apareceu em sonho a São Joaquim confirmando que as suas orações haviam sido enfim ouvidas, e ele voltou para casa. O casal se encontrou na Porta Áurea de Jerusalém; os pintores sacros medievais, como Giotto, viam no beijo casto desse reencontro o momento da concepção da Santíssima Virgem. A paciência e a resignação com que sofriam a esterilidade levaram-nos ao prêmio de ter por filha Aquela que havia de ser a Mãe de Jesus. Assim, Santa Ana finalmente concebeu a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, que nasceu no dia 8 de setembro, quinze anos antes de conceber o Salvador. Ainda segundo a tradição, Santa Ana morreu logo que a Menina completou três anos de idade.
Culto a Santa Ana e São Joaquim
A devoção aos pais de Maria é antiga e tornou-se muito popular na Idade Média, especialmente na Alemanha. O Papa Urbano IV oficializou seu culto em 1378.
O culto a Santa Ana tem um caráter universal, católico. A missa e a festa litúrgica não são tão antigas, pois remontam ao ano de 1584, quando, no dia 1º de maio, Papa Gregório XIII, por inspiração do Espírito Santo, diz Baronius, ordenou que em toda a Igreja se celebrasse, com solenidade de rito duplo, a Festa da Santa Mãe da Virgem Maria. O Papa Gregório XV, que ocupou a Cátedra de Pedro de 1621 a 1623, quis que a Festa de 26 de julho fosse de preceliz e, estando à morte por doença incurável, disse ao Venerável Inocêncio de Gluza, da Ordem Franciscana, que, se Santa Ana o curasse, autorizaria celebrar cada ano a Festa de 26 de Julho como obrigatória em todo mundo. O Papa restabeleceu-se e cumpriu a promessa. Papa Leão XIII estendeu a festa para toda a Igreja, em 1879. Em França, o culto da Mãe de Maria teve um impulso extraordinário depois das aparições da Santa em Auray, em 1623. O ato litúrgico à gloriosa Santa Ana é um dos mais antigos e tradicionais de toda a Cristandade. Cristãos das mais remotas eras construíram, na Terra Santa, berço do Cristianismo, algumas igrejas e capelas dedicadas à Santa. Toda a Europa foi enriquecida de majestosos santuários e altares de Santa Ana.
São Joaquim, por sua vez, é comemorado no dia 16 de agosto. Sua festa sofreu mudanças na data e até uma supressão: Papa Júlio II autorizou, no início do XVI século, a celebração de sua festa, contudo meio século depois, Papa São Pio V a suprimiu. A festa foi repristinada por Papa Gregório XV, em 1621 e solenemente confirmada por Papa Leão Leone XIII, cujo nome de batismo era Joaquim, em 1879. Sua festa era celebrada originalmente no dia 20 de março, associada à de São José, tendo sido depois definitivamente transferida para o dia 16 de agosto, para associá-lo ao triunfo da Filha na celebração da Assunção, no dia precedente. A Igreja Católica celebra até hoje a festa de São Joaquim no dia 16 de agosto.
Fontes canônicas, apócrifas e históricas. Mais detalhes biográficos
A Santa avó de Jesus não é mencionada nos textos canônicos, mas aparece na narrativa do Protoevangelho de Tiago (150 d.C.) e no Evangelho de Pseudo-Mateus ou “Liber de ortu beatae Mariae Virginis” (V séc.), chamados de apócrifos porque não foram reconhecidos oficialmente pela Igreja Católica como de inspiração divina, mas não por isso deixam de ter sua importância histórica. Ao longo dos séculos, a vida de Santa Ana foi enriquecida por diversos autores, até chegar à “Legenda Aurea” de Jácopo de Voragine. Muitos Santos e Padres da Igreja pregaram sobre ela, como São João Damasceno, Santo Epifânio de Salamina, São Sofrônio de Jerusalém, São Gregório de Nissa. A sua “Vita” foi recolhida no “De Laudibus Sanctissime Matris Annae tractatus” (1494). São Joaquim também, por sua vez, não é mencionado nos textos canônicos, mas em vários apócrifos: os mesmos Protoevangelho de Tiago e Evangelho do Pseudo-Mateus, e também no “Evangelium de nativitate Mariae” (VI séc.). Nesses textos se inspiraram Santo Agostinho, Papa Inocêncio I e sobretudo a “Legenda Aurea” já mencionada, a qual tornou popular a figura do avô de Jesus.
Santa Ana (“Graça”, em grego), segundo a Tradição era filha do Sacerdote Matã, de Belém, e descendente dos levitas e da Tribo de Aarão. Segundo os apócrifos, no entanto, era filha de Achar, da Tribo de Levi e irmã de Esméria, mãe de Santa Isabel e avó de São João Batista. No “Caverna dos Tesouros”, atribuído a Santo Efrém da Síria, Ana era filha de Pâkôdh, e seu marido se chamava Yônâkhîr. Este e Jacó eram filhos de Matã e Sabhrath. Jacó foi o pai de José, desta forma, José e Maria eram primos. Santa Ama teve, ainda segundo a tradição, mais duas filhas: Maria de Cléofas e Maria Salomé. José de Arimatéia era seu tio materno. Outras tradições lhe dão por pais Emerência e Estolano. Suas relíquias, segundo a tradição, foram salvas da destruição pelo centurião São Longuinho e foram custodiadas na Terra Santa até que, graças a alguns monges, chegaram na França, onde permaneceram por anos. Durante as incursões otomanas, o corpo inteiro dela foi guardado em uma urna de cipreste e murado, por precaução, em uma capela escavada sob a nascente da Catedral de Apt. Suas relíquias foram encontradas anos depois, fato precedido e seguido por muitos milagres, que levaram à identificação do corpo, graças sobretudo a uma inscrição em grego. Entre os milagres está a lâmpada que ficou acessa ao lado da urna por anos, apesar da ausência de ar. A Santa Ana são intituladas diversas congregações religiosas: as Irmãs da Caridade de Santa Ana, fundada por María Rafols (Zaragoza, 1804); as Freiras de Santa Ana, obra dos cônjuges Tancredi Falletti de Barolo e Juliette Colbert, marqueses de Barolo, e Madre Maria Enrichetta Dominici (Turim, 1834); as Freiras de Santa Ana de Lachine, instituídas pela Irmã Marie-Anne Sureau Blondin (Quebec, 1850); as Filhas de Sant’Ana (Piacenza, Itália, 1866), instituto fundado pela Madre Ana Rosa Gattorno (já fundadora da “Família da Santa Mãe de Maria Imaculada”, onde se tornou freira); a Sociedade de Santa Ana (Lucerna, Suíça, 1909), para a assistência às parturientes, fundada pelo padre Wilhelm Meyer com a Madre Emilia Dormann.
Patronos
Além de Padroeira das grávidas, Santa Ana também é Patrona das mães e da maternidade, das parturientes, dos partos difíceis (a obra e a intercessão exorcista de Santa Ana estão ligadas às condições para a concepção, a proteção das parturientes e da maternidade), das puérperas, da esterilidade conjugal, da boa morte e dos moribundos, das viúvas, dos cardadores, marceneiros, comerciantes de roupa de cama, ebanistas, fabricantes de meias, de luvas, de rendas, de vassouras, dos mineiros, escultores, vendedores ambulantes, navegadores, ourives, torneiros, obsessos, professores, bordadeiras, costureiras, lavadeiras (homens também), contra a febre, contra os demônios (toda a estirpe de Maria foi protegida dos demônios, segundo a tradição, inclusive Santa Ana e Santa Isabel), e do Reino de Nápoles e diversas cidades. No Brasil, os empregados que trabalham na produção de cédulas, moedas e outros produtos fabricados na Casa da Moeda do Brasil têm em Santa Ana sua padroeira. Os moedeiros e oficiais da Casa da Moeda desde os primeiros tempos da sua existência colocaram-se sob a proteção de Santa Ana, celebrando anualmente, até os dias de hoje, o seu dia. No Brasil, ainda, associa-se Santa Ana à figura da “matrona branca dos engenhos”, “que passou a ser considerada guardiã e transmissora da religião”. Para Eduardo Hoornaert, em “História da Igreja no Brasil”, “Sant’Anna é o símbolo da Casa-Grande ensinando o catecismo ao pessoal da senzala”.
São Joaquim é o Padroeiro dos cônjuges, dos pais e dos avós, além de inúmeras cidades.
Hino a Santa Ana contra os demônios
Si quaèris coèli mùnera,
Quae natus àlmae Vìrginis
Per matrem donat gèntibus
Supra Nàturae arcàna,
Annam precàre; et videris
Propìtii lucem sideris,
Ad Annam si confugeris,
Vota non erunt vana.
Si maeror cor invaserit,
Si morbus membra afflixerit,
Si sors advèrsa irruperit,
Vel su calùmnia insàna;
Annam precàre, etc.
Turbàtae menti spìritus
Cordis sècreta exàgitent,
Fremant màligni daèmones,
Et pandant ora ircàna:
Annam precàre, etc.
Litis vitae discrìmina,
Partus pèricla immìneant,
Prolis dona non hàbeant,
Aetas acèrba et cana;
Annam precàre, etc.
Gloria Patri et Filio
Et Spiritui Sancto.
[Sicut erat in principio
Et nunc et semper.
Et in saecula saecolorum.
Amen.].
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog é CATÓLICO. Ao comentar, tenha ciência de que os editores se reservam o direito de publicar ou não.
COMENTE acima. Para outros assuntos, use o formulário no menu lateral. Gratos.