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terça-feira, 16 de abril de 2019

Terça-feira Santa - Sto. Afonso Ligório

A SEMANA SANTA DE SANTO AFONSO DE LIGÓRIO: TERÇA-FEIRA



Jesus é coroado de espinhos e apresentado ao povo

Et plectentes coronam de spinis, posuerunt super caput eius – E entrançando uma coroa de espinhos lha puseram na cabeça" (Math. 27,29).

Sumário - Depois de terem açoitado a Jesus, os algozes, tratando-o como rei de comédia, atiram-Lhe sobre os ombros um manto de púrpura, colocam-Lhe um caniço na mão, e põem-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos, na qual batem fortemente com o caniço, afim de que penetre mais. O Senhor ficou reduzido a tão triste estado que Pilatos julgou que comoveria de compaixão os próprios inimigos só com apresentá-Lo. Contemplemo-Lo, também, e, pensando que foi tão maltratado por nosso amor, não tenhamos a crueldade de dizer com os Judeus: “Crucifigatur - Seja crucificado". 


I. Contemplemos os outros bárbaros suplícios que os soldados infligiram a nosso Senhor já tão atormentado. Instigados e, como afirma São João Crisóstomo, subornados pelo dinheiro dos Judeus, reúnem ao redor de Jesus toda a corte, põem-Lhe aos ombros um manto vermelho a servir de manto real; nas mãos, colocam-Lhe um caniço a servir de cetro e, na cabeça, um feixe de espinhos a servir de coroa. Os espinhos estavam entrelaçados em forma de capacete de modo que Lhe cobria a cabeça toda: “Et plectentes coronam de spinis, posuerunt super caput eius.” 

Mas por que os espinhos com a força das mãos não penetravam bastante na cabeça sagrada, já tão ferida pelos açoutes, tomam-Lhe o caniço e, enquanto Lhe escarravam também no rosto, batem com toda a força sobre a cruel coroa, de sorte que rios de Sangue corriam da cabeça ferida pelo rosto e sobre o peito. Ah, espinhos ingratos! É assim que atormentais o Vosso Criador? – Mas para que acusar os espinhos? Ó pensamentos perversos dos homens, sois vós que trespassastes a cabeça do meu Redentor.

Eia, minh’alma, prostra-te aos pés de Teu Senhor coroado; detesta ali os teus consentimentos pecaminosos, e roga-Lhe que te trespasse com um daqueles espinhos, consagrados pelo Seu Preciosíssimo Sangue afim de que não O tornes mais a ofender. – Enquanto os bárbaros algozes, juntando o escárnio à dor, O tratam como rei de comédia, d’Ele motejam e O esbofeteiam, tu, pelo menos, reconhece-O pelo supremo Senhor de tudo como, na verdade, é; feito agora Rei de dor por amor dos homens. 

II. Voltando outra vez a Jesus ao pretório de Pilatos, depois da flagelação e coroação de espinhos, este, ao vê-Lo todo dilacerado e desfigurado, capacitou-se de que comoveria o povo à compaixão só com mostrá-Lo. Saiu, pois, para a varanda com o Nosso aflito Salvador, e disse: “Ecce Homo - Eis-aqui o homem". Como se dissesse: “Judeus, contentai-vos com o que este Inocente tem sofrido até agora; vede a que estado Se acha reduzido. Que medo ainda podeis ter que Ele queira fazer-se vosso rei, visto que não pode mais viver? Deixai-O ir morrer em sua casa”. “Exivit ergo Iesus, portans coronam spineam, et purpureum vestimentum - Jesus saiu coroado de espinhos e vestido de um manto de púrpura". Minh’alma, tu também contempla naquela varanda a Teu Senhor, atado e arrastado por um algoz. Vê-O como ali está meio despido, se bem que coberto de chagas e sangue, com as carnes todas rasgadas, com aquele farrapo de manto purpúreo que serve tão somente para escarnecê-Lo, e com a cruel coroa que continuamente O atormenta. Vê a que estado se acha reduzido o Teu Pastor, para te achar, a ti, sua ovelha perdida. 

Ah, meu Jesus! Quantos papeis de teatro fazem-Vos os homens representar, mas todos eles de dor e de ignomínia. Ó dulcíssimo Redentor, inspirais compaixão às próprias feras, mas aí não achais piedade! Ouve o que aquele povo responde: “Crucifige, crucifige eum! - Crucificai-o, crucificai-o!" Mas, ó Senhor meu, o que dirão no último dia, quando Vos virem na glória, sentado como Juiz num trono de luz? Ai de mim! Jesus meu, houve um tempo em que eu também disse: "Crucificai-o, crucificai-o!" Foi quando Vos ofendi pelos meus pecados. Agora, arrependo-me d’Eles mais que de todos os outros males, e amo-Vos sobre todas as cousas, ó Deus de minha alma. Perdoai-me pelos merecimentos da vossa Paixão. – Ó Mãe das dores, Maria, fazei que no dia do juízo eu veja vosso Filho aplacado, e não irado para comigo. (* I 613.) 



MEDITAÇÃO PARA A TARDE



Jesus é condenado e vai ao Calvário

Tunc ergo tradidit eis illum ut crucifigerent - Então entregou-Lhes Jesus, para ser crucificado" (Io. 19, 16).

Sumário - Imaginemos ver Jesus Cristo que escuta a injustiça sentença de morte, aceita-a por nosso amor e, abraçando a Cruz, se encaminha para o Calvário. Os Judeus temendo que a cada momento expire, e desejosos de O ver morrer crucificado, obrigam a Simão; e, abraçando com resignação a nossa Cruz, carreguemo-la atrás de Jesus, que no-la manda para nosso bem.

I. Considera como Pilatos, depois de proclamar diversas vezes a inocência de Jesus, finalmente a torna a proclamar, lavando as mãos e protestando que é inocente do sangue daquele Justo. Se, pois, havia de morrer, os Judeus deveriam responder por Ele. Em seguida lavra a sentença e condena Jesus à morte. Ó injustiça nunca jamais vista no mundo! O juiz condena o acusado ao mesmo tempo que o declara inocente!

Lê-se a iníqua sentença de morte na presença do Senhor condenado; Este escuta-a e, todo conformado com o decreto de seu Eterno Pai que O condena à Cruz, aceita-A humildemente, não pelos delitos que os Judeus Lhe imputavam falsamente, mas pelas nossas culpas verdadeiras, pelas quais se tinha oferecido a satisfazer com a Sua Morte. Na terra, Pilatos diz: “Morra Jesus”; e o Pai Eterno confirma a sentença no Céu dizendo: “Morra meu Filho”. E o mesmo Filho acrescenta: “Eis-me aqui, obedeço e aceito a morte, e a morte de Cruz”. “Humiliavit semetipsum, factus obediens usque ad mortem, mortem autem crucis - Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até á morte, e morte de Cruz"

Meu amado Redentor, aceitais a morte que eu devia sofrer, e pela Vossa Morte me alcançais a vida. Agradeço-Vos, ó Amor meu, e espero ir ao Céu para cantar eternamente as vossas misericórdias: “Misericordias Domini in aeternum cantabo”. Mas já Vós, Inocente, aceitais a morte de Cruz, eu pecador aceito de boa vontade a morte que me destinais; aceito-a com todas as penas que a tenham de preceder ou de acompanhar, e desde agora ofereço-a a Nosso Eterno Pai, em união com Vossa Santa Morte. Vós morrestes por meu amor, eu quero morrer por Vosso Amor.

II. Lida a sentença, o povo desgraçado levanta um brado de júbilo e diz: "Felizmente Jesus é condenado à morte! Vamos depressa, não percais tempo, preparar-se a Cruz, e façamo-lo morrer antes do dia de amanhã, que é a Páscoa". – E, no mesmo instante, agarram a Jesus, tiram-Lhe o manto vermelho dos ombros e entregam-Lhe os seus próprios vestidos, afim de que, segundo diz Santo Ambrósio, fosse reconhecido pelo povo por aquele mesmo impostor (assim O chamavam) que poucos dias antes fora recebido como Messias. Depois tomam duas rudes traves, que compõem em forma de Cruz, e mandam-Lhe com insolência que a leve sobre Seus ombros até o lugar do suplício. Ó Deus, que crueldade, carregar com tamanho peso um Homem tão maltratado e enfraquecido!

Jesus abraça a Cruz com amor e encaminha-se para o Calvário. O Seu aspecto naquele caminho é tão lastimoso que as mulheres de Jerusalém, ao vê-lo, O acompanham, chorando e lamentando tamanha crueldade. Mas nem assim os pérfidos Judeus são levados à compaixão! Ao contrário, desejando, por um lado, ver Jesus crucificado, e, por outro, temendo que expirasse no caminho, visto que caía quase a cada passo, tiraram-Lhe a Cruz dos ombros e obrigaram certo homem, de nome Simão, a carregá-la. Minh’alma, une-te ao ditoso Cireneu; abraça a tua Cruz por amor de Cristo, que por teu amor padece tanto. Vê como Ele vai adiante e te convida a segui-Lo: “Qui vult venire post me, tollant crucem suam, et sequatur me - Se alguém quiser vir após mim, tome a sua Cruz e sigam-me".

Não, meu Jesus, não quero deixar-Vos; quero seguir-Vos até morrer. Pelos merecimentos desse caminho doloroso, dai-me força para carregar com paciência a Cruz que quiserdes mandar-me. Ah! Vós nos fizestes minimamente amáveis os sofrimentos e os desprezos, abraçando-os por nós com tanto amor! – Ó Mãe de dores, Maria, rogai a Vosso Filho por mim



 


Amanhã, publicamos a meditação da Quarta-feira Santa. Acompanhe. 


       

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