SERMÃO DO DOMINGO DA SEPTUAGÉSIMA
Missão Nossa Senhora da Graça, Contagem, MG
17-02-2019
“Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”.
Missão Nossa Senhora da Graça, Contagem, MG
17-02-2019
“Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”.
Transcrição:
Queridos fiéis, hoje começa o Tempo da Septuagésima, que é como que uma preparação para a Quaresma, e por isto os paramentos roxos, o altar com adornos mais sóbrios, pode-se usar as flores até, exclusive [ou seja, fora], o Domingo de Quaresma. Hoje, também é Festa do Desterro da Santíssima Virgem, e, na segunda-feira passada, foi a Festa de Nossa Senhora de Lourdes. Eu queria tomar um pouquinho de uma e de outra festa, e arrematar, digamos, o sermão do dia de hoje com o fim da Epístola e o fim do Evangelho. “Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”.
Primeiro: vamos falar um pouquinho de Lourdes.
Poderíamos dar vários sermões sobre a aparição de Nossa Senhora em Lourdes. Vamos tocar em alguns pontinhos, que me parecem importante lembrar. Por exemplo, a aparição de Nossa Senhora de Lourdes é muito curta em palavras. A Virgem praticamente disse: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Não há muita conversa. E contam que, quando a Virgem aparece a Santa Bernadete, a Virgem lhe mostrava o Terço e lhe dizia: “vamos rezar o Terço”, e fazia sinal como que dizendo “vamos rezar o Terço”, e Bernadete se punha a rezar o Terço. Bernadete dizia que a Virgem rezava o Pai-Nosso, e não rezava as Ave-Marias, porque não ia rezar para Si mesma, e que nos Gloria Patri abaixava a cabeça.
Bom, um ponto de vista apologético que não se deve esquecer: lembrem-se que a Virgem podia rezar o Pai Nosso como se rezava sempre, com as “dívidas”: “perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. E por quê? Porque a Virgem, enquanto criatura de Deus, é devedora, pois Ela recebe todo seu ser de Deus, Seu Criador. Mas o interessante é que a Virgem, hoje em dia, com a troca, com toda a troca do Pai-Nosso, da Missa, de todas essas coisas [vindas após o Concílio Vaticano II], mudaram o Pai-Nosso e colocaram “perdoai as nossas ofensas”. A Virgem não poderia rezar o Pai-Nosso novo, porque Ela nunca ofendeu a Deus. Então, vejam como uma só, uma só palavra [a alteração de “dívidas” por “ofensas”] esmaga a Teologia Católica. Então, é necessário que se tenha um cuidado extremo de não se fazer trocas. Por isso, sempre os Santos, enfim os Doutores, eles diziam que se deve conservar a Tradição, conservar tudo, não mexer nem em ponto, nem em vírgula, pronto! Então, por um lado, lembrem-se que a Virgem pode usar este argumento para nos mostrar que não podemos rezar o Pai Nosso novo, pois não o rezaria a Virgem conosco. Ou seja, devemos conservar o que Deus nos ensinou. Lembrem-se que Cristo, a única oração que nos ensinou foi o Pai Nosso. E, agora, somos mais Cristo do que Cristo e O corrigimos? Não! Não!
Vamos para outro ponto. Do ponto de vista ascético.
A biografia de Santa Bernadete Soubirous, eu recomendaria que tratassem de ler. É uma vida magnífica, pode-se tirar muito proveito espiritual. Fundamentalmente, proveito em respeito ao espírito de penitência que tinha esta freira, é à sua humildade. Pensem vocês que, quando Deus privilegia uma criatura, como privilegiou à Santa Bernadete, com a visão da Sua Mãe Santíssima, esta criatura corre o risco de sofrer a tentação de soberba espiritual. Fiquem espertos! É por isto que, sem dúvida, Nosso Senhor já viu em Bernadete, ou a foi preparando, enfim, seja pela pobreza, seja pelas diferentes doenças que ela tinha etc., em um caminho de cruz e de humildade.
Bem, contam os seus biógrafos, por exemplo, que a Superiora de Santa Bernadete – vocês sabem que Santa Bernadete entra em um convento de freiras em Nevers (França) – e a Superiora, que deveria ter realmente um jeito especial, porque não se trata todos os dias com uma pessoa que viu a Santíssima Virgem, então, dizem que a Superiora mandava Bernadete fazer as coisas mais humildes, humilhantes, tinha que lavar de joelhos o chão do convento, do claustro etc. Santa Bernadete não se queixava destas coisas. Mas, quando depois de um tempo, viram que Bernadete já quase não caminhava, buscam médicos etc., veem que a Bernadete tinha tuberculose óssea nos joelhos, que é uma coisa horrível, dolorosíssima, porque o osso se deforma, e o médico não se explicava como podia esta menina estar a lavar os pisos de joelhos e sem se queixar, sem dar um grito de dor. E por quê ela fazia isto? Por penitência! Por nós!!! Para pagar nossas soberbas! Para que nós pudéssemos estar, hoje, aqui, em uma Missa Católica! Para podermos olhar e enxergar os erros do mundo moderno, da Igreja Conciliar etc. etc.
Então, podemos tirar desta meditação de Lourdes o pedido a Santa Bernadete do espírito de penitência.
Virgem de Fátima disse aos meninos, lembrem-se, em 19 de agosto: “vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”. Então, há vezes em que nós também teremos que nos sacrificarmos. Nem todas as coisas, às vezes, saem como nós queremos. E, às vezes, bem, são coisas que nos doem, enfim, nos aborrecem e pronto.
Virgem do Desterro.
Agora, mudamos um pouco de assunto. Vocês imaginam a Virgem do Desterro, que ia levando o menino Jesus até o Egito, um país pagão, com São José, Ela no burrinho etc., e a Virgem murmurando: “Como é possível?! Eu tenho o Menino Deus aqui, e tenho que me ir embora?!?!... e blá blá blá...”. Não imagino! E por quê? Porque a Virgem sabia que [nisso] estava se cumprindo a Vontade de Deus! Ela não buscou essas coisas, Ela não tentou dizer a Herodes: “ei, persegues a meu Filho!”... Não! Não! Não!
Se dão situações, às vezes, onde teremos que, enfim, sacrificar muitas coisas. E, repito: eu não percebo a murmuração de São José e da Virgem dizendo: “Que isto não é possível!! Carregamos o Deus do Universo e estamos a fugir de um... [sinal de ‘um tipo insignificante desses’]!!”. Por quê Jesus não parava o coração de Herodes e se acabava a história? E não fez assim, por quê? Entre outras coisas, além de nos dar exemplo, porque eles compreendiam que, desta maneira, se cumpria a vontade de Deus, que a vontade de Deus é a Infinita Sabedoria. E eu posso pensar coisas muito diferentes, e no meu entender muito melhores, mas, se Deus se manifesta pelos fatos de outra maneira, é porque será assim. Devemos engolir este orgulho que às vezes chega até a garganta.
Quando, na Epístola, o Apóstolo faz menção disso e diz: Vejam bem! O povo eleito foi tirado do Egito, milagrosamente, cruzou o Mar Vermelho, e Deus alimentou com o Maná a seu povo, deu-lhes de beber de uma pedra, símbolo de Cristo, etc. etc., conta todas essas graças que recebeu o povo judeu, mas é terrível como termina: “todavia, Deus não se agradou de muitos deles”. Não somente de “muitos”, eu diria que Deus se agradou de “pouquíssimos” deles. Porque de um povo que eu calculo, mais ou menos, que seria de mais de 100 mil pessoas... mas quem são os que entraram na Terra Prometida? Contamos com os dedos de uma mão!
Quando li essas coisas, e quando, enfim, medito e vejo um pouco a situação da Missões, e as reações de algumas pessoas, a mim me dá medo. Porque, poderíamos fazer uma espécie de paralelismo entre o que o Apóstolo está nos contando aqui, do povo hebreu — de como (Deus) o tirou do Egito, de como o passou pelo Mar Vermelho etc. etc. — poderíamos fazer um paralelo com a nossa vida: não sei, creio que, uns mais que outros, Deus nos tirou das paróquias modernistas, de estar batendo palmas..., e nos levou à Tradição. Magnífico! Vamos à Tradição! Eu, pessoalmente, estava na Fraternidade, bem, trabalhando, vem um nefasto Fellay e começa a perturbar toda a Fraternidade... pronto, (Deus) nos tira de lá. Bom, começamos o combate, a Resistência etc., vem um Williamson e começa dizer asneiras, pronto, e (Deus) nos tira de lá... É por isso que dizemos: “senhores, nós somos Católicos!!!”. Ponto, acabou. Nem Resistência, nem Tradição. Não! Nós somos Católicos! O que a Igreja sempre ensinou. Acabou. Pronto.
E, às vezes, (Deus) nos submete à outras provas. E quando vejo alguns reagir de uma maneira... orgulhosa: “e porque isso!, e porque aquilo!”... Eu penso quanto, quanto devemos ainda trabalhar na virtude da humildade! Quanto! Uf... [sinal de “Muito!”].
Inclusive, eu tenho feito a mim mesmo a culpa, prestem atenção!, de não ter pregado mais sobre este tema, de não insistir mais sobre este tema, pelo modo de agir de algumas pessoas. Se há coisas que nós não podemos mudar, e não nos agrada, Deus saberá... Deus saberá... E, assim como São José e a Virgem, que levaram o menino Jesus a um país pagão e viveram lá anos, no Egito, não estariam a murmurar... [sinais de murmurações], de igual maneira, eu lhes peço: considerem que a humildade é uma das condições, diria “sine qua non”, para poder entrar no Céu. Por quê? Porque é a humildade que me fará aceitar as cruzes.
Ontem, li uma frase muito bonita de Santo Tomás More: “não se pode entrar no Céu em um colchão de penas”. É certo!
Devemos entrar no Céu como? Como Cristeros!!! Carregando a Cruz!!! Nada de... “ah!, não porque... Eu penso que...”. Não!
Se Deus te deu esta cruz, carregue-a!!!
“Não gosto dela”... Mortificarei a minha paciência, o meu amor próprio.
Quando Cristo está no Horto da Oliveiras, está de bom grado? Não oração no Horto das Oliveiras, está de bom grado? Não! Sua natureza treme! “Se é possível, afasta de Mim este cálice”. Se é possível... Não é possível? Adiante com a Cruz!
E podem nos ocorrer muitas circunstâncias parecidas. Muitas circunstâncias parecidas. Quisera eu que muitas coisas fossem de outra maneira, mas não são. Não são. Eu quisera ter muitos colegas, muitas Missas, muitas igrejas, muitos companheiros que me ajudassem etc. etc. Eu quisera que vocês pudessem ter muitos outros sacerdotes... É o que tem. É o que tem.
Então, começar a “dale que te pego, dale que te pego, dale que te pego, dale que te pego” [expressão idiomática espanhola que significa incomodar, incansavelmente, sem parar]... Não.
Entendo, somos humanos. Mas também entendo que, como Católicos e como Confirmados [Crismados] somos soldados!, não senhoritas, não meninas de quinze anos!
Então, eu lhes peço: devem agir como soldados não como meninas de quinze anos! Porque estamos em uma situação de combate: não se hão inteirado disso??...
Então, não podemos perder tempo em discutir umas coisas que já nos excedem!...
E, realmente, eu até senti vergonha de alguns de vocês, de como reagiram diante de determinados problemas, pareceriam meninas caprichosas, me desculpem!!
E eu pensava: não estamos aqui, ao grito de “Viva Cristo Rei!”? Não tomamos os Cristeros como exemplo? Tanto aos católicos que morreram na Guerra Civil Espanhola, de 1936, como aos Cristeros do México, também no século passado?! Ou imaginam os Cristeros discutindo, não sei, as alternativas da Guerra ou porque mataram ao (general) Gorostieta, enfim...
Se Deus permite estas coisas é para temperar-nos! [nos tornar mais resistentes] É para que não sejamos meninas de quinze anos! E, desculpem se ofendo a alguém, mas repito: estamos em guerra, e o inimigo é poderosíssimo! Muito poderoso... Mas nós somos mais poderosos do que o inimigo na medida em que aderimos à vontade de Deus.
Deus quer que percamos, não sei... Perdemos a Fraternidade, perdemos seminários, perdemos igrejas, perdemos amizades, perdemos familiares... Deus saberá! Ou será que Jesus Cristo chegou à Cruz carregado de amigos e templos e não sei quantas coisas mais? Chegou nu! Deu tudo. Até sua Mãe nos deu. E eu iria agora colocar condições? “Não, porque isto... ai porque Fulana... ai porque Sicrana...”. Não!! Por Deus!!
Então, queridos fiéis, lembremos destes dois episódios, Nossa Senhora do Desterro, para lhe pedir: “Senhora, dai-me a aceitação da vontade de Deus”.
Indubitavelmente – e os Santos explicam isto – geralmente, quando não sabemos qual é a vontade de Deus, como podemos discernir? A vontade de Deus geralmente se manifesta naquilo que não gostaríamos que nos acontecesse, porque naturalmente não queremos a Cruz. É assim simples.
Então, quando não sabem se ir por aqui ou por ali, vejam: onde está a cruz? Por aí? Então, por aí está a vontade de Deus.
“Mas este outro é o que mais me gostaria”... Não acontece? Então, paciência! É isto, assim, que Deus quer.
A Nossa Senhora do Desterro pedir esta graça.
E a Nossa Senhora de Lourdes e também a Santa Bernadete, que nos deu este exemplo de espírito de sacrifício e humilhar-se... Eu pensava recentemente: a Superiora de Santa Bernadete deve ter tido um alto mérito. Por quê? Porque a Superiora desta freira, de Santa Bernadete, não deve ter sido uma mulher qualquer. Em que sentido? Bem, como levar à santidade a alguém que havia percorrido, eu diria, meio caminho de santidade. Como dizer a esta freira que teria que ser mais santa ainda? Sabem como? Mandando-a fazer as coisas mais humilhantes.
E a biografia de Santa Bernadete não retrata a nós, mas a Santa Bernadete, porque se retratasse a nós teríamos dito: “Ei, freira [refere-se à Superiora], eu vi a Virgem, não me venha a chatear com que eu lave os pisos”. Ou não?! Ou não?!
Então, Santa Bernadete, que fazia? [Gesto de quem está lavando os pisos]. Caladinha. Sofrendo dores espantosas em seus joelhos. Caladinha. Fazendo o seu trabalho. E por quê fazia isto? Porque era a vontade de Deus. A Superiora a mandava fazer isto e, pronto, ela o fazia. Não havia discussão. “Ah! Não! É que a Superiora me tem inveja, me tem...”. Não imagino nem sequer isto de Santa Bernadete.
Então, pedir a Santa Bernadete a graça da humildade.
Lembrar: eu não sou Deus. Ele é Deus! E, se Deus me manifesta algo pelos fatos... [sinal de “fazer silêncio”], me calo. Pronto, acabou.
Porque, se não fazemos fizermos isto, queridos fiéis, e desculpem se os chateio, tenho muito medo, e medo por mim mesmo, porque se eu não o digo, de que sejamos dos “muitos”, mas não dos “escolhidos”... E eu quero ser dos escolhidos, desculpem!
E se tenho que tomar medidas preventivas, que me chateiam muito, as tomo! Me custe o que me custar! Porque Deus vai pedir contas a mim, de vocês! A mim, de vocês!
Então, eu tenho que tomar medidas preventivas, às vezes, que me chateia tomá-las muito mais a mim do que a vocês.
Quando, no Evangelho, se vê que criticavam ao “pater familias”... este é o problema da autoridade. A autoridade, às vezes, tem que tomar medidas que são chatas, são fastidiosas, são dolorosas. O problema é, aqui. A autoridade é um [uma pessoa só]. Aqui, não há democracia. É só um. E aí que se percebe a solidão da autoridade.
Porém, repito, eu quero ser dos “escolhidos” e não simplesmente dos “muitos”. E, como Deus vai me pedir contas do que eu faço nas Missões Cristo Rei, pronto, há vezes em que tenho que tomar medidas preventivas.
Peçamos ao bom Deus, e à Virgem Santíssima, a Santa Bernadete e a São José, que não acreditemos que, por termos sido dos “muitos” que Deus chamou para ver, enfim, a crise da Igreja e combater pela Tradição etc. etc., que isso não nos faça crer que já temos o Céu nas mãos.
Quero terminar com uma frase que li do querido general Gorostieta. O general Gorostieta, creio que vocês sabem, foi o general cristero morto pela traição dos bispos mexicanos, não de todos, claro, de três bispos. Gorostieta dizia à sua gente:
“Viva como cavaleiro,
pense como soldado,
ame a Deus, à família e à Pátria,
e nunca deixe de ser Cristero!
Viva Cristo Rei!”
Transcrição: Luís Alberto Amaral Nardi
Revisão: Carla d'Amore
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