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sábado, 2 de novembro de 2019

Sobre o Novo Testamento supostamente do Padre Matos Soares vendido pela Livraria Ecclesiæ

 

Sobre o Novo Testamento supostamente do Padre Matos Soares vendido pela Livraria Ecclesiæ



De Giulia d’Amore 


Não se trata da tradução do Padre Matos Soares, digo de cara.  

O Padre Matos Soares traduziu a Bíblia Sagrada da versão dita Vulgata[1], e a enriqueceu com notas explicativas. A versão dele possui o imprimatur da Igreja Católica, e, diferentemente, por exemplo, da tradução do Padre Figueiredo, nunca foi objeto de críticas ou censuras, e os protestantes passam longe dela, pela graça de Deus. Isto é relevante! 

O que muitos talvez não saibam é que, em 1907, o Papa São Pio X veio a solicitar estudos, confiando “aos padres beneditinos o encargo de fazer investigações e estudos preparatórios para a edição da versão da Sagrada Escritura comumente chamada Vulgata”.  

Mas, o que muito talvez também não saibam é que, em 1943, o Papa Pio XII determinou que, a partir de então, as traduções para o vernáculo de cada País fossem feitas dos originais, e não mais da Vulgata. Evidentemente, o trabalho de tradução anterior parou, em obediência ao Papa Pio XII

Mais uma coisa que muitos talvez não saibam é que, em 29 de novembro de 1975, dez dias antes da conclusão do Concílio Vaticano II, Paulo VI instituiu a “Comissão Pontifícia para a Neovulgata”, para que se fizesse uma nova edição latina da Bíblia, surgindo, em 1975, a Nova Vulgata[2], que foi promulgada, em 25 de abril de 1979, por João Paulo II, e já nasceu envenenada pelas heresias conciliares. 



QUE BÍBLIA A LIVRARIA ECCLESIÆ VENDE? 



No e-mail recebido da Livraria Ecclesiæ está escrito (vide abaixo) que o Novo Testamento é “baseado no texto da tradução do Pe. Matos Soares”. E é VERDADE, porque, de fato, não se trata da tradução do Padre Matos Soares, apenas usam o nome como um chamariz. Alguém poderia dizer que estão vendendo gato por lebre... 





No site da Livraria, por outro lado, está dito claramente, e com todas as letras, que se trata da Nova Vulgata. E, mais uma vez, usam a Matos Soares como chamariz, sabendo que, para os verdadeiros tradicionalistas, é a última Bíblia católica confiável. Vejamos: 

A Editora Ecclesiæ oferece ao público brasileiro uma reedição do Novo Testamento, com tradução da Vulgata Latina e notas do Padre Manoel de Matos Soares — publicada pela primeira vez em 1933 em Portugal, e em 1943 no Brasil, e que tornou-se” (sic!) “rapidamente uma das versões mais populares. Foi feita uma REVISÃO TÉCNICA que CORRIGIU a tradução em POUCOS DETALHES conforme a NOVA VULGATA, segundo manda a Sé de Roma...”. (Página salva em PDF e printada - vide abaixo - para comprovação do que afirmo). 





Na verdade, a Livraria Ecclesiæ faz uso de um artifício que utiliza a verdade de forma torta. Por um lado, faz crer que o livro se trata do Novo Testamento do Padre Matos Soares, e, por outro, diz a verdade quando menciona a Nova Vulgata e as “pequenas” correções (“pequenos detalhes”) feitas na tradução da Vulgata e nas notas do Padre Matos Soares. Compreendem o artifício? 

A prova disso eu tirei lendo comentários (convido-os a fazer o mesmo) no perfil da Livraria nas mídias sociais, em que uma pessoa, desconfiada pelo uso de certos termos, questionava se era mesmo a versão do Padre Matos Soares e o que significava aquele “baseado”. Mas a Livraria, astutamente, não respondeu diretamente à pergunta; ao invés disso, levou a conversa para outro lado, repetindo um script padrão; em outras palavras, “brizolou” (o comunista Brizola usava muito este artifício). Outra pessoa questionou, por sua vez, os tais “pequenos detalhes”: do que se tratavam e até onde iam; e, da mesma forma, a Livraria “brizolou”. Bom, ainda que desconfiadas, se as pessoas não tiverem conhecimento histórico acerca das coisas, ficarão à mercê da palavra (e isso vale também para a Bíblia Figueiredo) de quem quer vender um peixe estragado como fresco e salutar. Por isso, por uma questão de justiça e caridade, me senti na obrigação de trazer esses conhecimentos históricos e os convido a pesquisar por si próprios também. 

Mas, o que esperar de uma Livraria que tem no catálogo o Novo Testamento supostamente do Padre Matos Soares e, logo abaixo, um livro supostamente de Francisco (aqui o "supostamente" é porque eu tenho certas dúvidas a respeito da verdadeira autoria das obras "dele"...). O que parece pe que o que interessa a eles não é oferecer livros católicos de sã doutrina. Ou me equivoco? 






CONCLUSÃO


Levando-se em conta que:

I – a Nova Vulgata se trata de um documento pós-conciliar, recebendo, obviamente, a influência das heresias do Concílio Vaticano II, e por isso não é confiável;

II – a última versão CONFIÁVEL para a língua portuguesa – porque livre de críticas e censuras e porque a Igreja não avalizou nenhuma Bíblia traduzida após a Vulgata – é a tradução do Padre Matos Soares

Podemos serenamente concluir que, por uma questão prudencial, pois não podemos expor nossa alma a riscos, a Bíblia Matos Soares é a única que podemos usar com segurança e confiança.  



ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS  


1. Àquelas almas pequenas e miseráveis que possam MALDOSAMENTE arguir que tenho interesse em desqualificar toda e qualquer edição do Novo Testamento que venha a ser feita, responderei o que já respondi no Facebook, a quem me dizia que "outras GRANDES EDITORAS estavam editando o Novo Testamento do Padre Matos Soares": que boa notícia! Até porque, como sabem e está dito no site, a Editora Missões Cristo Rei não visa lucro, não vive disso, pois toda a arrecadação e reinvestida para publicar mais e mais livros católicos de sã doutrina.  

E, de fato, espero e rezo para que mais editoras publiquem, e a preços acessíveis, o Novo Testamento, e até mesmo a Bíblia Sagrada completa do Padre Matos Soares, CONFORME ELE EDITOU, sem "pequenas correções" ou aggiornamenti de qualquer espécie. Será um grande bem para as almas, um grande serviço prestado à Cristandade. Mas não me venham com contrafações e embrolhos, seus carrapatentos espirituais, que os denunciarei todos!!! 

2. E, por falar em "preço acessível", PRECISO fazer uma colocação: o preço da Livraria Ecclesiae para um livro com 691 páginas e capa de missal... é uma afronta à inteligência alheia. Quase não paga a capa!!! E foi esse "detalhe" que me chamou a atenção (e ligou o alarme) quando soube do lançamento, e acabou por arrefecer o meu primeiro entusiasmo diante da notícia tão alvissareira. É impossível não ficar no prejuízo vendendo um livro DESTES por um preço tal.   
De dizer que o livro da Editora Missões Cristo Rei tem um preço justo, conseguido graças à colaboração de benfeitores solícitos e generosos que nos permitiram alcançar, dentro de um valor realista, de mercado, para uma obra desse tipo e com essa configuração, um preço justo.  

E as perguntas que surgem, então, são óbvias: quem bancou isso? Quem vai arcar com o prejuízo? Por que vender tão barato? E por que usar o Padre Matos Soares. A última pergunta é quase retórica de tão óbvia a resposta: quem, entre os católicos fiéis à Tradição bimilenar da Igreja e à Missa de São Pio V, compraria um Novo Testamento com base na Nova Vulgata? Aliás, de frisar que TODAS as Bíblias, de TODAS as marcas que se encontram em lojas supostamente católica são traduções da Nova Vulgata. NENHUMA, a não ser a da Editora Missões Cristo Rei, é tradução do Padre Matos Soares. Nenhuma! Em sendo assim, essa edição atribuída ao Padre Matos Soares seria mais uma na multidão das prateleiras se anunciada tal qual ela é: a tradução da Nova Vulgata de Paulo VI/João Paulo II. Precisavam de um diferencial, uma isca. Espero que ninguém a morda sem pesquisar antes. Como sempre digo: não sejam reféns das informações alheias! Vão à fonte. Pesquisem. Questionem. Afinal, nossa alma custou o Sangue de um Deus bom, não devemos expô-la a perigos. Sobretudo por pretexto de economia.  



Editado em 05/11/2019 para indicar novo post a respeito. Leia aqui




*   *   *

ADENDO – IMPORTANTES NOTAS SOBRE A “VULGATA” E A “NOVA VULGATA”


Apenas para registro I. Como a Bíblia Matos Soares e demais Bíblias CATÓLICAS pré-CVII, a Nova Vulgata não contém alguns dos livros encontrados nas edições anteriores da Vulgata que foram rejeitados como apócrifos pelo Concílio de Trento, em 1563, ou seja, a Oração de Manasses, 3-4 Esdras e a Epístola aos Laodicenses. Já para os livros de Tobias e Judite, o texto modernista segue os manuscritos da versão Vetus Latina[3], e não a Vulgata de São Jerônimo.  

Apenas para registro II, e só para se ter uma ideia do trabalho ideológico desenvolvido na tradução modernista. Acerca da metodologia utilizada para a tradução na Nova Vulgata, a versão latina foi "harmonizada" com as edições críticas dos textos originais em hebraico, aramaico, grego. Em alguns casos, segundo os defensores dela, a Nova Vulgata opta, supostamente, por traduções ad sensum, em prejuízo do texto original. Vejam esses exemplos:

a) Em 1Re 21,13, o termo hebraico “ברך” (“brk”), que literalmente significa “bendito”, segundo os tradutores modernistas teria, na realidade – pasmem os senhores!!! – o significado oposto: “maldito”... Sim, segundo os exímios tradutores da Nova Vulgata, para os escritores hebraicos era impensável a ideia de maldizerem a Deus, motivo pelo qual, conquanto devessem escrever “maldizer a Deus”, teriam escrito, “abençoar a Deus”, deixando ao contexto a tarefa de indicar ao leitor que se trata de uma maldição, ainda que o termo fale literalmente de uma benção. Ou seja, o mundo precisou esperar pelo advento de tão sábios exegetas para descobrir a intenção dos escritores hebraicos (SIC!!!). Disso podem derivar, portanto, duas diferentes leituras, dependendo do pressuposto hermenêutico adotado: 

Se a Vulgata: “benedixit Naboth Deo et regi” (tradução fiel ao texto original);

Se a Nova Vulgata: “maledixit Naboth Deo et regi” (tradução fiel, supostamente, ao sentido do texto original[4]). 


b) Em 1Reis 7,36. Vejamos, antes, essa passagem nas duas traduções que há da Vulgata em Português: 

Matos Soares: “Lavrou também nas superfícies, que eram de bronze, e nos cantos, querubins, leões, palmas, apresentando como que a figura de um homem em pé, e com tal arte que não pareciam gravados, mas sobrepostos ao redor”. 

Antônio Pereira de Figueiredo: “Lavrou também naqueles taboleiros, que eram de bronze, e nos cantos, querubins, leões e palmas, como representando a figura de um homem em pé, de tal modo que estes não pareciam gravados, mas de vulto postos ao redor”. 

Nova Vulgata – “Scalpsit quoque in tabulatis illis, fulcris eius et super limpos eius cherubim et leones et palmas secundum vacuum singulorum, et coronas per circuitum” – simplesmente REMOVEU a parte considerada controversa (“apresentando como que a figura de um homem em pé, e com tal arte que não pareciam gravados, mas sobrepostos ao redor”) e ACRESCENTOU que, ao redor (“per circuitum”) havia coroas, adotando o sentido genérico que modernamente é proposto para esse versículo, como se pode ver de todas as versões protestantes: as diferentes Almeida (AEC, ACF, ARC), a TLH, a NTLH, a NIV, a TNM, a TEB; e, obviamente, de todas as versões “católicas” que se possam encontrar: a de Jerusalém, Ave Maria, Edição Pastoral, Mensagem de Deus, a de Aparecida, Tradução da CNBB, Vozes, Palavra Viva. Cada uma alterando ora as figuras do reino vegetal, ora quantos e quais tipos de enfeites havia, ora qual técnica foi empregada para a confecção das imagens, ora onde foram confeccionadas...  


Por fim, no caso da Vulgata, devemos observar duas coisas relevantes e que podem justificar a tradução adotada por São Jerônimo

1. São Jerônimo, ao contrário da orientação científica moderna, traduziu sozinho a Bíblia para o latim e, ao chegar a este versículo, deu o melhor de si para oferecer aos cristãos de língua latina a melhor tradução para o referido versículo; certamente, inspirado pela graça divina. 

2. São Jerônimo, ao contrário da grande maioria dos Santos Padres e Escritores eclesiásticos da época, rejeitava a ideia de que a tradução grega da Bíblia (LXX ou Septuaginta) fosse realmente inspirada por Deus, ainda que tivesse sido a Bíblia oficial da Igreja desde o tempo dos Apóstolos. Seu amor pela verdade o levou a se mudar para a Palestina, a fim de desempenhar melhor o seu encargo de tradutor das Sagradas Escrituras, conforme a verdade hebraica, isto é, seguindo as Escrituras dos Judeus da Palestina, redigidas em hebraico; recorrendo eventualmente a experts hebraicos para procurar conhecer o sentido dos versículos confusos ou obscuros; ou, ainda, fazendo uso de algum manuscrito hebraico que continha o versículo tal como São Jerônimo o traduzira. 

3. São Jerônimo, ao contrário dos tradutores das Bíblias modernas, era avesso a confrontar sua tradução (conforme a verdade hebraica) com as traduções gregas. Até por isso recebeu muitas críticas, inclusive de Santo Agostinho, por empregar termos diferentes dos tradicionais. 

Tendo tudo isso em mente, resta a pergunta: por que seria necessário recorrer, hoje, à tradução grega para traduzir tal versículo? Não bastaria traduzir direto do hebraico? Sem esquecer sempre que, em 1943, Pio XII determinou que a Bíblia fosse traduzida diretamente dos originais, e não mais da Vulgata ou de outras traduções posteriores aos originais. 

O que se vê é que cada tradução moderna verte o versículo de maneira diferente das outras. Certamente “doutores em hebraico” foram consultados e também não chegaram a uma conclusão segura. São Jerônimo, por outro lado, tinha à disposição ferramentas bem mais seguras e contemporâneas, mais próximas, no tempo e no espaço, dos originais. E tinha Fé Católica.  


Fontes de pesquisa:
www.it.wikipedia.org/wiki/Vetus_latina
www.pt.wikipedia.org/wiki/Vetus_Latina
www.wikiwand.com/pt/Vetus_Latina
www.it.wikipedia.org/wiki/Vulgata
www.pt.wikipedia.org/wiki/Vulgata
www.wikiwand.com/pt/Vulgata
www.en.wikipedia.org/wiki/Sixto-Clementine_Vulgate
www.wikiwand.com/la/Biblia_Vulgata#/Vulgata_Sixto-Clementina.  
www.wikiwand.com/pt/Vulgata
www.it.wikipedia.org/wiki/Nova_Vulgata
www.pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Vulgata
www.wikiwand.com/pt/Nova_Vulgata
www.wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/2009251
www.veritatis.com.br/podemos-confiar-na-vulgata-de-sao-jeronimo.  
www.vatican.va/content/pius-xii/it/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu.html
Constituição Apostólica “Scripturarum Thesaurus” que declara como “típica” e promulga a edição “Neovulgata” da Bíblia: www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_constitutions/documents/hf_jp-ii_apc_19790425_scripturarum-thesaurus.html
Discurso de João Paulo II à Pontifícia Comissão para a Neovulgata: www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1979/april/documents/hf_jp-ii_spe_19790427_pont-com-neo-volgata.html.  
Texto da “Vulgata Latina”: www.speedbible.com/vulgate
www.ms-adilson-filologia-biblica.blogspot.com/2011/10/nova-vulgata-ou-neo-vulgata.html
www.montfort.org.br:84/39-livros

www.ir-institutorestaurar.webnode.com.br/products/introdução%20biblica


Notas:
[1] Vulgata é a forma latina abreviada de vulgata editio ou vulgata versio ou vulgata lectio (respectivamente “edição, tradução ou leitura de divulgação popular”), que é a versão mais difundida ou mais aceita como autêntica de um texto. No sentido corrente, Vulgata é a tradução para o Latim da Bíblia realizada por São Jerônimo, entre fins do século IV início do século V, a pedido do Papa Dâmaso I, de quem era secretário particular, para pôr fim à anarquia e assegurar à Igreja uma tradução melhor, substituindo a versão hoje conhecida como Vetus Latina (vide nota 3 abaixo). 
São Jerônimo começou seu trabalho com a revisão dos quatro Evangelhos feita do texto grego original na Vetus Latina. Em 386 d.C., o Santo, exímio latinista e tradutor, mudou-se para Belém, na Palestina, onde pôde estudar a língua hebraica e a aramaica, in loco. A partir de 390 d.C, dedicou-se à revisão do Antigo Testamento, que traduziu em grande parte até o ano de 405 d.C., levando, portanto, 15 anos nisso. 
- A Vulgata foi a primeira e a única Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico, e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. É sabido que, nos primeiros séculos, a Igreja se serviu sobretudo da língua grega, na qual foi escrito todo o Novo Testamento, inclusive a Carta aos Romanos de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes. 
- Como já dito, o nome Vulgata vem da expressão vulgata versio e foi escrita em um latim cotidiano, diferente do latim elegante de Cícero, que São Jerônimo admirava. Mas o termo Vulgata, referindo-se especificamente a ela, consolidou-se somente na primeira metade do séc. XVI, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532, tendo sido definitivamente consagrada em 1546, pelo Concílio de Trento, que a ratificou mais uma vez como a Bíblia oficial da Igreja, confirmando os concílios anteriores, desde o século II. 
- A primeira versão foi comissionada pelo Papa Sisto V, chamando-se, por isso, Vulgata Sistina (“Biblia Sacra Vulgatæ Editionis Sixti Quinti Pontificis Maximi iussu recognita atque edita”), e promulgada com a Bula “Aeternus Ille” (1589 ou 1590). Mas, por apresentar erros de impressão, devidos à pressa exigida, foi feita uma nova edição, concluída em 1592, no início do pontificado de Papa Clemente VIII, a Vulgata Sisto-Clementina ou simplesmente Vulgata Clementina, com prefácio do Cardeal Roberto Belarmino, e promulgada com a Bula “Cum Sacrorum” (09-11-1592), em vigor até hoje e chamada apenas de Vulgata
- Do ponto de vista teórico, São Jerônimo aplicou, em grande escala, o princípio tradutológico da tradução “ad sensum”. Do ponto de vista prático, o Santo, embora fiel o mais possível aos textos originais, procura latinizar certos grecismos e semitismos já presentes em versões latinas precedentes. Em alguns lugares, São Jerônimo opta por traduções mais de acordo com a fé cristã, acolhendo, por vezes, lições já presentes no grego da Septuaginta, que derivam da fortíssima espera messiânico-escatológica presente nos séculos precedentes à vinda de Cristo. Na comparação com o texto original hebraico ou grego, essas variantes poderiam ser consideradas “erros” de tradução, mas não são. 
- PRÓLOGOS. Além de se ocupar com a tradução da Bíblia, São Jerônimo escreveu 19 prólogos em latim; escritos críticos, não destinados ao público em geral, cujo tema recorrente se refere à primazia do texto hebraico sobre os textos da Septuaginta, em grego koiné. Para São Jerônimo, no texto hebraico estaria prefigurada com mais clareza a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e as características de Seu ministério. À época, foi objeto de numerosas críticas porque a língua por excelência da cultura helenista e romana era o grego, enquanto o hebraico, para os doutos, não passava de uma língua, já morta há séculos, de um insignificante, periférico e rural povo do Mediterrâneo. Entre os mais notáveis prólogos, destaca-se o “Prologus Galeatus”. Traduzidos do aramaico, os Deuterocanônicos foram incluídos na Vulgata da mesma forma que estavam na Vetus Latina. Possuem prólogos: o Pentateuco, Josué, Reis (“Prologus Galeatus”), Crônicas, Esdras, Tobias, Judite, Ester, , Salmos (LXX), Livros de Salomão, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, o 12 Profetas (menores), os Evangelhos e as Epístolas Paulinas (“Primum Quæritur”, cuja autoria não é certa que seja de São Jerônimo). 
- Conservam-se atualmente pouquíssimos manuscritos da Vulgata de São Jerônimo, entre os quais os mais conhecidos são o “Codex Fuldensis” (de cerca de 545 d.C.), que contém apenas o texto do Novo Testamento, e cujos Evangelhos estão na versão de Diatessarão, e que está conservado na Abadia de Fulda (Alemanha); e o “Codex Amiatinus” (do início do séc. VIII), a testemunha mais autorizada e completa da Vulgata, comissionado pelo monge anglo-saxão Ceolfrid, em 692 d.C., conservado por séculos no Mosteiro de São Salvador no Monte Amiata, na Toscana, de onde lhe vem o nome; atualmente, está em Florença, na Biblioteca Medicea Laurenziana.   
- A Vulgata Sixto-Clementina tornou-se a base para traduções católicas para o vernáculo, como a tradução do Padre Matos Soares para o Português.  
[2] Nova Vulgata, Neovulgata ou Neovulgata latina é a versão que veio a substituir a Vulgata na Igreja Conciliar a partir de 1979.  
- Ordenada por Paulo VI (1965) e promulgada por João Paulo II (1979), vinha sendo editada separadamente desde 1969, tendo João Paulo I editado os livros do Pentateuco, revistos pela Comissão Pontifícia da Abadia de São Jerônimo em Roma, fundada com este fim por Pio XI, segundo a Constituição Apostólica “Inter Præcipuas” (15-06-1933; A. A. S., 1934, vol. XXVI, pp. 85-87, citada aqui). A publicação em um livro único da Neovulgata foi promulgada por João Paulo II através da Constituição Apostólica “Scripturarum Thesaurus”.  
- Há quem não considere a Nova Vulgata uma versão ou revisão da Vulgata, mas um trabalho independente de tradução, visto que não se teria proposto apenas à tradução e mera revisão, mas teria, de fato, feito uma comparação com os originais, verso a verso. Hummmmm... Nessa revisão, segundo Paulo VI: “teve-se em conta palavra por palavra o texto antigo da edição latina da Vulgata, quando os textos primitivos são referidos exatamente; tais como os apresentam as atuais edições críticas; mas esse texto foi prudentemente corrigido quando deles se afasta ou os refere com menor exatidão. Para isso, foi usado o latim cristão bíblico, de maneira que a devida estima da tradição se conjugasse com as justas exigências da ciência crítica” (23 de dezembro de 1966; A.A.S., LIX, 1967, pp. 53 s.). O texto”, diz, por sua vez, João Paulo II, “como resultou desta revisão — mais profunda nalguns livros do Antigo Testamento em que não pusera mãos São Jerônimo — foi editado em volumes separados desde 1969 a 1977, e é agora apresentado num só volume, em edição típica. Esta edição da Neovulgata poderá também servir como base das traduções nas línguas modernas que se destinem ao uso litúrgico e pastoral; e, para usarmos palavras de Paulo VI, Nosso Predecessor, 'é lícito pensar que ela constituirá fundamento seguro em que se apoiem... os estudos bíblicos, sobretudo onde mais dificilmente se podem consultar bibliotecas especializadas e mais obstáculos se apresentam a que se multipliquem os estudos convenientes'...”. (Aloc. de 22 de dezembro de 1977; cfr. o diário L'Osservatore Romano, 23 de dezembro de 1977).  
- Relevante dizer, ainda, que a primeira edição da Nova Vulgata continha o nome divino, “Iahveh”, em vários versículos, incluindo Êxodo 3,15-6,3. Na segunda edição oficial, de 1986, o editor ou quem por ele “se arrependeu”, e “Dominus" (“Senhor”) foi colocado de volta no lugar de “Iahveh”. SIC!!! 
[3] Vetus Latina (“Latim Antigo”, em Latim). Com a pregação do Cristianismo por todo Império Romano, surgiu a necessidade, a partir do início do séc. I, de traduzir os textos bíblicos para os cristãos que não sabiam o grego ou o hebraico; tais traduções foram realizadas por tradutores informais. Contudo, a Vetus Latina não era um livro único (os textos da V.L. organizados em um único livro foram encontrados em manuscritos tardios, datados do séc. XIII), mas várias e diferentes versões; por exemplo, acerca de Lucas 24,4-5, foram encontradas 27 versões diferentes. Muitas dessas versões soltas não foram consideradas autorizadas como traduções bíblicas que pudessem ser usadas por toda Igreja; e muitos desses textos foram desenvolvidos para suprir a certa necessidade de determinada comunidade, ou para ajudar em um sermão. Em sua obra “A Doutrina Cristã” (2,16), Santo Agostinho lamenta a variação na qualidade dos textos presentes nos manuscritos disponíveis, com uma abundancias de solecismos gramaticais e traduções literais gregas ou hebraicas, conforme constam na Septuaginta, por exemplo. Esses manuscritos refletem, outrossim, as várias recensões da Septuaginta que circulavam com os manuscritos africanos, como o Codex Bobiensis, os quais preservavam leituras do texto típico ocidental, enquanto os manuscritos europeus estavam mais próximos do texto típico bizantino. 
- Com a publicação da Vulgata de São Jerônimo, os textos traduzidos para o Latim ganharam unidade, estilo e consistência, atributos que não eram presentes na Vetus e que motivaram, entre outras razões, o Papa Dâmaso I a encomendar-lhe a tradução.  
- Apesar de substituída, a Vetus Latina sobreviveu na Igreja em muitas partes, sobretudo na Liturgia, como no célebre canto natalino, em Lucas 2,14: “Gloria in EXCELSIS Deo, et in terra pax hominibus bonæ voluntatis” (Vetus) e “Glória in ALTÍSSIMIS Deo, et in terra pax IN homínibus bonæ voluntátis” (Vulgata). Talvez a mais conhecida diferença entre os textos seja a oração do Pai Nosso: a Vetus trazia a expressão “QUOTIDIANUM panem” (“pão nosso de cada dia”), enquanto a Vulgata diz “SUPERSUBSTANTIALEM panem” (“pão super vigoroso”).
[4] Esta não é uma tradução “ad sensum”, isto é, que busca o SENTIDO da palavra/frase, mas uma mera interpretação subjetiva e deturpada do texto original, uma “forçação de barra”, pretendendo apresentar ao leitor qual deve crer que seja o “sentido correto” da palavra/frase. Aqui, os tradutores modernistas impõem um ponto de vista totalmente subjetivo, baseado na ideologia que defendem. Aqui, se aplica à perfeição a locução “tradutor traidor”. E, não é por ignorância que fazem isso, mas premeditadamente. A intenção é reinterpretar as Escrituras segundo o CVII. 
 

12 comentários:

  1. Resumo da ópera: com esta estratégia da ed. Ecclesiae (entre tantas outras), estas as editoras que seguem o CVII, estão visando atrair os fiéis tradicionais. Objetivo (oculto) - minar a Fé dos Tradicionais. Cuidado!!!

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    1. Exatamente, sr. Reginaldo! E não são ações aleatórias. Não parecem, se levarmos em conta a "big picture": todo o movimento modernista/tradcon.

      Basta ver o Cardeal Sarah, aclamado como o defensor da Tradição, mas que removeu a festa da Transladação da Santa Casa de Loreto (apesar dos milagres e das comprovações avalizadas por Papas como São Pio X!!!) e que irá firmar o documento conclusivo do Sínodo, enquanto prefeito da Congregação para o Culto Divino, ou seja, vai tornar oficial o que ocorreu na Amazônia, o Concílio Vaticano III, em outras palavras. Falarei disso em um post, em breve.

      Aguardemos o desenrolar dos eventos. E rezemos que todos esses escândalos sirvam, ao menos, para que mais e mais católicos acordem.

      Viva Cristo Rei!

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  2. Muito obrigado por fazer essa postagem, eu estava pensando em comprar essa bíblia, mas comecei a me questionar sobre sua ortodoxia, sobre essa revisão técnica etc. Graças a você tomei a decisão de não comprar.

    Salve Maria!

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    1. Disponha, sr. José Fernandes. Nossa alma custou o Sangue de um Deus BOM, não devemos expô-la a riscos.

      Se me permite uma sugestão, considere comprar esta: http://edicoescristorei.wixsite.com/editoramcr/novo-testamento. É a versão original do Padre Matos Soares.

      Um bom fim de semana.

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  3. Olá. E o velho testamento traduzido pelo padre Soares?

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    1. Boa noite. Mais um anônimo... Enfim. Não entendi o que quer saber. A que se refere? Seja mais específico, por gentileza. Vou tentar responder...

      Se quiser saber o que eu penso sobre o Antigo Testamento da Ecclesiae, ao que me consta, não foi publicado ainda, mas há rumores de que esteja sendo editado. Mas, de seguro, posso adiantar que, se tbm for traduzido da Nova Vulgata vale o mesmo tanto que o outro. Sugiro que os questione diretamente.

      Se quiser saber se a Editora Missões Cristo Rei vai editar o Antigo Testamento, ainda não sabemos. O que acontece é que pretendíamos publicar logo depois do Novo Testamento, até chegamos a preparar os arquivos dos três volumes, mas como ouvimos dizer que outra editora tbm pretendia publicar, e decidimos esperar, pq é deveras contraproducente para a Cristandade que várias editoras publiquem o mesmo livro, quando temos uma lacuna editorial imensa a preencher. Não lhe parece? Pergunta retórica.

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  4. Se publicarem gostaria de comprar

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  5. Alguma notícia se alguma editora está publicando ou publicará a versão VERDADEIRA com o antigo e com o novo testamento com a tradução do Pe. Matos Soares?

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    1. Não. Há algum tempo, li em uma rede social um comentário de alguém dizendo que certa editora pretendia fazê-lo. Entrei em contato, pq estávamos já com os arquivos prontos, e para evitar edições duplicadas, que são desinteressantes, mas não quiseram me dar maiores detalhes. Não sei nem mesmo se será a verdadeira, ou a atualizada pelo CVII. Já fazem meses... E nada.

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  6. Interessante o artigo, mas já vi algumas bíblias traduzidas pelo Matos Soares que tiveram como base documentos do concílio Vaticano II.

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    1. É mais do mesmo daquilo que estou denunciando. Matos Soares não era do tempo do Concílio, logo... é uma fraude.

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