As redes sociais e os sete pecados capitais
Há tempo este artigo vem rondando a minha mente. O fenômeno das redes sociais se tornou um objeto de meditação para mim diante de diversos problemas que podemos facilmente perceber. E é um ambiente que está se tornando cada vez pior, desde o Orkut até chegarmos ao Instagram.
Obviamente, há coisas que não são um mal em si mesmas, mas se tornam um mal pela má utilização que se faz delas, como a internet, que pode ser boa se servir a bons propósitos, mas pode ser má se a alma afunda no pecado através dela. Já há outras coisas que me fazem questionar se elas não são um mal em si mesmas, como as REDES SOCIAIS.
Estar em uma rede social heterogênea como o Instagram, que tem gregos e troianos, expõe a alma a perigos reais, mesmo com todas as melhores das intenções, mesmo pretendendo focar apenas em determinados temas, louváveis e lícitos. Perdi a conta de quantas vezes eu bloqueei determinado assunto que teimava em aparecer em minha tela!!! O tal do algoritmo prega peças que não são mera coincidência. Tudo ali é calculado para alcançar um determinado objetivo.
Enfim, vamos analisar o Instagram, que escolhi porque é a única rede social da qual participo atualmente, e meu pretexto é o de manter contato com familiares e amigos espalhados pelo mundo, e, em determinados períodos, para fins comerciais, tendo em vista as duas editoras que coordeno. Pelo pouco que conheço das outras redes sociais, me parece que não há muita diferença, moralmente falando.
Por que a comparação com os sete pecados capitais? Porque é assim que a ideia nasceu e foi crescendo em minha mente, diante de determinadas situações que vi. Eventualmente, entrarão em discussão outros pecados que, embora não listados entre os sete, fazem parte da cadeia que os liga.
Quais são os sete pecados capitais? Começamos por aqui, porque nem todo católico — SIC! — sabe disto. Os pecados capitais são estes: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. Puxando pela memória, já podem perceber que eles, e muitos outros, estão todos no Instagram.
SOBERBA
A internet — e a chamo em causa porque tudo começou com ela — é o reino dos imbecis, que deixaram a vergonha de lado e se acham no direito de ensinar os demais. No Youtube mais do que no Instagram, pululam as contas de “gurus da sabedoria”, “teólogos” autodidatas, opinadores profissionais (os opinólogos!), todos “influencers”…
Mas é no Instagram que se popularizam por causa da infinitude dos imbecis — “Stultorum infinitus est numerus” (Eclesiastes 1,15) — que os seguem e compartilham essas desgraças ambulantes. E o traço principal desses gurus é a SOBERBA, que explode quando são questionados com um mínimo de verdade e de fontes católicas. Começa que o verdadeiramente humilde nem teria uma conta pública na internet, a não ser por ordem do diretor espiritual que julgue necessária a sua presença e o seu trabalho on-line. E este é outro ponto comum que se percebe neles: não costumam ter um diretor espiritual porque a soberba o impede, se acham autossuficientes, ungidos, predestinados. E, quando existe um diretor, ou não o obedecem ou este é uma lástima, um arremedo de padre, que mal frequentou dois anos de seminário.
Além do “influencer” ser soberbo, a soberba é vendida e estimulada como uma virtude dos fortes, dos espertos, dos sábios… chegando a distorcer o pensamento de Doutores e Padres da Igreja, e filósofos em geral, para encaixá-los na “nova verdade” que eles apregoam. E isso falando só dos ambientes supostamente católicos, porque o Instagram é “democrático”, e somos obrigados a suportar os imbecis de outras religiões e culturas que também se acham no direito de ensinar.
AVAREZA
Avareza é o apego excessivo aos bens materiais, o que pode levar a um desvio da própria espiritualidade, que deve ser centrada no amor e na caridade para com o próximo. O avaro não é aquele que não gasta dinheiro, mas o que ama o dinheiro e não se importa minimamente com o próximo. Nas redes sociais pode se manifestar de diversos modos, como o apego excessivo a bens materiais e, principalmente, à ostentação de uma vida que por vezes não é real ou não é honesta. Sim, ostentar riqueza despudoradamente entra na esfera do pecado da avareza pelo apego desmedido aos bens materiais, e se veem mansões gigantescas com portas monumentais, e todo tipo de luxo — muitos meramente virtuais — que, ainda por cima, alimentam a inveja das almas fracas e afastadas de Deus. Nessa busca desenfreada pelo sucesso ostentável, os “influencers” chegam a comprar seguidores para aparentar sucesso, instigando os incautos a segui-los como um rebanho de descerebrados porque... os números, a quantidade fascinam.
LUXÚRIA
Sobre este tema, eu falaria anos, pois é o que mais aparece nas mídias sociais: nudez ou roupas e poses indecentes, música imorais, “testemunhos” escandalosos (inclusive de supostos convertidos)… a lista é longa. Você acaba de assistir a um vídeo de uma criança cantando o Regina Caeli, que agrada aos olhos e aos ouvidos, e logo a seguir vem uma mulher seminua, rebolando e desafinando frases indecentes, mesmo você tendo bloqueado esse tipo de tema inúmeras vezes. Você segue “tags” religiosas ou culturalmente elevadas, e, mesmo assim, o algoritmo joga na tela indecências e imoralidades.
A modéstia dos olhos é uma virtude que devemos praticar constantemente. Com que olhos iríamos depois admirar a beleza pura de Nossa Senhora no Céu?… Quantos anos seriam necessários no Purgatório para limpar a vista dessas visões?! Não tem como “desver” essas cenas torpes!!! E, vendo a quantidade de padres, religiosos(as) e seminaristas que estão no Instagram — a querida Irmã Cristiana ficou abismada com o simples fato de estas pessoas terem tempo para isso, diante da quantidade enorme de deveres próprios do estado religioso e sacerdotal!!! — eu me pergunto como guardam a modéstia dos olhos, a pureza e a castidade?!
E, para mais facilmente veicular essas indecências, chamam a isso de “arte”, e, por causa disso, nos proíbem de criticar nos rotulando de anacrônicos, medievais, “haters”… E essa arte não envolve apenas homens e mulheres comuns, o ultraje alcança as raias dos abismos infernais porque até os Santos da Igreja Católica, principalmente Nossa Senhora e Jesus Cristo, a pureza infinita, são o alvo preferido deles. Não são poucos os exemplos disto.
Quero, aqui, me deter sobre algo que preocupa por causa do mau exemplo, do pecado de escândalo. As pessoas tendem a crer que a internet é terra de ninguém, e fazem coisas escandalosíssimas sem se preocupar com quem possa estar vendo. Por outro lado, há pessoas que, ao invés de cortar logo a ocasião de pecado, por curiosidade ou tara, insistem em ver o que não deveriam. E não apenas assistem, mas curtem, comentam e compartilham achando que ninguém mais está vendo. A parte o fato de que, acima de nós, tem Deus Onisciente e Onipresente, a internet não é tão secreta assim, sobretudo as redes sociais. No Instagram, em particular, o algoritmo compartilha o que fazemos: surprise!! Se não sabia, fique sabendo que toda vez que você “curte” uma indecência, seus contatos podem ficar sabendo. E não adianta dizer que “dona Giulia” é curiosa e veio ver meu perfil — como certas senhoras costumavam dizer no Facebook — porque não é assim que as redes sociais funcionam. Por mais que a vida alheia não me interesse, sou obrigada a ver ou perceber essas coisas. E, até aí, tudo bem, porque não são coisas que vão mudar minha vida, porque minha Fé é mais sólida do que isso, mas elas podem mudar a vida de pessoas mais sensíveis, que podem se afastar da Igreja, da Fé verdadeira por causa de um escândalo. Resta o fato de que é chocante perceber que entre os que me rodeiam há pessoas que “curtem” conteúdos imorais vergonhosos, às vezes contra a natureza, e que não tem o menor pudor de fazê-lo.E, neste ponto, eu abro um parêntese para falar sobre RESPEITOS HUMANOS. Quantos viram aquilo e se calaram? Por vergonha de parecer “radical”, medo de perder amizade, ou simplesmente por comodismo… Mas é o próprio Senhor quem nos alerta: “Nada há de oculto que não venha a ser revelado” (São Lucas 8, 17). A fé exige vigilância constante. Nosso Senhor disse: “O reino dos céus é arrebatado à força, e só os violentos o conquistam” (São Mateus 11, 12). É preciso fazer violência a si mesmo, vigiar os sentidos, mortificar os olhos, as vontades e os desejos. Sobretudo aqueles que têm tendências mais acentuadas aos pecados contra a castidade — seja por fraqueza, por histórico pessoal, por ocasião... — devem redobrar a atenção, recorrer à penitência, e suplicar incessantemente a intercessão dos Santos, especialmente de São Luís Gonzaga, padroeiro da juventude, modelo de pureza e de renúncia ao mundo. E nem creiam que somente os homens fazem isso! Há também mulheres — muitas, inclusive — “curtindo” e consumindo conteúdo desse teor, igualmente provocativo e contrário à moral, seja com homens, seja com outras mulheres. O pecado não tem preferência de gênero.Mas a virtude também não. A graça está ao alcance de todos os que lutam, caem e se levantam com sinceridade, desejando de fato o Céu.
Por outro lado, ainda no tema da luxúria, as redes sociais “normalizam”, em nome da liberdade de consciência, situações, atitudes e comportamentos que até ontem eram pecado e censurados pela sociedade. Continuam pecado, pessoal! Quem foi que aboliu os Dez Mandamentos? Não me avisaram!!! Praticamente todos os tabus foram destruídos. Ver namorados que vivem juntos já não escandaliza ninguém… Amantes que mantêm perfil nas redes sociais reivindicando um espaço na sociedade porque são “seres humanos como todo mundo”, têm seus direitos… Prostitutas e gigolôs — mudam o nome, mas a essência é a mesma — que estampam a cara sem o menor pudor, e falam da “maravilha” que é a vida deles e de como o dinheiro ganho tão porcamente lhes proporciona uma estilo de vida “invejável”. Fetiches e bizarrices sexuais expostas para qualquer um ver. Incestos dos quais se têm orgulho. E até mesmo uma velada pedofilia…
IRA
Bom, o ódio sempre existiu, e isso ninguém pode negar, mas a internet, e as redes sociais em particular, fomentam e amplificam um ódio visceral e profundo nos usuários. Seja qual for o tema proposto, os “opinólogos” que discordam despejam impropérios e desejam o pior, mesmo que seja uma criança. A rede social é um experimento social; nele, somos tratados como ratinhos de laboratório, e inflamar sensações e sentimentos faz parte disso. Daí que vemos que esse tipo de “sociedade” estimula os vícios e não as virtudes. Eu ouço dizer que estão no Instagram por este ou aquele motivo lícito em si — como eu também declarei acima — mas como negar que a simples presença nos expõe ao que há de mais degradante e evoca em nós o que há de pior?!
GULA
Gula e consumismo andam de mãos dadas. E, para isso, o Instagram é um prato cheio; desculpem o trocadilho! Como a principal atração é o visual — fotos e vídeos — mesmo sem ter demostrado interesse no assunto, rolam tela abaixo as mais incríveis delícias com que possam se entreter os olhos! Mesmo na Quaresma… Tanto a gula quanto o consumismo são movidos pelas entranhas que nunca se saciam. Muitos descontam na comida, ou nas compras descontroladas, as insatisfações, os vazios, as frustrações… É um poço sem fim.
INVEJA
Aqui, o Instagram faz, talvez, o seu “melhor” trabalho. Às vezes por querer, às vezes inocentemente, as pessoas se expõe e ostentam uma vida que, para a maioria, é inalcançável. Naturalmente — podemos usar este termo aqui?… — quem olha essas coisas todas às quais nunca terá acesso — tendo ou não formação moral católica — sente germinar em si um sentimento de INVEJA. E a inveja não é simplesmente desejar o que é do outro, mas, precipuamente, desejar que o outro perca o objeto de desejo e até morra para não mais o usufruir. O invejoso não acha “justo” que alguém possa ter algo que ele não tenha, não possa ter ou não mereça.
Uma das filhas mais famosas da inveja é a fofoca. Ela calunia, difama, fomenta intrigas, promove discórdia e desarmonia. tem um poder de devastação tão grande que pode fazer romper, de modo irreversível, laços afetivos entre familiares e amigos. Eis o demônio plenamente satisfeito e realizado. Nas redes sociais, não são poucas as pessoas que buscam ser alvo de inveja, caindo no pecado da vaidade, ligado à soberba.
PREGUIÇA
Bom, não é que apareçam no Instagram mensagem dizendo: seja preguiçoso! Nele, muito é subliminar, velado, insinuado. O tempo que se perde nessa atividade idiota de rolar a tela infinitamente e sem propósito, o trabalho que se deixa de fazer para ficar à toa, acabam adoecendo o usuário e tornando-o preguiçoso para com seus deveres de estado. Não são poucos os pais e mães que negligenciam os filhos por causa do celular. Eu mesma já presenciei esse tipo de coisa. Certa vez, em uma viagem, fomos jantar em um shopping, que era o único lugar aberto que achamos; e lá, na praça de alimentação, eu vi uma mãe com sua filhinha, de talvez 6 ou 7 anos; a mãe no celular, curvada e absorta, ignorava as queixas da menina: estou com frio, estou com fome… deu pena da menina. E sabe-se lá a quantas negligência está exposta!!! Alguém me disse que nas escolas, mesmo nas escolas particulares, muitas crianças vão sem desjejum ou almoço, sem banho, com piolhos e doenças de pele… Não são crianças pobres da periferia!!! São os filhos da invejada classe média. E se multiplicam, no Instagram, os vídeos de cenas de negligência dos pais por causa do celular. Alguns casos até graves, em que a criança se machuca ou morre. São os novos tempos?
CONCLUSÃO
As redes sociais causam escândalo, isso é um fato. E aí de quem for o escandaloso! Mas aí também de quem assiste corriqueiramente aos escândalos! Como se pode pretender ter uma vida de santidade se se vive imerso no meio dos escândalos?!
As redes sociais são, de certa forma, um lugar secreto, uma vez que existem apenas dentro de nosso celular particular, ao qual ninguém mais tem acesso sem a nossa permissão. E, por causa disso, desse “segredo” que se julga insondável, muitos abusam do LIVRE ARBÍTRIO. Só que devemos nos lembrar que Deus é ONISCIENTE e sonda o nosso coração. Podem esconder dos outros o interesse lascivo e espúrio que alimentam no segredo de seus celulares e de suas almas, mas Deus tudo vê.
O resumo da ópera é que me parece que as redes sociais não são um ambiente adequado e salutar para os católicos, e muito menos para as crianças, que também estão expostas a tudo isso. Como exercitar e guardar as virtudes se, nesses locais virtuais, somos bombardeados por todo tipo de vício e pecado?
Em nenhuma rede social há a possibilidade, hoje, de criar um NICHO CATÓLICO, como talvez fosse na época do Orkut, a fim de participar da nova sociedade sem se misturar aos mundanos. Ademais, essa possibilidade de haver um nicho “salvífico” me traz à mente a imagem de um bordel em que haja um quarto só para os puros… Conseguem compreender a incongruência disso?! Continua um bordel!!!