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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

DAS AGITAÇÕES DE CONSCIÊNCIA QUE DEVEM NECESSARIAMENTE EXPERIMENTAR AQUELES QUE DE CATÓLICOS SE FAZEM PROTESTANTES

P - Nunca podem gozar da paz do coração, aqueles que deixam a Igreja católica para passar ao protestantismo?

R - É impossível que os apóstatas e os traidores, que saem do seio da Igreja Católica, tenham sempre a paz no fundo do coração. Pois eles são os inimigos de Deus, eles estão em revolta aberta contra Ele e contra Sua graça, e eles perderam completamente a Fé. Não há paz para o ímpio, é Deus quem afirma. Ora, se há um ímpio no mundo, este é, sem que se possa afirmar o contrário, o herético, o apóstata, o traidor.


P - Segundo o que o senhor diz, estes infelizes deveriam viver em uma incessante agitação de consciência, eles deveriam ser perseguidos por remorsos amargos... 

R - Sem dúvida alguma. Quem sempre resistiu a Deus e teve tua paz?, diz a Escritura. Estes infortunados carregam o inferno em seu coração, eles são constantemente atormentados pelos remorsos e passam momentos em uma tristeza e em uma melancolia inexplicáveis. Eis o que os torna inquietos, tristes e agitados, o que os leva a buscar dissipações e companhias para adocicar suas penas. Mas todos os seus esforços permanecem inúteis.


P - Isso não é possível. Pois eu os vejo, ao contrário, sempre alegres, sempre nos divertimentos e prazeres.

R - Tudo isso é apenas simples aparência. Ao nos determos somente em suas palavras e em seus atos, seríamos tentados em crê-los felizes; mas, na realidade, suas palavras e seus atos enganam. Estas pessoas são semelhantes a devedores esmagados por dívidas, que se embriagam para não sentir seu estado; mas, uma vez a embriaguez dissipada, seus lamentos retornam como antes. É assim que estes miseráveis apóstatas fingem a alegria, evitam a solidão, saem de si mesmos e vão à procura dos divertimentos para suprimir o remorso cruel que os persegue. Mas, não obstante todos os esforços, o verme roedor está sempre lá para devorá-los. Não, eu repito, não confie na aparência, não há paz para o ímpio.


P - Eles afirmam, no entanto, que eles abraçaram o protestantismo em virtude de uma convicção profunda e graças à leitura da Bíblia.

R - Sua convicção profunda é semelhante àquela que, em nossos dias, engajou outros a se fazerem muçulmanos. Diga-me, é possível que estes traidores, que adotaram o Alcorão, tenham alguma fé em Maomé? Pois bem! Tal é exatamente a fé e a convicção destes católicos que se entregam ao protestantismo. 


P - Eu temo muito que este modo de julgar seja o fruto de vossas conjecturas, e que a realidade seja diferente.

R - Eu fundamento meu julgamento sobre fatos. Eu o fundamento sobre a confissão pública que alguns destes traidores fizeram ao mundo, quando, cedendo, enfim, à graça, eles tomaram a sábia resolução de retornar ao seio desta Igreja que eles tinham deslealmente abandonado. Vários dentre eles, após se gabarem da alegria, da satisfação que encontraram na apostasia, após ter insultado a Igreja Romana em seus escritos e despejado sobre Ela, abundantemente, as acusações de todo gênero e as calúnias mais absurdas, foram, enfim, aterrados pela graça. Incapazes de resistir por mais tempo aos remorsos que a Misericórdia Divina lhes suscitava, após uma luta longa e terrível contra eles mesmos, eles se detiveram, enfim, e retornaram ao regaço de sua Mãe. Ora, são estes que, em suas retratações públicas, confessaram, com a maior candura, as agonias que os devoravam no seio do protestantismo. Eles retrataram as calúnias pelas quais eles tinham procurado desacreditar a Religião Católica e declararam falsas todas as acusações levadas contra a Igreja e os Papas. Estas confissões foram publicadas pelos jornais, e vós mesmo deveis ter visto alguma. 


P - É verdade, eu as vi. Mas o que ocorre para que haja tão poucos retornos à verdade e à Igreja?

R - A razão deste fato é que o heroísmo é sempre a virtude de poucos, enquanto que a covardia é comum a todos. São tão numerosos e terríveis os obstáculos que encontram aqueles que gostariam de voltar à Igreja que vários não têm a coragem de afrontá-los. Eles preferem arrastar, gemendo, as correntes com as quais eles estão carregados. 


P - Quais são estes obstáculos?

R - Eu acabo de vos dizer que eles são numerosos. O primeiro que se apresenta diante dos sacerdotes e os monges apóstatas é sua concubina (eu digo concubina, pois ela não pode nunca ser uma esposa legítima) e seus filhos. Se é verdade, como vimos, que todos os motivos de sua apostasia se reduzem às paixões descomedidas da carne, é natural, que após ter abraçado o protestantismo, seu primeiro pensamento seja de se unir com uma mulher. Mesmo no caso em que eles não tiveram a intenção de fazê-lo, os protestantes os forçaram a tomar uma o mais rápido possível, e isso no temor de que a presa lhes escapasse. Assim que eles adquirem a mulher em questão, e que esta lhes dá filhos, eles experimentam a maior dificuldade em se separar de sua nova família. Isto seria, parece-lhes, uma grande crueldade, dever abandonar seres aos quais eles se uniram por laços tão estreitos; que importa, depois disso, a palavra expressa de Nosso Senhor Jesus Cristo: aquele que ama seu pai e sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim... Os impostores traidores não fazem nenhum caso destes textos da Bíblia, ainda que eles falem estudar sem descanso as verdades da Escritura e praticar seus preceitos. 


P - Eu entendo o poder terrível desta tentação e a dificuldade que deve haver para vencê-la. Qual seria o segundo obstáculo?

R - O segundo obstáculo é aquele do interesse. Pois sua apostasia lhes fez encontrar benfeitores, empregos, pensões etc. Retornando para a Igreja, eles são reduzidos a perder tudo isto, e se condenam frequentemente à pobreza e à miséria. Compreendes sem dificuldade que o número daqueles que têm a coragem de fazer sacrifícios semelhantes é muito pequeno. São raros aqueles que se lembram desta grande sentença pronunciada pelo Salvador: Que serve ao homem ganhar o mundo se se perde sua alma? 


P - Infelizmente, sim! Eis ainda uma tentação terrível que não é inferior à primeira. Qual é o terceiro obstáculo?

R - É o sacrifício de sua reputação; pois ele precisaria se resolver à uma retratação pública. Ora, tal sacrifício custa muito ao amor próprio. Acrescente aí, entre alguns, o temor de uma perseguição furiosa da parte dos protestantes, se eles continuam a morar no meio deles após sua conversão, e a vergonha (mal entendida, sem dúvida) que eles teriam que sofrer no meio dos católicos, se eles retornassem à sua pátria. Estes obstáculos são de tal natureza que tornam impossível, moralmente falando, o retorno de um bom número de infelizes que, após terem dado o passo fatal, gemem em sua resolução, querendo reconsiderar.


P - Segundo o que eu vejo, o melhor partido seria de não se deixar arrastar para evitar em seguida um arrependimento inútil?

R - Sem dúvida, este partido é, não somente o melhor, mas é o único a tomar. Não há nada, em aparência, mais fácil do que se fazer protestante. Creia no que eles querem e aja segundo sua crença. Mas cedo ou tarde vem o remorso; cedo ou tarde, sente-se que introduziram em seu coração uma víbora que envenena e que mata. Tal é, ademais, o efeito que produz todo pecado mortal, uma vez que ele é cometido. 


P. Jean Perrone, C.J. Le Protestantisme et l'Église catholique. Controverses à l'usage du peuple. 2e édition, H. Casterman, Paris, 1857.

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