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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Visitando a igreja onde São Pedro celebrou a primeira Missa na Itália

Visitando a igreja onde São Pedro celebrou a primeira Missa na Itália



A belíssima Basílica românica de San Pietro a Grado, na homônima cidade, é o testemunho mais antigo da difusão do Cristianismo no território de Pisa. 




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Em época romana, aqui desaguava no Mar Tirreno um ramo do rio Arno, e foi exatamente junto a esta antiga e desaparecida escala fluvial chamada Grado, do antigo Porto Pisano, que, no ano 44 dC, desembarcou São Pedro [1] durante a viagem que da Palestina o levaria até
Roma. A esta data remonta a celebração da primeira Eucaristia na Itália [2]. Uma vez desembarcado, Pedro teria improvisado um altar utilizando-se de uma porção de coluna encimada por uma prancha de mármore que ainda hoje é conservada no interior da igreja. Daí em diante, este local se tornaria um lugar de culto [3], e, de fato, restos de uma antiquíssima construção, remontante ao século IV, foram encontrados nas numerosas escavações que, no curso dos anos, foram conduzidas no local. Uma segunda igreja foi, sucessivamente, construída, entre o VI e o VII século, provavelmente por causa de um incêndio que danificou gravemente o primeiro edifício. A basílica atual foi construída no séc. X, mas sofreu modificações e ampliações nos dois séculos sucessivos. Está ligada por uma gemelagem singular à Basílica de São Pedro e à tumba do Apóstolo.



Interior da Basílica


A planta é basical e com três naves, com a incomum presença de dois corpos em ábside. Aquele ocidental, talvez, foi acrescentado depois do colapso da fachada causado por uma inundação do Arno. A entrada da igreja foi mudada para o lado norte, na metade da nave lateral.

O imponente edifício monumental de tufo [4]
de Livorno, e pedra branca e preta, é marcada, no exterior, por lesenas [5] e pequenos arcos suspensos, sobre os quais estão os "bacini" [6] (as cópias; os originais estão no Museu Nacional de São Matheus, em Pisa), ou seja, bacias cerâmicas de origem islâmica [7], pintadas com figuras geométricas, zoomórficas e de vegetais, que brilham de modo particular ao ser banhadas pelos raios solares, servindo de chamariz para os fiéis. Em Grado se contam mais de duzentas.




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O espaço interior, com teto "a capriate" [8], é dividido por colunas vindas de edifícios romanos preexistentes, encimadas por capitéis [9] reutilizados, decorados segundo o estilo dórico [10], nico [11], compósito [12] e corintios [13]; outros capitéis de folhas lisas são de execução medieval.

CAPITÉIS 

Capitel dórico

Capitel jónico


Um dos capitéis da Basílica
  

Do imponente campanário do séc XII, destruído aos 22 de julho de 1944, pelos soldados da Wehrmacht, as forças armadas nazistas, que batiam em retirada, foi reconstruída apenas a base. No interior da Basílica foram colocados os três sinos recuperados das ruínas do campanário derrubado, o qual está em fase de reconstrução.

Antiga foto dos anos '20, que mostra o campanárioclique na foto para ampliar

Os sinos


Diante da ábside ocidental, um cibório gótico [14], datado do séc. XIV, assinala o lugar onde São Pedro pregou pela primeira vez.  

 
O cibório de onde São Pedro pregouclique para ver melhor

Foram completamente destruídos os numerosas altares laterais do 600, época a que remonta o Crucifixo lígneo originalmente disposto sobre o altar mor

O preciosos monumento se eleva sobre os restos da zona absidal da Basílica paleocristã [15]. Por ocasião do Jubileu [16] proclamado por Papa Bonifacio VIII (Benedetto Caetani), em 1300, a poderosa família longobarda dos Gaetani comissionou ao pintor de Lucca, Deodato Orlandi, a execução de uma séries de afrescos que ocupa a superfície da nave central. A vasta composição, recentemente restaurada, se desenvolve em três registros.  

Na faixa inferior, se sucedem os retratos dos Pontífices, desde São Pedro Apóstolo até João XVII; esta série de retratos são hoje uma fonte iconográfica ainda mais preciosa depois do desastroso incêndio de 1823 que destruiu quase completamente a Basílica de São Paulo extramuros, em Roma, e por causa do qual restou gravemente danificada também a célebre série de retratos dos Pontífices.

Afrescos do lado direito

Afrescos do lado esquerdo

Na faixa intermediária, há trinta quadros onde se desenvolve a história da vida de São Pedro, incluso o episódio de Pedro na barca, em viagem para a Itália. As histórias do Príncipe dos Apóstolos são acompanhadas por algumas cenas da vida de São Paulo, de Constantino e de São Silvestre.   


Deposição (sepultamento) de São Pedro e deposição de São Paulo

Abaixo os retratos dos Papas
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No centro o martírio de São Pedro e São Paulo e o sepultamento deles;
Em baixo, os retratos dos Pontéfices Romanos;
No alto, os muros da Cidade Celeste.
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Na faixa superior, estão os Muros da Cidade Celeste, a Nova Jerusalém do Apocalipse. Os muros com os merlões [17] lembram os muros que circundam ainda hoje a cidade de Pisa. Nos muros, se abrem uma sucessão regular de janelas; algumas delas estão fechadas, outras vão se abrindo; outras ainda veem se debruçarem os Anjos alados guardando a Civitas Dei.


Um anjo debruçado na janela, de guarda nos murosclique para ver melhor


Ao longo das paredes e nas ábsides restam alguns testemunhos das decorações pitóricas que, em várias épocas, enriqueceram a importante Basílica, por século meta de intensas peregrinações em honra do sucessor de Cristo na Terra.



Notas da tradutora: 

1. Vindo de Antioquia.
2. Lembrando que, à época de São Pedro, a Itália ainda não era uma nação única, como hoje, mas constituía a parte principal do Império Romano.
3. No local foi fundada uma comunidade cenobítica. No séc. XIII ainda era considerada canônica, dependente do Arcebipo de Pisa. Cf. http://www.medioevo.org/artemedievale/Pages/Toscana/Grado.html.
4. Tufo é uma rocha granulada muito utilizada na Itália para a confecção de tijolos, bem maiores do que os tijolos comumente utilizados no Brasil.
5. Uma lesena é uma faixa ou banda vertical, em relevo, feita numa fachada e que cria una sombra, usada na decoração de uma edificação. Em arte românica também se denomina banda lombarda.

6. Bacias de cerâmica, de vidro ou esmaltados, inseridos nas superfícies dos muros externos de edifícios geralmente religiosos, cristãos ou islâmicos
7. A Itália, como parte da Europa ocidental, sofreu invasões islâmicas durante um certo período, mas se livrou dos muçulmanos graças a Igreja e às Cruzadas.
8. Em português: "em tesoura", um tipo de estrutura em treliça, biapoiada, triangular, bastante utilizada no Brasil como apoio de telhados. É normalmente construída em madeira ou perfis de aço.
9. O capitel é a extremidade superior de uma coluna, de um pilar ou de uma pilastra, cuja função mecânica é transmitir os esforços para o fuste. O fuste, por sua vez, é a parte da coluna entre o capitel e a base e pode ser monolítico ou constituído por diversas pedras chamadas tambores.
10. O capitel dórico é bem rústico, desprovido de base, bem liso e simples.
11. O capitel jónico é feito de volutas (parecida com os chifres de um carneiro).
12. O capitel compósito (ou "composto", em inglês "composite") é a m
istura do estilo coríntio com jónico.13. O capitel coríntio possui folhas de acanto.
14. Um cibório é um elemento arquitetônico que consiste em um baldaquino que coroa um altar ou tabernáculo, especialmente nos templos cristãos antigos. Apoia-se em geral em quatro colunas unidas entre si mediante arcos, e é coberto por um teto plano ou com forma de pequena cúpula. Tem como finalidade proteger e destacar o altar ou, especificamente, o cofre em que se deposita o cibório.
15. Paleocristianismo é o Cristianismo primitivo, também conhecido como "Era Apostólica", é o nome dado a uma etapa da história do Cristianismo de aproximadamente três séculos, que se inicia após a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e termina em 325, com a celebração do Primeiro Concílio de Niceia.
16. O primeiro Jubileu cristão foi instituído pelo Papa Bonifácio VIII, em 22 de fevereiro de 1300 com a bula "Antiquorum fide relatio". Esta decisão deu à peregrinação a Roma, aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, uma nova dimensão e um novo significado. O início do novo século trouxe a Roma um número excepcional de peregrinos para venerar a mais famosa relíquia romana, a da Verônica, que representa o rosto sofredor de Jesus na sua Paixão, guardada em São Pedro. O contínuo fluxo de peregrinos levou Bonifácio VIII a convocar um Jubileu a cada cem anos e a promulgar a indulgência plenária. "Não houve, desde os tempos mais antigos, tão grande devoção e manifestação de fé do povo cristão", escreveu com entusiasmo um comentador da época. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jubileu_%28catolicismo%29.
17. O merlão, arquitetonicamente, é cada um dos intervalos dentados das ameias de uma fortaleza. 
 

Fonte: http://www.lanuovabq.it/it/articoli-dove-san-pietro-celebro-la-prima-messa-in-italia-13670.htm, https://it.wikipedia.org/wiki/Basilica_di_San_Pietro_Apostolo e https://blogcamminarenellastoria.wordpress.com/2014/09/08/pisa-san-piero-a-grado-la-citta-celeste/.

Vide também: 

Tradução do italiano, adaptação e organização: Giulia d'Amore. 
Imagens: web (dos links informados acima). 

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