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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Pai Nosso e a Ave Maria - São Tomás de Aquino - V

Publicaremos, em capítulos, este texto sobre o Pai Nosso e a Ave Maria. Hoje publicaremos a introdução e o prólogo do capítulo sobre o Pai Nosso. 


O Pai Nosso e a Ave Maria por São Tomás de Aquino


São Tomás de Aquino,
protetor da Universidade de Cusco
Anônimo da Escola de Cusco
2. A Oração Dominical  

Venha a Nós o Vosso Reino

34. — Como foi dito, o Espírito Santo nos faz amar, desejar e pedir retamente o que nos convém amar, desejar e pedir (no. 3). Este Espírito produz em nós, primeiro, o temor que nos leva a procurar a santificação do nome de Deus, para, em seguida, nos dar o dom da piedade. A piedade é, propriamente, uma afeição terna e devotada por um pai e também por um homem caído na miséria.

Como Deus é nosso Pai, devemos não somente venerá-lo e temê-lo, mas também alimentarmos uma terna e delicada afeição por Ele. É esta afeição que nos faz pedir a vinda do reino de Deus. São Paulo declara em Tito, 2, 11-13: A graça de Deus apareceu a todos os homens, ensinando-nos que vivamos neste mundo sóbria, justa e piamente, aguardando a esperança bem-aventurada e a vinda gloriosa de nosso grande Deus.

35. — Mas podemos perguntar: Se o reino de Deus sempre existiu, porque pedimos a sua vinda?

Devemos responder a esta pergunta de três maneiras:

a) Primeiro: o reino de Deus, em sua forma acabada, supõe a perfeita submissão de todas as coisas a Deus. Um rei não será rei, efetivamente, antes de que todos os seus súditos lhe obedeçam.

Sem dúvida, Deus pelo que é e por sua natureza, é o Senhor do universo; e o Cristo, sendo Deus e sendo homem, tem, como Deus, o senhorio sobre todas as coisas. Diz Daniel (7, 14): No mais antigo dos dias foi lhe dado o poder, a honra e a realeza. É preciso que tudo lhe seja submetido. Mas isto ainda não é assim e se realizará no fim do mundo. Está escrito (1 Cor 15, 25): É necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés. Eis porque pedimos: venha a nós o vosso reino.

36. — Assim fazendo, pedimos três coisas, a saber:

— que os justos se convertam;
— que os pecadores sejam punidos;
— que a morte seja destruída.

Os homens são submetidos ao Cristo de duas maneiras: ou voluntariamente ou contra a vontade. A vontade de Deus, com efeito, possui tal eficácia, que não pode deixar de se realizar totalmente. E já que Deus quer que todas as coisas sejam submissas ao Cristo, é preciso necessariamente ou que o homem cumpra a vontade de Deus, submetendo-se a seus mandamentos — o que fazem os justos — ou que Deus realize sua vontade naqueles que lhe desobedecem, isto é, nos pecadores e nos seus inimigos, punindo-os. O que acontecerá, no fim do mundo, quando Ele colocará seus inimigos debaixo de seus pés (cf., Sl 109, 1). Por isso é dado aos santos pedirem a Deus a vinda de seu reino, com a total submissão de todos à sua realeza. Mas esse pedido faz tremer os pecadores, pois assim terão de se submeter aos suplícios requeridos pela vontade divina. Infelizes aqueles (pecadores) que desejam o dia do Senhor (Am 5, 18).

A vinda do reino de Deus, no fim dos tempos, será também a destruição da morte. O Cristo é a vida; ora, a morte — que é contrária à vida — não pode existir em seu reino, segundo a palavra (1 Cor 15,26): O último inimigo a ser destruído será a morte, o que quer dizer que na ressurreição, segundo São Paulo (Fp 3, 21), o Salvador transformará nosso corpo de miséria, e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso.

37. b) Segundo: o reino dos céus designa a glória do paraíso. Não há nisto nada de espantoso, pois o reino quer dizer, simplesmente, governo. Um governo atinge seu mais alto grau de excelência, quando nada se opõe à vontade de quem governa.

Ora, a vontade de Deus é a salvação dos homens, pois Deus quer que todos os homens se salvem (cf. 1 Tm 2, 4). Esta vontade divina se realizara principalmente no paraíso, onde nada é contrário à salvação dos homens, pois o Senhor diz (Mt 13, 14): Os anjos lançarão fora de seu reino todos os escândalos. Neste mundo, ao contrário, abundam os obstáculos, para a salvação dos homens.

Quando, pois, pedimos a Deus: “venha a nós o vosso reino”, rezamos para que, triunfando sobre esses obstáculos, sejamos participantes de seu reino e da glória do paraíso.

38. — Três motivos tornam este reino extremamente desejável.

Primeiro, pela soberana justiça deste reino. Falando de seus habitantes, o Senhor diz a Isaías (60, 21) que todos são justos. Aqui, os maus estão misturados com os bons, mas lá não haverá nem maus nem pecadores.

39. — Segundo, pela perfeita liberdade dos eleitos.

Aqui na terra, todos desejam a liberdade, sem possuí-la plenamente. Mas no céu se goza de uma plena e inteira liberdade, sem a menor servidão. Diz-nos São Paulo (Rm 8, 21): A própria criação será libertada do cativeiro da corrupção, para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

E não somente todos os eleitos possuirão a liberdade, mas serão reis, segundo o Apocalipse: Fizeste-nos reis e sacerdotes e reinaremos sobre a terra.

Serão todos reis, porque terão, como Deus, uma só vontade. Deus quererá o que os santos querem e os santos quererão o que Deus quer. Assim todos reinarão, porque farão a vontade de todos e Deus será a coroa de todos, segundo Isaías (28, 5): Naquele dia, o Senhor dos exércitos será a coroa da glória e a grinalda de exultação para o resto de seu povo.

40. — Terceiro, pela maravilhosa abundância de seus bens. Diz Isaías ao Senhor (64, 4): O olho não viu, exceto tu, ó Deus, o que tens preparado para aquele que te esperam. E o Salmista (Sl 102, 5). Enches de bens, segundo o teu desejo.

E é preciso notar que “só em Deus” o homem achará a excelência e a perfeição daquilo que procura, “neste mundo”. Se procurais o deleite, em Deus achareis o deleite supremo. Se procurais riquezas, em Deus achareis a superabundância de tudo de que tendes necessidade e tudo que é razão de ser das riquezas. O mesmo acontece com os outros bens. Santo Agostinho reconhecia em suas Confissões: “A alma que fornica, ao afastar-se de vós, procurando os bens fora de vós, só os encontrará límpidos e puros se voltar para vós”.

41. — c) Terceiro: porque muitas vezes o pecado reina e triunfa neste mundo, pedimos a Deus a vinda de seu reino. São Paulo se levantava contra esta calamidade (Rm 6, 12): Que o pecado não reine em vossos corações.

Esta infelicidade se realiza quando o homem se deixa levar sem resistência, até o fim de sua inclinação para o pecado.

Deus deve reinar em nosso coração e o faz efetivamente quando estamos prontos a observar os seus mandamentos.

Quando pedimos a vinda do reino de Deus, rezamos para que não reine em nós o pecado, mas que só Deus ali reine e para sempre.

42. — Por este pedido da vinda do reino de Deus, chegaremos à bem-aventurança, proclamada pelo Senhor (Mt 5, 4): Bem-aventurados os mansos.

Com efeito, segundo a primeira explicação do pedido venha a nós o vosso reino (n° 35), o homem, pelo fato de desejar que Deus seja reconhecido mestre soberano de tudo, não se vinga da injustiça recebida, mas deixa esse cuidado a Deus. Pois se vingando ele está procurando seu triunfo pessoal e não a vinda do reino de Deus.

De acordo com a segunda explicação (n° 37) se esperais o reino de Deus, quer dizer, a glória do paraíso, não deveis ficar inquietos, quando perdeis os bens deste mundo.

Do mesmo modo, pela terceira explicação, (no 41) pedis que reine em vós Deus e seu Cristo. Assim como Jesus foi mansíssimo, pois ele mesmo o diz (Mt 11, 29), deveis também ser mansos e imitar os Hebreus dos quais diz São Paulo (Heb 10, 34): aceitaram com contentamento a espoliação de seus bens. 


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    Seja feita a Vossa Vontade assim na terra como no Céu - 30/01



Fonte e tradução: http://permanencia.org.br. 

  
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