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domingo, 25 de janeiro de 2015

O Pai Nosso e a Ave Maria - São Tomás de Aquino - I

Publicaremos, em capítulos, este texto sobre o Pai Nosso e a Ave Maria. Hoje publicaremos a introdução e o prólogo do capítulo sobre o Pai Nosso. 


O Pai Nosso e a Ave Maria por São Tomás de Aquino


São Tomás de Aquino, protetor da Universidade de Cusco
Anônimo da Escola de Cusco
1. Introdução
2. A Oração Dominical
3. A saudação angélica



Introdução

Conforme o testemunho de seus contemporâneos, entre os quais se contam muitos de seus irmãos de ordem, sabemos que um ano antes de sua morte, isto é, desde o Domingo da Sexagésima, 12 de fevereiro de 1273, até o dia da Páscoa, 9. de abril, Santo Tomás se consagrou, com todo o cuidado, à instrução dos fiéis, na igreja conventual de São Domingos, em Nápoles.

Fez ali sermões, sucessivamente sobre o Símbolo dos Apóstolos, a Oração Dominical, a Saudação Angélica, sobre os dois preceitos gerais da caridade e os dez mandamentos da lei.

Não se vê, à primeira vista, o que une esses diferentes assuntos, mas o santo Doutor teve o cuidado de mostrá-lo aos seus ouvintes: 

“Três coisas são necessárias ao homem para a sua salvação. A primeira é o conhecimento daquilo que se deve crer; a segunda, conhecer o que se deve desejar e a terceira, conhecer o que se deve realizar. O homem tem o primeiro desses conhecimentos no Símbolo dos Apóstolos; a Oração Dominical o instrui sobre o que se deve desejar; e os dois preceitos da caridade e os dez mandamentos da lei mostram o que se deve pôr em prática”.


O conjunto desses sermões constitui uma verdadeira catequese pré-batismal. Padre Toco, dominicano, que assistia às práticas, afirma que cada dia aumentava mais o número de assistentes; a multidão escutava o Bem-aventurado com veneração, como se a palavra viesse diretamente de Deus. Somente o aspecto físico de Santo Tomás, já causava uma impressão profunda. Segundo João Blasio, juiz de Nápoles, Santo Tomás fez os dois sermões sobre a Saudação Angélica, de olhos fechados ou elevados para o céu, o ar extático.

Os numerosos ouvintes do santo, nessa quaresma de 1273, pertenciam a todas as classes sociais e Santo Tomás dirigia-se a eles em italiano, não em latim. Os textos latinos que chegaram até nós, não são, pois, textos originais, mas apenas um resumo destes. Não é certo que o Santo os tenha escrito de sua própria mão nem mesmo que ele os tenha revisto. No entanto, todos os autores que falaram sobre esses textos (Mandonnet, Michelitisch, Grabinan, Walz) são unânimes em afirmar sua autenticidade. Todos asseguram que eles exprimem fielmente o pensamento do Santo Doutor.

A origem dos textos explica porque algumas vezes são encontradas obscuridades na expressão e porque nem sempre se discerne perfeitamente o elo que une alguns pensamentos. As citações das Sagradas Escrituras são muito numerosas, mas nem sempre a relação das citações com o contexto é muito clara.

Para tornar a leitura da tradução mais corrente, não hesitamos em suprimir algumas destas citações, quando a relação destas com o contexto não era perceptível. Pela mesma razão, todas as vezes em que isso pareceu necessário, procuramos exprimir explicitamente o pensamento de Santo Tomás, seja desenvolvendo o que a concisão do texto latino apenas sugeria, seja modificando a ordem material das proposições.

É certo que o homem não pode fazer nada maior, nem mais necessário à sua salvação, do que elevar sua alma a Deus para ligá-la a Sua Majestade. Ora, é pela oração que o homem se eleva a Deus e a Ele se une. E quanto mais perfeita for sua oração, maior será sua união com Deus.

Mas qual será, no mundo, a oração mais perfeita e mais santificante, senão aquela que o Filho de Deus, Deus Ele mesmo, compôs para nos dar?

Sendo assim, é da maior importância compreender bem esta sublime oração, em todos os seus pedidos, para fazê-la inteiramente nossa. Possa a leitura atenta das explicações de Santo Tomás sobre a Oração Dominical ajudar-nos a penetrar melhor no sentido profundo das diferentes partes desta prece divina.

Falando sobre a Saudação Angélica, em seu Tratado sobre a verdadeira devoção à Santíssima Virgem, São Luiz-Maria Grignion de Montfort escreve (§ 252, 253): 

“A Ave-Maria é a mais bela de todas as orações, depois do Pai Nosso: É a saudação mais perfeita, que podeis fazer a Maria, pois é a saudação que o Altíssimo lhe fez por meio de um Arcanjo, para ganhar o coração da Virgem de Nazaré. E tão poderosas foram aquelas palavras, pelo encanto secreto que contêm, que Maria deu seu pleno consentimento para a Encarnação do Verbo, apesar de sua profunda humildade. É por esta saudação que também vós ganhareis infalivelmente seu coração, contanto que a digais como deveis... isto é, com atenção, devoção e modéstia”.

Poderemos acrescentar: com inteligência, o que nos obriga a um esforço para compreendermos melhor o sentido profundo das palavras que pronunciamos. A leitura das explicações do Doutor Angélico nos ajudará muito nisto.

Segundo a opinião mais aceita, atribui-se ao papa Urbano VIII a introdução do nome de Jesus na Saudação Angélica. Este pontífice reinou de 1261 a 1264. Santo Tomás, no entanto, em sua explicação da Ave-Maria, composta em 1273, não faz menção do nome de Jesus. Mas o fez, por diversas vezes, especialmente na Suma Teológica (IIIa, q. 37, a. 2, c.). Parece também não ter conhecido a segunda parte da Ave-Maria, que se foi formando pouco a pouco. No século XII encontra-se um esboço dela, num hino atribuído a Gottschalk, capelão do imperador Henrique IV. No século XV, São Bernardino de Sena conhecia um resumo desta segunda parte: Santa Maria, rogai por nós, pobres pecadores. A fórmula atual foi posta em uso no século XVI; e consagrada oficialmente por sua inserção, no breviário de São Pio V, em 1568.

Como muitos escolásticos do século XIII, Santo Tomás pensava, e pensou até o fim de sua vida, que a Santa Virgem tinha contraído o pecado original e que tinha sido purificada por uma graça especial, desde o seio de sua mãe. Ele o diz por duas vezes na explicação da Saudação Angélica (n° 6 e 7). Nestes dois pontos, nossa tradução, propositadamente, não é uma tradução; pois não exprime o sentido do texto latino, mas o que é de fé, para a Santa Igreja e o que hoje contempla o Santo Doutor na visão beatífica, a saber, a Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria.

Um monge de Fontgombault
  



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A Oração Dominical

PRÓLOGO

I. As cinco qualidades requeridas para todas as orações.

1. — A Oração Dominical, entre todas, é a oração por excelência, pois possui as cinco qualidades requeridas para qualquer oração. A oração deve ser: confiante, reta, ordenada, devota e humilde.

2. — A oração deve ser confiante, como São Paulo escreve aos Hebreus (4, 16): Aproximemo-nos com confiança do trono da graça, a fim de alcançar a misericórdia e achar graça para sermos socorridos no tempo oportuno.

A oração deve ser feita com fé e sem hesitação, segundo São Tiago. (Tg 1,6): Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... Mas peça-a com fé e sem hesitação.

Por diversas razões, o Pai Nosso é a mais segura e confiante das orações. A Oração Dominical é obra de nosso advogado, do mais sábio dos pedintes, do possuidor de todos os tesouros de sabedoria (cf. Cl 2, 3), daquele de quem diz São João (I, 2, 1): Temos um advogado junto ao pai: Jesus Cristo, o Justo. São Cipriano escreveu em seu Tratado da oração dominical: “Já que temos o Cristo como advogado junto ao Pai, por nossos pecados, em nossos pedidos de perdão, por nossas faltas, apresentemos em nosso favor, as palavras de nosso advogado”.

A Oração Dominical parece-nos também que deve ser a mais ouvida porque aquele que, com o Pai, a escuta é o mesmo que no-la ensinou; como afirma o Salmo 90 (15): Ele clamará por mim e eu o escutarei. “É rezar uma prece amiga, familiar e piedosa dirigir-se ao Senhor com suas próprias palavras” diz São Cipriano. Nunca se deixa de tirar algum fruto desta oração que, segundo santo Agostinho, apaga os pecados veniais.

3. — Nossa oração deve, em segundo lugar, ser reta, quer dizer, devemos pedir a Deus os bens que nos sejam convenientes. “A oração, diz São João Damasceno, é o pedido a Deus dos dons que convém pedir”.

Muitas vezes, a oração não é ouvida por termos implorado bens que verdadeiramente não nos convêm. “Pediste e não recebeste, porque pediste mal”, diz São Tiago. (4,3).

É tão difícil saber com certeza o que devemos pedir, como saber o que devemos desejar. O Apóstolo reconhece, quando escreve aos Romanos (8, 26): Não sabemos pedir como convém, mas (acrescenta), o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis.

Mas não é o Cristo que é nosso doutor? Não foi ele que nos ensinou o que devemos pedir, quando seus discípulos disseram: Senhor, ensinai-nos a rezar? (Lc 11, 1).

Os bens que ele nos ensina a pedir, na oração, são os mais convenientes. “Se rezamos de maneira conveniente e justa, diz Santo Agostinho, quaisquer que sejam os termos que empregamos, não diremos nada mais do que o que está contido na Oração Dominical”.

4. — Em terceiro lugar, a oração deve ser ordenada, como o próprio desejo que a prece interpreta.

A ordem conveniente consiste em preferirmos, em nossos desejos e preces, os bens espirituais aos bens materiais, as realidades celestes às realidades terrenas, de acordo com a recomendação do Senhor (Mt, 6,33): Procurai primeiro o reino de Deus e sua justiça e o resto — o comer, o beber e o vestir — ser-vos-á dado por acréscimo.

Na Oração Dominical, o Senhor nos ensina a observar esta ordem: primeiro pedimos as realidades celestes e em seguida os bens terrestres.

5. — Em quarto lugar, a oração deve ser devota.

A excelência da devoção torna o sacrifício da oração agradável a Deus. Em vosso nome, Senhor, elevarei minhas mãos, diz o Salmista, e minha alma é saciada como de fino manjar.

A prolixidade da oração, no mais das vezes, enfraquece a devoção; também o Senhor nos ensina a evitar essa prolixidade supérflua: Em vossas orações não multipliqueis as palavras; como fazem os pagãos, (Mt 6,7). S. Agostinho recomenda, escrevendo a Proba: “Tirai da oração a abundância de palavras; no entanto não deixeis de suplicar, se vossa atenção continua fervorosa”.

Esta é a razão pela qual o Senhor instituiu a breve oração do Pai Nosso.

6. — A devoção provém da caridade, que é o amor de Deus e do próximo. O Pai Nosso é uma manifestação destes dois amores.

Para mostrar nosso amor a Deus, o chamamos “Pai” e para mostrar nosso amor ao próximo, pedimos por todos os homens justos, dizendo: “Pai nosso”, e empurrados pelo mesmo amor, acrescentamos: “perdoai as nossas dívidas”,

7. — Em quinto lugar, nossa oração deve ser humilde, segundo o que diz o Salmista (Sl 101, 18): Deus olhou para a prece dos humildes.

Uma oração humilde é uma oração que certamente será ouvida, como nos mostra o Senhor, no evangelho do Fariseu e do Publicano (Lc 18, 9-15) e Judite, rogando ao Senhor, dizia: Vós sempre tivestes por agradável a súplica dos humildes dos mansos.

Esta humildade está presente na Oração Dominical, pois a verdadeira humildade está naquele que não confia em suas próprias forças, mas tudo espera do poder divino.

II. Os bons efeitos da oração.

8. — Notemos que a oração produz três espécies de bens.

Primeiramente, constitui um remédio eficaz contra todos os males. Livra-nos dos pecados cometidos: “Remistes, Senhor, a iniqüidade de meu pecado, diz o Salmista (Sl 31,5-6) por isso todo homem santo dirigirá a Vós sua prece”. Assim pediu o ladrão sobre a cruz e obteve seu perdão, pois Jesus lhe respondeu: “Em verdade vos digo, hoje mesmo estareis comigo no paraíso”. (Lc 23,43), Do mesmo modo rezou o publicano e voltou para casa justificado (cf. Lc 18,14).

A oração nos liberta do medo dos pecados que virão, das tribulações e da tristeza. Alguém está triste entre vós? Reze com a alma tranqüila (Tg 5,3).

A oração nos livra das perseguições dos inimigos. Está escrito no Salmo 108, 4: Em resposta ao meu afeto me fizeram mal; eu, porém, orava.

9. — Em segundo lugar, a oração é um meio útil e eficaz para a realização de todos os nossos desejos. Tudo o que pedirdes na oração, diz Jesus, crede, recebereis. (Mc 11,24)

Se não somos atendidos, será porque — ou não pedimos com insistência: é preciso rezar sem descanso (Lc 18, 1) — ou então não pedimos o que é mais útil à nossa salvação. “O Senhor é bom, diz Santo Agostinho, muitas vezes não nos concede o que queremos, para nos dar os bens, que desejaríamos receber, se nossa vontade estivesse bem de acordo com a sua divina vontade”. São Paulo é exemplo disso, pois, por três vezes, pediu para ficar livre de um forte sofrimento em sua carne e não foi atendido (cf. II Cor 12,8).

10. — Em terceiro lugar a oração é útil, porque nos torna familiares de Deus. Que minha oração suba até vós, como a fumaça do incenso, diz o Salmista (Sl 140, 2).

   
Prólogo - 25/01 
    Pai Nosso - 26/01
    Que estais no Céu - 27/01
    Santificado seja o Vosso Nome - 28/01
    Venha a Nós o Vosso Reino - 29/01
    Seja feita a Vossa Vontade assim na terra como no Céu - 30/01
    O Pão Nosso de cada dia nos dai hoje - 31/01
    Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores - 01/02
    E não nos deixeis cair em tentação - 02/02
    Mas livrai-nos do mal. Amém. - 03/02

    3. A saudação angélica - 04/02
    Ave - 05/02
    Cheia de graça - 06/02
    Maria - 07/02
    O Senhor é Convosco - 08/02
    Maria - 09/02
    Bendita sois vós entre as mulheres - 10/02
    Maria - 11/02
    Bendito é o fruto do vosso ventre - 12/02




Fonte e tradução: http://permanencia.org.br


  
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