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terça-feira, 17 de abril de 2012

A Selva - A dignidade do Padre

Santo Afonso Maria de Ligório
(27/09/1696 - 02/08/1787)
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas

A Selva


PRIMEIRA PARTE - MATERIAIS PARA OS SERMÕES


A dignidade do Padre


I - Idéia da dignidade sacerdotal

 Diz Sto. Inácio mártir que a dignidade sacerdotal tem a supremacia entre todas as dignidades criadas 2. Santo Efrém exclama: “É um prodígio espantoso a dignidade do sacerdócio, é grande, imensa, infinita 3. Segundo S. João Crisóstomo, o sacerdócio, embora se exerça na terra, deve ser contado no número das coisas celestes 4. Citando Sto. Agostinho, diz Bartolomeu Chassing que o sacerdote, alevantado acima de todos os poderes da terra e de todas as grandezas do Céu, só é inferior a Deus 5. E Inocêncio III assegura que o sacerdote está colocado entre Deus e o homem; é inferior a Deus, mas maior que o homem 6.
 Segundo S. Dionísio, o sacerdócio é uma dignidade Angélica, ou antes divina; por isso chama ao padre um homem divino 7. Numa palavra, concluí Sto. Efrém, a dignidade sacerdotal sobreleva a tudo quanto se pode conceber 8. Basta saber-se que, no dizer do próprio Jesus Cristo, os padres devem ser tratados como a sua pessoa: Quem vos escuta, a mim escuta; e quem vos despreza, a mim despreza 9. Foi o que fez dizer ao autor da Obra imperfeita: Honrar o sacerdote de Cristo, é honrar o Cristo; e fazer injúria ao sacerdote de Cristo, é fazê-la a Cristo” 10. Considerando a dignidade dos sacerdotes, Maria d’Oignies beijava a terra em que eles punham os pés.

II - Importância das funções sacerdotais

 Mede-se a dignidade do padre pelas altas funções que ele exerce.São os padres escolhidos por Deus, para tratarem na terra de todos os seus negócios e interesses; é uma classe inteiramente consagrada ao serviço do divino Mestre, diz S. Cirílo de Alexandria 11. Também Sto. Ambrósio chama ao ministério sacerdotal uma “profissão divina”12. O sacerdote é o ministro, que o próprio Deus estabeleceu, como embaixador público de toda a Igreja junto dele, para o honrar, e obter da sua bondade as graças necessárias a todos os fiéis.
 Não pode a Igreja inteira, sem os padres, prestar a Deus tanta honra, nem obter dele tantas graças, como um só padre que celebra uma missa. Com efeito, sem os padres, não poderia a Igreja oferecer a Deus sacrifício mais honroso que o da vida de todos os homens: mas o que era a vida de todos os homens, comparada com a de Jesus Cristo, cujo sacrifício tem um valor infinito? O que são todos os homens diante de Deus senão um pouco de pó, ou antes um nada? Isaías diz: São como uma gota de água... e todas as nações são diante dele, como se não fossem 13.
 Assim, o sacerdote que celebra uma missa rende a Deus uma honra infinitamente maior, sacrificando-lhe Jesus Cristo, do que se todos os homens, morrendo por ele, lhe fizessem o sacrifício das suas vidas. Mais ainda, por uma só missa, dá o sacerdote a Deus maior glória, do que lhe têm dado e hão de dar todos os anjos e santos do Paraíso, incluindo também a Virgem santíssima; porque não lhe podem dar um culto infinito, como o faz um sacerdote celebrando no altar.
 Além disso, o padre que celebra oferece a Deus um tributo de reconhecimento condigno da sua bondade infinita, por todas as graças que ele há sempre concedido, mesmo aos bem-aventurados que estão no Céu. Este reconhecimento condigno nem todos os bem-aventurados juntos o poderiam prestar; de modo que, ainda sob este ponto de vista, a dignidade do padre está acima de todas as dignidades, sem exceptuar as do Céu.
 Mais, o padre é um embaixador enviado pelo universo inteiro, como intercessor junto de Deus, para obter as suas graças para todas as criaturas; assim fala S. João Crisóstomo 14. Santo Efrém ajunta que o padre trata familiarmente com Deus 15. Para o padre, numa palavra, não há nenhuma porta fechada.
 Jesus Cristo morreu para fazer um padre. Não era necessário que o Redentor morresse para salvar o mundo: uma gota de sangue, uma lágrima, uma prece lhe bastava para salvar todos os homens; porque, sendo esta prece dum valor infinito, era suficiente para salvar, não um mundo, mas milhares de mundos.
 Pelo contrário, foi necessária a morte de Jesus Cristo para fazer um padre: pois, de outro modo, — onde se encontraria a Vítima que os padres da lei nova oferecem hoje a Deus, Vítima santíssima, sem mancha, só por si suficiente para honrar a Deus duma maneira condigna de Deus? O sacrifício da vida de todos os anjos e de todos os homens não seria capaz, como acabamos de dizer, de prestar a Deus a honra infinita, que lhe presta um padre com uma só missa.

III - Excelência do poder sacerdotal

 Mede-se também a dignidade do padre pelo poder que ele exerce sobre o corpo real e o corpo místico de Jesus Cristo.
 Quanto ao corpo real, é de fé que no momento em que o padre consagra, o Verbo encarnado se obrigou a obedecer-lhe, vindo às suas mãos sob as espécies sacramentais. Causou espanto que Deus obedecesse a Josué, e mandasse ao sol que se detivesse à sua voz, quando ele disse: Sol! fica-te imóvel diante de Gabaon... E o sol deteve-se no meio do Céu 16.
 Mas é muito maior prodígio que Deus, em obediência a poucas palavras do padre 17, desça sobre o altar, ou a qualquer parte em que o sacerdote o chame, quantas vezes o chamar, e se ponha entre as suas mãos, embora esse sacerdote seja seu inimigo! Aí permanece inteiramente à disposição do padre, que pode transportá-lo à sua vontade dum lugar para outro, encerrá-lo no tabernáculo, expô-lo no altar, ou ministrá-lo aos outros. É o que exprime com admiração S. Lourenço Justiniano, falando dos padre: “Bem alto é o poder que lhes é dado! Quando querem, demudam o pão em corpo de Cristo: o Verbo encarnado desde do Céu e desce verdadeiramente à mesa do altar! É-lhes dado um poder que nunca foi outorgado aos anjos. Estes conservam-se junto do trono de Deus; os sacerdotes têm-no nas mãos, dão-no ao povo e eles próprios o comungam” 18.
 Quando ao corpo místico de Jesus Cristo, que se compõe de todos os fiéis, tem o sacerdote o poder das chaves: pode livrar do inferno o pecador, torná-lo digno do Paraíso, e, de escravo do demônio, fazê-lo filho de Deus. O próprio Jesus Cristo se obrigou a estar pela sentença do padre, em recusar ou conceder o perdão, conforme o padre recusar ou dar a absolvição, contanto que o penitente seja digno dela.
 De modo que o juízo de Deus está na mão do padre, diz S. Máximo de Turim 19. A sentença do padre precede, ajuda S. Pedro Damião, e Deus a subscreve 20. Assim, conclui S. João Crisóstomo, o Senhor supremo do universo não faz senão seguir o seu servo, confirmando no Céu tudo quanto ele decide na terra 21.
 Os padres, diz Sto. Inácio mártir, são os dispensadores das graças divinas e os consócios de Deus 22. E, segundo S. Próspero, são a honra e as colunas da Igreja, portas e porteiros do Céu 23.
 Se Jesus Cristo descesse a uma igreja, e se sentasse num confessionário para administrar o sacramento da Penitência, ao mesmo tempo que um padre sentado no outro, o divino Redentor diria: Ego te absolvo o padre diria o mesmo: Ego te absolvo; e os penitentes ficariam igualmente absolvidos, tanto por um como pelo outro.
 Que honra para um súdito, se o seu rei lhe desse poder para livrar da prisão quem lhe aprouvesse! Mas muito maior é o poder dado pelo Padre Eterno a Jesus Cristo, e por Jesus Cristo aos padres, para livrarem do inferno, não só os corpos, mas até as almas; esta reflexão é de S. João Crisóstomo 24.

IV - A dignidade do padre excede todas as dignidades criadas

 A dignidade sacerdotal é pois neste mundo a mais alta de todas as dignidades, nota Sto. Ambrósio 25. Ela excede, diz S. Bernardo, todas as dignidades dos imperadores e dos anjos 26. Santo Ambrósio ajunta que a dignidade do padre sobreleva à dos reis como o ouro ao chumbo 27. A razão disso, segundo S. João Crisóstomo, é que o poder dos reis só se estendem aos bens temporais e aos corpos, ao passo que o dos padres abrange os bens espirituais e as almas 28. Donde se conclui, em conformidade com o que fica exposto, que o poder ou a dignidade do padre é tão superior à dos príncipes como a alma ao corpo; era o que já tinha dito o Papa S. Clemente 29.
 É uma glória para os reis da terra honrar os padres; é isso próprio dum bom príncipe, diz o Papa Marcelo 30. Os reis, diz Pedro de Blois, apressam-se a dobrar o joelho diante do sacerdote, a beijar-te a mão, e a abaixar humildemente a cabeça para receberem a sua bênção 31.
 Reconhecem assim a superioridade do sacerdócio, diz S. João Crisóstomo 32. Conta Barónio 33 que Leôncio, bispo de Trípoli, tendo sido chamado à corte pela imperatriz Eusébia, lhe mandara dizer que, se queria a visita dele, era necessário que primeiro aceitasse as seguintes condições: que à sua chegada a imperatriz desceria do seu trono, viria inclinar a cabeça sob as suas mãos, pedir-lhe e receber dele a bênção; depois ele se assentaria, e ela só o poderia fazer com permissão sua. Terminava por dizer-lhe que, a não se darem essas condições, jamais poria os pés na sua corte.
 Convidado para a mesa do imperador Máximo, S. Martinho brindou primeiro o seu capelão e só depois o imperador 34. No Concílio de Nicéia, quis Constantino Magno ocupar o último lugar, depois de todos os sacerdotes, num assento menos elevado; e ainda se não quis assentar sem permissão deles 35. O santo rei Boleslau tinha pelos sacerdotes uma tal veneração que não se assentava na presença deles.
 A dignidade sacerdotal ultrapassa até a dos anjos, razão por que também estes a veneram 36. Velam os anjos da guarda pelas almas que lhe estão confiadas, de modo que, se elas se encontram em estado de pecado mortal, excitam-nas a recorrer aos sacerdotes, esperando que eles pronunciem a sentença de absolvição; assim fala S. Pedro Damião 37.
 Se um moribundo pedir a assistência de S. Miguel, bem poderá, é verdade, este glorioso arcanjo expulsar os demônios que o cercarem, mas não quebrar-lhes as cadeias, se não vier um padre que o absolva. Acabando S.Francisco de Sales de conferir a ordem de presbítero a um digno clérigo, notou à saída que ele trocava algumas palavras com outra pessoa, a quem queria ceder a passo. Interrogado pelo Santo, respondeu ao jovem sacerdote que o Senhor o tinha honrado com a presença visível do seu anjo da guarda.Este antes da sua elevação ao sacerdócio caminhava à sua direita e precedia-o, mas agora tomava a esquerda e recusava caminhar diante; por isso ele se tinha ficado à porta, numa santa contenda com o anjo. S. Francisco de Assis dizia: “Se eu visse um padre, primeiro ajoelharia diante do padre, e depois diante do anjo 38”.
 Mais ainda, o poder do padre excede até o da santíssima Virgem; porque a Mãe de Deus pode pedir por uma alma e obter-lhe quanto quiser pelas suas súplicas, mas não pode absolvê-la da menor falta. Escutemos Inocêncio III: “Embora a santíssima Virgem esteja elevada acima dos apóstolos, não foi contudo a ela, mas a eles que o Senhor confiou as chaves do reino dos céus 39”.
 Por outro lado, S. Bernardino de Sena, dirigindo-se a Maria, diz igualmente que Deus elevou o sacerdócio acima dela 40; e eis a razão que dá: Maria concebeu Jesus Cristo uma só vez; o padre pela consagração concebe-o, por assim dizer, quantas vezes quer; de modo que, se a pessoa do Redentor ainda não existisse no mundo, o padre, pronunciando as palavras das consagração, produziria realmente esta pessoa sublime do Homem-Deus.
 Daqui esta bela exclamação de Sto. Agostinho: “Ó venerável dignidade a dos sacerdotes, entre cujas mãos o Filho de Deus encarna como encarnou no seio da Virgem! 41”. Por isso S. Bernardo, entre muitos outros, chama aos padres pais de Jesus Cristo 42. De fato, são causa da existência real da pessoa de Jesus Cristo na Hóstia consagrada.
 De certo modo, pode o padre dizer-se criador do seu Criador, porque pronunciando as palavras da consagração, cria Jesus Cristo sobre o altar, onde lhe dá o ser sacramental, e o produz como vítima para o oferecer a Padre eterno. Para criar o mundo, Deus só disse uma palavra: Disse, e tudo foi feito 43; do mesmo modo, basta que o sacerdote diga sobre o pão: Isto é o meu corpo; = Hoc est corpus meum; e eis que o pão deixou de ser pão: é o corpo de Jesus Cristo. S. Bernardino de Sena vê nesta maravilha um poder igual ao que criou o universo 44. E Sto. Agostinho exclama de assombro: “Ó venerável e sagrado poder o das mãos do padre! Ó glorioso ministério! Aquele que me criou a mim, deu-me, se ouso dizê-lo, o poder de o criar a ele; e ele que me criou sem mim, criou-se a si por meio de mim!” 45
 Assim como a palavra de Deus criou o céu e a terra, assim também, diz S. Jerônimo, as palavras do padre criam Jesus Cristo 46. Tão alta é a dignidade do padre que vai até abençoar sobre o altar o próprio Jesus, como Vítima para oferecer ao Padre eterno. Segundo nota o Pe. Mansi 47, no sacrifício da Missa, Jesus Cristo é considerado como Sacrificador principal e como Vítima:como Sacrificador abençoa o padre; mas, como Vítima, é abençoado pelo padre.

V - O alto posto ocupado pelo padre

 A excelência da dignidade sacerdotal mede-se também pelo alto posto que o padre ocupa. No sínodo de Chartres, celebrado em 1550, é chamado “a morada dos santos” 48. Dá-se aos padres o título de vigários de Jesus Cristo, e assim os chama Sto. Agostinho, porque fazem as suas vezes na terra 49.
 Tal é também a linguagem empregada por S. Carlos Borromeu no sínodo de Milão: Somos nós os embaixadores de Jesus Cristo; é Deus quem pela nossa boca vos exorta 50. Foi o que o próprio Apóstolo declarou.
 Subindo ao Céu, o divino Redentor deixou os sacerdotes para serem na terra os mediadores entre Deus e os homens, particularmente ao altar, como diz S. Lourenço Justiniano: “Deve o padre aproximar-se do altar como o próprio Jesus Cristo”51. S. Cipriano diz: “O padre ocupa verdadeiramente o lugar e desempenha o ofício do Salvador 52; e S. Crisóstomo: Quando virdes o sacerdote a oferecer o sacrifício, vede a mão de Jesus Cristo estendida dum modo invisível” 53.
 Ocupa também o padre o lugar do Salvador, quando remite os pecados, dizendo: Ego te absolvo. O grande poder que o Padre eterno deu o seu divino Filho, comunica-o Jesus Cristo aos padres, De suo vestiens sacerdotes, segundo a expressão de Tertuliano.
 Para perdoar um pecado, é necessário o poder do Altíssimo, como a Igreja o faz ouvir nas suas orações 54.
 Tinham pois razão os judeus, quando, ao verem que Jesus Cristo perdoava os pecados ao paralítico, disseram: “Quem senão Deus pode perdoar os pecados?” 55 Mas esta graça que só Deus pode fazer pela sua onipotência, o padre a pode também dispensar por estas palavras: Ego te absolvo a peccatis tuis; porque a forma, ou, se o quiserem, as palavras da forma, pronunciadas pelo padre nos sacramentos, operam imediatamente o que significam.
 Qual seria o nosso espanto, se víssemos um homem que, mediante algumas palavras, tinha a virtude de tornar branca a pele dum negro! O padre faz mais, quando diz: Eu te absolvo, — porque no mesmo instante demuda em amigo um inimigo de Deus, e um escravo do inferno num herdeiro do Céu.
 O cardeal Hugues põe na boca do Senhor estas palavras, que representa dirigidas a um sacerdote ao absolver um pecador: Eu fiz o céu e a terra, mas dou-te o poder para fazeres uma criação mais nobre e melhor: duma alma manchada pelo pecado, faze uma alma nova ( Faze uma alma nova, quer dizer, faze que uma alma pecadora e escrava de Lúcifer se torne minha filha). Mandei à terra que produza os seus frutos; dou-te um poder melhor, o de produzires frutos nas almas 56.
 Privada da graça, é a alma como uma árvore seca, que não pode produzir nenhum fruto; mas, recobrando a graça pelo ministério do padre, produz frutos de vida eterna. Santo Agostinho ajunta que a justificação dum pecador é uma obra maior que a de criar o céu e a terra 57. O Senhor diz a Jó: Tendes vós um braço como o de Deus, e uma voz trovejante como a sua? 58 Ora, quem é que tem um braço semelhante ao de Deus e como Deus faz trovejar a sua voz? É o padre que, dando a absolvição, se serve do braço e da voz do próprio Deus, para livrar do inferno as almas.
 Lemos em Sto. Ambrósio que o padre, quando absolve, opera o mesmo que faz o Espírito Santo, quando justifica as almas 59. Eis por que o divino Redentor, ao conferir aos padres o poder de absolver, lhes deu o seu Espírito: Soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo: aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos 60. Deu-lhes o seu Espírito que santifica as almas, e estabeleceu-os cooperadores seus, conforme a expressão do Apóstolo 61. E S. Gregório ajunta: “Receberam o poder judicial supremo, para em nome de Deus remitirem ou reterem os pecados aos outros” 62. Razão tem pois S. Clemente de chamar ao padre um Deus na terra 63. Davi disse: Veio Deus à assembléia dos deuses 64. Segundo a explicação de Sto. Agostinho, os deuses de que fala são os sacerdotes 65. E eis o que diz Inocêncio III: “Os padres se chamam deuses, por causa da dignidade do seu ofício” 66.

VI - Conclusão

 Mas, que horror ver, numa mesma pessoa, uma dignidade sublime e uma vida vergonhosa, uma profissão divina e obras de iniqüidade! Para longe de nós esta desordem, exclama Sto. Ambrósio; que as nossas obras estejam de acordo com o nosso nome! 67 O que é uma alta dignidade num indigno, senão uma pérola caída na lama, pergunta Salviano? 68.
 O Apóstolo nos adverte que ninguém deve ser tão audacioso que se eleve ao sacerdócio, sem a vocação divina de Aarão, pois que nem Jesus Cristo se quis arrogar a honra do sacerdócio, mas esperou que seu Pai o chamasse a essa dignidade 69.
 Aprendamos daqui quanto é alta a dignidade do padre; mas quanto mais alta é, mais devemos temê-la. “É grande a dignidade dos padres, diz S. Jerônimo; mas também a sua ruína, se vierem a pecar. Regozijemo-nos com a nossa elevação, mas temamos de cair” 70. S. Gregório exclama gemendo: “Purificados pelas mãos dos sacerdotes entram na pátria os eleitos; e os próprios padres se precipitam de cabeça para baixo nos suplícios do inferno!” 71 E ajunta: é o que acontece com a água batismal, que purifica do pecado os que a recebem, e os envia para o Céu, ao passo que ela cai e perde-se.


 
Notas:
1. Terrível verdade que a experiência de cada dia tristemente confirma!
2. Omnium apex est Sacerdotium (Epist. ad Smyrn.).
3. Miraculum est stupendum, magna, immensa, infinita Sacerdotii dignitas (De Sacerdotio 1.3).
4. Sacerdotium in terris peragitur, sed in rerum coelestium ordinem referendum est (De Sacerd.1. 3.).
5. O Sacerdos Dei! si altitudinem coeli contemplaris, altior es; si omnium dominorum sublimitatem, sublimior es; solo tuo Creatore inferior es (Catal. gloriae mundi, p. 4. cons. 6).
6. Inter Deum et hominem medius constitus; minor Deo, sed major homine (In Consecr. Pont.s. 2).
7. Angelica, imo divina est dignitas. — Qui sacerdotem dixit, prorsus divinum insinuat virum (De Eccl. Hier.).
8. Excedit omnem cogitationem donum dignitatis sacerdotalis (De Sacerdotio).
9. Qui vos audit, me audit; et qui vos spernit, me spernit (Luc. 10, 16).
10. Qui honorat sacerdotem Christi, honorat Christum; et qui injuriat sacerdotem Christi, injuriat Christum (Hom. 17).
11. Genus divinis ministeriis mancipatum (De Adora. 1. 13).
12. Deifica professio (De dignit. sac. c. 3).
13. Quasi stilla situlae... pulvis exiguus; omnes gentes quasi non sint, sunt coram eo (Is. 40,15-17).
14. Pro universo terrarum orbe legatus intercedit apud Deum (De Sacerd. 1. 6).
15. Cum Deo familiariter agit (De Sacerdotio).
16. Obediente Domino voci hominis! — Sol, contra Gabaon ne movearis... Stetit itaque sol in medio coeli (Jos. 10, 12).
17. Hoc est corpus meum.
18. Maxima illis est collata potestas! Ad eorum pene libitum, corpus Christi de panis transsubstantiatur materia; descendit de coelo in carne Verbum, et altaris verissime reperitur in mensa! Hoc illis praerogatur ex gratia, quod nusquam datum est angelis. Hi assistunt Deo; illi contrectant manibus, tribuunt populis, et in se suscipiunt (Serm. de Euchar.).
19. Tanta ei (Petro) potestas attributa est judicandi, ut in arbitrio ejus poneretur coeleste judicium (In Nat. B. Petri. hom. 3).
20. Praecedit Petri sententiam Redemptoris (Serm. 26).
21. Dominus sequitur servum; et quidquid hic in inferioribus judicaverit, hoc ille in supernis comprobat (De Verbis Is. hom. 5).
22. In domo Dei, divinorum bonorum aeconomos, sociosque Dei, sacerdotes respicite (Ep.ad Palyc.).
23. Ipsi sunt Ecclesiae decus, columnae firmissimae; ipsi januae, Civitatis aeternae, per quos omnes ingrediuntur ad Christum; ipsi janitores, quibus claves datae sunt regni coelorum; ipsi dispensatores regiae domus, quorum arbitrio dividuntur gradus singulorum (De Vita cont. 1.2, c. 2).
24. Omne judicium a Filio illis traditum... Nam quasi in coelum translati, ad principatum istum perducti sunt. Si cui rex hunc honorem detulerit, ut potestatem habeat quoscumque in carcerem conjectos laxandi, beatus ille judicio omnium fuerit; at vero, qui tanto majorem a Deo accepit potestatem, quanto animae corporibus praestant (De Sacerd. 1. 3).
25. Nihil in hoc saeculo excellentius (De dignit. sac. c. 3).
26. Praetulit vos, sacerdotes, regibus et imperatoribus; praetulit angelis (Serm. ad Pastor. in syn.).
27. Longe erit inferius, quam si plumbum ad auri fulgorem compares (De dignit. sacer. c. 2).
28. Habent principes vinculi potestatem, verum corporum solum; sacerdotes vinculum etiam animarum contingit (De Sacerd. 1. 3).
29. Quanto anima corpore praestantior est, tanto est sacerdotium regno excellentius (Constit.apost. 1. 2, c. 34).
30. Boni principis est Dei sacerdotes honorare (Cap. Boni princ. dist. 96).
31. Reges flexis genibus offerunt ei munera, et deosculantur manum, ut ex ejus contactu sanctificentur (Serm. 47).
32. Major est hic principatus quam regis; propterea rex caput submittit manui sacerdotis (De Verbis Is. hom. 4).
33. Anno 325, n. 16.
34. Sulpicio Severo (Vit. S. Mart. c. 23).
35. Eusébio de César (Vit. Constant. 1. 3, c. 22).
36. Sacerdotium ipsi quoque angeli venerantur (Orat ad Naz.).
37. Licet assistant angeli, praesidentis (sacerdotis) imperium exspectantes, nullus tamen eorum ligandi atque solvendi possidet potestatem (Serm. 26).
38. Opera Orac. 22.
39. Licet Beatissima Virgo excellentior fuerit Apostolis, non tamen illi, sed istis Dominus claves egni coelorum commisit (Cap. Nova quaedam. De Paenit.).
40. Virgo benedicta, excusa me, qui non loquor contra te: sacerdotium ipse praetulit supra te (T. 1. s. 20. a. 2. c. 7).
41. O veneranda sacerdotum dignitas, in quorum manibus, velut in utero Virginis, Filius Dei incarnatur! (Molina, Instr. Sacerd. tr. 1, c. 5, § 2).
42. Parentes Christi (S. ad Past. in syn.).
43. Ipse dixit, et facta sunt (Ps. 32, 9).
44. Potestas sacerdotis est sicut potestas Personarum divinarum; quia, in panis transsubstantione, tanta requiritur virtus, quanta in mundi creatione (Loco cit.).
45. O venerabiles sanctitudo manuum! O felix exercitium! Qui creavit me (si fas est dicere) dedit mihi creare se; et qui creavit me sine me, ipse creavit se mediante me!
46. Ad nutum Domini, ex nihilo substiterunt excelsa coelorum vasta terrarum; ita parem potentiam in spiritualibus sacerdotis verbis praebet virtus (Hom. de Corpore Chris.).
47. Biblioth. tr. 22, d. 12.
48. Locus sanctorum.
49. Vos estis Vicarii Christi, qui vicem ejus geritis (Ad Ft in er. s. 36)
50. Dei personam in terris gerentes. — Pro Christo legatione fungimur, tamquam Deo exhortante per nos (2. Cor. 5, 20).
51. Accedat sacerdos ad altaris tribunal ut Christus (Serm. de Euc.).
52. Sacerdos vice Christi vere fungitur (Ep. ad Caeci).
53. Cum videris sacerdotem offerentem consideres Christi manum invisibiliter extensam (Ad pop. Ant. hom. 60).
54. Deus, qui omnipotentiam tuam parcendo maxime et miserando manifestas (Dom. 10 post Pent.).
55. Quis potest dimittere peccata, nisi solus Deus? (Luc. 5, 21)
56. Ego feci coelum et terram, verumtamen meliorem et nobiliorem creationem do tibi: fac novam animam, quae est in peccato. Ego feci ut terra produceret fructus suos; do tibi meliorem creationem, ut anima fructus suos producat.
57. Prorsus majus hoc esse dixerim, quam est coelum et terra, et quaecumque cernuntur in coelo et in terra (In Jo tr. 72).
58. Et si habes brachium sicut Deus, e si voce simili tonas? (Job. 40, 2).
59. Manus Spitus Sancti, officium Sacerdotis.
60. Insufflavit, e dixit eis: Accipite Spiritum Sanctum: quorum remiseritis peccata, remittuntur eis; et quorum retinueritis, retenta sunt (Jo 20, 22).
61. Dei enim sumus adjutores (1. Cor. 3, 9).
62. Principatum superni judicii sortiuntur, ut, vice Dei, quibusdam peccata retineant, quibusdam relaxent (In Evang. hom. 26).
63. Post Deum, terrenus Deus (Const. apost. 1. 2, c. 26).
64. Deus stetit in synagoga deorum (Ps. 81, 1).
65. Dii excelsi, in quorum synagoga Deus deorum stare desiderat (Ad Fr. in er. s. 36).
66. Sacerdotes, propter officii dignitatem, Deorum nomine nuncupantur (Can. Cum ex injucto.De Haeret).
67. Ne sit sublimis, et vita deformis; deifica professio, et illicita actio. Actio respondeat nomini (De dignit. sac. c. 3).
68. Quid est dignitas in indigno, nisi ornamentum in luto? (Ad Eccl. cathol. 1.2.).
69. Nec quisquam sumit sibi honorem, sed qui vocatur a Deo, tamquam Aaron. Sic et Christus non semetipsum clarificavit ut Pontifex fleret, sed qui locutus est ad eum; Filius meus es tu; ego hodie genui te (Hebr. 5, 4)
70. Grandis dignitas sacerdotum, sed grandis ruina eorum, si peccant. Laetemur ad ascensum, sed timeamus ad lapsum (In Eze. c. 44).
71. Ingrediuntur electi, sacerdotum manibus expiati, coelestem patriam; et sacerdotes ad inferni supplicia festinant! — Et ipsa in cloacas descendit (In Evang. hom. 17).


Fonte: Volta para Casa
PDF do livro: www.redemptor.com.br

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