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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mons. Marcel Lefebvre por Pe. Emmanuel du Chalard


Mons. Lefebvre visto por um seu colaborador próximo
por Marco Bongi


Apresentamos a síntese de um interessante colóquio com um dos primeiros colaboradores de Mons. Marcel Lefebvre. Padre Emanuel Du Chalard[1], conhecido por ser o pioneiro da presença da FSSPX na Itália e por sempre ter mantido contatos diplomáticos informais entre a Fraternidade e Roma, nos descreve alguns dos aspectos da personalidade do fundador, saindo, talvez pela primeira vez, de sua proverbial e humilde discrição.

* * *

Missa Pontifical em Albano.
À esquerda de Mons. Lefebvre: Dom Emmanuel
Pe. Emmanuel, o senhor foi um dos primeiros sacerdotes ordenados por Mons. Lefebvre após a fundação da FSSPX. Também lhe foi próximo por muitos anos. Pode nos descrever brevemente a sua personalidade na vida cotidiana, fora dos momentos públicos?

Antes de tudo, Mons. Lefebvre foi para nós um pai e um exemplo. Sempre atento a tudo, até mesmo aos menores detalhes. Queria que o seminário fosse simples, mas limpo e arrumado. Vivia no seminário como nós, seguia os mesmos horários, era sempre presente a todas as orações comunitárias, fazia suas refeições no refeitório com os seminaristas, nunca pedia algo especialmente para ele. Por outro lado, não gostava de favoritismos. Era muito atento às pessoas, sempre pronto a ouvir os seminaristas, podia-se visitá-lo em seu escritório quando se quisesse, parecia que nunca estava ocupado com outra coisa para fazer. Foi um exemplo de disponibilidade. Tinha sempre uma grande atenção com os hospedes, uma conversa agradável e gostava de humorismo ou de piadas. Transmitia uma sensação de alegria, assim como de paz e serenidade. Era um homem bom, mas era, sobretudo, um sacerdote e um Bispo próximo a todos. Para vê-lo ou marcar um compromisso com ele não era difícil: não tinha um secretário particular, se geria sozinho: compromissos, correspondência, organização de viagens.
Seu estilo de vida foi um exemplo para todos. E podemos serenamente afirmar que a Fraternidade São Pio X marcou seu estilo de vida mais sobre o exemplo de seu fundador do que o extraindo de seus ensinamentos.

Pode nos contar alguma anedota inédita que viveu ao lado de Mons. Lefebvre?

Mons. Lefebvre missionário em Angola
Eu não saberia dizer, mas posso afirmar que, quanto mais conhecia e visitava Mons. Lefebvre, especialmente no contexto romano, mais percebia que era realmente um grande homem de Igreja. Bem poucos tiveram uma experiência como a dele, amadurecida pelas responsabilidades recebidas. Conhecia a Cúria Romana e os seus mecanismos à perfeição. Praticamente, por uma razão ou outra, havia visitados todos os dicastérios vaticanos[2]. Não apenas conhecia bem a Igreja e seus problemas, mas tinha dela uma visão de fé e sobrenatural. Tudo isso fazia dele um eclesiástico de grande estatura.
O senhor acompanhou muitas vezes Mons. Lefebvre em suas visitas ao Vaticano. Com que ânimo eram vividos tais momentos, como se conciliavam nele o amor pela Roma Católica e o desejo de defender a doutrina de sempre, muitas vezes contrariada pelas mesmas autoridades?
Mons. Lefebvre consagrara sua vida à Igreja, a Roma, ao Papado, vivia para ela; e, para ele, servir a Igreja significava salvar as almas. Por isso, a crise pós-conciliar foi vivida por ele como um drama. O sentido missionário era inscrito profundamente na sua alma. Podemos dizer que sua reação diante da crise da Igreja foi determinada pela consciência de quais fossem as verdadeiras necessidades das almas. Se a Fé não é mais transmitida, as almas não podem se salvar.
Sempre me lembrarei de sua reação ao anúncio da primeira Jornada de Assis[3] em outubro de 1986. De passagem por Ecône, me encontrava em seu escritório e lhe falei o que se sussurrava sobre este projeto. Ele colocou a cabeça entre as mãos e disse, com um tom muito pesaroso: "é a destruição da missão". Era a sua alma profundamente missionária quem reagia.
Sempre constatei nele um grande respeito pela hierarquia eclesiástica. Talvez sua timidez e até mesmo este respeito faziam com que, se um Cardeal na conversa afirmava um erro ou dizia algo errado, geralmente Monsenhor calava-se e não falava mais. Para ele, era inconcebível que um homem de Igreja pudesse falar assim. E saindo da reunião, me dizia: "Mas como é possível que o Cardeal possa afirmar estas coisas!" Estava desconcertado.
Certamente, foi para ele uma tragédia encontrar-se em oposição a Roma e ao Papa. Ele, que por décadas fora encorajado pelo Papa por causa de seu apostolado na África, não concebia como não pudesse mais trabalhar no mesmo espírito e com o mesmo zelo. Algo havia mudado com o Concílio [Vaticano II]. Em tais situações, foi apenas a sua grande Fé a guiá-lo, e foi uma Fé vivida até o heroísmo. Pagou com sua pessoa.
Na Fé, de fato, há uma ordem. A Igreja está ao serviço da Verdade (Verdade sobrenatural); a Igreja é a guardiã da Verdade, não faz a Verdade e não pode mudá-la. Depois ela deve transmiti-la em sua integralidade. A Igreja está também ao serviço das almas, e tem a responsabilidade da salvação delas. Todo o resto deve ser ordenado em função da Fé e da salvação das almas.
Foram estes conceitos que guiaram Monsenhor Lefebvre nesses anos de dificuldades com Roma. Ele estava convencido de que um dia Roma agradeceria à Fraternidade por sua defesa da Fé e por todos os sacrifícios feitos. Eu, pessoalmente, estou convencido de que um dia a Igreja reconhecerá a Fé heroica deste Bispo.

O senhor esteve ao lado de Mons. Lefebvre também quando ele decidiu ordenar os quatro bispos da FSSPX. Como foram vivenciados aqueles dias? Qual foi o fato decisivo que o levou a essa difícil escolha?

Ao lado de Mons. Lefebvre, o padre Schmidberger
Não fui o único sacerdote a acompanhar de perto este momento delicado da existência de Monsenhor e da vida interna da Fraternidade. Penso que o padre Franz Schmidberger[4], que era então o Superior Geral [da Fraternidade], e os quatro [sacerdotes] que foram consagrados Bispos poderiam testemunhar melhor do que eu. Houve, essencialmente, três etapas para este caminho: a decisão de consagrar, quando fazê-lo e, finalmente, a consagração em si.
A primeira etapa foi longamente preparada com uma reflexão pessoal sobre a crise da Igreja. Muito provavelmente pediu pareceres a pessoas competentes e, acima de tudo, rezou muito. Sabe-se, por exemplo, que Monsenhor, por pelo menos um ano, levantou todas as noites para rezar durante uma hora diante do Santíssimo Sacramento, a fim de receber as graças necessárias para entender o que devia fazer. Ouvi-o dizer: "Poderia deixar as coisas como estão e, depois, o Senhor proveria pelo futuro da Fraternidade, mas o Senhor poderia me dizer no dia do Juízo: fez tudo o que podia como Bispo?". Em meu humilde parecer, seria errado pensar que Monsenhor tenha tomado esta decisão somente por causa da Fraternidade e do seu futuro.
Certamente, ele via, mais, a necessidade da Igreja em geral e ponderava, em consciência, que este passo era necessário para o retorno da Tradição, especialmente através da renovação de um sacerdócio autêntico.
Esta foi a primeira etapa e, uma vez tomada a decisão, houve para ele como que uma sensação de alívio, porque havia entendido com clareza que aquela era a vontade do Senhor.
A segunda etapa dizia respeito a quando proceder a tais consagrações episcopais. A solução do problema veio como resultado de uma sucessão de eventos. Antes, quis ainda tentar junto a Roma a possibilidade resolver o problema: reuniões com o Card. Ratzinger[5], depois a visita canônica com o Card. Gagnon[6], então a Comissão entre a Santa Sé e a Fraternidade e, finalmente, o famoso protocolo de 05 de maio de 1988[7].
Tudo isso, entretanto, não permitiria a Monsenhor continuar com serenidade a sua obra, mesmo reconhecendo que, no protocolo, a Santa Sé fazia concessões importantes, tais como o uso dos livros litúrgicos tradicionais.
Certamente, também, um fato não secundário era a sua idade avançada. Ele entendia que não podia mais continuar viajando, dar as Crismas e fazer as ordenações. E, então, tomou a decisão de consagrar quatro Bispos em 30 de junho de 1988.
A terceira etapa todos nós a conhecemos. Foi vivida com um pouco de tensão, devido a algumas ameaças e à grande multidão de jornalistas vindos de todo o mundo. 
Com a Princesa Pallavicini em Albano
Acrescento, a tal propósito, duas considerações. A primeira concerne à serenidade e à paz que acompanharam Monsenhor em todas as etapas, e que sempre soube comunicar àqueles que estavam por perto. A outra consideração diz respeito à sua determinação. Uma vez tomada uma decisão, nada o detinha. Antes das consagrações, ele recebeu muitas pressões por parte de Roma e de outros ambientes para que desistisse. Isso me lembra de como manteve o mesmo comportamento na conferência realizada em junho de 1977, em Roma, no palácio da Princesa Pallavicini[8]. Na época, houve uma forte pressão por parte da mídia italiana e por algumas visitas de diversas personalidades, mas nada e ninguém o haviam detido. Não era um homem precipitado nas suas decisões. Mas quando as decisões eram tomadas, especialmente se tinham sido sofridas, nada o detinha.

É verdade que o encontro em Assis em 1986 representou um elemento importante que levou Mons. Lefebvre a decidir-se pelas consagrações episcopais?

Eu não diria que o encontro de Assis foi o elemento decisivo. Representava, mais, um sinal evidente, e à vista de todos, da gravidade da crise. Indicava, de fato, com clareza, onde podiam levar as novidades do Concílio Vaticano II. L'Osservatore Romano[9], na época, havia justificado Assis com o Concílio. Eis onde levavam a famosa liberdade religiosa e o ecumenismo do Concílio, para além de todas as interpretações artificiosas que quiseram dar a tal evento.
No final das contas, a crise atual leva à apostasia, e o que vivemos hoje a torna ainda mais evidente do que em 1988.

Mons. Lefebvre nunca lhe falou de seu encontro com Padre Pio? Alguns autores dizem sobre isso que, naquela ocasião, o santo de Pietrelcina repreendeu Mons. Lefebvre; outros negam. O senhor sabe algo mais?

Monsenhor era muito discreto sobre tudo o que tinha feito e silenciava. Mas sobre este ponto, nos precisou que o encontro foi muito breve. Pediu a Padre Pio[10] para rezar pelo capítulo geral da Congregação dos Missionários do Espírito Santo, da qual ele era, à época, o Superior Geral. Estava, de fato, muito preocupado e pediu uma bênção. A resposta de Padre Pio foi: "é o senhor que deve me abençoar". Não houve outras palavras. Contra os boatos de que Padre Pio teria dito que Monsenhor estaria à origem de um cisma, pudemos ter o testemunho dos dois sacerdotes que o haviam acompanhado a San Giovanni Rotondo[11]. Tais testemunhos confirmam aquilo que Monsenhor sempre disse sobre este encontro.

Em visita à casa natal de São Pio X, em Riese
Mesmo nos momentos mais difíceis, Mons. Lefebvre manteve relações de amizade com alguns altos prelados. Pode nos dizer algo sobre isso, especialmente em relação a seu sucessor em Dakar, o Card. Thiandum, e ao Card. Siri?

Monsenhor sempre foi respeitado por muitos prelados de Roma. Por um lado, por causa dos cargos que havia ocupado: Arcebispo de Dakar[12], Delegado Apostólico para toda a África francesa, depois Superior Geral dos Padres do Espírito Santo, uma congregação que contava, então, com cinco mil membros. Ele cumpriu um trabalho enorme, é um fato que ninguém pode negar. Ele foi respeitado até porque era um homem íntegro, não chantageável[13], coerente e, além disso, muitos sabiam que, no fundo, ele tinha razão, enquanto eles não haviam tido a sua coragem, por questões de oportunidade. Ser criticado, injuriado, desprezado, humilhado, condenado, considerado fora da Igreja, excomungado e aceitar isso tudo por amor a Jesus Cristo e à sua Igreja não é dado a todos.
O Cardeal de Dakar, Mons. Thiandium[14] foi certamente um dos mais corajosos. Tinha uma grande admiração por Monsenhor, lhe devia tudo: sacerdócio, episcopado e também, podemos dizer, o cardinalato, a partir do momento em que, de certa forma, lhe tinha preparado o caminho. Não foi somente por isto que o Cardeal estimava Mons. Lefebvre; conhecia as suas qualidades e que o tinha visto à obra, em Dakar. Sei que o Cardeal interveio junto a Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II em favor de Mons. Lefebvre. Por ocasião do Sínodo sobre a família, havia arranjado um encontro entre o Card. Ratzinger, Mons. Lefebvre e ele mesmo. Houve também alguns encontros com o Card. Siri[15], mas eu não saberia dizer em que clima ocorreram.
Além disso, foi sempre recebido pelos Cardeais Oddi[16] e Palazzini[17].

Pelo que o senhor sabe, Mons. Lefebvre teve experiências místicas?

1980: Missa Pontifical em Veneza
Dom Emmanuel e Mons. Lefebvre
Se, por um lado, Monsenhor era certamente um homem muito aberto, amável e de fácil acesso, era, no entanto, muito discreto sobre o que havia feito, por exemplo, na África. Ele tinha prazer em contar histórias de aventuras na savana, mas não sobre o seu trabalho. Um dia perguntei à sua irmã carmelita, Madre Marie-Christiane[18], se ela sabia alguma coisa sobre o apostolado na África, ela me respondeu: toda vez que eu perguntei a meu irmão notícias sobre o que ele fazia como missionário ou Bispo, ele mudava de assunto.
Tendo sempre sido muito reservado sobre a sua pessoa, eu seria incapaz de dizer se ele teve experiências místicas. Sei com certeza que rezava muito, sobretudo quando tinha dificuldades para resolver, e sei, também, acerca daquele sonho na catedral de Dakar, sobre a restauração do sacerdócio a que alude no início do Itinerário Espiritual[19], livro que consideramos quase que seu testamento. Que tipo de sonho era, no entanto, não o sabemos.

Alguns jornalistas têm argumentado que Mons. Lefebvre, nos últimos dias de vida, estivesse angustiado e, em certo sentido, 'arrependido' de alguns de seus gestos. O senhor sabe disso? Quando foi a última vez que o senhor o viu?

Pelo que eu possa saber, Monsenhor nunca se arrependeu do que fez. Pessoalmente, eu tive a graça de passar uma semana com ele um mês antes de sua morte: três dias na Sardenha e mais três dias na Toscana. Eu o vi, ainda, no hospital em Martigny[20], por uma hora, uma semana antes de seu falecimento e antes da intervenção cirúrgica a que foi submetido. Posso testemunhar que era muito sereno, me falou sobre a Fraternidade, os fiéis, e, por várias vezes, ele até brincou.


Tradução: Giulia d'Amore di Ugento.





[1] NdTª.: Emmanuel du Chalard de Taveau (1950) é sacerdote da FSSPX, diretor do Courrier de Rome (versão francesa da revista Sì sì, no no), e foi um dos primeiros colaboradores de Mons. Marcel Lefebvre. Desde os primeiros anos na Itália, foi um dos mais importantes artífices da difusão da FSSPX em solo italiano. Desde então, sempre manteve relações informais com a Santa Sé em nome da Fraternidade, adquirindo um particular conhecimento dos diferentes eventos que caracterizaram a relação entre Roma e Ecône.
[2] NdTª.: Dicastério (do grego: δικαστης, juiz) é o nome dado aos departamentos de governo da Igreja Católica que compõem a Cúria Romana. Entre os dicastérios estão: a Secretaria de Estado, as Congregações, os Tribunais, os Conselhos, os Ofícios, isto é a Câmara Apostólica, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, a Prefeitura dos assuntos econômicos da Santa Sé (Constituição Apostólica Pastor Bonus, art. 2, §1). Corresponde a Ministério na maioria dos Estados modernos.
[3] NdTª.: Encontro Inter-religioso de Assis. Em Outubro de 1986 e Janeiro de 2002, o Papa João Paulo II se reuniu em Assis (Úmbria - Itália) com líderes das grandes religiões do mundo para uma 'jornada ecuménica de reflexão pela paz'. Em Outubro de 2011, o Papa Bento XVI comemorou o 25º aniversário da 1ª Jornada de Assis, com mais um 'encontro', convidando, desta vez, além dos líderes das grandes religiões mundiais, também um grupo de ateus.
[4] NdTª.: Franz Schmidberger (1946 – Riedlingen, Alemanha) é um sacerdote alemão, da FSSPX. Formado em 1972 na Universidade de Munique, no mesmo ano entrou no Seminário de Ecône, onde foi ordenado sacerdote em 08 de dezembro de 1975. Posteriormente, ele ensinou no Seminário de Weissbad. Em 1978, fundou o Seminário de Zaitzkofen, na Alemanha, e foi nomeado Superior do Distrito de 1979. Em 1982, foi nomeado Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Em 1994, ele foi sucedido por Mons. Bernard Fellay, o atual superior. Atualmente, ele é o Superior do Distrito da Alemanha.
[5] NdTª.: Joseph Alois Ratzinger (Marktl am Inn, Alemanha, 1927), desde o dia 19 de abril de 2005 é o 266º Papa da Igreja Católica, como o nome de Bento XVI. Era, à época, Prefeito (1981-2005) da Congregação para a Doutrina da Fé.
[6] NdTª.: Édouard Gagnon (1918-2007) foi um cardeal canadense, presidente do Pontifício Conselho para a Família (1983-1990). Tornou-se cardeal em 1985, por João Paulo II.
[7] NdTª.: Este acordo, assinado pelo Card. Ratzinger e Mons. Lefebvre no dia 5 de maio de 1988, previa a regularização canónica da FSSPX, com sua transformação em Sociedade de Vida Apostólica e, ainda, a possibilidade de ordenação dum bispo entre os padres da Fraternidade. Contudo, no dia seguinte o acordo foi denunciado por Mons. Lefebvre, que percebeu que Roma não estava minimamente disposta a permitir que ele procedesse às ordenações episcopais na data que pretendia (o próximo dia 30 de Junho), nem, provavelmente, em nenhuma outra data, por causa das artimanhas com que o Vaticano tratava as negociações, pressionado especialmente pelos bispos franceses. Protocolo do acordo.
[8] NdTª.: Elvina Pallavicini (1914-2004), chamada a 'Rainha Negra', foi uma nobre italiana da grande e antiga família Pallavicini. Era considerada a líder da chamada 'Nobreza Negra' (grupo de nobres famílias italianas que continuaram fieis ao Papa quando o novo Reino da Itália tomou Roma e forçou o Papa a se confinar no Estado do Vaticano) de Roma, durante a segunda metade do século 20. A partir de 1977, a princesa liderará um grupo de nobres que dará suporte a Mons. Lefebvre. Manteve sua influência política até a sua morte.
[9] NdTª.: L'Osservatore Romano (O Observador Romano) é o periódico semioficial da Santa Sé. Faz a cobertura de todas as atividades públicas do Papa, publica editoriais escritos por membros importantes do clero da Igreja Católica e imprime documentos oficiais depois de autorizados. Seus lemas são: unicuique suum (a cada um o seu) e no praevalebunt ('os portões do Inferno' não prevalecerão) os quais estão impressos sob o título na primeira página.
[10] NdTª.: Francesco Forgione, Padre Pio de Pietrelcina (1887-1968), foi um sacerdote católico italiano, da ordem dos capuchinhos, elevado a Santo pela Igreja Católica como São Pio de Pietrelcina. A sua festa litúrgica é celebrada dia 23 de setembro. Entre os sinais milagrosos que lhe são atribuídos encontram-se as estigmas, que duraram cinquenta anos (1918-1968) e o dom da bi-locação. Entre os muitos milagres, está a cura do pequeno Matteo Pio Colella de San Giovanni Rotondo, sobre o qual se assentou todo processo canônico que fizeram do frade São Pio.
[11] NdTª.: San Giovanni Rotondo, cidade da Província de Foggia, na Puglia (Itália). São Pio de Pietrelcina lá exerceu seu apostolado e está sepultado.
[12] NdTª.: Dakar (ou Dacar) é a capital e a maior cidade do Senegal, na península do Cabo Verde. Foi fundada pelos franceses em 1857. Senegal, na latitude do deserto do Saara, um país quase totalmente islâmico, muito difícil de se converter, onde Mons. Lefebvre não conhecia ninguém. De 1947 a 1962, Mons. Lefebvre foi Arcebispo de Dakar. Foi sagrado Bispo pelo cardeal Liénart, foi a Roma visitar o Papa Pio XII e receber suas ordens, e assim se foi a Dakar, na sua nova função. Durante dois meses, visitou todas as dioceses, todas as missões, sacerdotes, religiosas, congregações missionárias, e por fim, resolveu voltar à França para conseguir dinheiro e novos missionários. Voltou à África e construiu seu colégio secundário para homens, pois faltavam colégios para homens. Neste colégio formou novas vocações e novos pais de famílias. As instituições católicas, não apenas a Santa Missa, são necessárias. Era o método de Mons. Lefebvre. Sempre construía escolas, universidades, para estabelecer o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. No ano seguinte, em outubro de 1948, Mons. Lefebvre foi nomeado pelo Papa delegado Apostólico para toda a África Francesa. Teve de nomear quase 40 Bispos. Recolhia dinheiro e o distribuía com muito cuidado, evitando distribuí-lo para os periódicos modernistas. Assim, já na África tinha de combater contra os modernistas, que faziam revoluções em algumas dioceses. (fonte: Arcebispo de Ferro, Arcebispo de Lã).
[13] NdTª.: Neologismo, ainda não acatado pelos dicionários oficiais. 'Chantageável', que pode ser chantageado.
[14] NdTª.: Hyacinthe Thiandoum (1921-2004) foi um cardeal e arcebispo senegalês. Ordenado sacerdote (18/04/49) por Mons. Lefebvre, tornou-se seu sucessor na Diocese de Dakar de 1962 até 2000, quando se aposentou. Paulo VI o elevou ao cardinalato em 1976. Foi presidente da Conferência Episcopal Senegal-Mauritânia, membro-eleito do Conselho do Sínodo Mundial dos Bispos, presidente da Comissão Episcopal Pan-africana para a Comunicação Social. Participou do Concílio Vaticano II. Não podendo ir pessoalmente, por causa da idade e da saúde, enviou seu secretário, o Pe. Hyacinthe Dione, às exéquias de Mons. Lefebvre.
[15] NdTª.: Giuseppe Siri (1906-1898) foi um dos cardeais mais importantes da história da Igreja Católica do XX século. Arcebispo de Gênova por mais de quarenta anos, era considerado um dos prelados mais conservadores. No Concílio Vaticano II, foi membro da Comissão Preparatória Central e da Subcomissão das Emendas. Foi membro do Coetus Internationalis Patrum. (Grupo Internacional dos Padres [Conciliares]). Em 1962, tornou-se presidente da Conferência Episcopal Italiana. Em 1968, fez parte da comissão que revisou o Código de Direito Canônico. Os sedevacantistas lhe ofereceram apoio muitas vezes, mas ele sempre rejeitou, preferindo morrer em um estado de comunhão com o Catolicismo, como ele mesmo afirmou. Apoiou com todas as forças a permanência, na Igreja, dos sacerdotes de Lefebvre, que viam nele um ponto de referência seguro. Exigia o uso da batina e considerava seu abandono um sinal de infidelidade para com o ministério sacerdotal. Por quatro vezes foi tido como 'papável': 1958, 1963 e nos dois conclaves de 1978. Nos ambientes tradicionalistas, frequentemente é retomada a tese pela qual, no conclave de 1958, ele teria sido eleito Papa. Os numerosos fieis presentes em Praça São Pedro afirmavam que a tradicional fumaça da Capela Sistina fosse branca, o que sinalizava a escolha definitiva do novo Papa. Esta tese foi defendida, entre tantos, pelo jornalista norte-americano Paul L. Williams, que declarou ter examinado um dossiê do FBI, de 10/04/61, no qual os serviços secretos norte-americanos haviam sido informados de que o Card. Siri fora eleito Papa no dia 26 de Outubro de 1958. Em uma entrevista em 1988, Siri teria dito que estava arrependido de não ter aceitado a candidatura nos conclaves de que participou, por causa das consequências que advieram, e que pedia perdão a Deus por seu erro. Passou seus últimos dias em uma casa que lhe fora deixada de herança pela Condessa Carmela Campostano. Dizia-se que ele era 'prisioneiro' do Vaticano, não podendo deixar a mansão de Albaro (Gênova).
[16] NdTª.: Silvio Angelo Pio Oddi (1910-2001) foi um cardeal e arcebispo italiano. Arcebispo de Mesembria (Grécia) em 1953. Internúncio Apostólico em Egito em 1957. Núncio Apostólico na Béliga e Luxemburgo em 1962. Cardeal por Papa Paulo VI em 1969. Visitou o tumulo de Mons. Lefebvre, após sua morte, onde, segundo dizem, o teria agradecido.
[17] NdTª.: Pietro Palazzini (1912-2000) foi um cardeal italiano. Em 1985, foi-lhe atribuído o prémio Justos entre as Nações pelo Yad Vashem (Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto) pelo seu trabalho de salvação de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Palazzini sempre defendeu que as suas ações decorreram de obras do Papa Pio XII. Entre 1980 e 1988, foi Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos. Autenticamente humilde, sempre avesso às frivolidades mundanas, rápido nos colóquios para chegar logo ao cerne da questão, Palazzini deve ser lembrado sobretudo pelo seu empenho com a tutela dos bens culturais da Igreja.
[18] NdTª.: Marie-Christiane du Saint-Esprit (1907-1997), irmã de Mons. Marcel Lefebvre. Foi a presença dela que tornou concreta a presença do Carmelo no movimento de Mons. Lefebvre. Em 1977, ela funda na Bélgica, em Quiévrain, o primeiro dos Carmelos que se sucederão na Fraternidade. A ideia dela era a de ter um carmelo ao lado de cada seminário que nascesse na FSSPX. Madre-Christiane morreu em 1997 no Carmelo tradicionalista belga do Sacré Coeur. Atualmente os Carmelos da Sociedade assistidos por padres da Fraternidade S. Pio X são os seguintes: Carmelo São José, em Brillon Wald (Alemanha); Carmelo do Sagrado Coração, em Quiévrain (Bélgica); Carmelo do Imaculado Coração de Maria, em Eynesse (França); Carmelo Maria Rainha dos Anjos, em Chexbres (Suíça); e Carmelo Santíssima Trindade, em Spokane (EUA).
[19] NdTª.: Itinerário espiritual segundo São Tomás de Aquino em sua Suma Teológica, 1989. Livro escrito por Mons. Lefebvre para uso dos sacerdotes e seminaristas da FSSPX. Em espanhol (Volta para Casa).
[20] NdTª.: Martigny (Valais) cidade Suíça, onde Mons. Marcel Lefebvre faleceu, em 1991. Visitaram o féretro, Dom Henri Schwery (Bispo local - Diocese de Sion), o Pe. Hyacinthe Dione (secretário do Card. Thiandoum) e o Arcebispo Edoardo Rovida (Núncio Apostólico suíço). Acredita-se que, por causa disto, a excomunhão tenha sido revogada pelo Núncio. Este fato foi esclarecido por Pe. Simoulin e por Mons. Williamson, que afirmam que não houve, na ocasião, a revoca da excomunhão.  

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