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domingo, 22 de setembro de 2013

Bergoglio por Bergoglio. Uma entrevista que revela o homem por trás da veste branca.

Levei horas revisando o texto, corrigindo-o, pesquisando as informações para escrever as notas (166). Foi uma tarefa dolorosa, pela demora, pelo tempo que tive que dedicar (levando junto uma reforma na casa, a alimentação dos blogs, os e-mails a responder e os preparativos de uma viagem à vista), mas principalmente pela simples leitura do texto. É uma violência à alma e dói de verdade, fisicamente. Como pode um Papa dizer o que esse senhor diz? É uma pergunta retórica. Se houvesse ainda um Index, certamente os pronunciamentos de Bergoglio estariam nele. É fato. Mas não há, porque os inimigos que tomaram de assalto a Igreja de Cristo fizeram o serviço completo, não esqueceram nenhum detalhe para garantir o sucesso da empreitada de destruir a Igreja e a Fé Católica. Somos as infelizes testemunhas de tempos maus. O mundo aplaude Bergoglio. O que leva muitos “gosto-de-pensar-que-sou-católico” a ver nele um novo Messias, um libertador, o profeta de novos tempos em que tudo é permitido e, mesmo assim, se ganha o Céu. Na melhor das hipóteses Bergoglio transformará a Igreja em mais uma igreja luterana. Eu sei, você sabe, nós sabemos que a igreja que ele comanda é outra, é a igreja conciliar. Mas ele se fantasia de Papa da Igreja Católica, habita no Vaticano, fala em nome da Igreja... a confusão é compreensível. É necessário não perder o foco. Olhar e saber enxergar que há duas Igrejas: uma Santa e Eterna e outra falsa. Quando ele foi eleito, passamos em casa maus bocados, até recuperar a serenidade. Foi um sofrimentos que se materializou. Sofríamos verdadeiramente, sentíamos náusea ao simples aceno a seu nome. Superamos isso, pela graça de Deus. Agora, a coisa se repete. Pessoas me escrevem desabafando que estão a ponto de perder a fé. Para eles tenho a mesma solução que serviu aqui em casa: “férias de notícias sobre Bergoglio”. Infelizmente, não há motivos para crer que nos próximos dias as notícias irão melhorar. Portanto, é salutar e prudente, e também uma questão de bom senso, que se evite ler notícias sobre Bergoglio, ler seus pronunciamentos, ouvir ser discursos. A tendência é a náusea passar. A dor, não. Porque a alma sabe o que está havendo no mundo e na Igreja. No mais é... rezar. De verdade, sem distrações, sem dormir. Na Transfiguração ficou claro que Jesus se aborrece quando dormimos nos momentos em que deveríamos estar despertos. Jesus não é um hippie. Ele é Deus. É Amor, mas é Justiça. 

Uma nota acerca do tempo que levou a entrevista: SEIS HORAS! Pela profundidade da teologia de Bergoglio e pelo resultado da entrevista em si, meia hora teria sido o suficiente. O resto deve ter sido gasto em revisar e melhorar as respostas e sobretudo em procurar as citações em latim, que não devem fazer parte de seu dia-a-dia, uma vez que, em tudo, Bergoglio deixa claro que abomina o "passado". Ele é um homem de seu tempo, que usa e abusa da tecnologia e dos instrumentos midiáticos para alcançar o fim que deseja. É maquiavélico, sim. Como se diz por aqui, "não dá ponto sem nó". Nada é gratuito ou de improviso com ele. O "estilo" dele me lembra o da dupla Lula/Dilma e também o de Obama. Prestem atenção.

Enfim, vou publicar o texto agora, não para espalhar as heresias de Bergoglio, mas, como disse sabiamente meu diretor espiritual, para marca-las, para que todos saibam que são erros. O que é lícito.

Observação: as notas foram colocadas após cada capítulo para facilitar a leitura.

ENTREVISTA EXCLUSIVA DO PAPA FRANCISCO ÀS REVISTAS DOS JESUÍTAS



P. Antonio Spadaro S.J. (Jesuíta italiano, diretor da revista “La Civiltá Cattolica”).


Bergoglio e Spadaro
É segunda-feira, 19 de agosto. O Papa Francisco marcou encontro para as 10.00 na Casa de Santa Marta. Eu, no entanto, herdei do meu pai a necessidade de chegar sempre mais cedo. As pessoas que me acolhem instalam-me numa pequena sala. A espera dura pouco, e, depois de uns breves minutos, acompanham-me ao elevador. Nesses dois minutos tive tempo de recordar como em Lisboa, numa reunião de diretores de algumas revistas da Companhia de Jesus, surgiu a proposta de publicar conjuntamente uma entrevista ao Papa. Tinha conversado com os outros diretores, ensaiando algumas perguntas que exprimissem os interesses de todos. Saio do elevador e vejo o Papa já à porta, à minha espera. Na verdade, tive a agradável impressão de não ter atravessado portas.

Entro no seu quarto, e o Papa convida-me a sentar numa poltrona. Ele senta-se numa cadeira mais alta e rígida, por causa dos seus problemas de coluna[1]. O ambiente é simples, austero. O espaço de trabalho da escrivaninha é pequeno. Toca-me a essencialidade[2] não apenas dos móveis, mas também das coisas. Veem-se poucos livros, poucos papéis, poucos objetos. Entre estes, um ícone de São Francisco, uma estátua de Nossa Senhora de Luján (Padroeira da Argentina), um crucifixo e uma estátua de São José adormecido, muito semelhante àquela que tinha visto no seu quarto de reitor e superior provincial no Colégio Máximo de San Miguel. A espiritualidade de Bergoglio não é feita de “energias harmonizadas”[3], como ele lhe chamaria, mas de rostos humanos: Cristo, São Francisco, São José, Maria.

O Papa acolhe-me com o mesmo sorriso que já deu várias vezes a volta ao mundo e que abre os corações. Começamos a falar de tantas coisas, mas sobretudo da sua viagem ao Brasil. O Papa considera-a uma verdadeira graça. Pergunto-lhe se descansou. Ele me diz que sim, que está bem, mas, sobretudo, que a Jornada Mundial da Juventude foi para ele um “mistério”[4]. Diz-me que nunca foi habituado a falar para tanta gente: “Consigo olhar para as pessoas, uma de cada vez, e entrar em contato de modo pessoal com quem tenho na minha frente. Não estou habituado às massas”[5]. Digo-lhe que é verdade e que se vê, e que isto impressiona toda a gente. Vê-se que, quando está no meio das pessoas, os seus olhos, de fato, pousam sobre cada um. Depois as câmaras televisivas difundem as imagens e todos podem vê-lo, mas assim ele pode sentir-se livre para ficar em contato direto, pelo menos visual, com quem tem diante de si. Parece-me contente com isso, por poder ser aquilo que é, por não ter de alterar o seu modo habitual de comunicar com as pessoas, mesmo quando tem diante de si milhões de pessoas, como aconteceu na praia de Copacabana.

Antes de eu ligar o gravador, falamos de outras coisas. Comentando uma minha publicação, disse-me que os seus dois pensadores franceses contemporâneos prediletos[6] são Henri de Lubac[7] e Michel de Certeau[8]. Digo-lhe ainda algumas coisas mais pessoais. Também ele me fala de si e particularmente da sua eleição pontifícia. Diz-me que, quando começou a dar-se conta de que corria o risco de ser eleito, na quarta-feira, dia 13 de Março, à hora do almoço, sentiu descer sobre ele uma profunda e inexplicável paz e consolação interior[9], juntamente com uma escuridão total e uma obscuridade profunda sobre tudo o mais. E estes sentimentos acompanharam-no até à eleição.

Na verdade, teria continuado a falar assim familiarmente ainda por muito tempo, mas pego nas folhas com algumas perguntas que tinha anotado e ligo o gravador. Antes de mais, agradeço-lhe em nome de todos os diretores das revistas dos Jesuítas que publicarão esta entrevista[10].

Pouco antes da audiência que concedeu aos jesuítas da Civiltà Cattolica[11], o Papa tinha-me falado da sua grande dificuldade em dar entrevistas[12]. Tinha-me dito que prefere pensar, mais do que dar respostas imediatas em entrevistas de momento. Sente que as respostas corretas lhe vêm depois de ter dado a primeira resposta: “Não me reconheci a mim mesmo quando no voo de regresso do Rio de Janeiro respondi aos jornalistas que me faziam perguntas”[13], diz-me. Na verdade, nesta entrevista, várias vezes o Papa sentiu-se livre para interromper aquilo que estava a dizer respondendo a uma pergunta, para acrescentar algo sobre a precedente[14]. Falar com o Papa Francisco é, realmente, uma espécie de fluxo vulcânico de ideias que se atam entre si[15]. Mesmo o tomar apontamentos traz a desagradável sensação de interromper um diálogo nascente. É claro que o Papa Francisco está mais habituado a conversas, do que a lições[16].


Notas:
1 - Qual a necessidade de especificar? Precisa de um motivo para se sentar nesta ou naquela cadeira? Isso mais um artifício midiático... Começamos bem.
2 - Vou me abster de comentar isso, mas deixo a pista: ler a nota anterior.
3 - Sic! Onde está na doutrina católica isso? Onde está nos Evangelhos? Onde está no Catecismo? Isso mais parece coisa da Nova Era.
4 - Mistério da iniquidade, Franciscus?
5 - Me faz pensar no que disse o jornalista Reinaldo Azevedo: “Um amigo italiano me disse por que não via com simpatia o Sumo Pontífice: ‘Parece-me bom para cura de aldeia, não para comandar a Igreja’. No mês de julho, discordei. Em setembro, estou pensando na sua fala” (Cf. http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-erro-de-francisco-a-igreja-nao-e-ong-e-papa-nao-e-livre-pensador). O que Azevedo não sabe é que, de tolo, Bergoglio só tem a cara e o jeito de andar... De fato, lembra o cômico Stan Laurel, mas só por fora (Cf. http://farfalline.blogspot.com.br/2013/07/neo-igreja-se-bergoglio-esta-certo-leao.html). -
6 - Dois hereges. Já sabemos com quem estamos tratando. Já sabemos de onde Bergoglio tira suas ideias anticatólicas. Ele mesmo o confessa.
7 - Cf. http://farfalline.blogspot.com.br/2012/07/destruidores-da-liturgia-catolica.html.
8 - Cf. http://www.christeeleyson.com/2013/07/michel-de-certeau-e-as-ruinas-da-igreja.html.
9 - Revelador. O lobo estava sossegado.
10 - E de Lutero e Lúcifer.
11 - Nota do original: o Papa Francisco recebeu os jesuítas e colaboradores que trabalham em La Civiltá Cattolica (http://www.laciviltacattolica.it/it) a 14 de Junho de 2013 e nesse dia dirigiu-lhes uma alocução.
12 - Confessa, então!!! Parece o Lula ou a Dilma quando falam de improviso: diz o que lhe vai pela língua!!!
13 - Confirma o que eu disse. Com o Lula e a Dilma é a mesma coisa. Fala primeiro e pensa depois. E depois os assessores têm que correr atrás para consertar a caca. Ouvi dizer que já se retratou do que disse sobre o aborto... Um cura de aldeia não seria tão imprudente e inconsequente!!! Deveria ter casado com a sra. Amália.
14 - Hummmm! Então Bergoglio corrigiu a entrevista e mesmo assim...
15 - Vou me lembrar desse termo: “fluxo de ideias vulcânicas”. A lava é destruidora, queima tudo por onde passa. Não raciocina.
16 - Vamos refletir, se Bergoglio é mais acostumado a conversas do que a lições, mas se ele mesmo diz que não sabe dar entrevistas (conversas)... logo: suas lições são de que nível?

QUEM É JORGE MARIO BERGOGLIO?

Tenho a pergunta pronta, mas decido não seguir o esquema que fixara e pergunto um pouco à queima-roupa: “Quem é Jorge Mario Bergoglio?”. O Papa fixa-me em silêncio. Pergunto se é uma pergunta lícita para lhe colocar[17]… Ele faz sinal de aceitar a pergunta e diz-me: “Não sei qual possa ser a definição mais correta… Eu sou um pecador. Esta é a melhor definição. E não é um modo de dizer, um gênero literário. Sou um pecador”[18].

O Papa continua a refletir, como se não esperasse aquela pergunta, como se fosse obrigado a uma reflexão ulterior.

Sim, posso talvez dizer que sou um pouco astuto, sei mover-me, mas é verdade que sou também um pouco ingênuo. Sim, mas a síntese melhor, aquela que me vem mais de dentro e que sinto mais verdadeira, é exatamente esta: ‘Sou um pecador para quem o Senhor olhou’.” E repete: “Sou alguém que é olhado pelo Senhor. A minha divisa, 'Miserando atque eligendo', senti-a sempre como muito verdadeira para mim”.

A divisa do Papa Francisco é tirada das Homilias de São Beda, o Venerável, o qual, comentando o episódio evangélico da vocação de São Mateus, escreve: “Viu Jesus um publicano e assim como o olhou com um sentimento de amor, escolheu-o e disse-lhe: ‘Segue-me’.”[19].

E acrescenta: “O gerúndio latino ‘miserando’ parece-me intraduzível, seja em italiano, seja em espanhol. Gosto de traduzi-lo com outro gerúndio que não existe: misericordiando”.

O Papa Francisco continua a sua reflexão e me diz, fazendo um salto cujo sentido não compreendo, naquele momento: “Eu não conheço Roma. Conheço poucas coisas. Entre estas, Santa Maria Maior: ia sempre lá”. Rio e digo-lhe: “Todos o compreendemos muito bem, Santo Padre!”. “Sim — prossegue o Papa – conheço Santa Maria Maior, São Pedro… mas vindo a Roma sempre vivi na Via della Scrofa. Dali visitava frequentemente a igreja de São Luís dos Franceses e ali ia contemplar o quadro da vocação de São Mateus, de Caravaggio[20]”. Começo a intuir o que é que o Papa quer dizer-me[21].

Aquele dedo de Jesus assim… dirigido a Mateus. Assim sou eu. Assim me sinto. Como Mateus”. E aqui o Papa torna-se mais decidido, como se tivesse encontrado a imagem de si próprio de que estava à procura: “É o gesto de Mateus que me toca: agarra-se ao seu dinheiro, como que a dizer: ‘Não, não eu! Não, este dinheiro é meu!’. Este sou eu: um pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar. E isto é aquilo que disse quando me perguntaram se aceitava a minha eleição para Pontífice”. Então sussurra: “Peccator sum, sed super misericordia et infinita patientia Domini nostri Jesu Christi, confusus et in spiritu penitentiae, accepto”. (Sou pecador, mas confiado na misericórdia e paciência infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo, confundido e em espírito de penitência, aceito)[22].


Notas:
17 - Estranho modo de entrevistar. Geralmente, o protocolo é estabelecido antes. É uma entrevista ou um comício?
18 - Quem estuda minimamente o Catecismo sabe que o pecador está fora da Igreja. Se está fora da Igreja, como pode ser a cabeça Ela?, como diria São Roberto Belarmino. Essa frase cheira a uma falsa modéstia. Em Bergoglio tudo soa falso: a pobreza, a modéstia, a humildade, a sinceridade.
19 - Cf. http://www.vatican.va/holy_father/francesco/elezione/stemma-papa-francesco_it.html.
20 - 

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21 - Começo a intuir que de ingênuo tem menos do que de astuto. Eles sabe muito bem aonde quer chegar com sua prosopopeia toda.
22 - Para quem acha o latim ultrapassado... ele decorou uma frase e tanto!!!

POR QUE SE FEZ JESUÍTA?

Compreendo que esta fórmula de aceitação é para o Papa Francisco mesmo um bilhete de identidade. Não há nada mais a acrescentar. Prossigo com aquela que tinha escolhido como primeira pergunta: “Santo Padre, o que foi que o fez escolher entrar na Companhia de Jesus? O que é que o impressionou na ordem dos Jesuítas?”.

Eu queria algo mais. Mas não sabia o quê. Tinha entrado no seminário. Gostava dos Dominicanos e tinha amigos Dominicanos. Mas depois escolhi a Companhia, que conhecia bem, porque o seminário estava entregue aos Jesuítas. Da Companhia impressionaram-me três coisas: o espírito missionário, a comunidade e a disciplina. Isto é curioso, porque eu sou um indisciplinado nato, nato, nato. Mas a sua disciplina, o modo de organizar o tempo, impressionaram-me muito”[23].

“E depois uma coisa para mim verdadeiramente fundamental é a comunidade. Procurava sempre uma comunidade. Eu não me via padre sozinho: preciso de uma comunidade. É mesmo isso que explica o fato de eu estar aqui em Santa Marta: quando fui eleito, ocupava, por sorteio, o quarto 207. Este onde estamos agora era um quarto de hóspedes. Escolhi ficar aqui, no quarto 201, porque quando tomei posse do apartamento pontifício, dentro de mim senti claramente um ‘não’. O apartamento pontifício no Palácio Apostólico não é luxuoso. É antigo, arranjado com bom gosto e grande, não luxuoso. Mas acaba por ser como um funil ao contrário. É grande e espaçoso, mas a entrada é verdadeiramente estreita. Entra-se a conta-gotas e eu não, sem gente, não posso viver. Preciso viver a minha vida junto dos outros”[24].

Enquanto o Papa fala de missão e de comunidade, vêm-me à mente todos os documentos da Companhia de Jesus onde se fala de “comunidade para a missão”[25] e os reencontro nas suas palavras.


Notas:
23 - Indisciplinado nato e... confesso. Mas se a Companhia o conquistou pela disciplina, porque os jesuítas fundaram a Teologia da Libertação? Não é um contrassenso?
24 - Rustica progenies semper villana fuit. E voltamos ao cura de interior. E não posso não pensar em São Pio X que fora mesmo um cura de interior. E não só, era de família humílima e aceitou a cruz de ser Papa, com toda a grandeza que isso representa, não para o homem, mas para Deus. O Papa representa Deus, por isso o “luxo”, as pompas e todo o aparato. Não é um “Zé das Couve”. Não é mais Giuseppe Sarto. É o Vigário de Cristo! Isso é algo que Bergoglio nunca compreendeu. Ele fala do Papado como se lhe pertencesse e pudesse dispor dele como lhe aprouver. Não sei se é isso (!), mas parece que ele nada sabe sobre a renúncia de si mesmo que leva um sacerdote a não ter gostos pessoais ou preferências, a ser grato pela cama de rei ou por um pano no chão para dormir, por um “jantar para quinhentos talheres” ou por um prato de sopa para comer. Bergoglio não, ele não hesita em expressar do que gosta e do que não gosta. Desde a eleição. Recusou-se a usar tudo o que 265 Papas antes dele aceitaram humildemente. Inclusive os polêmicos papas conciliares, entre os quais Bento XVI, a quem Bergoglio constantemente ofende toda vez que declara que não usa isso ou aquilo por humildade e pobreza, como se Bento fosse um esnobe arrogante! E Bento vive. Bergoglio ofende 265 Papas, a maioria dos quais... Santos!!!
25 - Linguajar da Teologia da Libertação (e/ou simpatizantes). Cf. http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=74624&langref=PT&cat=.

O QUE SIGNIFICA PARA UM JESUÍTA SER PAPA?

Quero prosseguir nesta linha e coloco ao Papa uma pergunta que surge do fato de que ele é o primeiro Jesuíta a ser eleito bispo de Roma: “Como lê, à luz da espiritualidade inaciana, o serviço à Igreja Universal a que foi chamado a exercer? O que significa para um Jesuíta ser eleito Papa? Que ponto da espiritualidade inaciana o ajuda melhor a viver o seu ministério?”.

O discernimento”, responde o Papa Francisco. “O discernimento é uma das coisas que Santo Inácio mais trabalhou interiormente. Para ele, é um instrumento de luta para conhecer melhor o Senhor e segui-l’O mais de perto. Impressionou-me sempre uma máxima com que se descreve a visão de Inácio: ‘Non coerceri a maximo, sed contineri a minimo divinum est’ (não estar constrangido pelo máximo, e no entanto, estar inteiramente contido no mínimo, isso é divino). Refleti muito sobre esta frase a propósito do governo, de ser superior: não estarmos restringidos pelo espaço maior, mas sermos capazes de estar no espaço mais restrito. Esta virtude do grande e do pequeno é a magnanimidade que da posição em que estamos nos faz olhar sempre o horizonte. É fazer as coisas pequenas de cada dia com o coração grande e aberto a Deus e aos outros. É valorizar as coisas pequenas no interior de grandes horizontes, os do Reino de Deus”.

Esta máxima oferece os parâmetros para assumir uma posição correta para o discernimento, para escutar as coisas de Deus a partir do seu ‘ponto de vista’. Para Santo Inácio, os grandes princípios devem ser encarnados nas circunstâncias de lugar, de tempo e de pessoas. A seu modo, João XXIII colocou-se nesta posição de governo quando repetiu a máxima ‘Omnia videre, multa dissimulare, pauca corrigere’ (ver tudo, não dar importância a muito, corrigir pouco), porque mesmo vendo ‘omnia’, a dimensão máxima, preferia agir sobre ‘pauca’, sobre uma dimensão mínima. Podem ter-se grandes projetos e realizá-los, agindo sobre poucas pequenas coisas. Ou podem usar-se meios fracos que se revelam mais eficazes do que os fortes, como diz São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios”.

Este discernimento requer tempo. Muitos, por exemplo, pensam que as mudanças e as reformas podem acontecer em pouco tempo. Eu creio que será sempre necessário tempo para lançar as bases de uma mudança verdadeira e eficaz. E este é o tempo do discernimento[26]. E por vezes o discernimento, por seu lado, estimula a fazer depressa aquilo que inicialmente se pensava fazer depois. E foi isto o que também me aconteceu nestes meses[27]. E o discernimento realiza-se sempre na presença do Senhor[28], vendo os sinais, escutando as coisas que acontecem, o sentir das pessoas, especialmente dos pobres. As minhas escolhas, mesmo aquelas ligadas à vida quotidiana, como usar um automóvel modesto, estão ligadas a um discernimento espiritual que responde a uma exigência que nasce das coisas, das pessoas, da leitura dos sinais dos tempos. O discernimento no Senhor guia-me no meu modo de governar”[29].

Pelo contrário, desconfio das decisões tomadas de modo repentino. Desconfio sempre da primeira decisão, isto é, da primeira coisa que me vem à cabeça fazer, se tenho de tomar uma decisão. Em geral, é a decisão errada. Tenho de esperar, avaliar interiormente, tomando o tempo necessário. A sabedoria do discernimento resgata a necessária ambiguidade da vida[30] e faz encontrar os meios mais oportunos, que nem sempre se identificam com aquilo que parece grande ou forte”.

Notas:
26 - Aqui estamos vendo as bases das mudanças que Bergoglio planeja fazer na Igreja. Não é coisa de um dia para o outro. Mas estamos indo a passos largos, porque desde que “tomou posse” ele já causou grandes danos à Igreja. Mas ainda veremos mais. Quem aposta nos fim do celibato, no casamento de divorciados, no acesso ao Sacerdócio às mulheres e aos gays, enfim em todas as mazelas protestantes... não vai sair perdendo. Perderá a Igreja. Perderão as almas.
27 - Viu? Conversa para boi dormir! O “plano” está em plena execução. Com “discernimento inaciano”... Pobre Santo Inácio!!!
28 - Oras, e por quê seria diferente? Não é ao Senhor que eles querem atingir?
29 - O peixe morre pela boca. Aqui está a declaração de traição de Bergoglio.
30 - Sic. O que seria a “necessária ambiguidade da vida”? Ah! Sim... mais Teologia da Libertação: “A tarefa da teologia é fazer vir à luz este processo de libertação, que se manifesta na ambiguidade da vida, como devir da humanidade”. Cf. http://www.cienciaefe.org.br/online/producao/pe_jose_carlos_veloso/teologia_no_brasil_b.htm. Bergoglio está impregnado de Teologia da Libertação até o osso. Ele fede a Teologia da Libertação.

A COMPANHIA DE JESUS

O discernimento é, portanto, um pilar da espiritualidade do Papa. Nisto se exprime de modo peculiar a sua identidade jesuítica. Pergunto-lhe, pois, como pensa que a Companhia de Jesus poderá servir melhor a Igreja hoje, qual é a sua especificidade, mas também os eventuais riscos que corre.

A Companhia é uma instituição em tensão, sempre radicalmente em tensão. O Jesuíta é um descentrado de si próprio. A Companhia é descentrada de si mesma: o seu centro é Cristo e a sua Igreja. Por isso: se a Companhia coloca Cristo e a Igreja no centro, tem dois pontos fundamentais de referência do seu equilíbrio para viver na periferia. Se, pelo contrário, olha demasiado para si própria, se se coloca a si mesma no centro como estrutura bem sólida, muito bem ‘armada’, então corre o perigo de sentir-se segura e autossuficiente. A Companhia deve ter sempre diante de si o Deus ‘semper maior’, a procura da glória de Deus sempre maior, a Igreja Verdadeira Esposa de Cristo Nosso Senhor, Cristo Rei que nos conquista e a Quem oferecemos toda a nossa pessoa e todo o nosso esforço, mesmo se somos vasos de barro, inadequados. Esta tensão leva-nos constantemente para fora de nós próprios. O instrumento que torna verdadeiramente forte a Companhia descentrada de si mesma é o da ‘conta de consciência’[31], que é simultaneamente paternal e fraternal, precisamente porque a ajuda a sair melhor em missão”.

Aqui o Papa refere-se a um ponto específico das Constituições da Companhia de Jesus, no qual se lê que o Jesuíta deve “manifestar a sua consciência”, isto é, a situação interior que vive, de modo que o superior possa estar mais ao corrente e consciente ao enviar uma pessoa à sua missão.

Mas é difícil falar da Companhia” – prossegue o Papa Francisco. “Quando se explicita demasiado, corremos o risco de nos enganarmos. A Companhia só se pode exprimir em forma narrativa. Somente na narração se pode fazer discernimento[32], não na explicação filosófica ou teológica, onde, pelo contrário, se pode discutir. O estilo da Companhia não é o da discussão, mas o do discernimento, que obviamente pressupõe a discussão no processo[33]. A aura mística não define nunca os seus limites, não completa o pensamento. O Jesuíta deve ser uma pessoa de pensamento incompleto, de pensamento aberto. Houve épocas na Companhia nas quais se viveu um pensamento fechado, rígido, mais instrutivo-ascético do que místico: esta deformação gerou o ‘Epitome Instituti’[34]...”.

Aqui o Papa se refere a uma espécie de resumo prático, que se usou na Companhia e reformulado no século XX, que foi considerado como uma substituição das Constituições. A formação dos Jesuítas na Companhia durante certo tempo foi modelada por este texto, de tal maneira que alguns nunca leram as Constituições, que, na verdade, são o texto fundante. Para o Papa, durante este período, na Companhia as regras correram o risco de abafar o espírito, e foi a tentação de explicitar e afirmar demasiado o carisma que venceu.

Continua: “Não, o Jesuíta pensa sempre, continuamente, olhando o horizonte para onde deve ir, tendo Cristo no centro. Esta é a sua verdadeira força. E isto estimula a Companhia a estar à procura, a ser criativa, generosa. Portanto, hoje mais do que nunca, deve ser contemplativa na ação; deve viver uma proximidade profunda a toda a Igreja, entendida como ‘Povo de Deus’ e ‘Santa Madre Igreja hierárquica’. Isto requer muita humildade, sacrifício, coragem, especialmente quando se vivem incompreensões ou se é objeto de equívocos e calúnias, mas é a atitude mais fecunda. Pensemos nas tensões do passado sobre os ritos chineses, sobre os ritos malabares, nas reduções no Paraguai”[35].

Eu mesmo sou testemunha das incompreensões e problemas que a Companhia viveu mesmo recentemente. Entre estes, contam-se os tempos difíceis de quando se tratou da questão de alargar o ‘quarto voto’ de obediência ao Papa a todos os Jesuítas. Aquilo que me dava segurança no tempo do Padre Arrupe[36] era o fato de que ele era um homem de oração, um homem que passava muito tempo em oração. Recordo-o quando rezava sentado no chão[37], como fazem os japoneses. Por isso ele tinha a atitude certa e tomou as decisões corretas”.[38].


Notas:
31 - Arriecolo com a história da “consciência”, que já deu panos prá manga!!! Na verdade, esta entrevista ocorreu antes da carta de Bergoglio ao ateu Scalfari. Cf. http://farfalline.blogspot.com/2013/09/uma-oportunidade-perdida-mais.html. Mas não faz diferença. Essa é a teologia dele.
32 - Mais uma frase nonsense dele. Com uma construção lógica toda particular.
33 - Vê, aqui está a prova. Fala e “desfala”... A Companhia não faz o estilo “discussão”, mas “discernimento”... o qual pressupõe, diz Bergoglio, a discussão em seu processo “discernitivo”... Sério?
34 - Baixe o PDF do livro mencionado. Cf. http://migre.me/gaoo3.
35 - Esses três exemplos - ritos chineses, ritos malabares (na Índia) e as “reduções” no Paraguai – são exemplo da enculturação que foi promovida pela Companhia de Jesus, em suas missões.
36 - Sobre Padre Arrupe, cf. http://farfalline.blogspot.com.br/2013/09/noticias-vaticanas-ate-quando-bergie.html.
37 - Os japoneses CATÓLICOS rezam de joelhos. Diante de Deus não devemos nos sentar.
38 - Podemos deduzir que com isso Bergoglio esteja afirmando que a Teologia da Libertação e a “enculturação” são decisões corretas? Então a condenação à TL pela Igreja, na mesma época e hoje, é errada?

O MODELO: PEDRO FABRO[39], “PADRE REFORMADO”

Neste momento pergunto-me se entre os Jesuítas existem figuras, das origens da Companhia até hoje, que o tenham impressionado de modo particular. E assim pergunto ao Pontífice se existem, quais são e porquê. O Papa começa a citar-me Inácio e Francisco Xavier, mas depois se detém sobre uma figura que os Jesuítas conhecem, mas que certamente não é muito notada em geral: o Beato Pedro Fabro (1506-1546), da Sabóia. É um dos primeiros companheiros de Santo Inácio, aliás o primeiro, com o qual partilhou o quarto quando eram os dois estudantes na Sorbonne. O terceiro no mesmo quarto era Francisco Xavier. Pio IX declarou-o beato a 5 de Setembro de 1872, e está em curso o seu processo de canonização.

Cita-me o seu “Memorial”, cuja edição ele encarregou a dois Jesuítas especialistas, Miguel A. Fiorito e Jaime H. Amadeo, quando era superior provincial. O Papa gosta particularmente da edição a cargo de Michel de Certeau. Pergunto-lhe porque ficou tão impressionado por Fabro, que traços da sua figura o impressionam.

O diálogo com todos, mesmo os mais afastados e os adversários; a piedade simples, talvez uma certa ingenuidade, a disponibilidade imediata, o seu atento discernimento interior, o fato de ser um homem de grandes e fortes decisões e ao mesmo tempo capaz de ser assim doce, doce…”.

Enquanto o Papa Francisco faz esta lista de características pessoais do seu Jesuíta preferido, compreendo quanto esta figura terá sido na verdade para ele um modelo de vida. Michel de Certeau define Fabro simplesmente como “o padre reformado”, para quem a experiência interior, a expressão dogmática e a reforma estrutural são intimamente indissociáveis. Parece-me compreender, portanto, que o Papa Francisco se inspira precisamente neste género de reforma. Assim, o Papa continua com uma reflexão sobre o verdadeiro rosto do fundador.

Inácio é um místico, não um asceta. Aborrece-me muito ouvir dizer que os Exercícios Espirituais são inacianos apenas porque são feitos em silêncio. Na verdade, os Exercícios podem ser perfeitamente inacianos também na vida corrente e sem o silêncio. A corrente que sublinha o ascetismo, o silêncio e a penitência é uma corrente deformada[40] que se difundiu na própria Companhia, especialmente no âmbito espanhol. Pelo contrário, eu estou próximo da corrente mística, a de Louis Lallemant[41] e de Jean-Joseph Surin[42]. E Fabro era um místico”.


Notas:
39 - Pierre Favre, ou Faber (1506-1546), foi um teólogo francês, companheiro de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier. Foi encarregado por Paulo III de participar do Concílio de Trento, mas adoeceu e morreu alguns dias depois de sua chegada. Cf. http://www.moscati.it/Ital5/Favre.html.
40 - Pois é!
41 - Louis Lallemant (1578-1635) foi um Jesuíta francês.
42 - Jean-Joseph Surin (1600-1665) foi um jesuíta francês, místico, pregador, escritor devocional e exorcista. Ele é lembrado por sua participação nos exorcismos de Loudun, em 1634-1637. Em 1645, tentou o suicídio, ao pular de uma janela do segundo andar, mas sobreviveu. O Padre Jacques Nau dizia dele que de modo desordenado levava uma vida vergonhosa sobre a qual era difícil falar. No final, chegou à loucura. Ele mesmo o ouviu blasfemar contra o nome de Deus e o viu andar nu pelo colégio, sujo de excrementos, sendo obrigado a leva-lo à enfermaria. Certa vez foi-lhe relatado que foi visto quando tentava pisar na Hóstia consagrada. Pareceu ter recuperado o controle, mas nunca foi visto rezado ou lendo o breviário ou rezando a Missa. Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Joseph_Surin. Este é o místico de cuja corrente Bergoglio está próximo. É de tremer...

A EXPERIÊNCIA DE GOVERNO

Que tipo de experiência de governo pode fazer amadurecer a formação que teve o padre Bergoglio, que foi superior e depois provincial na Companhia de Jesus? O estilo de governo da Companhia implica a decisão por parte do superior, mas também o atender ao parecer dos seus “consultores”. Assim, pergunto ao Papa: “Acha que a sua passada experiência de governo pode servir à sua atual ação no governo da Igreja Universal?” O Papa Francisco, depois de uma breve pausa de reflexão, torna-se sério, mas muito sereno.

“Na minha experiência de superior na Companhia, para dizer a verdade, nem sempre me comportei assim, ou seja, fazendo as necessárias consultas. E isso não foi uma boa coisa. O meu governo como Jesuíta no início tinha muitos defeitos. Estávamos num tempo difícil para a Companhia: tinha desaparecido uma inteira geração de Jesuítas. Por isto, vi-me nomeado Provincial ainda muito jovem. Tinha 36 anos: uma loucura. Era preciso enfrentar situações difíceis, e eu tomava as decisões de modo brusco e individualista. Sim, devo acrescentar, no entanto, uma coisa: quando entrego uma coisa a uma pessoa, confio totalmente nessa pessoa. Terá que cometer um erro verdadeiramente grande para que eu a repreenda. Mas, apesar disto, as pessoas acabam por se cansar do autoritarismo. O meu modo autoritário e rápido de tomar decisões levou-me a ter sérios problemas e a ser acusado de ser ultraconservador. Vivi um tempo de grande crise interior quando estava em Córdova. Claro, não, não sou certamente como a Beata Imelda[43], mas nunca fui de direita. Foi o meu modo autoritário de tomar decisões que criou problemas”.

“Digo estas coisas como uma experiência de vida e para ajudar a compreender quais são os perigos. Com o tempo aprendi muitas coisas. O Senhor permitiu esta pedagogia de governo, mesmo através dos meus defeitos e dos meus pecados. Assim, como Arcebispo de Buenos Aires, fazia cada quinze dias uma reunião com os seis bispos auxiliares e várias vezes por ano com o Conselho Presbiteral. Colocavam-se perguntas e abria-se espaço para a discussão. Isto me ajudou muito a tomar as melhores decisões. E agora ouço algumas pessoas que me dizem: ‘Não consulte demasiado e decida’. Acredito, no entanto, que a consulta é muito importante. Os Consistórios e os Sínodos são, por exemplo, lugares importantes para tornar verdadeira e cativa esta consulta[44]. É necessário torná-los, no entanto, menos rígidos na forma. Quero consultas reais, não formais. A consulta dos oito cardeais, este grupo outsider, não é uma decisão simplesmente minha, mas é fruto da vontade dos cardeais, tal como foi expressa nas Congregações Gerais antes do Conclave. E quero que seja uma consulta real, não formal”[45].


Notas:
43 - Que acusação sub-reptícia pretende fazer à Beata Imelda aqui? Que era uma comunista?
44 - Aqui está a defesa da colegialidade, como se o Papa, que conta com a ajuda do Espírito Santo, precisasse consultar-se com seus inferiores...
45 - “Me engana que eu gosto!”. A Colegialidade é fruto do Vaticano II, não é coisa de trasanteontem!!!

“SENTIR COM A IGREJA”

Mantenho-me no tema da Igreja e procuro compreender o que significa exatamente para o Papa Francisco o “sentir com a Igreja”, de que escreve Santo Inácio nos seus Exercícios Espirituais. O Papa responde sem hesitação, partindo de uma imagem.

“A imagem da Igreja de que gosto é a do povo santo e fiel de Deus. É a definição que uso mais vezes e é a da Lumen Gentium, no número 12. A pertença a um povo tem um forte valor teológico: Deus na história da salvação salvou um povo. Não existe plena identidade sem pertença a um povo. Ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos considerando a complexa trama de relações interpessoais que se realizam na comunidade humana. Deus entra nesta dinâmica do povo”.

“O povo é sujeito. E a Igreja é o povo de Deus a caminho na história, com alegrias e dores. Sentire cum Ecclesia é para mim, pois, estar neste povo. E o conjunto dos fiéis é infalível no crer, e manifesta esta sua infallibilitas in credendo mediante o sentido sobrenatural da fé de todo o povo que caminha. É isto o que eu entendo hoje como o ‘sentir com a Igreja’ de que fala Santo Inácio. Quando o diálogo entre as pessoas e o bispo e o Papa segue este caminho e é leal, então é assistido pelo Espírito Santo. Não é, portanto, um sentir ligado aos teólogos”.

“É como com Maria: se se quiser saber quem é, pergunta-se aos teólogos; se se quiser saber como amá-la, é necessário perguntá-lo ao povo. Por sua vez, Maria amou Jesus com coração de povo, como lemos no
Magnificat[46]. Não é preciso sequer pensar que a compreensão do sentir com a Igreja esteja ligada somente ao sentir com a sua parte hierárquica”.

E o Papa, depois de um momento de pausa, para evitar mal-entendidos, secamente precisa: “E, obviamente, é necessário estar bem atentos a não pensar que esta infallibilitas de todos os fiéis de que estou a falar à luz do Concílio[47] seja uma forma de populismo. Não: é a experiência da ‘Santa Madre Igreja hierárquica’, como lhe chamava Santo Inácio, da Igreja como povo de Deus, pastores e povo em conjunto. A Igreja é a totalidade do povo de Deus”.

“Vejo a santidade no povo de Deus, a sua santidade quotidiana. Existe uma ‘classe média da santidade’ da qual todos podemos fazer parte, aquela de que fala Malègue[48]”.

O Papa está a referir-se a Joseph Malègue, um escritor francês que lhe é querido, nascido em 1876 e falecido em 1940. Em particular, à sua trilogia incompleta “Pierres noires. Les Classes moyennes du Salut". Alguns críticos franceses definiram-no como o “Proust católico”[49].

“Vejo a santidade — continua o Papa — no povo de Deus paciente: uma mulher que cria os filhos, um homem que trabalha para levar o pão para casa, os doentes, os sacerdotes idosos com tantas feridas, mas com um sorriso por terem servido o Senhor, as Irmãs que trabalham tanto e que vivem uma santidade escondida. Esta é, para mim, a santidade comum[50]. Associo frequentemente a santidade à paciência: não só a santidade como hypomoné, o encarregar-se dos acontecimentos e circunstâncias da vida, mas também como constância no seguir em frente dia após dia. Esta é a santidade da Igreja militante de que fala também Santo Inácio. Esta é também a santidade dos meus pais: do meu pai, da minha mãe, da minha avó Rosa, que me fez tanto bem. No breviário tenho o testamento da minha avó Rosa e leio-o frequentemente: para mim é como uma oração. Ela é uma santa que sofreu tanto, também moralmente, e seguiu sempre em frente com coragem”.

“Esta Igreja com a qual devemos ‘sentir’ é a casa de todos, não uma pequena capela que só pode conter um grupinho de pessoas selecionadas[51]. Não devemos reduzir o seio da Igreja universal a um ninho protetor da nossa mediocridade[52]. E a Igreja é Mãe — continua. A Igreja é fecunda, deve sê-lo. Veja: quando me apercebo de comportamentos negativos de ministros da Igreja ou de consagrados ou consagradas, a primeira coisa que me vem à cabeça é: ‘Cá está um solteirão’ ou Cá está uma solteirona’[53]. Não são nem pais, nem mães. Não são capazes de gerar vida[54]. Pelo contrário, quando leio, por exemplo, a vida dos missionários salesianos que foram para a Patagônia, leio uma história de vida, de fecundidade”.

“Outro exemplo destes dias: vi que foi muito referido nos jornais o telefonema que fiz a um rapaz que me tinha escrito uma carta. Telefonei-lhe porque aquela carta era tão bela, tão simples. Para mim isto foi um cato de fecundidade. Apercebi-me que é um jovem que está a crescer, sentiu em mim um pai, e assim eu disse-lhe alguma coisa sobre a sua vida. Um pai não pode dizer: ‘Não tenho nada que ver com isso’. Esta fecundidade faz-me muito bem”.


Notas:
46 - Onde, exatamente, no Magnificat, consta que Maria amou Jesus “com coração de povo”?
47 - Qual Concílio? Obviamente o Vaticano II. Porque se pegar o de Trento... a conversa seria outra.
48 - Joseph Malègue (1876-1940) foi um escritor francês. Escreveu “Augustin, ou Le Maître est là” e também “Pedras negras. As classes médias da salvação”. Muito lido no final dos anos sessenta, era preferido também de Paulo VI, mas parece que atualmente não se encontra mais nada dele. Cf. http://www.avvenire.it/Cultura/Pagine/Malgue%20e%20i%20santi%20delle%20classi%20medie.aspx. Essa simpatia de Bergoglio por escritores laicos, sobretudo não santos já é nossa velha conhecida. Ele ama citar esses tipos, inclusive alguns nem católicos são.
49 - Tendo em vista a homossexualidade de Proust, isso seria um elogio?
50 - Loucura. O anonimato não diminui em nada a santidade. Os santos “famosos” não diferem em nada dos santos “anônimos”... e o que faz a santidade não é a paciência em si, mas a paciência por amor a Deus...
51 - Para quem vive dizendo que “não devemos julgar o outro”, Bergoglio julga bastante e com dureza os que vivem a Fé de maneira “clássica”: indo à Missa, rezando, fazendo penitências... e não apenas criando os filhos com paciência no anonimato de suas casas!
52 - E agora rotula de medíocres o que vive a Fé na piedade. O que é um contrassenso em relação ao santos “de classe média” que ele tanto apregoa. O jeito “certo” de viver a Fé e o de um Malègue, não de um Vianney?
53 - Sic. É a deixa para o fim do celibato?
54 - Quanta maldade em um coração pontifício... Os religiosos são chamados a outra paternidade, que gera vida, sim, mas uma vida espiritual, uma vida eterna. Muito mais salutar para a alma do que a vida que um casal gera para o mundo.

IGREJAS JOVENS E IGREJAS ANTIGAS

Permaneço no tema da Igreja, colocando ao Papa uma pergunta, também à luz da recente Jornada Mundial da Juventude: “Este grande evento acendeu ulteriormente os focos sobre os jovens, mas também sobre aqueles ‘pulmões espirituais’ que são as Igrejas de instituição mais recente[55]. Quais as esperanças para a Igreja universal que lhe parecem provir destas Igrejas?”.

“As Igrejas jovens desenvolvem uma síntese de fé, cultura e vida em devir, e, portanto, diferente da desenvolvida pelas Igrejas mais antigas. Para mim, a relação entre as Igrejas mais antigas e as mais recentes é semelhante à relação entre jovens e velhos numa sociedade: constroem o futuro, mas uns com a sua força e os outros com a sua sabedoria. Correm-se sempre riscos, obviamente; as Igrejas mais jovens correm o risco de se sentirem autossuficientes, as mais antigas correm o risco de querer impor às mais jovens os seus modelos culturais. Mas o futuro constrói-se conjuntamente”[56].


Notas:
55 - Que diabo significa isso? Que Igrejas instituídas mais recentemente? São as que vieram depois de Lutero?
56 - Estou perplexa. Para católicos perplexos: http://farfalline.blogspot.com.br/p/blog-page_21.html.

A IGREJA? UM HOSPITAL DE CAMPANHA...O Papa Bento XVI, ao anunciar a sua renúncia ao Pontificado, retratou o mundo de hoje como sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da Fé, que requerem vigor, seja do corpo, seja da alma. Pergunto ao Papa, também à luz daquilo que acabou de me dizer: “De que é que a Igreja tem maior necessidade neste momento histórico? São necessárias reformas? Quais são os seus desejos para a Igreja dos próximos anos? Que Igreja ‘sonha’?”.

O Papa Francisco, tomando o incipit da minha pergunta, começa por dizer: “O Papa Bento teve um ato de santidade, de grandeza, de humildade. É um homem de Deus”, demonstrando um grande afeto e uma enorme estima pelo seu predecessor.

“Vejo com clareza — continua — que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo”[57].

“A Igreja por vezes encerrou-se em pequenas coisas, em pequenos preceitos. O mais importante, no entanto, é o primeiro anúncio: ‘Jesus Cristo salvou-te’. E os ministros da Igreja devem ser, acima de tudo, ministros de misericórdia. O confessor, por exemplo, corre sempre o risco de ser ou demasiado rigorista ou demasiado laxista. Nenhum dos dois é misericordioso, porque nenhum dos dois toma verdadeiramente a seu cargo a pessoa. O rigorista lava as mãos porque o remete para o mandamento. O laxista lava as mãos dizendo simplesmente ‘isto não é pecado’ ou coisas semelhantes. As pessoas têm de ser acompanhadas, as feridas têm de ser curadas”[58].


“Como estamos a tratar o povo de Deus? Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora. Os ministros da Igreja devem ser misericordiosos, tomar a seu cargo as pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo. Isto é Evangelho puro. Deus é maior que o pecado. As reformas organizativas e estruturais são secundárias, isto é, vêm depois. A primeira reforma deve ser a da atitude. Os ministros do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se. O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou clérigos de Estado. Os bispos, em particular, devem ser capazes de suportar com paciência os passos de Deus no seu povo, de tal modo que ninguém fique para trás, mas também para acompanhar o rebanho que tem o faro para encontrar novos caminhos”[59].

“Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fê-lo, por vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é necessário audácia, coragem”.


Reflito naquilo que o Papa está a dizer e refiro o fato que existem cristãos que vivem em situações não regulares para a Igreja ou, de qualquer modo, em situações complexas, cristãos que, de um modo ou de outro, vivem feridas abertas. Penso nos divorciados recasados, casais homossexuais, outras situações difíceis. Como fazer uma pastoral missionária nestes casos? Em que insistir? O Papa faz sinal de ter compreendido o que pretendo dizer e responde.

“Devemos anunciar o Evangelho em todos os caminhos, pregando a boa nova do Reino e curando, também com a nossa pregação, todo o tipo de doença e de ferida. Em Buenos Aires recebia cartas de pessoas homossexuais, que são ‘feridos sociais’[60], porque me dizem que sentem como a Igreja sempre os condenou[61]. Mas a Igreja não quer fazer isto. Durante o voo de regresso do Rio de Janeiro disse que, se uma pessoa homossexual é de boa vontade e está à procura de Deus, eu não sou ninguém para julgá-la. Dizendo isso, eu disse aquilo que diz o Catecismo. A religião tem o direito de exprimir a própria opinião para serviço das pessoas, mas Deus, na criação, tornou-nos livres: a ingerência espiritual na vida pessoal não é possível[62]. Uma vez uma pessoa, de modo provocatório, perguntou-me se aprovava a homossexualidade. Eu, então, respondi-lhe com outra pergunta: ‘Diz-me: Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência com afeto ou rejeita-a, condenando-a?’[63]. É necessário sempre considerar a pessoa. Aqui entramos no mistério do homem. Na vida, Deus acompanha as pessoas e nós devemos acompanhá-las a partir da sua condição. É preciso acompanhar com misericórdia. Quando isto acontece, o Espírito Santo inspira o sacerdote a dizer a coisa mais apropriada”.[64]

“Esta é também a grandeza da confissão: o fato de avaliar caso a caso e de poder discernir qual é a melhor coisa a fazer por uma pessoa que procura Deus e a sua graça. O confessionário não é uma sala de tortura, mas lugar de misericórdia, no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. Penso também na situação de uma mulher que carregou consigo um matrimônio fracassado, no qual chegou a abortar. Depois esta mulher voltou a casar[65] e agora está serena, com cinco filhos. O aborto pesa-lhe muito e está sinceramente arrependida. Gostaria de avançar na vida cristã. O que faz o confessor?”

“Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos. Isto não é possível.[66] eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto[67]. De resto, o parecer da Igreja é conhecido, e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente”[68].


“Os ensinamentos, tanto dogmáticos como morais, não são todos equivalentes. Uma pastoral missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma multiplicidade de doutrinas a impor insistentemente[69]. O anúncio de caráter missionário concentra-se no essencial, no necessário, que é também aquilo que mais apaixona e atrai, aquilo que faz arder o coração, como aos discípulos de Emaús[70]. Devemos, pois, encontrar um novo equilíbrio[71]; de outro modo, mesmo o edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, de perder a frescura e o perfume do Evangelho[72]. A proposta evangélica deve ser mais simples, profunda, irradiante. É desta proposta que vêm depois as consequências morais”[73].

“Digo isto também pensando na pregação e nos conteúdos da nossa pregação. Uma bela homilia, uma verdadeira homilia, deve começar com o primeiro anúncio, com o anúncio da salvação. Não há nada de mais sólido, profundo e seguro do que este anúncio. Depois deve fazer-se uma catequese. Assim, pode tirar-se também uma consequência moral. Mas o anúncio do amor salvífico de Deus precede a obrigação moral e religiosa. Hoje, por vezes, parece que prevalece a ordem inversa. A homilia é a pedra de comparação para calibrar a proximidade e a capacidade de encontro de um pastor com o seu povo, porque quem prega deve reconhecer o coração da sua comunidade para procurar onde está vivo e ardente o desejo de Deus. A mensagem evangélica não pode limitar-se, portanto, apenas a alguns dos seus aspectos, que, mesmo importantes, sozinhos não manifestam o coração do ensinamento de Jesus”[74].


Notas:
57 - E quando foi que a Igreja deixou de fazer isso? A Igreja sempre curou as feridas dos seus guerreiros. Eu realmente não sei do que Bergoglio fala. Parece aqueles políticos que falam do óbvio em busca de votos...
58 - Ele retrata, aqui, os padres modernistas. Queixe-se ao CVII!
59 - Sic. O pastor segue o rebanho? O pastor é guiado pelo rebanho?
60 - Não, Bergoglio, homossexuais que cedem à tentação são pecadores abjetos. A sociedade que os recrimina porque não quer que essa praga se espalhe não é a agressora, mas a agredida. Manipular a verdade não a muda. O erro é sempre o erro. As consequências são as consequências. Se não quer ser julgado em praça pública não peque em praça pública!!!
61 - Não, Bergoglio, quem sempre os condenou primeiro foi Deus. A Igreja os condena por ordem de Deus. E não condena as pessoas, mas o ato, o pecado, o homossexualismo. Não mude a verdade, Bergoglio!!!
62 - Devagar com o andor, Bergoglio. Primeiro, não se trata de “ingerência” da Igreja. E, depois, ad argumentandum, se a Igreja não puder “ingerir-se” na vida ESPIRITUAL das pessoas... o que lhe resta? Já foi expulsa da vida TEMPORAL, agora querem expulsá-la da vida espiritual? Então, qual o papel da Igreja, Mãe e Pastora?
63 - A rejeita, condenando, se a pessoa vive em pecado. Está no mesmo Catecismo que você menciona, Bergoglio, mas não conhece!
64 - Agora o sacerdote se limita a seguir o manual de etiqueta e boas maneiras... Um Padre Pio devia se limitar a dizer coisas apropriadas. Um São Vianney, um São João Bosco também... Então, eles fizeram tudo errado, porque Padre Pio é conhecido por expulsar fiéis da fila do confessionário porque sabia que não estavam preparados e não queria que eles pecassem com uma confissão sacrílega!!! E o que seria apropriado dizer a uma pobre alma que carrega a cruz do homossexualismo? Que, contanto que siga a sua consciência, está tudo bem?
65 - Bom, a parte do aborto... passa! A pobre erro, se arrependeu e teve todos os filhos que Deus lhe mandou, fez caridade e penitência, foi absolvida de seu pecado e... tudo bem. Mas... como é que é a parte em que ela casa de novo? O Direito Canônico diz que é adultério alguém casar-se mais de uma vez, estando o cônjuge vivo. O que esses maníacos fazem com essas pobres almas que se separam e se casam de novo é estelionato espiritual!!! Essa pobre mulher “serena” não vai entrar no Céu, porque tem dois maridos.
66 - Esta é a famosa frase que causou celeuma e alvoroço na mídia e alegria entre os pecadores. Com essa frase, Bergoglio cometeu dois erros: de um lado deu a impressão de que essas coisas não têm a menor importância e que a Igreja agora mudou, de outro quebrou as pernas dos bons sacerdotes que há anos tentam salvar essas pobres almas angustiadas!!! De fato, ele não disse que a Igreja agora passa a aceitar isso tudo “de boa”! Mas o que ele diz é uma sandice, porque se é verdade que a Igreja não pode falar APENAS sobre isso, é verdade que a Igreja deve falar TAMBÉM sobre isso e com insistência, porque são assuntos recorrentes hoje em dia, porque é hoje que os ataques à vida (aborto, eutanásia, manipulação dos embriões...) estão sendo perpetrados com mais e mais violência! Porque é hoje que a família cristã está sendo vítima da sanha feroz dos homossexuais que pretendem destruí-la, por ser a base da sociedade ordeira e cristã. Porque é hoje, mais do que nunca, que os métodos anticoncepcionais estão minando a sociedade com sua mensagem de egoísmo e de rebeldia à vontade de Deus. Porque é hoje, Bergoglio, que os campos de batalha da Fé estão mais cheios de feridos que impedem que hajam mais santos de classe média que tanto você deseja!!!
67 - Oras, a JMJ-Rio não era um contexto? Não sabia ele – duvido – que o Brasil estava discutindo a questão do aborto que foi assinado logo depois de sua partida? Que contexto melhor do que a reunião de tantos jovens para falar-lhes da boa nova que abomina a camisinha e os anticoncepcionais? Que abomina o aborto e o sexo sem limites e fora do casamento? Que abomina a corrupção dos costumes e da família? Onde ele pensaria falar disso? Além dos jovens presentes – muitos dos quais mais preocupados com as praias e as paqueras – Bergoglio tinha à disposição toda a mídia mundial!!! Que contexto melhor?
68 - Mas falar de que, então, Bergoglio? Qual o papel da Igreja na sociedade? Apenas e tão somente a solidariedade? Mas não só de pão vive o homem, Bergoglio!!! E a Igreja não é uma ONG assistencialista. Os católicos pagam impostos para que o governo cuide dos corpos. À Igreja cabe cuidar das almas, primeiro.
69 - Aqui, Bergoglio, ultrapassou todos os limites que poderia ultrapassar. Para um bom entendedor, aqui ele fala dos Dogmas de Fé Católicos, que não são uma “transmissão desarticulada de uma multiplicidade de doutrinas a impor insistentemente”!!! Nem a Doutrina Católica, como um todo, o é. Anátema seja quem diz que Dogma é relativo! -
70 - Os discípulos de Emaús, se estivessem ouvindo isso, teriam rasgado as vestes e se coberto de cinzas, gritando: Anátema! Anátema! Anátema!
71 - Um equilíbrio entre o mundo e a Fé? Entre a Verdade revelada por Deus e os tempos modernos? Está de brincadeira? Deus precisa ser aggiornado? Anátema!
72 - Mas o que mantém o edifício moral da Igreja de pé, sólido como uma rocha, são as Verdades Eternas, os Dogmas!!! Anátema!
73 - Mas isso, Bergoglio, já foi feito. Há 2000 anos que a Igreja vem fazendo isso, de uma forma simples, profunda, irradiante!!!
74 - Certa vez eu revisei um acórdão em que um desembargador dizia que a lei tinha sido feita para todas as crianças e não para aquela criança em particular. Aqui me parece ler o mesmo “discernimento”: “A mensagem evangélica não pode limitar-se, portanto, apenas a alguns dos seus aspectos, que, mesmo importantes, sozinhos não manifestam o coração do ensinamento de Jesus”. Se for seguir ao pé da letra esse “discernimento”, então, em todos os sermões seria necessário falar de TODOS os aspectos que manifestam JUNTOS o coração do ensinamento de Jesus... Haja tempo para um Missa tão longa. Os sermões são pílulas de catequese em que se “fraciona” a doutrina sem “diluí-la, sem diminui-la. Tratam-se os aspectos importantes relativos àquela Missa, àquele Evangelho lido naquele dia, àquela particular necessidade que o pregador entrevê naquele momento para a comunidade que o ouve.

O PRIMEIRO RELIGIOSO PAPA DESDE HÁ 182 ANOS...

O Papa Francisco é o primeiro Pontífice proveniente de uma Ordem Religiosa, depois do camaldolense Gregório XVI, eleito em 1831, há 182 anos. Pergunto, pois: “Qual é hoje na Igreja o lugar dos religiosos e religiosas?”.

“Os religiosos são profetas. São os que escolheram um seguimento de Jesus, que imitam a sua vida com a obediência ao Pai, com a pobreza, a vida de comunidade e a castidade. Neste sentido, os votos não podem cair em caricaturas[75]; de outro modo, por exemplo, a vida comunitária torna-se um inferno, e a castidade um modo de viver como solteirões[76]. O voto de castidade deve ser um voto de fecundidade. Na Igreja, os religiosos são chamados em particular a ser profetas que testemunham como Jesus viveu nesta terra e que anunciam como o Reino de Deus será na sua perfeição. Um religioso nunca deve renunciar à profecia. Isto não significa contrapor-se à parte hierárquica da Igreja, mesmo se a função profética e a estrutura hierárquica não coincidem. Estou a falar de uma proposta sempre positiva, que, no entanto, não deve ser medrosa. Pensemos naquilo que fizeram tantos grandes santos monges, religiosos e religiosas, desde Santo Antão, abade. Ser profeta pode significar, por vezes, fazer ruído, não sei como dizer[77]. A profecia faz ruído, alarido, alguns chamam “chinfrim”. Mas, na realidade, o seu carisma é o de ser fermento: a profecia anuncia o espírito do Evangelho”.


Notas:
75 - Mais uma vez, Bergoglio bate forte sobre a religiosidade, criticando-a duramente. Certamente, fala dos companheiros dele da Teologia da Libertação, uma caricatura, um simulacro de cristianismo! O voto levado às últimas consequências não é caricatura. Caricatura é essa simulação de pobreza que ele incorpora, na qual desfila com reloginho de plástico e gasta os tubos em telefonemas pessoais e que lhe rendam dividendos midiáticos.
76 - Temo que ele não compreenda o que seja castidade, tendo em vista que os casados também são chamados a ser castos!
77 - Isto, Bergoglio, de não saber como dizer... está claro desde que “tomou posse”. E se o problema fosse esse, seria fácil de resolver. Não falta-lhe apenas o “como”, mas também e sobretudo o “que” dizer.

DICASTÉRIOS ROMANOS, SINODALIDADE, ECUMENISMO[78]
Considerando a referência à hierarquia, pergunto neste ponto ao Papa: “O que pensa dos Dicastérios romanos?”

“Os dicastérios romanos estão ao serviço do Papa e dos bispos: devem ajudar tanto as Igrejas particulares como as Conferências Episcopais. São mecanismos de ajuda. Nalguns casos, quando não são bem entendidos, correm o risco, pelo contrário, de se tornarem organismos de censura[79]. É impressionante ver as denúncias de falta de ortodoxia que chegam a Roma. Creio que os casos devem ser estudados pelas Conferências Episcopais locais[80], às quais pode chegar uma válida ajuda de Roma. De fato, os casos tratam-se melhor no local. Os dicastérios romanos são mediadores, nem intermediários nem gestores”.

Recordo ao Papa que no passado dia 29 de Junho, durante a cerimónia da bênção e da imposição do pálio a 34 bispos metropolitas, tinha afirmado “o caminho da sinodalidade” como o caminho que leva a Igreja unida a “crescer em harmonia com o serviço do primado”. Eis então a minha pergunta: “Como conciliar em harmonia primado petrino e sinodalidade? Que caminhos são praticáveis, também numa perspectiva ecumênica?”

“Devemos caminhar juntos: as pessoas, os Bispos e o Papa. A sinodalidade vive-se a vários níveis. Talvez seja tempo de mudar a metodologia do sínodo, porque a atual parece-me estática. Isto poderá também ter valor ecumênico, especialmente com os nossos irmãos ortodoxos. Deles, se pode aprender mais sobre o sentido da colegialidade episcopal e sobre a tradição da sinodalidade. O esforço de reflexão comum, vendo o modo como se governava a Igreja nos primeiros séculos, antes da ruptura entre Oriente e Ocidente, dará frutos a seu tempo. Nas relações ecumênicas isto é importante: não só conhecer-se melhor, mas também reconhecer o que o Espírito semeou nos outros como um dom também para nós. Quero prosseguir a reflexão sobre como exercitar o primado petrino, já iniciada em 2007 pela Comissão Mista, e que levou à assinatura do documento de Ravena[81]. É preciso continuar neste caminho”[82].
Procuro compreender como o Papa vê o futuro da unidade da Igreja. Responde-me: “Devemos caminhar unidos nas diferenças: não há outro caminho para nos unirmos. Este é o caminho de Jesus”[83].

E o papel da mulher na Igreja? O Papa referiu-se a este tema em várias ocasiões. Numa entrevista tinha afirmado que a presença feminina na Igreja não emergiu mais, porque a tentação do machismo não deixou espaço para tornar visível o papel que compete às mulheres na comunidade. Retomou a questão durante a viagem de regresso do Rio de Janeiro, afirmando que ainda não foi feita uma teologia profunda da mulher. Então, pergunto: “Qual deve ser o papel da mulher na Igreja? Como fazer para torná-lo hoje mais visível?”

“É necessário ampliar os espaços de uma presença feminina mais incisiva na Igreja. Temo a solução do ‘machismo de saias’, porque, na verdade, a mulher tem uma estrutura diferente do homem. E, pelo contrário, os argumentos que ouço sobre o papel da mulher são muitas vezes inspirados precisamente numa ideologia machista. As mulheres têm vindo a colocar perguntas profundas que devem ser tratadas. A Igreja não pode ser ela própria sem a mulher e o seu papel. A mulher, para Igreja, é imprescindível. Maria, uma mulher, é mais importante que os bispos. Digo isto, porque não se deve confundir a função com a dignidade. É necessário, pois, aprofundar melhor a figura da mulher na Igreja. É preciso trabalhar mais para fazer uma teologia profunda da mulher. Só realizando esta etapa se poderá refletir melhor sobre a função da mulher no interior da Igreja. O gênio feminino é necessário nos lugares em que se tomam as decisões importantes. O desafio hoje é exatamente esse: refletir sobre o lugar específico da mulher, precisamente também onde se exerce a autoridade nos vários âmbitos da Igreja[84].


Notas:
78 - Ecumenismo é uma heresia que tem raízes antigas. A raiz do ecumenismo moderno data do final do século XVIII, com as missões protestantes. O grande impulsionador destas missões, William Carey, propôs a cooperação entre os cristãos para fazer frente à evangelização de um mundo cada vez maior a ser cristianizado. O papa Pio XI publicou em 1928 a encíclica “Mortalium ânimos”, que afirmava que a única Igreja verdadeira é a Igreja Católica e que a salvação só pode ser alcançada pelo regresso a ela. Apesar desta posição oficial, diversas iniciativas no âmbito católico foram efetuadas no sentido da aproximação e cooperação com outras denominações cristã, particularmente pelo Concílio Vaticano II. A Igreja Católica incorpora-se oficialmente ao movimento ecumênico a partir de 1960, quando João XXIII criou o “Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos”, o qual participou ativamente no assessoramento ao papa e aos bispos durante o Vaticano II, além de ajudar os padres conciliares na elaboração do decreto “Unitatis Redintegratio”, de 1964, de Paulo VI, que define o movimento ecumênico como “uma graça do Espírito Santo”, considera que o caráter ecumênico é essencialmente espiritual e estabelece que o olhar da Igreja Católica é dirigido às igrejas separadas do Catolicismo: as Igrejas Ortodoxas e as Igrejas Protestantes. Paulo VI instituiu diversos grupos de trabalho na linha do diálogo inter-religioso: o “Secretariado para os Não-Cristãos”, a “Comissão para o Diálogo com os Judeus” e o “Secretariado para os Não-Crentes”. Do ponto de vista institucional, o “Secretariado para a Unidade dos Cristãos” estabeleceu o diálogo sobre a doutrina com outras igrejas, assessorou as Conferências Episcopais pelo mundo e foi responsável pelos documentos “Diretório Ecumênico” (1967-1970) e “A colaboração ecumênica em nível regional, nacional e local” (1975). João Paulo II reafirmou o ecumenismo como essencial para a fé cristã na Encíclica “Ut unum sint” (Que todos sejam um). Nem todas as denominações protestantes participam do movimento ecumênico, algumas (pentecostais e neopentecostais) não só não o aceitam como creem que o ecumenismo cumpre perfeitamente as profecias bíblicas do livro do Apocalipse que prevê que o seu líder - o falso profeta - levará a Humanidade a aceitar o Anticristo que está por vir (Apocalipse 13,11-12). No Brasil e no mundo, existem vários organismos de natureza ecumênica. O mais importante, no Brasil, é o “Conselho Nacional de Igrejas Cristãs” (CONIC), fundado em novembro de 1982, com sede em Brasília e cujo símbolo é um barco. Seus membros são: a Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil. Existem também organismos ecumênicos que atuam em causas comuns, como “Koinonia”, “Diaconia”, “Centro de Estudos Bíblicos” (CEBI), “Centro Ecumênico de Serviços à Educação e Evangelização Popular”, que têm ações de apoio ao movimento popular e às igrejas. Fazem parte também a Igreja O Brasil Para Cristo, Igreja Reformada do Brasil e Igreja Metodista. No âmbito global, destaca-se o “Conselho Mundial de Igrejas". Ver mais http://www.pime.org.br/missaojovem/mjhistdaigrejaperdida.htm. Fenômenos que na Igreja nunca se viram, como a “revolta litúrgica” ou o “ecumenismo”, são frutos claro do jacobinismo conciliar. Ambos são devido às exigências protestantizantes: a assembleia, a Palavra e o memorial da ceia no que diz respeito à Missa, excluindo o Santo Sacrifício, enquanto a instância ecumênica nasceu da ação de alguns missionários protestantes do início do Novecentos, os quais promoveram iniciativas de diálogo entre as incontáveis confissões reformadas. Ecumenismo e diálogo inter-religioso são modos de invalidar as missões da Igreja como Mãe e Mestra a educar e edificar os povos na doutrina de Cristo, que ordenou aos apóstolos: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." (Mt 28,19). O ecumenismo e o diálogo inter-religioso são uma farsa, mais uma doutrina podre fruto do Concílio Vaticano II. A Igreja missionária não deve “dialogar”, mas batizar e ensinar! Graças ao CVII, a Igreja passa a ser uma agremiação como as demais, aberta ao diálogo e ao ecumenismo, tratando as falsas igrejas no mesmo nível. Não é mais considerada como detentora de toda a Verdade. Já não é mais vista como santificadora, tendo por obrigação levar o Evangelho a todos os povos. Cf. fonte: http://www.capela.org.br/Crise/lista.htm.
79 - Hummmm porque Bergoglio sempre tende para esse lado? Porque correm o risco de se tornar APENAS mecanismos de censura? E o outro extremo, não o preocupa? O poderem se transformar em mecanismo de “relaxismo” e de abusos litúrgicos e de fé? Esse perigo é menor? É “menos pior”? Infelizmente, Bergoglio é o que mais acontece atualmente. As Conferências Episcopais se tornaram uma Igreja à parte, ditando regras, estabelecendo os ritos, “adequando-os” à cultura local...
80 - Mas o problema maior vem das próprias CE!!! Como pode o juiz “se” julgar? É uma piada! Se alguém está se queixando a Roma é porque com o bispo já não deu certo...
81 - Para quem quiser ler o documento, cf. http://www.veritatis.com.br/doutrina/documentos-da-igreja/6621-conseq%C3%BCencias-canonicas-e-eclesiologicas-da-natureza-sacramental-da-igreja-documento-de-ravena.
82 - Não preciso gastar latim para dizer que o ecumenismo já foi condenado pela Igreja, é uma heresia. Também dispensável dizer que a colegialidade vai na contramão da História da Igreja, se é que algum dia realmente houve esse desejo por parte de Cristo de ver a Sua Igreja administrada por um Conselho ao invés de Pedro, auxiliado pelo Espírito Santo.
83 - O caminho de Jesus foi a unidade na Fé, e isso não se faz nos unindo nas diferenças, porque o que nos separa é maior e mais importante do que aquilo que nos une. O que nos une são palavras como “Deus”, “Cristo”, “Espírito Santo”. O que nos separa é o que essas palavras verdadeiramente são. Ou seja, se Deus fosse o mesmo em todas as religiões e seitas que pululam na atualidade, então poderíamos afirmar com certeza que Ele mente, nos engana, prometendo um caminho para o Céu a nós e outros para cada uma dessas seitas. Sabemos pelo Catecismo que Deus não pode se enganar e não quer nos enganar e se Ele diz que a Verdade está com a Igreja que Cristo fundou, então não pode ser Verdade o que as seitas protestantes pregam. É simples, claro, cristalino. Não se trata do mesmo Deus! E se não é o mesmo Deus, o que nos une? Nada, porque a Doutrina Católica não tergiversa com o pecado, não dialoga com o erro, não supera as diferença em nome do achismo e do subjetivismo. Fora da Igreja não há salvação. E se isso é verdade, então o Vaticano II mente. E como se pode deixar de lado um DOGMA apenas para superar “diferenças” que são irreconciliáveis desde sempre? Bergoglio mente, promete um Céu que não existe. É um estelionatário espiritual.
84 - Como sempre, falou, falou e não disse nada. É o linguajar típico do modernista. De qualquer maneira, o papel da mulher na Igreja foi bem tratado e avaliado por 2000 anos de caminhar na História (uma expressão bem ao estilo-bergoglio-de-ser!). o único escopo dessa pergunta é abrir espaço para o sacerdócio feminino. Penso que eles devem achar que somos idiotas, que não compreendemos o que está por trás dessas conversas todas. O que eles querem é acabar com o Sacerdócio abrindo-o às mulheres, aos gays, aos leigos. Já se sabe de lugares onde os leigos estão até consagrando!!! A maldade deles não tem limites nem fim. A mulher já tem seu papel na Igreja, como no lar: de joelhos, puxando o terço, rezando pela Igreja, pelo Papa, pelos Sacerdotes, por todas as necessidades da Igreja. Infelizmente, a presença indevida das mulheres “na” Igreja tem dado margem a tantos escândalos, fora e dentro de sua casa. Quantos padres não caíram em tentação e abandonaram a batina para viver com mulheres em pecado público? E eu nem falo daqueles que eventualmente violentaram mulheres, porque esses são um caso à parte, que não se resolve com o fim do celibato, mas com a cadeia. E quantos lares ruíram porque a “mãe” dedicava tempo demais à Igreja e de menos à família? Quantas mãe descuidaram dos filhos que se acabaram por se envolver com drogas, prostituição, crimes, e dos maridos que acabaram por procurar “distração” ou conforto fora do lar, abandonando a família ao relento? Quantas associações de padres casados há hoje que se iniciaram com a participação “mais ativa” da mulher na sacristia? Quem não soube da “amiga íntima” de Bergoglio, viúva de um ex-padre (um Monsenhor...), com a qual passava as noites em longos telefonemas? Ela disse certa vez que ainda se falam.

O CONCÍLIO VATICANO II

“O que é que realizou o Concílio Vaticano II? Que é que foi?”, pergunto-lhe à luz das suas afirmações precedentes, imaginando uma resposta longa e articulada. Tenho, pelo contrário, como que a impressão de que o Papa simplesmente considera o Concílio como um fato de tal modo indiscutível que para sublinhar a sua importância não vale a pena falar disso demasiado tempo.

O Vaticano II foi uma releitura do Evangelho à luz da cultura contemporânea[85]. Produziu um movimento de renovação que vem simplesmente do próprio Evangelho[86]. Os frutos são enormes[87]. Basta recordar a liturgia. O trabalho da reforma litúrgica foi um serviço ao povo como releitura do Evangelho a partir de uma situação histórica concreta. Sim, existem linhas de hermenêutica de continuidade e de descontinuidade. Todavia, uma coisa é clara: a dinâmica de leitura do Evangelho no hoje, que é própria do Concílio, é absolutamente irreversível[88]. Depois existem questões particulares, como a liturgia segundo o Vetus Ordo[89]. Penso que a escolha do Papa Bento XVI foi prudente, ligada à ajuda a algumas pessoas que têm esta sensibilidade particular. Considero, no entanto, preocupante o risco de ideologização do Vetus Ordo, a sua instrumentalização[90].


Notas:
85 - Ou seja, uma ruptura total com a Tradição Católica. Ou seja, uma outra igreja, uma outra fé, uma outra doutrina. Deus não precisa ser “atualizado”, não precisa ser “relido à luz da cultura contemporânea”. Não foi Ele quem proibiu ao povo judeu que se amoldasse às culturas dos países nos quais eles passariam a viver? A Palavra não muda, é eterna. Crer que o Evangelho precise ser “relido à luz da cultura contemporânea” não crê na Onisciência divina, porque se Deus tudo sabe, inclusive que neste exato momento eu escreveria aqui “pipoca”... porque nos daria um Evangelho que precisasse ser “contemporaneizado”? Ele nos deu um Evangelho para todos os tempos, passados, presentes e futuros. Porque Ele é Deus.
86 - Exatamente de que parte do Evangelho vem a “renovação” proposta pelo CVII? Em que versículo? Em que livro?
87 - Sim, e os temos visto: desonra a Nosso Senhor Jesus Cristo, abusos litúrgicos, heresias, sacrilégios, fim do Reinado Social de Nosso Senhor, destruição da Missa e da Fé... A lista é longa!
88 - Bergoglio declara, aqui, o fim da Igreja Católica. Não se iludam, é o tempo de rasgar as roupas e cobrir-se de cinzas. Anátema!
89 - Nota do original: O rito litúrgico de S. Pio V, usado até ao Concílio Vaticano II.
Nota nossa 1: “usado até”... vírgula! A Missa de São Pio V nunca foi proibida ou substituída!!! Quem escreveu essa nota mente! O CVII jamais disse que a Missa de Sempre havia acabado. Nem poderia fazê-lo, sob pena de cair em desgraça desde o começo! O que houve foi um movimento silencioso que substitui a Missa aos poucos e criou a farsa da Missa proibida, e, na esteira, de que os tradicionalistas todos haviam sido excomungados porque insistiam em rezar uma Missa proibida. Mentirosos e dissimulados modernistas!
Nossa nota 2: Sim, não se iludam, para Bergoglio chegou a hora de sepultar de vez esse “saudosismo” que inspira a “sensibilidade” de alguns poucos católicos fiéis à Tradição. Não perdemos por esperar, em breve veremos a EXCOMUNHÃO, mais uma vez. Certamente precedida de salamaleques e travestida de caridade. Mas virá. E será um bem, porque separará o joio do trigo.
90 - “Ideologização e instrumentalização” do Vetus Ordo. Isso prova o que eu disse na nota anterior.

PROCURAR E ENCONTRAR DEUS EM TODAS AS COISAS

O discurso do Papa Francisco sobre os desafios de hoje é muito desconcertante. Há uns anos tinha escrito que, para ver a realidade, é necessário o olhar da fé; de outra forma, vê-se uma realidade aos bocados, fragmentada. É este também um dos temas da Encíclica Lumen Fidei[91]. Tenho em mente também algumas passagens dos discursos do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro. Cito-lhos: “Deus é real se Se manifesta no hoje”[92]; “Deus está em toda a parte”. São frases que fazem eco da expressão inaciana “procurar e encontrar Deus em todas as coisas”. Pergunto então ao Papa: “Santidade, como se faz para procurar e encontrar Deus em todas as coisas?”

“O que eu disse no Rio tem um valor temporal. Existe, de fato, a tentação de procurar Deus no passado ou no futuro. Deus está, certamente, no passado porque está nas pegadas que deixou. E está também no futuro, como promessa. Mas o Deus “concreto”, digamos assim, é hoje. Por isso[93], os queixumes nunca, nunca, nos ajudam a encontrar Deus. As queixas de hoje de como o mundo anda “bárbaro” acabam por fazer nascer dentro da Igreja desejos de ordem entendidos como pura conservação, defesa[94]. Não. Deus deve ser encontrado no hoje”.

“Deus manifesta-Se numa revelação histórica, no tempo. O tempo inicia os processos, o espaço cristaliza-os. Deus encontra-Se no tempo, nos processos em curso. Não é preciso privilegiar os espaços de poder relativamente aos tempos, mesmo longos, dos processos. Devemos encaminhar processos, mais que ocupar espaços. Deus manifesta-Se no tempo e está presente nos processos da História. Isto faz privilegiar as ações que geram dinâmicas novas. E exige paciência, espera”[95].

“Encontrar Deus em todas as coisas não é um eureka empírico. No fundo, quando desejamos encontrar Deus, quereríamos constatá-l’O de imediato com um método empírico. Assim não se encontra Deus. Ele encontra-Se na brisa ligeira sentida por Elias. Os sentidos que constatam[96]. Deus são os que Santo Inácio designa por ‘sentidos espirituais’. Inácio pede para abrir a sensibilidade espiritual para encontrar Deus para além de uma abordagem puramente empírica. É necessária uma atitude contemplativa: é o sentir que se vai pelo bom caminho da compreensão e do afeto, no que diz respeito às coisas e às situações. O sinal de que se está neste bom caminho é o sinal da paz profunda, da consolação espiritual, do amor de Deus e de todas as coisas em Deus”.


Notas:
91 - Cf. http://religiosita.blogspot.com.br/2013/07/igreja-conciliar-enciclica-lume-fidei.html. Leia com cautela. Se ainda houvesse um Index, a encíclica estaria nele.
92 - Não sei se foi um erro de digitação ou o que, mas a frase original, de Bergoglio, na JMJ-Rio, foi esta: “Deus é real e se manifesta no ‘hoje’.”. A frase que consta da entrevista reduziria Deus, mas Deus é, e portanto não pode ser reduzido a ser real porque se manifesta no hoje.
93 - As conclusões (i)lógicas dele são risíveis. Seria pândego se não fosse trágico! Porque se o “Deus concreto” é hoje os queixumes não nos ajudam a encontrá-lO? Qual é a lógica disso? O que se subsumi disso????
94 - Aqui, para quem não compreendeu, Bergoglio diz que nos apegamos ao passado por considerarmos bárbaros os tempos em que vivemos. Ou seja, não somos tradicionalistas, mas “reclamões”!
95 - Deus é o Senhor do tempo, o criador dele. Como pode Deus estar adstrito à sua criação, limitado por ela? Isso é heresia.
96 - A Fé não é um sentimento, mas a adesão da razão às Verdades reveladas por Deus. Deus o encontramos com a razão, não com a emoção.

CERTEZAS E ERROS

Se o encontro com Deus em todas as coisas não é um “eureka empírico” — digo ao Papa — e se, portanto, se trata de um caminho que lê a história, podem cometer-se erros...

“Sim, neste procurar e encontrar Deus em todas as coisas fica sempre uma zona de incertezas. Tem que ser assim[97]. Se uma pessoa diz que encontrou Deus com certeza total e não aflora uma margem de incerteza, então não está bem[98]. Para mim, esta é uma chave importante. Se alguém tem a resposta a todas as perguntas, esta é a prova de que Deus não está com ela[99]. Quer dizer que é um falso profeta, que usa a religião para si próprio[100]. Os grandes guias do povo de Deus, como Moisés, sempre deixaram espaço para a dúvida[101]. Devemos deixar espaço ao Senhor, não às nossas certezas. É necessário ser humilde[102]. A incerteza existe em cada discernimento verdadeiro que se abre à confirmação da consolação espiritual”.

“O risco no procurar e encontrar Deus em todas as coisas é, pois, a vontade de explicar demasiado, de dizer com certeza humana e arrogância: ‘Deus está aqui’. Encontraremos somente um deus à nossa medida. A atitude correta é a agostiniana: procurar a Deus para O encontrar e encontrá-l’O para O procurar sempre. E muitas vezes procura-se por tentativas, como se lê na Bíblia. É esta a experiência dos grandes Pais da Fé, que são o nosso modelo. É necessário reler o capítulo 11 da Carta aos Hebreus. Abraão partiu sem saber para onde ia, pela fé. Todos os nossos antepassados da fé morreram vendo os bens prometidos, mas longe... A nossa vida não nos é dada como um libreto de ópera onde está tudo escrito, mas é ir, caminhar, fazer, procurar, ver... Deve-se entrar na aventura da procura do encontro e do deixar-se procurar e deixar-se encontrar por Deus”[103].

“Porque Deus está antes, Deus está sempre antes, Deus antecede. Deus é um pouco como a flor da amendoeira da tua Sicília, Antônio, que floresce sempre antes[104]. Lemo-lo nos profetas. Portanto, encontra-se Deus caminhando, no caminho. E neste ponto alguém poderia dizer que isto é relativismo. É relativismo? Sim[105], se é mal interpretado, como espécie de panteísmo indistinto. Não, se é interpretado em sentido bíblico, onde Deus é sempre uma surpresa e, portanto, não sabes nunca onde e como O encontras, não és tu a fixar os tempos e os lugares do encontro com Ele. É necessário, portanto, discernir o encontro. Por isso, o discernimento é fundamental”[106].

“Se o cristão é restauracionista, legalista, se quer tudo claro e seguro, então não encontra nada[107]. A Tradição e a memória do passado devem ajudar-nos a ter a coragem de abrir novos espaços para Deus[108]. Quem hoje procura sempre soluções disciplinares, quem tende de modo exagerado à “segurança” doutrinal, quem procura obstinadamente recuperar o passado perdido, tem uma visão estática e involutiva. E deste modo a fé torna-se uma ideologia entre tantas[109].Tenho uma certeza dogmática[110]: Deus está na vida de cada pessoa. Deus está na vida de cada um. Mesmo se a vida de uma pessoa foi um desastre, se se encontra destruída pelos vícios, pela droga ou por qualquer outra coisa, Deus está na sua vida. Pode-se e deve-se procurar na vida humana. Mesmo se a vida de uma pessoa é um terreno cheio de espinhos e ervas daninhas, há sempre um espaço onde a semente boa pode crescer. É preciso confiar em Deus”.


Notas:
97 - O erro é necessário? O erro é inevitável? Tem que ser assim? Devemos errar para encontrar Deus? Me cheira a heresia...
98 - E com isso, Bergoglio condena uma miríade de santos.
99 - Com base em que Bergoglio AFIRMA isso?
100 - Com base em que Bergoglio afirma isso também? Como pode a certeza da fé se tornar “usar a religião para si próprio”? E a graça?
101 - Jó não duvidou. Ele foi um falso profeta? Onde e quando Moisés duvidou?
102 - O que humildade tem a ver com dúvida? Não há humildade na certeza por que?
103 - Mas o que nossos País viveram no serve de guia e luz. Por isso temos a Igreja, para não nos enlamearmos no erro para encontrar Deus. Por isso a Igreja é Mãe e Mestra, para nos ensinar. O que Bergoglio propõe é o que ele negou: a busca de Deus de forma empírica: o viver a própria experiência ao invés de aproveitar a experiência de quem nos precedeu. Se for assim, o povo de Deus jamais sairá do deserto!!! Digo e repito, Bergoglio é um estelionatário espiritual.
104 - Nota do original: O Padre Antonio Spadaro, autor desta entrevista é um jesuíta italiano, nascido na Sicília.
105 - Sim, ele admite ser relativista. O fato de tentar explicar melhor depois é malabarismo intelectual. O que ele prega é o relativismo, o subjetivismo, o deus que nasce em nós, a nossa imagem e semelhança, uma “visão de deus” para cada consciência que existe no mundo, segundo sua cultura e sua religiosidade, segundo sua história pessoal, suas experiências. É um vale-tudo espiritual!!!
106 - Sofismas. É o falar, falar e não dizer nada. É a prestidigitação intelectual a serviço da causa protestante.
107 - Aqui, ele chega onde queria desde o começo. O “caridoso” Bergoglio golpeia sem dó e sem piedade aos “restauracionistas” e aos “legalistas”. Os aponta ao rebanho como algo ruim, a ser evitado, leprosos...
108 - A Tradição ajuda a Igreja a manter o Depósito da Fé. O resto é do Demônio.
109 - Não se trata de ideologia, Bergoglio, mas de Fé Católica, de Apostolicidade. Tudo neste parágrafo fede a heresia.
110 - Este é o único dogma que Bergoglio aceita: a sua verdade, as suas certezas. O que a Igreja ensina... é balela!!!

DEVEMOS SER OTIMISTAS?
Estas palavras do Papa recordam-me algumas reflexões suas do passado, nas quais o então cardeal Bergoglio escreveu que Deus vive já na cidade, vitalmente misturado no meio de todos e unido a cada um. É outro modo, em minha opinião, para dizer o que Santo Inácio escreve nos Exercícios Espirituais, ou seja, que Deus “trabalha e opera” no nosso mundo. Pergunto-lhe então: “Devemos ser otimistas? Quais são os sinais de esperança no mundo de hoje? Como conseguir ser otimista num mundo em crise?”

“Não gosto de usar a palavra “otimismo”, porque indica uma atitude psicológica. Gosto, pelo contrário, de usar a palavra “esperança”, segundo aquilo que se lê no capítulo 11 da Carta aos Hebreus, como já citei. Os Pais continuaram a caminhar, atravessando grandes dificuldades. E a esperança não engana, como lemos na Carta aos Romanos. Pensa, pelo contrário, no primeiro enigma da ópera Turandot, de Puccini”, pede-me o Papa[111].

Naquele momento recordei, um pouco de memória, os versos daquele enigma da princesa que tem como resposta a esperança[112]: Na noite escura voa um fantasma / Iluminado. / Sobe e abre as asas / Sobre a negra infinita humanidade. / Todo o mundo o invoca / E todo mundo o implora. / Mas o fantasma desaparece com a Aurora para renascer no / coração. / E cada noite nasce e cada dia morre!... Versos que revelam o desejo de uma esperança que aqui, no entanto, é um fantasma cintilante e que desaparece com a aurora.

Aqui está — continua o Papa —, a esperança cristã não é um fantasma e não engana. É uma virtude teologal e, portanto, definitivamente, um presente de Deus que não se pode reduzir ao otimismo, que é apenas humano. Deus não defrauda a esperança, não pode negar-Se a Si mesmo. Deus é todo promessa.


Notas:
111 - Essa é a teologia de Bergoglio: o mundo e as mundanidades. Quando você espera vê-lo citar um Santo ou um Doutor da Igreja, lá vem ele com algum nome mundano, com sua filosofia de botequim!
112 - Para Turandot a esperança é um fantasma que ilude. O que Bergoglio pretende dizer com isto?

A ARTE E A CRIATIVIDADE[113]

Fico impressionado pela citação de Turandot para falar do mistério da esperança. Gostaria de compreender melhor quais são as suas referências artísticas e literárias. Recordo-lhe que, em 2006, tinha dito que os grandes artistas sabem apresentar com beleza as realidades trágicas e dolorosas da vida. Pergunto então quais são os artistas e escritores que prefere; se eles têm algo em comum...

“Gostei muito de autores diferentes entre si. Gosto muitíssimo de Dostoievski[114] e Hölderlin[115]. De Hölderlin quero recordar aquela poesia para o aniversário da sua avó, que é de grande beleza e que me fez tanto bem espiritual. É aquela que termina com o verso ‘Que o homem mantenha o que o rapaz prometeu’. Impressionou-me também porque amava muito a minha avó Rosa, e ali Hölderlin compara a sua avó a Maria que gerou Jesus, que para ele é o amigo da terra que não considerou ninguém estrangeiro. Li 'I Promessi Sposi'[116]três vezes e tenho-o agora sobre a mesa para reler. Manzoni[117] deu-me muito. A minha avó, quando eu era criança, ensinou-me de cor o início dos Promessi Sposi: ‘Quel ramo del lago di Como, che volge a mezzogiorno, tra due catene non interrotte di monti…’ (Dos dois braços que formam o lago de Como, um deles dirige-se para o sul, entre duas cadeias ininterruptas de montanhas…). Também gostei muito de Gerard Manley Hopkins[118]”.

“Na pintura admiro Caravaggio: as suas telas falam-me. Mas também Chagall, com a sua Crucifixão Branca...”[119].

“Na música gosto muito de Mozart, obviamente. Aquele ‘Et Incarnatus est’ da sua ‘Missa em Dó’ é insuperável: leva-te a Deus! Gosto muito de Mozart executado por Clara Haskil[120]. Mozart preenche-me: não posso pensá-lo, devo ouvi-lo. Gosto de ouvir Beethoven, mas prometeicamente. E o intérprete mais prometeico para mim é Furtwängler[121]. E depois as ‘Paixões’ de Bach. O trecho de Bach de que gosto muito é o ‘Erbarme Dich’, o ‘pranto de Pedro’, da ‘Paixão segundo São Mateus’. Sublime. Depois, num outro nível, não tão íntimo, gosto de Wagner[122]. Gosto de ouvi-lo, mas não sempre. A ‘Tetralogia do Anel’ executada por Furtwängler no Scala nos anos 50 é, para mim, a melhor. Mas também o ‘Parsifal’ executado em 1962 por Knappertsbusch”.

“Deveríamos também falar do cinema. 'La strada' de Fellini[123] é talvez o filme de que mais gostei. Identifico-me com aquele filme, no qual está implícita uma referência a São Francisco. Depois, creio ter visto todos os filmes com Anna Magnani[124] e Aldo Fabrizi[125] quando eu tinha entre 10 e 12 anos. Outro filme de que muito gostei é 'Roma città aperta'[126]. Devo a minha cultura cinematográfica sobretudo aos meus pais, que nos levavam frequentemente ao cinema”.


“Em todo o caso, em geral gosto muito dos artistas trágicos, especialmente os mais clássicos. Há uma bela definição que Cervantes coloca na boca do bacharel Carrasco para fazer o elogio da história de Dom Quixote: ‘Os rapazes têm-na entre as mãos, os jovens leem-na, os adultos entendem-na, os velhos elogiam-na’. Esta, para mim, pode ser uma boa definição para os clássicos”.

Apercebo-me de estar absorvido por estas suas referências e de ter o desejo de entrar na sua vida, pela porta das suas escolhas artísticas. Seria um percurso a fazer, imagino que longo. E incluiria também o cinema, do neorrealismo italiano até “A Festa de Babette”[127]. Vêm-me à mente outros autores e outras obras que ele citou noutras ocasiões, mesmo menores ou menos conhecidas ou locais: de “Martín Fierro” de José Hernández[128] à poesia de Nino Costa[129], a “Il grande êxodo” de Luigi Orsenigo[130]. Mas penso também em Joseph Malègue[vide nota 48]e José María Pemán[131]. E, obviamente, em Dante e Borges[132], mas também em Leopoldo Marechal[133], o autor de “Adán Buenosayres”, “El banquete de Severo Arcángelo” e “Megafón o la guerra”.

Penso em particular precisamente em Jorge Luis Borges, porque Bergoglio, quando tinha 28 anos e era professor de Literatura em Santa Fé no “Colegio de la Inmaculada Concepción”, conheceu-o pessoalmente. Bergoglio ensinava os últimos dois anos do Liceu e encaminhou os seus rapazes para a escrita criativa. Também eu tive uma experiência parecida à sua, quando tinha a mesma idade, no “Istituto Massimo” de Roma, fundando “BombaCarta”[134], e conto-lha. No final, peço ao Papa para me contar a sua experiência.

“Foi uma coisa um pouco arriscada — responde. Devia fazer de tal modo que os meus alunos estudassem ‘El Cid’[135]. Mas os rapazes não gostavam. Pediam-me para ler ‘García Lorca’[136]. Então, decidi que deveriam estudar ‘El Cid’ em casa, e durante as lições eu trataria os autores de que os rapazes mais gostavam. Obviamente, os jovens queriam ler as obras literárias mais ‘picantes’, contemporâneas como ‘La casada infiel’[137], ou clássicas como ‘La Celestina’, de Fernando de Rojas[138]. Mas, ao ler estas coisas que os atraíam naquele momento, ganhavam mais gosto em geral pela literatura, pela poesia e passavam a outros autores[139]. Para mim, esta foi uma grande experiência. Cumpri o programa, mas de modo desestruturado[140], isto é, não ordenado segundo aquilo que estava previsto, mas segundo uma ordem que resultava natural na leitura dos autores. E esta modalidade tinha muito que ver comigo: não gostava de fazer uma programação rígida[141], mas eventualmente saber mais ou menos aonde chegar. Então comecei também a fazê-los escrever. No final decidi dar a ler a Borges dois contos escritos pelos meus rapazes. Conhecia a sua secretária, que tinha sido a minha professora de piano. Borges gostou muitíssimo e então ele propôs escrever a introdução de uma coletânea”.

“Então, Santo Padre, para a vida de uma pessoa a criatividade é importante?”, pergunto-lhe. Ele ri e responde: “Para um Jesuíta é extremamente importante! Um Jesuíta deve ser criativo[142].


Notas:
113 - O peixe morre pela boca. Aqui, Bergoglio se revela.
114 - Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881) foi um romancista russo, fundador do “existencialismo”. Foi precursor do modernismo literário e revolucionário, tendo sido preso em 23 de abril de 1849 por participar de um grupo intelectual revolucionário chamado “Círculo Petrashevski”, sob acusação de conspirar contra o Nicolau I da Rússia. Foi condenado à morte, mas antes da ordem para o fuzilamento, chegou uma ordem do Czar para que a pena fosse comutada para prisão com trabalhos forçados e exílio. Foi libertado em 1854 e condenado a quatro anos de serviço no Sétimo Batalhão, na fortaleza de Semipalatinsk, no Cazaquistão, além de soldado por tempo indefinido. Apaixonou-se por Maria Dmitriévna Issáieva, mulher de um conhecido. Além de modernista e revolucionário, Dostoiévski era também um adúltero. O preferido de Bergoglio!
115 - Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770-1843) foi um poeta lírico e romancista alemão. Filho de pastor, era protestante. Ao ser empregado como professor de um banqueiro, não teve peias de tornar a esposa deste sua amante e figura da Diotima de seu romance “Hyperion”. Sofria de “hipocondria grave” e de insanidade mental, oficialmente diagnosticada e que o acompanharia por 36 anos, até morrer em 1843. Além de protestante, Hölderlin era adultero e doido. O preferido de Bergoglio!
116 - Eu também li e estudei “Os Noivos”, de Alessandro Manzoni. Leitura e estudo obrigatório de todo estudante italiano das escolas médias. Aparentemente, o que mais tocou Bergoglio foram os versos iniciais que decorou com a avó. Sentimentalismo e superficialidade típicos dele. Se já leu três vezes... porque vai reler? Não há nenhum clássico católico para reler? Quiçá o “Catecismo Católico Escolar e Popular” de Spirago? Ou a Imitação de Cristo... Esse romance é um divisor de águas da literatura italiana porque marca o surgimento da língua italiana. É considerado obra prima do Resurgimento e do Romanticismo italiano, frutos da Revolução Francesa. Era, pois, ambientando no “Risorgimento”, período da História italiana onde se dá a unificação do Reino, que era dividido em vários pequenos Estados. Em resumo, é a história de um casal que passa por algumas vicissitudes antes de conseguir enfim casar-se. Mas nesse meio termo, vê-se uma sucessão de histórias escandalosas, como a tentativa de sedução da moça pelo fidalgo, a negativa do cura de aldeia de casá-los por medo do fidalgo, a famosa história da Monja de Monza – que virará um romance a parte, graças à morbosa curiosidade humana pela imoralidade – as peripécias dos jovens, pondo em risco a alma inúmeras vezes e até a vida.
117 - Alessandro Francesco Tommaso Manzoni (1785-1873) foi um escritor e poeta italiano - um dos mais importantes nomes da literatura de seu país. Escreveu “I Promessi Sposi” (traduzida para o português com o título “Os Noivos”). Foi senador do Reino da Itália e um MAÇOM conhecido: cf. http://www.revistauniversomaconico.com.br/curiosidades/um-papa-na-maconaria e http://www.lojasaopaulo43.com.br/ilustres.php. É verdade que ele se converteu ao Catolicismo (de nuances jansenistas), mas, filho de seu tempo, ele também era revolucionário e maçom, portanto um “católico liberal”. Não um católico. O preferido de Bergoglio!
118 - Gerard Manley Hopkins (1844-1889) foi um padre Jesuíta e um poeta inglês. Diz Wikipédia: “Os impulsos homoeróticos de Hopkins, dirigidos sobretudo a “Digby Mackworth Dolben”, um colega de Eton (uma das grandes escolas privadas inglesas), parecem ter tido uma influência decisiva sobre o tom, qualidade e mesmo com o conteúdo da sua poesia. O autor de uma biografia de Hopkins, Robert Bernard Martin afirma que o encontro com Dolben, por ocasião do 17.º aniversário de Hopkins, foi provavelmente o momento mais marcante emocionalmente da vida de Hopkins, sobre o qual escreveu abundantemente nos seus diários e a quem dedicou inúmeros poemas, incluindo muitos de caráter elegíaco, considerados dos melhores de Hopkins, após a morte por afogamento de Dolben em 1867”. Ops. O preferido de Bergoglio!
119 - Bom, isso não chega a ser novidade, já se conhecia essa preferência por essa tela blasfema: 




Marc Chagall (1887-1985) foi um pintor, ceramista e gravurista surrealista judeu russo-francês. Revolucionário, marxista, artista modernista. O preferido de Bergoglio! Pesquisei a respeito em março próximo passado, depois da clamorosa eleição. Aqui o que reuni:
“Quadro favorito de Bergoglio: A Crucificação Branca de Marc Chagall, um pintor russo-francês e judeu convicto. O quadro abaixo faz parte de uma serie chamada ‘A Ilustração da Bíblia’. Em 1933, os nazistas queimaram sua obra por considerá-la ‘scellerata’ (abjeta, vil, canalha). Aos poucos a alma de Bergoglio se revela... o que sobra de Francisco de Assis nisso tudo?
‘Cristo está no centro, pregado a uma cruz branca, já morto. O seu corpo é inundado de luz branca, vinda de um raio que desce transversalmente[lembro que o branco é geralmente, na pintura, símbolo do martírio]. Sobre sua cabeça ha uma inscrição (titulo) em hebraico. O tecido que cinge seus rins lembra uma echarpe de oração dos hebreus. Em baixo, sob a cruz, um candelabro de sete braços. À direita, o incêndio a uma sinagoga, depois de ter esparramado a mobília (cadeiras e livros(=). Um homem, com roupa e chapéu verdes, foge levando um saco às costas; debaixo dele, um rolo da Bíblia fumegando, e uma mulher desconsolada que acaricia seu menino. Do lado esquerdo, uma série de cenas de agressão e de êxodo, pessoas obrigadas a fugir para salvar - a Torá; um barco de desesperado em fuga; uma vila primeiro revirada e depois incendiada; a invasão do exercito russo. sobre a cruz, no céu, Moises que consola 3 pessoas que choram. Nesta cena apocalíptica e caótica, o Cristo envolvido pela luz branca (‘Eu sou a luz do mundo’) simboliza as tragédias de todos aqueles que sofrem insulto, cárcere, suplicio por suas ideias politicas ou religiosas; supera os limites das religiões, e vê no hebreu Jesus, morto e destruído pelo ódio, a figura de todo inocente injustamente sacrificado’.”
120 - Clara Haskil (1895-1960) foi uma pianista suíça, de família hebraica safardita.
121 - Wilhelm Furtwängler (1886-1954) foi um maestro e compositor alemão, tido como um dos maiores regentes do século XX. Foi titular da Orquestra Filarmônica de Berlim durante o período nazista.
122 - Não tão íntimo por causa das ligações de Wagner com o Nazismo?
123 - Federico Fellini (1920-) foi um dos mais famosos cineastas italianos. Geralmente, em seus filmes, fazia críticas ao totalitarismo, à Igreja Católica, ao capitalismo e à influência americana nos costumes de outros países, principalmente na Itália. Mas, como todo hipócrita que se preze, soube desfrutar muito bem do patrimônio angariado atacando a riqueza. Conta-se que Fellini recebeu em um só dia 400 telegramas acusando-o de ser comunista, traidor da pátria e ateu. O preferido de Bergoglio. Seus filmes são imorais, lembro-me vivamente que meu pai não nos deixava assistir.
SOBRE O FILME. O filme preferido de Bergoglio é um clássico do movimento neo-realista (modernista) que retrata a Itália decadente do pós-guerra, cheia de miséria e fome, de perde de valores morais. O filme conta a história de Gelsomina, uma mulher humilde e ingênua, que é vendida por sua mãe para Zampanò, um homem rude que trabalha fazendo apresentações em diversos locais. Num dado momento, cruza seus caminhos o equilibrista conhecido como "O Louco", que adora provocar Zampanò e nutre uma admiração especial por Gelsomina. Não é um filme que um sacerdote assistiria.
124 - Anna Magnani (1908- 1973) foi uma atriz italiana; a primeira atriz estrangeira ser premiada com o Oscar de Melhor Atriz pela Academia de Hollywood e considerada por seus pares como o maior talento da interpretação dramática desde Eleonora Duse. Era uma pecador pública, levando uma vida desregrada, tornando-se amante do cineasta Roberto Rossellini. Meus pais não nos permitiam assistir a seus filmes, todos de temática adulta, de maneira geral envolvendo adultério ou algum outro tipo de imoralidade. Se Bergoglio assistiu a todos os filmes dela... devo dizer que esse senhor não é um bom exemplo de Sacerdote ou diretor espiritual. Certamente, não é um bom confessor. E, de alguma forma, explica a visão de mundo e de Igreja que ele possui. Alguns filmes desse gênero que envolve o Fellini, a Magnani e o Fabrizi são piores que algumas novelas da Globo. De qualquer forma, não são filmes para uma criança de 10 ou 12 anos, o que mostra bem de que berço saiu. Meus pais nos proibiam de assistir a esses filmes. De fato, o poder de ligar e desligar a TV era de meu pai. E ninguém discutia!
125 - Aldo Fabrizi (1905-1990) foi um ator italiano e diretor de cinema e teatro.
126 - De Roberto Rossellini, é considerado o manifesto do neorrealismo. Também não é um filme para crianças. Sobretudo do tempo em que Bergoglio era criança! Sua afirmação seguinte “Devo a minha cultura cinematográfica sobretudo aos meus pais, que nos levavam frequentemente ao cinema”, confirma o que disse na nota anterior, sobre o berço que lhe deu origem. Em uma família tão liberal seria de se estranhar que saísse um Vianney.
127 - Babettes gæstebud (A Festa de Babette) é um filme dinamarquês de 1987, do gênero drama, dirigido por Gabriel Axel, e com roteiro baseado em conto de Karen Blixen. - O FILME: Em 1871, em noite de tempestade, Babette chega a um vilarejo na Dinamarca, fugindo da França durante a repressão à Comuna de Paris. Ela se emprega como faxineira e cozinheira na casa de duas solteironas, filhas de um rigoroso pastor. Ali ela vive por quatorze anos, até que um dia fica sabendo que havia ganhado uma fortuna na loteria e, ao invés de voltar à França, ela pede permissão para preparar um jantar em comemoração aos centésimo aniversário do pastor. A princípio, os convidados ficam assustados, temendo ferir alguma lei divina ao aceitar um jantar francês, mas acabam comparecendo e se deliciam com a festa de Babette.
128 - José Hernández (1834-1886) foi um poeta, político e jornalista argentino, conhecido, principalmente, pelo livro Martín Fierro, considerado o livro pátrio da Argentina. O LIVRO. O “Gaúcho Martín Fierro” (ou, simplesmente, “Martín Fierro”) é um poema de José Hernández, obra literária de grande popularidade na Argentina. Foi publicada pela primeira vez em 1872 com o título “El gaucho Martín Fierro”, e sua continuação, “La vuelta de Martín Fierro”, surgiu em 1879.
129 - Nino Costa (1886-1945) foi um poeta italiano.
130 - Na web só encontrei referências à entrevista. Nada há sobre o livro em si ou seu autor. Se é vivo ou onde viveu.
131 - José María Pemán y Pemartín (1898-1981) foi um poeta espanhol. Católico conservador, apoiou Miguel Primo de Rivera, “Alzamiento Nacional” de 1936 contra a Segunda República Espanhola, o Movimento Nacional e Juan de Bourbon. -
132 - Dante, obviamente sabemos quem é. Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (1899-1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino. Sua obra abrange o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura".
133 - Leopoldo Marechal (1900-1970) foi um poeta, dramaturgo, escritor e ensaísta argentino. Aproxima-se do Catolicismo pelo grupo “Convívios Fraternos”, de matizes protestantes. Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Conv%C3%ADvios_Fraternos.
134 - Cf. http://bombacarta.com.
135 - “El Cid” é outra obra-prima de Literatura de estudo obrigatório nas escolas médias italianas. Retrata a vida e as egstas de Rodrigo Díaz de Vivar, El Cid Campeador, que deu nome à obra. Foi um nobre guerreiro castelhano que viveu no século XI, época em que a Hispânia estava dividida entre reinos rivais de cristãos e mouros (muçulmanos). Sua vida e feitos se tornaram, com as cores da lenda, sobretudo devido a uma canção de gesta (a Canción de Mio Cid), datada de 1207, transcrita no século XIV pelo copista Pedro Abád, cujo manuscrito encontra-se na Biblioteca Nacional da Espanha, um referencial para os cavaleiros da idade média.
136 - Federico García Lorca (1898-1936) foi um poeta e dramaturgo espanhol. Morreu na Guerra Civil Espanhola devido ao seus alinhamentos políticos com a República Espanhola e por ser abertamente homossexual. E Bergoglio, professor, permitia que seus alunos lessem as “obras” de Lorca?
137 - Obra de Frederico Garcia Lorca.
138 - Fernando de Rojas (1465-1541) foi um escritor castelhano que escreveu “La Celestina”, nome pelo qual se conhece desde o séc. XVI a obra titulada primeiramente como Comedia de Calisto y Melibea e depois Tragicomedia de Calisto e Melibea. É uma obra de transição entre a Idade Média e o Renascimento escrita durante o reinado dos reis católicos e cuja primeira edição conhecida data de 1499. Constitui uma das bases sobre as quais se alicerçou o nascimento do romance e do teatro moderno. Na Wikipédia italiana diz claramente: “L'opera tratta argomenti osceni e scabrosi”, ou seja, “a obra trata de argumentos obscenos e escabrosos”. O que dizer mais?
139 - Certo. Então, seguindo a lógica bergogliana, para que venham a apreciar um bom filme, pode-se permitir que jovens assistam a filmes pornográficos. Ou, para que venham a gostar de música clássica, convém que os jovens ouçam, antes, o funk!!!
140 - Deus é ordem. A desordem não é de Deus, mas do Diabo.
141 - E onde está a tão falada disciplina inaciana que o conquistou à Companhia de Jesus? Fábulas!!!
142 - A criatividade nada tem a ver com obscenidades “artísticas”. Certamente, Santo Inácio jamais permitiria que um jovem viesse a ler um livro indecente.

FRONTEIRAS E LABORATÓRIOS

Criatividade, portanto: para um Jesuíta é importante. O Papa Francisco, ao receber os Padres e colaboradores de “La Civiltà Cattolica”, tinha traçado uma tríade de outras características importantes para o trabalho cultural dos Jesuítas. Regresso à memória desse dia, o passado 14 de Junho. Recordo que então, no colóquio prévio ao encontro com todo o nosso grupo, me tinha pré-anunciado a tríade: diálogo, discernimento, fronteira. E tinha insistido particularmente no último ponto, citando-me Paulo VI, que num famoso discurso tinha dito dos Jesuítas: “Onde quer que, na Igreja, também nos campos mais difíceis e de vanguarda, nas encruzilhadas das ideologias e nas trincheiras sociais, tenha havido e haja o confronto entre as exigências ardentes do homem e a mensagem perene do Evangelho, lá estiveram e estão presentes os Jesuítas”[143].

Peço ao Papa Francisco algum esclarecimento: “Pediu-nos para estarmos atentos, para não cair na ‘tentação de domesticar as fronteiras: deve ir-se em direção às fronteiras, e não trazer as fronteiras para casa a fim de envernizá-las um pouco e domesticá-las’. A que é que se referia? O que é que pretendia dizer-nos exatamente? Esta entrevista foi acordada num grupo de revistas dirigidas pela Companhia de Jesus: que convite deseja exprimir-lhes? Quais devem ser as suas prioridades?”.

“As três palavras-chave que dirigi a ‘La Civiltà Cattolica’ podem ser extensivas a todas as revistas da Companhia, quiçá com diferentes acentuações, segundo a sua natureza e os seus objetivos. Quando insisto na fronteira, de modo particular, refiro-me à necessidade para o homem da cultura de estar inserido no contexto em que opera e sobre o qual reflete. Está sempre à espreita o perigo de viver num laboratório. A nossa fé não é uma fé-laboratório, mas uma fé-caminho, uma fé histórica. Deus revelou-Se como história, não como um compêndio de verdades abstratas[144]. Tenho medo dos laboratórios, porque no laboratório pegam-se nos problemas e levam-se para a própria casa, para domesticá-los, para os envernizar, fora do seu contexto. Não é preciso levar a fronteira para casa, mas viver na fronteira e ser audazes”[145].

Peço ao Papa se pode dar algum exemplo baseado na sua experiência pessoal.

“Quando se fala de problemas sociais, uma coisa é reunir-se para estudar o problema da droga num bairro-de-lata[146], e outra coisa é ir lá, morar e compreender o problema a partir de dentro e estudá-lo. Há uma carta genial do P. Arrupe aos ‘Centros de Investigación y Acción Social (CIAS)’ sobre a pobreza, na qual se diz claramente que não se pode falar de pobreza se não se experimenta com inserção direta nos lugares nos quais ela se vive[147]. Esta palavra “inserção” é perigosa, porque alguns religiosos a tomaram como uma moda, e aconteceram desastres por falta de discernimento. Mas é verdadeiramente importante”.

“E as fronteiras são tantas. Pensemos nas religiosas que vivem nos hospitais: elas vivem nas fronteiras. Eu estou vivo graças a uma delas. Quando tive o problema no pulmão no hospital, o médico deu-me penicilina e estreptomicina em certas doses. A Irmã que estava de serviço triplicou as doses, porque tinha intuição, sabia o que fazer, porque estava com os doentes todo o dia. O médico, que era verdadeiramente bom, vivia no seu laboratório, a Irmã vivia na fronteira e dialogava com a fronteira todos os dias. Domesticar a fronteira significa limitar-se a falar de uma posição distante, fechar-se nos laboratórios. São coisas úteis, mas a reflexão para nós deve sempre partir da experiência”[148].


Notas:
143 - “Discurso por ocasião da XXXII Congregação Geral, 3 de Dezembro de 1974”. Cf. menção no “DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS PARTICIPANTES NA CONGREGAÇÃO GERAL DA COMPANHIA DE JESUS (JESUÍTAS)”: www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2008/february/documents/hf_ben-xvi_spe_20080221_gesuiti_po.html.
144 - E lá vem de novo o ataque aos Dogmas.
145 - Isso é a defesa da inculturação. Não se civiliza um indígena, mas se deixa como está, com suas crenças e seus costumes!!!
146 - “Bairro de lata” é favela em português de Portugal. Também é chamado de “mussuque” (português angolano) e de “bidonville” em inglês.
147 - Pela mesma lógica, como pode um padre entender um drogado se não se droga? E a um casado se não se casa? E assim por diante... Não precisa viver em uma favela para levar a um favelado a Boa Nova. É isso que a Igreja faz. Quem faz assistencialismo são as ONGs. Elas, sim, vivem no meio da favela para conhecê-la e ajudá-la materialmente. O interessante é que hoje há zilhões de ONGs e os problemas só se multiplicaram. Mais parece uma máquina de fazer problemas que um instrumento para resolvê-los. E o que a Igreja tem com isso?
148 - O que essa “Irmã” fez foi uma temeridade. Ela, de uma forma totalmente antiética, passou por cima do médico ao invés de consultá-lo. Bergoglio tende a louvar o erro como uma forma de acerto. É um pusilânime.

COMO O HOMEM SE COMPREENDE A SI MESMO

Pergunto, então, ao Papa se isto é válido, e de que modo, mesmo para uma fronteira cultural importante, como é a do desafio antropológico. A antropologia a que a Igreja tradicionalmente tem feito referência, e a linguagem com a qual a expressou, mantêm-se como uma referência sólida, fruto da sabedoria e da experiência seculares. Todavia, o homem a que a Igreja se dirige já não parece compreendê-las ou considerá-las suficientes. Começo a pensar no fato de que o homem está a interpretar-se num modo diferente do passado, com categorias diferentes. E isto também por causa das grandes mudanças na sociedade e de um mais amplo estudo de si próprio...

O Papa neste momento levanta-se e vai buscar o breviário à sua escrivaninha. É um breviário em latim, já muito gasto pelo uso. Abre-o no “Ofício de Leitura da Feria sexta”, isto é, “sexta-feira da XXVII semana”. Lê-me uma passagem tirada do “Commonitórium Primum” de São Vicente de Lérins: “ita étiam christiánae religiónis dogma sequátur has decet proféctuum leges, ut annis scílicet consolidétur, dilatétur témpore, sublimétur aetáte” (‘Mesmo o dogma da religião cristã deve seguir estas leis de aperfeiçoamento. Progride, consolidando-se com os anos, desenvolvendo-se com o tempo, aprofundando-se com a idade’)”[149].

E assim continua o Papa: “São Vicente de Lérins faz a comparação entre o desenvolvimento biológico do homem e a transmissão de uma época à outra do ‘depositum fidei’, que cresce e se consolida com o passar do tempo. Cá está: a compreensão do homem muda com o tempo, e assim também a consciência do homem aprofunda-se. Pensemos no tempo em que a escravatura era aceite, ou a pena de morte era admitida sem nenhum problema[150]. Assim, cresce-se na compreensão da verdade. Os exegetas e os teólogos ajudam a Igreja a amadurecer o próprio juízo[151]. Também as outras ciências e a sua evolução[152] ajudam a Igreja neste crescimento na compreensão. Existem normas e preceitos eclesiais secundários[153] que noutros tempos eram eficazes, mas que agora perderam valor ou significado. Uma visão da doutrina da Igreja como um bloco monolítico a defender sem matizes é errada”[154].

“De resto, em cada época o homem procura compreender e exprimir melhor a sua própria realidade. E assim o homem, com o tempo, muda o modo de se perceber a si mesmo: uma coisa é o homem que se exprime esculpindo a Nike (Vitória) de Samotrácia, outra a de Caravaggio, outra a de Chagall e ainda outra a de Dalí. Também as formas de expressão da verdade podem ser multiformes e isto é necessário para a transmissão da mensagem evangélica no seu significado imutável”[155].


“O homem está à procura de si mesmo, e, obviamente, nesta procura pode também cometer erros. A Igreja viveu tempos de genialidade, como, por exemplo, o do tomismo. Mas viveu também tempos de decadência de pensamento[156]. Por exemplo, não podemos confundir a genialidade do tomismo com o tomismo decadente. Eu, infelizmente, estudei a filosofia com manuais de tomismo decadente[157]. No pensar o homem, portanto, a Igreja deveria tender à genialidade, não à decadência”[158].

“Quando é que uma expressão do pensamento não é válida? Quando o pensamento perde de vista o humano ou até quando tem medo do humano ou se deixa enganar sobre si mesmo[159]. É o pensamento enganado que pode ser representado como Ulisses diante do canto das sereias, ou como Tannhäuser[160], rodeado numa orgia por sátiros e bacantes, ou como Parsifal[161], no segundo canto da ópera wagneriana, no castelo de Klingsor[162]. O pensamento da Igreja deve recuperar genialidade e entender sempre melhor como é que o homem se compreende hoje, para desenvolver e aprofundar o próprio ensino”[163].


Notas:
149 - Não consegui achar esse trecho no “Comonitório”. Admitindo, ad argumentandum, que seja verdade, então São Vicente se engana ou mente. O Dogma é perfeito, não precisa aperfeiçoar-se, porque Deus, que o revelou, e perfeito! - 
150 - A Igreja como aprovadora e incentivadora da escravidão é uma mentira histórica. Quanto à pena de morte, o discurso é outro. Em tempos de exceção, medidas de exceção. É uma questão de bom senso. Mas, de qualquer forma, tanto a escravatura quanto a pena de morte não são dogmas, Bergoglio.
151 - Uma vez que quem revelou os dogmas não foi a Igreja, mas Deus, devemos ler assim a frase de Bergoglio: “Os exegetas e os teólogos ajudam Deus a amadurecer o próprio juízo”. Sério?
152 - Ciência e evolução? O que quer dizer com isso? Que até Darwin “ajuda” Deus a se aperfeiçoar?
153 - Ele costuma sempre misturar alhos com bugalhos. Uma hora fala de dogmas, outra hora fala de “normas e preceitos eclesiais secundários”! A menos que queira dizer que os dogmas são normas e preceitos eclesiais secundários!!!
154 - Errado é ensinar o erro.
155 - O que é verdade para a arte não é verdade para a Fé. A Fé não muda, a Verdade não muda. Nem se aperfeiçoam, porque são perfeitas. E não, não é necessário que a forma de expressão da verdade seja multiforme para que a transmissão da mensagem evangélica no seu significado imutável. Isso é outro malabarismo intelectual para induzir o cristão ao erro.
156 - Especialmente a partir do Iluminismo e passando pelo Concílio Vaticano II. Estamos em plena decadência do pensamento filosófico e teológico.
157 - Os livros nos quais ele estudou são os do Jesuísmo decadente, que leva á Teologia da Libertação. Ainda bem que ele admite ser mal preparado. Se tivesse discernimento renunciaria.
158 - A Igreja é Santa e não erra. Não tende à genialidade nem á decadência. É Mãe e Mestra. O Concilio Vaticano II é um erro dos inimigos da Fé, não da Igreja.
159 - E o divino? No pensar só pesa o humano? Ah! Sim! No Antropocentrismo é assim mesmo! Bergoglio abraça, claramente, essa heresia.
160 - Tannhäuser (morto após 1265) foi um trovador e poeta alemão medieval. Sua existência não foi atestada historicamente fora de sua poesia, datada entre 1245 e 1265, e sua biografia é, por consequência, obscura. Assume-se que tenha alguma ligação com a antiga família nobre dos Senhores de Thannhausen, que ainda residem em Neumarkt in der Oberpfalz. Foi ativo na corte de Frederico II da Áustria, e o Codex Manesse o mostra com as vestes da Ordem Teutônica, o que sugere que teria participado da Quinta Cruzada. Os poemas de Tannhäuser são paródias do gênero tradicional; seu Bußlied ('canção da expiação') é pouco usual no que diz respeito ao tema erótico do conteúdo restante do Codex Manesse. Tannhäuser era um adepto do estilo leich (lai) de poesia. Bergoglio tem fixação por sexo.
161 - Parsifal é uma ópera de três atos do com a música e libreto do compositor alemão Richard Wagner. Estreou no Bayreuth Festspielhaus em Bayreuth no mês de julho de 1882. A ópera se passa nas legendárias colinas do Monte Salvat, na Espanha, onde vive uma fraternidade de cavaleiros do Santo Graal. O mago negro Klingsor teria construído um jardim mágico povoado com mulheres que, com seus perfumes e trejeitos, seduziriam[sexo mais uma vez!] os cavaleiros e fariam com que eles quebrassem seus votos de castidade, e teria ferido Amfortas, rei do Graal, com a lança que perfurou o flanco de Cristo, e todas as vezes que Amfortas olha em direção ao Graal sente a ferida arder. Tal redenção só poderia ser realizada por um "inocente casto" (significado da palavra "Parsifal"). Este, em sua primeira aparição na ópera, surge ferindo um dos cisnes que purificavam a água do banho de Amfortas, e a todas as perguntas que os cavaleiros lhe fazem responde dizendo que não sabe de nada, nem ao mesmo seu nome. Parsifal atravessa o jardim mágico de Klingsor e é seduzido pela amazona Kundry, que ora é uma fiel serva do Graal, ora é escrava de Klingsor. Ao beijá-la, sente os estigmas das feridas que afligiam Amfortas e, quando Klingsor atira a lança contra ele, a lança dá a volta em seu corpo, e todo o castelo mágico é destruído. Tempos depois, tendo os cavaleiros se convencido de que ele é o "inocente casto" que faria a salvação, Parsifal cura as feridas de Amfortas e o destrona, assumindo a nova condição de rei do Graal.
162 - Para Bergoglio, para governar a Igreja é preciso ler as obras da literatura erótica?
163 - Isto é balela. A Igreja, para compreender o homem, não deve viajar no tempo, porque a Verdade é a mesma, ontem hoje e amanhã. A visão de Bergoglio rompe com o passado. Já não se trata mais da Igreja de Cristo, mas da Igreja segundo Bergoglio.

REZAR

Coloco ao Papa uma última pergunta sobre o seu modo preferido de rezar.

“Rezo o Ofício todas as manhãs. Gosto de rezar com os Salmos. Depois, a seguir, celebro a Missa. Rezo o Rosário. O que verdadeiramente prefiro é a Adoração vespertina, mesmo quando me distraio e penso noutra coisa ou mesmo quando adormeço rezando[164]. Assim, à tarde, entre as sete e as oito, estou diante do Santíssimo durante uma hora, em adoração. Mas também rezo mentalmente quando espero no dentista ou noutros momentos do dia”.

“E a oração é para mim uma oração ‘memoriosa’, cheia de memória, de recordações, também memória da minha história ou daquilo que o Senhor fez na sua Igreja ou numa paróquia particular[165]. Para mim é a memória de que Santo Inácio fala na Primeira Semana dos Exercícios, no encontro misericordioso com Cristo Crucificado. E pergunto-me: ‘Que fiz por Cristo? Que faço por Cristo? Que farei por Cristo?’. É a memória de que fala Inácio também na ‘
Contemplatio ad amorem’, quando pede para trazer à memória os benefícios recebidos. Mas, sobretudo, eu sei também que o Senhor tem memória de mim. Eu posso esquecer-me d’Ele, mas sei que Ele nunca, nunca, se esquece de mim. A memória funda radicalmente o coração de um Jesuíta: é a memória da graça, a memória de que se fala no Deuteronômio, a memória das obras de Deus que estão na base da aliança entre Deus e o seu povo. É esta memória que me faz filho e me faz ser também pai”.


Notas:
164 - Aff! Como é que é? Rezar para ele é válido mesmo quando se distrai? Então, muitos santos estavam enganados quando se puniam para não se distraírem... Que perda de tempo! Podiam ter seguido a distração ou... dormido!!!
165 - Isso é vagar com a mente. Novamente, é distração. Não é oração.

CONCLUSÃO

Dou-me conta que continuaria ainda por muito tempo este diálogo, mas sei que, como o Papa disse uma vez, não é preciso “maltratar os limites”. Dialogámos amplamente por mais de seis horas, ao longo de três encontros, nos dias 19, 23 e 29 de Agosto. Aqui preferi articular o discurso sem assinalar os intervalos, para não perder o fio condutor. A nossa foi, na realidade, uma conversa, mais que uma entrevista: as perguntas fizeram de pano de fundo sem limitá-la em parâmetros pré-definidos e rígidos. Mesmo linguisticamente, atravessámos fluidamente o Italiano e o Espanhol, sem que nos apercebêssemos de quando em vez das mudanças. Não houve nada de mecânico, e as respostas nasceram no interior de um pensamento que aqui procurei transmitir, de modo sintético, o melhor que pude[166].


Notas:
166 - Então, ainda resta a dúvida do que realmente é palavra de Bergoglio e o que é interpretação do Antônio. Bergoglio ainda pode lançar mão dessa desculpa. Mas Ele, que tudo sabe e tudo vê... não pode ser enganado.


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Visto em: http://www.broteria.pt/component/content/article/101-entrevista-exclusiva-do-papa-francisco-as-revistas-dos-jesuitas?showall=1
PDF da entrevista: http://www.broteria.pt/component/content/article/46-noticias/101-entrevista-exclusiva-do-papa-francisco-as-revistas-dos-jesuitas?format=pdf

Desmentido (mais um, toda vez que Bergoglio fala, o Vaticano "desfala"! Parece o Lula!!!)
Revisão e notas: Giulia d’Amore 

Comentário à entrevista: http://vozdaigreja.blogspot.com.br/2003/10/um-papa-liberal-ou-socialista.html.
 

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