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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

A teologia do santo sacrifício da Missa - O que mudou


A teologia do santo sacrifício da Missa



A “Confissão de Augsburg”, protestante, viu bem a mudança radical do novo rito da missa, ao declarar: “Nós fazemos uso das novas preces eucarísticas (católicas) que têm a vantagem de pulverizar (reduzir a pó) a teologia do Sacrifício” (“L’ Eglise d’Alsace”, dez/73 e jan/74. Apud “La Messa di Lutero”, por Dom Lefebvre).

Essas “preces eucarísticas” da missa nova, oficialmente em número de quatro, mas que já são muito mais, correspondem ao único “Cânon” da Missa tradicional. É a parte central e sacrifical da Missa, e que fica entre o “Sanctus” e o “Pater Noster”. É exclusiva do celebrante, que deve pronunciá-la em latim e em voz baixa (Concílio de Trento). Nela tem lugar a grande “Ação sacrifical de Jesus Cristo”, que Ele renova na Consagração. É através dela que Cristo se torna presente realmente, e se coloca sob as Espécies Sacramentais em estado de Vítima imolada. Aí renova Ele a oblação sacrifical que fez de si mesmo ao Pai na Cruz. E isso, em virtude da ordem (Sacramento do Sacerdócio) que deu aos Apóstolos de fazerem o mesmo que Ele tinha feito (Lc. 22,19).

É o seu ato sacrifical, que é único e uno, e que foi realizado uma vez por todas, cruentamente na Cruz, e misticamente, na última Ceia. E que, por sua ordem, de novo se torna presente, de modo místico, mas real, em cada verdadeira Missa. Assim, deu Jesus cumprimento à profecia de Malaquias: “Do nascente ao poente (...) e em todo lugar, será oferecido ao meu nome uma oblação pura” (Mal. 1,11).
 
A Santa Missa abrange ou realiza os quatro fins do Sacrifício: o LATRÊUTICO ou de adoração; o EUCARÍSTICO ou de ação de graças; o PROPICIATÓRIO ou de expiação; e o IMPETRATÓRIO ou de súplica. O fiel, unindo-se por esses atos a Jesus Cristo, que, na Missa como na Cruz, é ao mesmo tempo Sacerdote e Vítima, participa dos frutos da Redenção e cumpre os seus deveres fundamentais para com Deus. Desses frutos também participam todos os fiéis espalhados pelo mundo.
 
O caráter sacrifical da Missa católica é indicado por vários modos:
 
a) Por ser a renovação e perpetuação, de modo incruento, do Sacrifício da Cruz, o qual, por sua vez, deu cumprimento aos sacrifícios figurativos do Antigo Testamento. Jesus Cristo unificou, na Cruz e na Ceia-Missa, os vários aspectos dos sacrifícios figurativos da Antiga Aliança indicados acima (nº 4 deste).
 
b) Pelas palavras de sentido sacrifical da liturgia dos sacrifícios figurativos do Antigo Testamento, das quais Jesus fez uso na última Ceia: “Isto é o meu Corpo, que é entregue por vós”, e “Este é o Cálice de meu Sangue, que é derramado por vós”. Note-se o verbo no tempo presente (texto original), indicando um derramar de Seu Sangue no próprio ato consecratório.
 
c) Pela realização da “morte sacramental” de Jesus, significada através da Consagração das espécies do pão e do vinho, em separado. A separação sacramental do Corpo e do Sangue significa e realiza misticamente a morte de Jesus Cristo.
 
d) Pelo ofertório, com as preces que o acompanham, e que indicam explicitamente que a Santa Missa é sacrifício, e sacrifício propiciatório, isto é, que desagrava a Deus pelos pecados, para os quais impetra o perdão. De fato, nele o celebrante declara que o oferece “por seus pecados (...), pelos de todos os fiéis vivos e defuntos (...), para que a todos aproveite a vida eterna”. 
 
e) Por fim, a Fé da Igreja, que sempre professou essa verdade e, no Concílio de Trento, sentenciou infalivelmente contra os protestantes: “Se alguém disser que a Missa é só Sacrifício de louvor, e não propiciatório (...), seja anátema” (Denz. Sch. 1753).
 
“Sacrifício de louvor” era o que ainda admitia Lutero. Não basta, porém, isso para termos toda a “teologia do sacrifício”, que é necessário admitir-se completa, e que a Confissão protestante de Augsburg declara “ter sido pulverizada pelas novas preces eucarísticas” da missa nova. 
 
Por isso, a primeira medida de Lutero contra o caráter sacrifical da Missa foi a supressão do ofertório, que mais explicitamente o expressa. Depois fez as outras mudanças. Foi igualmente o que fez Paulo VI na nova missa, transformando o “ofertório” em uma simples apresentação de dons, conforme prática judaica nas suas sinagogas.
 
Em seguida, Lutero alterou as palavras da instituição, fazendo da parte consecratória e da narrativa, que são bem distintas, uma só, e mandando pronunciar tudo em tom narrativo e em voz alta. Tudo para suprimir qualquer ideia de ação pessoal do celebrante e, pois, toda a ideia de sacrifício; e, assim, inculcar nos assistentes a ideia protestante de simples ceia-memorial.
 
Também a reforma de Paulo VI, do rito da Missa, alterou a forma da Consagração, transpondo para fora dela as palavras “Mysterium fidei”, e suprimindo o ponto gráfico que separava bem a parte narrativa da parte consecratória, de modo que o celebrante é levado a pronunciar tudo em tom narrativo, como quem apenas conta um fato acontecido no passado, e não como quem faz uma ação pessoal, que torna de novo presente a mesma realidade operada por Jesus Cristo e por Ele ordenado que fosse renovada perpetuamente mediante o ministério do Sacerdote (Lc. 22,19).
 
Vê-se, pois, por essa pequena amostra – e há muitos outros pontos nos quais a missa nova não é mais a pura expressão da Fé Católica –, como é de suma importância a nossa fé nesse aspecto da Missa como sacrifício. Aí está a prova. Os protestantes tomam ares de festa com a sua supressão, através da Missa nova.
 
No entanto, não ficou nisso toda a reforma luterana do rito da Missa, mas, tendo por objetivo suprimir a própria Missa, partiu Lutero para a supressão do Sacerdócio[1] católico, que fora instituído por Jesus Cristo para garantir a perpetuidade do santo Sacrifício da Missa. Pois ele sabia bem que, sem Sacerdote verdadeiro, não há Missa verdadeira, mas simples ceia-comemorativa da última Ceia celebrada por Cristo.
 
Por isso, seguindo esse mesmo espírito, a atual reforma do rito da Missa feita por Paulo VI, apresenta uma clara tendência a prescindir do padre como único sacrificador da Divina Vítima no sacrifício do Altar. De fato, a “Institutio generalis”, que promulga o novo rito, ao dar uma definição de Missa, que os protestantes assinariam, apresenta a Missa como sendo constituída essencialmente pela “assembleia dos fiéis reunidos para celebrar o memorial do Senhor, sob a presidência do celebrante[2].
 
Note-se que foi acrescentada posteriormente a afirmação de que o celebrante “agit in persona Christi” (“age no lugar de Cristo” e como seu representante), não alterou a afirmação de que quem celebra o “memorial do Senhor é a assembleia dos fiéis” (cf. Institutio Generalis, nº 7), e não o sacerdote, sozinho.
 
Preparou-se, assim, a negação explícita da própria Presença sacramental e real de Jesus Cristo na Divina Eucaristia, como atualmente os neomodernistas mais avançados estão fazendo. Os neocatecumenais, por exemplo, os quais proíbem os fiéis de se ajoelharem na Consagração, porque – dizem – tudo não passa de simples símbolos. Eis aí a prova de que a Nova Missa leva gradualmente ao protestantismo.
 
É o bastante para já se entender porque os Cardeais Ottaviani e Bacci, em carta a Paulo VI, ao lhe apresentarem o “Breve estudo crítico da nova missa” (PDF), tenham afirmado: “O novo rito da Missa se distancia de modo impressionante, no seu todo e nos seus pontos particulares, da teologia católica da Missa”.
 
Também ultimamente, o Cardeal Stickler[3] declarou que “o novo rito da Missa é uma adaptação à ideia protestante do culto”. Ele cita também o escritor francês Jean Guitton[4] que escreveu o seguinte: “O Papa Paulo VI me confiou que era sua intenção assemelhar, o mais possível, a nova liturgia ao culto protestante” (em “Fideliter”, nº 109). Isso confirma o que já havia dito o perito em Liturgia, Mons. Klaus Gamber[5]: “A reforma litúrgica de Paulo VI foi mais radical que a de Lutero” (Em “A Reforma Litúrgica em questão” (PDF) - Ed. Francesa, com prefácio do cardeal Ratzinger). 


Fonte: Sim, sim, não, não, n. 099 – Julho de 2001. 

Esse sim, sim, não, não, de 2001 refere-se a Ratzinger de forma elogiosa, assim como aos demais modernistas conservadores, tratando-os como tradicionalistas. Já se vê que já em 2001 começa a haver problemas aí. 

NOTAS:
[1]  Aí está a principal razão por que Monsenhor Lefebvre, lungimirante, fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. precisava garantir Padres católicos para continuarmos a ter as Missas católicas. 
[2]  É o conceito de sacerdócio do povo. Sic
[3]  Alfons Maria Stickler, SDB (1910-2007), foi um cardeal austríaco. Foi arquivista e livreiro eclesiástico de 1985 a 1988, elevado ao Cardinalato em 1985. Conservador, defendia a Missa Tridentina, que continuou rezando após a reforma litúrgica, e do celibato clerical; contudo, morreu em 2007, aos 97 anos, dentro das estruturas da igreja conciliar
[4]  Jean Guitton (1901-1999) foi um filósofo e escritor HEREGE francês, membro da Academia francesa. Casado tardiamente não teve filhos. Amigo íntimo do ainda Mons. Montini, foi protegido dos rigores do Index, em 1950, quando o Cardeal Parente havia decidido inscrever o livro “La Vierge Marie” no Index, porque HERÉTICO. Foi chamado por João XXIII a participar no Concílio Vaticano II e nomeado por Paulo VI, primeiro ouvidor laico no Concílio Vaticano II, o único participante deste a primeira sessão. “O Concílio foi uma surpresa, o coroamento e a alegria da minha vida, o evento esperado, e todavia julgado impossível, que, de repente, fora anunciado e havia encontrado confirmação, aconteceu e fincou raízes, se tornando, para mim, como em um mistério, um fim e uma origem”. [“Che cosa credo” (O que creio) – 1971]. Teve por mestres os filósofos judeus Léon Brunschvicg e Henri-Louis Bergson, o qual chegou a cogitar a conversão ao Cristianismo, mas abriu mão em solidariedade aos judeus que começavam a serem perseguidos na Alemanha. Há um dossiê da Associação Montfort sobre ele, amigo íntimo de Montini: Jean Guitton. Ainda da página da Montfort, as heresias de Guitton: Jean Guitton - heresias
[5]  Klaus Gamber (1919–1989) foi um liturgista alemão. Autor de “Die Reform der römischen Liturgie”, que foi posteriormente traduzido para o inglês e publicado como “The Reform of the Roman Liturgy” (“A Reforma da Liturgia Romana) (PDF em português: ), foi um dos principais críticos intelectuais das reformas litúrgicas trazidas sob Paulo VI. Seu trabalho crítico foi elogiado pelo cardeal Joseph Ratzinger (sic!) e ele é creditado por ser uma das inspirações acadêmicas por trás do motu proprio Summorum Pontificum, permitindo o uso mais amplo do Missal Romano de 1962. Vê-se, então, que é um modernista conservador. Fundou o Instituto Litúrgico Ratisbona. No seu livro disse: “Uma declaração que podemos fazer com certeza é que o novo rito da Missa que surgiu não teria sido apoiado pela maioria dos Padres Conciliares”. E “Muito mais radical do que qualquer mudança introduzida por Lutero, pelo menos no que diz respeito ao rito, foi a reorganização da nossa própria liturgia – acima de tudo, a fundamental mudança que foi feita na liturgia da Missa”. E “Foi tudo isso realmente feito por causa da preocupação pastoral sobre as almas dos fiéis, ou isso não representa uma radical violação no rito tradicional, para prevenir o uso dos textos da liturgia tradicional e, portanto, fazer da celebração da Missa Tridentina inviável, já que ela não refletia mais o novo espírito que se movia pela Igreja”. E “A reforma litúrgica, acolhida com muito idealismo e esperança da parte muitos padres e leigos, veio a ser uma destruição litúrgica de imensa proporção – que vai piorando com o passar dos anos.  Em vez da renovação da Igreja e da vida católica, estamos testemunhando o desmantelamento dos valores tradicionais e da piedade nos quais repousa nossa fé. Ao invés de uma frutífera renovação litúrgica, o que nós estamos vendo é a destruição da forma da Missa que se desenvolveu organicamente no curso de muitos séculos.” Ainda assim permaneceu naquela igreja. 
       

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