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quinta-feira, 9 de agosto de 2018

GENOCÍDIO ARMÊNIO - A VERDADE QUE RENASCE

“O Genocídio Armênio? Os filósofos têm as mãos sujas de sangue”

Meninas Cristãs crucificadas


A pesquisadora que muitos comparam à Arendt nos conta a origem (não banal) do mal


Por Davide Brullo - 09/08/2018 - 08:19 – Il Giornale  



Dizem que ela é a nova Hannah Arendt[1]. Quando lhe digo isso, ela não se perturba. Ao contrário, devolve. “À Arendt contesto o fato de não ter chegado à raiz do problema do genocídio”. E qual seria esta raiz? “O protagorismo[2]  de Descartes[3] ”.

Isto me explicará depois. “Não. Explico-lhe agora mesmo. Com um exemplo”. Fique à vontade. “Lembrar-se-á do caso de Bruce Jenner[4], campeão olímpico de Decatlo[5], que um dia disse ao mundo que se sentia mulher. Eu, francamente, me senti ofendida. O que significa ‘sentir-se mulher’ para Jenner? Já teve menstruações? Pois é: hoje conta apenas o que você pensa, não o que você é. Se você pensa que é uma mulher, então é! Mas pensar algo não é ser aquele algo, porque o homem – eis o protagorismo! – não é a medida de todas as coisas”.  

Siobhan Nash-Marshall[6] é docente de filosofia no “Manhattanville College” de Nova Iorque, fala perfeitamente o italiano; afinal, se aperfeiçoou, academicamente, na Universidade de Pádua e na Católica de Milão; sua obra é traduzida na Itália, desde “Vita e Pensiero, La ricettività dell'intelletto”, a seu último livro, “The Sins of the Fathers. Turkish Denialism and the Armenian Genocide[7] (The Crossroad Publishing Company, pp. 250, $24.95; em breve na Itália, pela Guerini), o primeiro de uma trilogia dedicada à “Traição da Filosofia”, que tem sido comparado, por amplitude de propósitos, à “La banalità del male[8], da Arendt.  

Encontro Nash-Marshall em Pádua, onde é hóspede de Antonia Arslan[9], a escritora da “La masseria delle allodole[10], de quem está traduzindo, para o inglês, “Il Libro di Mush” (2012).  

Segundo comentários e resenhas da mídia, “The Sins of the Fathers” é a maior contribuição filosófica sobre o Genocídio Armênio, que se torna, aos olhos da autora, o símbolo da crise do pensamento ocidental


PERGUNTA: Desde a primeira página, a senhora é peremptória: “A filosofia teve um papel crucial no Genocídio Armênio, e no Negacionismo Turco, a filosofia tem as mãos sujas de sangue”. O que significa?

RESPOSTA: Iluminismo cartesiano. Eis o que significa. Separar o mundo da razão daquele matéria, o mundo da experiência daquele do pensamento. 'Penso, então, sou'. A abordagem de Descartes é devastadora, unida ao Iluminismo e à Revolução francesa, quando a filosofia cessa de ser amor pela sabedoria para ser projeto demiúrgico para mudar o mundo. Fichte, Herder, Bentham, Hegel, Marx: o pensamento do século XIX, exceto Antonio Rosmini[11], têm por escopo precípuo o de tornar perfeito o mundo. O genocídio, então, é justificado, terrivelmente, por uma específica visão do mundo”. 

PERGUNTA: E como isso (iluminismo cartesiano) se relaciona com o Genocídio Armênio?

RESPOSTA: Desde as primeiras décadas do século XIX, depois da reivindicação da independência da Grécia, o Império Otomano tem, como problema, como pesadelo dominante, a construção de uma identidade [12] própria, turca. A Armênia é um obstáculo à criação do 'vatan'[13], a pátria. Se o 'vatan' existe, a Armênia deve ser aniquilada. É preciso considerar que os 'Jovens Turcos'[14], responsáveis pelo Genocídio Armênio, haviam sido doutrinados pela filosofia oitocentista. Eles acreditavam também terem direito a construir um mundo à imagem e semelhança da própria ideia”. 

PERGUNTA: Quando começa o Genocídio?

RESPOSTA: “Os primeiros extermínios começam em 1908, mas tudo se inicia em 1878, após o “Congresso de Berlim”[15], que retifica a 'paz de Santo Estevão'[16], assinada pela Rússia, que derrotara o Império Otomano. Os Bálcãs ficam sob órbita russa e europeia; a Armênia obtém algumas concessões e a promessa de reformas nunca implementadas. Os testemunhos do cônsul inglês Fitzmaurice, que analisou os massacres contra os armênios urdidos pelo sultão Abdul Hamid II, e diversas correspondências, de 1878 a 1915, aos governos franceses e ingleses, demonstram que a Europa estava a par do que estava acontecendo ao povo armênio. Mas, por causa da “Realpolitik[17], nada fez. Somente Bento XV[18] tentou evitar o genocídio”

PERGUNTA: Contra os armênios agiu-se com ferocidade: por que incomodavam tanto?

RESPOSTA: “Se quisermos ser místicos, lhe diria: porque a Armênia foi a primeira Nação Cristã[19]. As razões históricas, contudo, remontam a 1717, quando o Doge de Veneza cede a ilha de San Lazzaro aos armênios[20], e o abade Mechitar nela escreve a primeira gramática do armênio falado, vulgar. Começa aí um profundo trabalho de educação que levará a Armênia, nos primeiros anos do '900, a ter uma alfabetização quase que completa, resultado que à época não tinha sido alcançado no resto do Ocidente. Este grande florescimento cultural fez com que, em 1915, quase 80% da economia otomana estivesse em mão cristã. Isto incomodava os 'Jovens Turcos'”. 

PERGUNTA: A senhora escreve, estudando os números dos censos, que, “cerca de 3,7 milhões de cristãos, o 74% da população da Anatólia e das províncias orientais, foram eliminados, mortos ou deportados naqueles anos”, entre o 1914 e o 1927. O que sabemos a respeito dos números do genocídio?

RESPOSTA: “O que sabemos a respeito dos mortos nos Gulags stalinistas[21]? O que sabemos dos mortos durante a Marcha de Mao[22]? Quase nada. Recenseamentos e estatísticas fazem parte da luta política: podemos apenas supor alguma cifras. O recenseamento na Turquia, então, ocorria por fé religiosa: entre muçulmanos e cristãos. A verdadeira pergunta, ao invés disso, é: quem são na verdade os turcos? Em que se reconhecem? Em qual identidade cultural? A verdade é que a Turquia, ontem como hoje, é um mosaico”

PERGUNTA: Hitler tomou como modelo a eficiência turca no gerenciar o Genocídio Armênio, replicando o método...

RESPOSTA: “Deve ser dito que a política anti-armênia, na Alemanha, começa no final do século XIX, quando uma maciça propaganda mostra o armênio como 'o hebreu do Oriente', como o vírus. A Alemanha tinha objetivos expansionistas em relação ao Império Otomano, e interesse em chacotear os armênios. Quanto a Hitler, com certeza, via no Genocídio Armênio uma possibilidade realizada. Se os Turcos conseguiram, também Hitler, então, poderia perpetrar os mesmos horrores sem particulares perigos. As analogias são assombrosas: também no Nazismo, por exemplo, tem um certo peso o 'motivo biológico', já utilizado pelos 'Jovens Turcos', em uma era de darwinismo desenfreado.

PERGUNTA: Em sua opinião, o Negacionismo Turco exemplifica a época da pós-verdade[23]...

RESPOSTA: “Para Erdogan[24], negar o Genocídio Armênio é essencial à identidade turca: reconhecer a realidade dos fatos seria o fim de seu governo e a desintegração da Turquia. Não importam os fatos, mas as intenções; o mundo concreto não tem relevância: eis o “iluminismo cartesiano”! O problema, ao invés disso (para Erdogan), é a Europa, são os Estados Unidos, a quem não importa mais viver em uma situação contrária à verdade”

NOTAS: 
1 - Hannah Arendt (nascida Johanna Arendt) foi uma filósofa anti-niilista e política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. Ela continua sendo estudada como filósofa, em grande parte devido a suas discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Heidegger e Karl Jaspers, além de representantes importantes da filosofia moderna como Maquiavel e Montesquieu. Seu primeiro é “O conceito do amor em Santo Agostinho: Ensaio de uma interpretação filosófica” (1929). Depois, "As origens do totalitarismo" (1951). Sete anos depois, publica “A condição humana”. 
2 - Protagorismo, vem de Protágoras, o sofista. Os sofistas pregam o relativismo radical sobre conceitos como "valor" e "verdade", que são fundamentais para a Sócrates; para eles, o homem é a medida de todas as coisas, como afirmou o próprio Protágoras, sendo o protagorismo a carta magna para o posterior Relativismo no ocidente. 
3 - René Descartes foi um filósofo, físico e matemático francês, durante a “Idade Moderna”; também era conhecido por seu nome latino “Renatus Cartesius”. Seus livros estão no Index librorum prohibitorum por heresia. 
4 - William Bruce Jenner, um ex-atleta olímpico “transexual” que agora se faz chamar por Caitlyn Marie Jenner. Casado três vezes, pai de seis filhos de sangue (dois por casamento), mais quatro “adquiridos” ao se casar com a última mulher, uma "Kardashian". Em 2014, se separam e, em 2015, anuncia ser transexual. 
5 - Competição de atletismo composta por dez provas. 
6 - Não há uma biografia em português da entrevistada. Mas o que pude levantar é que ela tem doutorado em Filosofia pela Fordham University e pela Università de Milano. Atualmente é professora assistente na Fordham and New York University, também é docente de filosofia na University of Saint Thomas (Saint Paul, USA). Internacionalmente aclamada nas áreas de metafísica e epistemologia. Autora de diversos livros, entre os quais: “Participation and the Good” (New York, 2000), “Joan of Arc: A Spiritual Biography” (New York, 1999), “La ricettività dell'intelletto. Lonergan e la ripresa della gnoseologia scolastica nel XX secolo” (2002), “Non si può mentire sul genocidio armeno” (2012). Traduziu e curou o livro de W. Norris Clarke, “Persona ed Essere” (Milano, 1999). Fundou a “Christians in Need Foundation – CINF”, em 2014, junto com Rita Madhessian, inicialmente como uma resposta aos horrores infligidos contra cristãos nas regiões do Oriente Médio e do Cáucaso. 
7 - Os pecados dos pais. Negacionismo turco e o genocídio armênio”. À venda (em inglês) na Amazon: https://www.amazon.com/Sins-Fathers-Denialism-Armenian-Genocide/dp/0824599160
8 - Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil" (1963 – Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal; 1999, Companhia das Letras). 
9 - Antonia Arslan é uma escritora e acadêmica italiana de origem armênia. Aqui se pode ler um artigo dela: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/541730-os-100-anos-de-solidao-dos-armenios-artigo-de-antonia-arslan
10 - Escrito em 2004, deu origem a um filme (2007) sobre o genocídio armênio, com o mesmo nome do livro. 
11 - Antonio Francesco Davide Ambrogio Rosmini Serbati foi um padre católico, teólogo e filósofo italiano. É considerado um dos mais originais e importantes teólogos e filósofos italianos da primeira metade do século XIX. Seu trabalho intelectual pretendeu restabelecer o equilíbrio entre a razão e a religião que havia sido fortemente abalado com o advento do iluminismo. Os temas principais que trabalhou foram a ontologia, a dignidade do homem, a moralidade, os direitos humanos, a natureza da sociedade, da inteligência e do conhecimento, a cosmologia e a teologia natural, abordando também a arte, a política, a educação e o casamento. 
12 - “Identitária” é um termo utilizado para se referir ao conjunto de características que define algo ou alguém. Este termo está relacionado com a identificação, por isso, as características que designam uma pessoa ou algum objeto fazem parte de um grupo importante de apontamentos que dizem o que é algo ou o que alguém é. É uma pauta abraçada pela Esquerda em todo o mundo. 
13 - “Vatan” é pátria, em turco. 
14 - “Jovens Turcos” era o nome dado a uma coalizão de diferentes grupos que tinham em comum o desejo de reformar o governo e a administração do Império Otomano. Através da revolução que ficou conhecida posteriormente como a "Revolução dos Jovens Turcos", o seu movimento acabou iniciando a chamada “Segunda Era Constitucional” da história da Turquia. A “Primeira Era Constitucional”, da década de 1870, fora caracterizada por iniciativas modernizantes do próprio regime, executadas sob pressão dum movimento mais antigo conhecido como “Jovens Otomanos”. O movimento dos “Jovens Turcos” se iniciou em 1889, primeiro entre estudantes militares, e depois espalhando-se gradualmente para outros setores da população que se opunham à monarquia do sultão Abdulamide II. A chegada ao poder, em 1908, deve ser entendida no contexto da Revolução Russa de 1905. Os “Três Paxás”, pertencentes aos Jovens Turcos, governaram o Império desde o Golpe de 1913 até ao fim da Primeira Guerra Mundial. Nesse período, os conteúdos pró-otomanos foram reforçados. O “Holocausto dos Armênios”, em 1915, foi um resultado dessa política de homogeneização cultural. 
15 - O Congresso de Berlim (13 de junho - 13 de julho de 1878) foi uma reunião de líderes das grandes potências europeias e o Império Otomano, em Berlim, em 1878. Na sequência da Guerra Russo-Turca de 1877–1878, o objetivo da reunião foi o de reorganizar os Países dos Balcãs. Otto von Bismarck (maçom), que conduziu o Congresso, se comprometeu a equilibrar os diferentes interesses da Grã-Bretanha, Rússia e Áustria-Hungria. Como consequência, no entanto, as diferenças entre a Rússia e a Áustria-Hungria foram intensificadas, tal como as questões de nacionalidade dos Balcãs. O congresso teve como objetivo a revisão do “Tratado de Santo Estevão” e manter Constantinopla em mãos otomanas. É efetivado com a vitória da Rússia sobre o decadente Império Otomano na Guerra Russo-Turca de 1877-1878. O Congresso de Berlim redistribuiu de volta para o Império Otomano certos territórios búlgaros que o tratado anterior tinha dado ao Principado da Bulgária, mais notavelmente à Macedônia. O Congresso reconheceu formalmente a independência de fato dos Estados soberanos de Montenegro, Sérvia, Romênia e Turquia. 
16 - O “Tratado Preliminar de Santo Estêvão” (3 de março de 1878) foi o acordo que o Império Russo impôs ao Império Otomano após vencer os turcos na Guerra Russo-Turca de 1877-1878. Foi assinado em Santo Estêvão, vilarejo ao oeste de Istambul, na Turquia, pelo conde Nicolau Pavlovitch Ignatiev e Alexandre Nelidov, por parte do Império Russo, e pelo ministro de assuntos exteriores Safvet Paxá e o embaixador na Alemanha Sadullah Bey por parte do Império Otomano. 
17 - “Realpolitik” (do alemão “real”, "realístico", e “Politik”, "política") refere-se à política ou diplomacia baseada principalmente em considerações práticas, em detrimento de noções ideológicas. O termo é frequentemente utilizado pejorativamente, indicando tipos de política que são coercitivas, imorais ou maquiavélicas. Pensadores como Maquiavel e Nietzsche defendem a “Realpolitik” como um tipo de realismo político segundo o qual as relações de poder tendem a solapar todas as pretensões de fundamentação moral, num tipo de ceticismo moral análogo ao do argumento de Trasímaco (personagem do diálogo platônico “A República”, sendo o principal interlocutor de Sócrates no primeiro livro desta obra. Ele é responsável pela apresentação da definição de que a justiça não é nada mais do que a "conveniência do mais forte", "fazer o que é do interesse do mais forte". Assevera que a lei criada pelo arbítrio do governante tem a qualidade de lei justa, ao contrário do que defendia Sócrates, que afirmava que a ruína da cidade se define pela sujeição da lei ao governante e sua salvação pelo império da lei sobre os governantes "que fazem a si mesmos escravos da lei”) no “A República” de Platão. Henry Kissinger conceitua “Realpolitik” como sendo "política exterior baseada em avaliações de poder e interesse nacional".
18 - Há um artigo, em português, a respeito, aqui: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/570345-bento-xv-e-a-campanha-esquecida-para-acabar-com-a-grande-guerra-artigo-de-patrick-j-houlihan. Um menos tendencioso, em italiano, aqui: https://www.avvenire.it/agora/pagine/armeni-papa-contro-genocidio
19 - A respeito, leia aqui: https://pt.aleteia.org/2015/09/17/voce-sabia-que-a-primeira-nacao-oficialmente-crista-antes-mesmo-do-imperio-romano-foi-a-armenia
20 - Leia sobre a ilha e os armênios aqui: http://100anos100fatos.com.br/fatos/san-lazzaro-venice-established-island-monastery-mekhitarist-congregation-1717.  
21 - “Gulag” era um sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos, presos políticos e qualquer cidadão em geral que se opusesse ao regime na União Soviética. Havia até mesmo casos de canibalismos nesses campos, por causa das condições desumanas de vida. “Arquipélago de Gulag” de Alexander Soljenítsin, é provavelmente a mais forte e a certamente a mais influente obra sobre como funcionavam os gulags nos tempos de Josef Stálin.
22 - A “Grande Marcha” foi a retirada das tropas do Partido Comunista Chinês, Exército de Libertação Popular, para fugir ao Exército do Kuomintang. O exército comunista, liderado por Mao Zedong e Zhou Enlai, composto por 100 mil homens (30 mil soldados, dos quais 20 mil feridos, e 70 mil camponeses) percorreu, entre 16 de outubro de 1934 e 20 de outubro de 1935, 9.650 km. A “Grande Marcha” consagrou-o como principal líder da Revolução Chinesa. 
23 - “Pós-verdade” é um neologismo que descreve a situação em que, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. 

24 - Recep Tayyip Erdoğan é um político turco, Presidente (ditador) da Turquia desde 28 de agosto de 2014. 


Fonte: http://www.ilgiornale.it/news/spettacoli/genocidio-armeno-i-filosofi-hanno-mani-sporche-sangue-1563363.html
Tradução e notas: Giulia d’Amore 

Órfãos armênios








Genocídio dos Armênios no Império Turco Otomano - relatos



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