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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Manuscrito da Terceira Parte do Segredo escrito há 70 anos: Documento original encontra-se em exposição em Fátima e é objeto de estudo diplomático e paleográfico|


Manuscrito da Terceira Parte do Segredo escrito há 70 anos: 
Documento original encontra-se em exposição em Fátima 
e é objeto de estudo diplomático e paleográfico
Documento original encontra-se em exposição no Santuário de Fátima 


Manuscrito da Terceira Parte do Segredo escrito há 70 anos


Faz hoje setenta anos que o manuscrito com a terceira parte do chamado Segredo de Fátima foi escrito pela Irmã Lúcia. Pertença do Arquivo Secreto da Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, o manuscrito encontra-se atualmente em Fátima, na exposição temporária "Segredo e Revelação", mostra que pode ser visitada, diariamente, até final de outubro, entre as 9:00 e as 19:00, na zona da Reconciliação da Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima. Inaugurada a 30 de novembro de 2013, a exposição registou até ao dia de ontem, 2 de janeiro de 2014, 11 220 visitantes.  

Entretanto, por iniciativa do Santuário de Fátima, decorre o estudo diplomático e paleográfico do documento, a cargo de Maria José Azevedo Santos, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, especialista em Diplomática e Paleografia. 

A história do documento  


Em declarações divulgadas na manhã de hoje pela Postulação para a Causa da Causa de Beatificação da Serva de Deus Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, é recordado o contexto do pedido à irmã Lúcia: "Nossa Senhora voltou a mostrar a Lúcia o cenário apocalíptico da terceira parte do Segredo, porém com alguma diferença, a vidente apenas foi autorizada por Nossa Senhora a escrever na carta aquilo que viu e não aquilo que lhe foi dado entender". 

Segundo os arquivos do Serviço de Estudos e Difusão (SESDI) do Santuário de Fátima, a 3 de janeiro de 1944, em Tui, Espanha, Lúcia redige o documento com o conteúdo relativo à terceira parte do Segredo, respeitante à revelação da Virgem Maria a 13 de julho de 1917. O documento é, posteriormente, enviado ao bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, num sobrescrito lacrado. 

De entre os vários momentos por que passou o documento até aos dias de hoje, passíveis de serem conhecidos através da cronologia mostrada na exposição "Segredo e Revelação", o SESDI sublinha a entrega do Manuscrito à Nunciatura Apostólica de Lisboa, por D. João Pereira Venâncio, bispo auxiliar de Leiria, a 1 de março de 1957.  

No mês seguinte, a 4 de abril, o manuscrito da terceira parte do Segredo de Fátima chega ao Vaticano, sendo guardado no Arquivo Secreto do Santo Ofício, atual Congregação para a Doutrina da Fé.  

Dois anos depois, a 17 de agosto, o Papa João XXIII solicita que o documento lhe seja levado, mas decide não revelar o seu teor.   

Ainda de acordo com a investigação do SESDI, a 27 de março de 1965, o Papa Paulo VI lê o documento, tomando dessa forma conhecimento da terceira parte do Segredo de Fátima; depois de o ler, decide que o mesmo não seja revelado.  

João Paulo II agiria primeiramente da mesma forma. Entre 18 de julho e 11 de agosto de 1981, uns meses após o atentado de que fora alvo em Roma (13.05.1981), o Papa lê o texto original do documento, assim como a tradução do mesmo em italiano, mas decide reenviá-lo para o Arquivo Secreto da Congregação para a Doutrina da Fé. 

Só dezanove anos depois, ainda no pontificado de João Paulo II, a 13 de maio de 2000, o cardeal Angelo Sodano, no final da celebração da beatificação de Francisco e Jacinta Marto, que decorreu no Santuário de Fátima, revelaria o conteúdo da terceira parte do Segredo.  

Assim como a sua revelação, também a interpretação do conteúdo do manuscrito ficou ao cuidado da Igreja. A 26 de junho do ano 2000, a Congregação para a Doutrina da Fé apresenta publicamente a terceira parte do Segredo de Fátima, numa conferência de imprensa realizada no Vaticano, presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, autor do comentário teológico.  

Leopoldina Simões 


 Manuscrito da Terceira Parte do Segredo é objeto de estudo diplomático e paleográfico  

Maria José Azevedo Santos é a primeira a destacar a decisão histórica do Santuário de Fátima ao solicitar o estudo diplomático e paleográfico do Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima. 

O estudo ainda decorre, mas a investigadora, em entrevista ao jornal oficial do Santuário de Fátima "Voz da Fátima" (edição de 13.01.2014), adianta algumas conclusões e especificidades do documento: trata-se do manuscrito autêntico, foi escrito em papel de carta sem marca de água e, curiosamente, não tem a assinatura da Irmã Lúcia.  

Professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, especialista em Diplomática e Paleografia, Maria José Azevedo Santos foi convidada a analisar, à luz destas duas ciências, o Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima, propriedade do Vaticano, atualmente confiado ao Santuário de Fátima que o colocou na exposição temporária "Segredo e Revelação", patente ao público até ao final de outubro de 2014.  

"Sou mulher, leiga. O convite que me foi feito mostra que a Igreja está aberta a receber contributos das áreas científicas nas quais trabalho, aliás, fundadas por religiosos no século XVII", afirmou ao destacar "o grande interesse na aliança entre a abordagem pastoral e teológica", que deixa "para os teólogos e para os que estudam a vida da Irmã Lúcia", e esta abordagem pelas ciências da Diplomática e Paleografia. 

"Este meu testemunho é verdadeiramente um testemunho singular, porque o encargo que recebi é também singular. Fui a primeira mulher leiga a entrar em contato direto com o documento em apreço, com prévia autorização de Sua Santidade, o Papa Francisco, concedida aos delegados do Bispo de Leiria-Fátima", destaca a investigadora. 

Escolhida pelo Reitor do Santuário de Fátima pelas reconhecidas "qualidades técnicas e científicas" nas áreas disciplinares em que é especialista, segundo as palavras do próprio na carta-convite que lhe foi endereçada, Maria José Azevedo Santos diz ter-se sentido "emocionada" com o convite que recebeu, em agosto de 2013. 

"É um convite raro, com dimensão e um impacto internacional, o que confere um sentimento de emoção e uma responsabilidade muito grandes a quem o recebe", refere. 

O primeiro contacto 

Com a autorização do Arquivo da Congregação para a Doutrina Fé, onde o manuscrito estava depositado, Maria José Azevedo Santos, acompanhada pelo então diretor do serviço de Estudos e Difusão (SESDI) do Santuário de Fátima, padre Luciano Cristino, e pelo diretor do Museu do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte (atual diretor do SESDI), partiram rumo a Roma em inícios de setembro de 2013, onde, durante uma semana, recolheram os elementos necessários ao estudo diplomático e paleográfico do documento. 

"Recolhi os elementos que nem a melhor reprodução tecnológica permite; estar em contato com o produto natural é muito importante para a investigação; para recolher todos os elementos era obrigatório contatar diretamente com o Manuscrito", sublinha Maria José Azevedo Santos, que revela que os métodos que utilizou são os habituais neste tipo de estudo: "trabalhei com todos os métodos, princípios e regras das duas ciências, estudei o documento do ponto de vista interno e extrínseco". 

Entre outras, foram alvo de análise a letra, o uso de abreviaturas, o esmero na execução gráfica, a assinatura (que o documento não possui), a data de lugar e a data cronológica, o tipo e tamanho de papel, a tinta. 

As primeiras conclusões  

"A Igreja nunca teve dúvidas de que o documento era original. Se a Igreja reclama à Ciência que apresente a sua leitura, poderíamos, é óbvio, encontrar algum elemento contraditório, o que não aconteceu", refere Maria José Azevedo Santos, para confirmar que "estamos na presença de um documento autêntico, verdadeiro, que saiu das mãos da Irmã Lúcia". 

Maria José Azevedo Santos destaca algumas as caraterísticas do Manuscrito em investigação. Talvez a mais curiosa seja o não ter a assinatura da autora, a Irmã Lúcia. "Não é a ausência de assinatura que invalida a autenticidade do documento; pudemos comparar a letra com outros documentos manuscritos pela Irmã Lúcia e chegar à conclusão de que este, que não está assinado, é da mesma autora. Esta é a conclusão científica", explica. 

Maria José Azevedo Santos, autora da primeira dissertação de doutoramento das áreas da Diplomática e da Paleografia em Portugal – apresentada em 1989 e publicada em 1994 – e académica de número da Academia Portuguesa da História, sublinha que "o documento tem uma dimensão universal, porque o interesse dele não se restringe só à comunidade cristã católica". 

A seu ver, o Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima é "património da humanidade".

Recebido por email. 
Sem revisão por parte do blog. 

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