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segunda-feira, 13 de junho de 2016

VIRGEM DA CARTA DE MESSINA

Madonna della Lettera di Messina  



O della Lettera, Madre e Regina, 
Salva Messina, salva Messina. 

Ó da Carta, Mãe e Rainha, 
Salve Messina, salve Messina.


Virgem da Carta é um dos apelativos utilizados na veneração a Nossa Senhora. A Virgem da Carta é venerada como Santa Padroeira de Messina (Sicília), mas também de muitas cidades italianas, como Finale, Furci Siculo, Monforte S. Giorgio, S. Pier Niceto, Caltanissetta, Catania, Palermo, Palmi, Pollina, Riposto, Pannaconi, S. Arpino, S. Margherita Ligure, San Pietro Aposto, Turim, Tropea e até mesmo em Roma. 


MESSINA E A VIRGEM DA CARTA 


Segundo a tradição, particularmente os Atos dos Apóstolos, oito anos após a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, na primavera de 42, São Paulo foi convidado a ir até a Sicília, desembarcando seis milhas ao sul de Messina, no local que daí em diante se chamaria Cala San Paolo, perto da aldeia de Briga Marina (atual Giampilieri), para pregar o Evangelho. Ele vinha de Régio Calábria, onde havia chegado de Siracusa, conduzido pelo centurião Júlio, após seu naufrágio nas proximidades de Malta. No local do desembarque, há uma cruz de ferro que indica o local onde se deteve o Apóstolo, próximo a uma igreja a ele dedicada.  

São Paulo ficou pouco tempo em Messina, onde sagrou São Bacchilo como seu primeiro Bispo. O Apóstolo pregou sobre a vida de Jesus a todas as gentes, e muitos se converteram ao Cristianismo por causa de suas pregações apaixonadas; e muitos destes manifestaram o desejo de conhecer a Terra Santa e a Mãe de Deus. Assim, ainda em 42, uma delegação da cidade de Messina — da qual a tradição local lembra os nomes de Geronimo Origgiano, Marcello Benefacite (ou Benefante), Centurione Mulè e Brizio (ou Bridio) Ottavio — foi enviada à Terra Santa, junto com São Paulo, com uma carta na qual os muitos cidadãos que haviam se convertido ao Cristianismo pediam a proteção da Virgem. Maria os acolheu com maternal afeição e, quando partiram de volta para Messina, lhes entregou uma carta de benção, em hebraico, atada por uma mecha de seus cabelos.  

A delegação voltou a Messina aos 8 de setembro do mesmo ano, levando consigo a importante missiva, na qual Maria louvava a fé deles e dizia lhe agradar sua devoção, e lhes assegurava a sua perpétua proteção. A mecha de cabelos está guardada na Catedral de Messina, e é exposta no dia do Corpus Christi, encastrada no mastro de um pequeno galeão de prata que representa um dos exemplos da proteção de Maria para Messina.  





O original da Sagrada Carta foi cuidadosamente escondido pelo Senado de Messina quando o imperador Diocleciano e, depois, Maximino perseguiram os Cristãos. O fato de possuir tão preciosa relíquia suscitou o ciúme de outras cidades sicilianas que duvidavam da veracidade da Carta afirmando que o documento havia sido escrito por um dos tantos doutos bizantinos que estavam na cidade para favorecer a supremacia desta sobre o Estreito. A Carta desapareceu do Tesouro da Catedral e nunca mais se soube dela. Sabe-se que estava na Catedral em 430 porque naquela data o historiador Flavio Lucio Destro (IV-V século d.C.) indica seu encontro, na obra “Chronicon Omnimodae Historiae”, escrita e dedicada ao amigo São Jerônimo, na qual afirma: “Apud Messanenses celebris est memoria B. Virginis Mariae, missa ipsis ab aedem dulci epistola” (“Célebre é junto ao povo de Messina a memória da doce epístola escrita pela Beata Virgem Maria”).  

Entre as hipóteses do sumiço, o Pe. Benedetto Chiarello refere, in “Memorie Sacre” (1705), que foi conservada por um certo tempo em um Ostensório como Relíquia Sagrada, e assim era guardada por certo Massimiliano de quem foi subtraída com um engano e, depois, queimada. Faz referência à Carta também Jean Houel que se reporta à notícia dada por J.Y. De Burigny, in “Viaggio in Sicilia, a Malta e a Lipari”, quando escreve que a Carta “foi guardada até nossos dias no Tabernáculo desta Igreja na qual foi devotamente colocada e guardada com cuidado. Não acreditamos que tenha se perdido no último terremoto, visto que se salvou de todos os demais”. Salvino Greco afirma que “a tese mais crida é a que pretende ter sido (a carta) destruída pelo fogo no incêndio da Catedral em 1254 – durante os funerais do rei Conrado IV – ou no terremoto de 1693”, e cita ainda f. Gotho, que escreve “como no público Tesouro da cidade conservada se vê”. Roma concedeu diversas indulgências para comprovar a autenticidade do culto: os Papas Paulo V, Urbano VIII, Inocêncio X e vários outros até Pio IX, em 1870. 

Mas o culto à Virgem da Carta se firmou verdadeiramente em 1716, quando o monge Gregorio Arena levou a Messina uma tradução para o árabe da Carta de Maria. A festa, que era celebrada no dia 8 de setembro, desde então, Messina a celebra no dia 3 de junho, com uma vultuosa procissão com um baldaquino de prata com a imagem da Virgem.   



Catedral de Messina

 Altar com a cópia do Ícone 
realizada por Adolfo Romano 
em substituição à anterior
destruída na Segunda Guerra


Típica edícula votiva de Messina 
 

historiador Caio Domenico Gallo (1697-1780), no IV livro dos “Anais da Cidade de Messina”, lembra que a tradução para o latim do texto árabe da Carta, encontrado em 1716, se deve a D. Pietro Menniti, general da Ordem de S. Basílio Magno, residente em Roma, que encontrara um código escrito em árabe, com caracteres siríacos. O código era guardado por Mons. Attanasio Safàr, bispo de Mardin na Síria, a quem fora doada pelo Patriarca Inácio de Antioquia e que trazia no pé de página a data de 3 de junho de 42. Compreendendo a importância, e pedindo-o emprestado, pediu ao Maronita Dom Giuseppe Assemanni, deputado da Santa Sede para a interpretação das línguas orientais junto à Biblioteca Vaticana, para que traduzisse com toda precisão o código que lhe confiou. Dom Assemanni traduziu o código siríaco que efetivamente continha a Sagrada Carta escrita aos Messineses para a versão latina que reportamos abaixo. Outra versão, reputa a tradução para o latim ao grego-messinês Costantino Lascaris, em 1940. Seja como for, o conteúdo da Carta é este: 


“Maria Virgem, filha de Joaquim, humílima serva de Deus, Mãe de Jesus Crucificado, da tribo de Judá, da estirpe de Davi, saudações a todos os habitantes de Messina e bênçãos de Deus Pai Onipotente.
Consta-nos, por público instrumento, que vós todos, com fé grande, nos haveis enviado Legados e Embaixadores, confessando que o Nosso Filho, gerado por Deus, seja Deus e homem, e que depois de sua ressurreição subiu ao Céu, conhecendo vós o caminho da verdade através da pregação de Paulo apóstolo eleito. 
Por isso, abençoamos vós e a própria cidade da qual queremos ser perpétua protetora. 
De Jerusalém, no ano 42 de Nosso Filho. Indicção (*) 1 lua XXVII. 
Dia de quinta-feira 3 de junho.”


(*) O termo Indicção é de origem gréga - Ινδικτιών, Indiktion, digitação fonética Indiktión. Do latim indictio, deriva de indicĕre (chamar, conclamar). Mais comumente é a convocação para reunião de cunho religioso. Também se refere a um período de quinze anos ou cada ano deste período: a Indicção é um cálculo do tempo que é parte da data nos documentos da Antiguidade tardia, medievais e, em alguns lugares, modernos. Indica o ano dentro de um ciclo de anos numerados progressivamente do 1 ao último ano do ciclo, concluído o qual se recomeça a contar a partir de 1, ou seja, o próximo ano do ciclo. A Indicção chega à época moderna baseando-se em um ciclo de 15 anos. Ligado, primeiro, ao sistema fiscal do Império romano, se tornou do século IV em diante uma das notas cronológicas mais importantes dos documentos públicos ou privados. O 1º dia da Indicção era diferente nos diversos países, e na Indicção romana ou pontifícia (a partir do séc. IX) era o dia 25 de dezembro, ou muitas vezes o dia 1º de janeiro. O ano de origem era fixado tradicionalmente no ano 3 a.C. (portanto, para encontrar a indicção romana de um ano, basta acrescentar 3 ao número do ano e dividir o total por 15; o número obtido como resto é o ano da indicção; o resto zero corresponde ao ano 15º). Nos calendários litúrgicos ortodoxos e grego-católicos designa o início do ano eclesiástico - lndiktos, ou seja, o dia 1º de setembro. 


Em latim: 
Maria Virgo, Joachim, et Annae Filia Humilis Ancilla, Domini Mater Jasu Christi, qui est ex Tribu Juda, et de Stirpe David, Messanensibus omnibus salutem, et a Deo Padre Omnipotente Benedictionem.
Per publicum documentum constat, Vos mississe ad Nos Nuncios, fide magna: Vos scilicet credere, Filium Nostrum a Deo genitum esse Deum, et hominem, et post Resurrectionem suam ad Coelum ascendisse; Vosque mediante Paulo Apostolo electo viam veritatis agnovisse. Propterea vos, vestramqne Civitatem benedicimus, et protegimus eam in saecula saeculoram.
Data fuit haec AEpistola die quinta in Urbe Hierusalem a Maria Virgine cuius nomen supra, Anno XXXXII, a Filio cius, saeculo primo, Die 3 Junii, Luna XXVII. 

A frase “Vos et ipsam Civitatem benedicimus” ("Abençoamos vós e a vossa cidade") está escrita hoje na base do monólito da “Madonnina”, no braço extremo do porto de Messina.   




A estátua foi inaugurada em 2 de agosto de 1934, e o Papa Pio XI, de Roma, telecomandou o acendimento das luzes que iluminaram o monólito, a inscrição e a auréola da Virgem. A estátua da Virgem - Madonnina - foi recentemente restaurada devolvendo o esplendor ao bronze dourado por ocasião do jubiléu de 2000 pela Arquidiocese de Messina. 

Em 1902, Nuncio Magliani, um devoto da Virgem, mandou fazer uma imagem da Virgem em prata, com novena centímetros de altura. O escultor foi Lio Gangeri e o incisor foi Pietro Calvi, de Roma. Na base, há um troféu em relevo que representa o estandarte de Messina, uma vista da cidade com o navio com os embaixadores de Messina indo para a Palestina, a Virgem que entrega a Carta ao chefe da delegação e o monólito com a “Madonnina”. Atrás da imagem se eleva um turíbulo com decoração variada sobre o qual, na procissão de 3 de junho, é colocado o relicário de cristal que contém o Sagrado Cabelo com o qual a Virgem amarrou a Carta 




Em honra da Celeste Padroeira, foram instituídas, a partir do ano 600, numerosas confrarias. Outra peculiaridade são as medalhas umbilicais; cada família possuía uma, e quando nascia uma criança eram aplicadas sobre o umbigo recém cortado e firmadas com uma faixa em tecido colorido, com uns vinte cm de largura e quase dois metros de cumprimento. A função da medalha era de evitar o surgimento de uma hérnia umbilical, um risco frequente para os recém-nascidos. O uso parece ter começado no século XVI até o final da Segunda Guerra, desaparecendo por completo depois de uma ou duas gerações.  



O novo Ícone que substituiu o original  
destruído pelos bombardeios 
da Segunda Guerra. 


Também foi encomendado pelo Senado da cidade, por decreto de 29 de abril de 1653, um manto de ouro maciço que cobria antigamente, nas grandes solenidades, o antigo ícone da Virgem da Carta na Catedral, e que atualmente é colocada sobre uma cópia feita após a Guerra apenas no dia 3 de junho. O manto foi feito por Innocenzo Mangani, entre os anos de 1661 e 1668. As coroas da Virgem e do Menino são salpicadas de pedras preciosas. Depois de pronto, o manto recebeu inúmeros ex-votos dos fiéis, dos mais humildes aos mais ricos, que foram soldados sobre o manto. Entre os mais preciosos, são elencados riquíssimos exemplares de joias das mais nobres famílias, inclusive uma margarida de outo e brilhantes, presente da Rainha Margarida de Savoia.  


 

Manto de ouro 


O Ícone com o Manto



Giuseppe Irrera e Giacomo Ivaldi
joalheiros de Messina 
com o Manto
(percebem-se as dimensões do Manto) 

Desse culto vem a tradição, sobretudo em Messina e na província, do uso do nome Letterio e Letteria, que depois abreviam com Lillo e Lilla.  



*   *   *  


Santo Anibal e Melanie Calvat


Santo Aníbal Maria de Francia dedicou à Virgem da Carta algumas orações, entre as quais este hino, conhecido por “Quando Zancle infranse gli idoli”: 


Quando Zancle infranse gli idoli
e risorse cristiana
ai tuoi piè prostrata ed umile
volle offrirti omaggi e onor.
E tu, Vergine sovrana,
l'accogliesti tutta amor. 

Deh! gran Madre della Lettera
benedici i figli ancor!

O della Lettera Madre e Regina 
salva Messina, salva Messina".


Con la man leggiadra e tenera  


Tradução:

Quando Zancle partiu os ídolos 
e ressurgiu cristã 
aos teus pés, prostrada e humilde 
quis te oferecer homenagens e honras. 
E tu, Virgem soberana, 
a acolheste cheia de amor.  

Eia! Grande Mãe da Carta
Abençoa os filhos ainda! 

Ó da Carta, Mãe e Rainha, 
Salve Messina, salve Messina

Com a mão graciosa e tenra.  



* Zancle é o nome original da cidade de Messina.    




CURIOSIDADE - Melanie Calvat, a vidente de La Salette, era devota de Nossa Senhora da Carta de Messina e possuía uma cópia que levava sempre consigo. (Cf. aqui.) 


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RESPONSÓRIO 


Salve, ó Filha de Deus Pai, que elegeste por vossos filhos os habitantes de Messina.  
Salve, ó Mãe do Filho de Deus, que maternalmente atendestes os habitantes de Messina. 
Salve, ó Templo da SS. Trindade, que, por meio da Sagrada Carta, abençoastes os habitantes de Messina.
Virgem Santíssima da SAGRADA CARTA. Advogada nossa, abrigai-nos sob o manto da vossa poderosa intercessão, enquanto todos vos saudamos.

Salve Regina...


Quem recitar este Responsório, lucrará por cada vez a indulgência de 100 dias, concedida em 8 de março de 1726 pelo Sumo Pontífice Bento XIII.
Dia, 2 de outubro de 1922 (Com aprovação eclesiástica).  


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Fontes: 



Também: 
- Franz Riccobono Le Medaglie Messinesi Messina 2000;
- Silvestro Prestifilippo - Tino Saitta Messina Artistica e Monumentale Messina 1974, pag. 117-119.

Tradução e organização: Giulia d'Amore.


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