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domingo, 5 de junho de 2016

União da Alma com Jesus na santa Comunhão

Qui manducat meam carnem et bibit meum sanguinem, in me manet et ego in illo – "Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue fica em mim e Eu nele" (Jo. 6, 57).


Sumário. Jesus tinha-Se dado aos homens como Mestre, como Modelo e como Vítima; restava-Lhe somente que se desse como Alimento, afim de fazer-Se uma coisa só conosco. É o que fez instituindo a santa Eucaristia. Ó dignação de um Deus para com os homens! Mas como é que há tantos homens que não O amam e lhes respondem com ingratidão!... Se no passado nós também fomos do número desses ingratos, esforcemo-nos para amá-lO tanto mais para o futuro.

I. Diz São Diniz, o Areopagita, que o efeito principal do amor é procurar a união com o objeto amado. Exatamente para se unir com as nossas almas foi que Jesus Cristo instituiu a santa Comunhão. Tendo-Se dado a nós como Mestre, como Modelo e como Vítima só Lhe restava dar-Se a nós como nosso sustento, para fazer-Se um só conosco, assim como o sustento se identifica com aquele que o toma. Foi o que fez instituindo este Sacramento de amor.

Jesus Cristo não pode Se contentar com unir-Se à nossa natureza humana; com este sacramento quis ainda achar o modo de unir-Se a cada um de nós e de ser todo de quem O recebe. A este respeito, escreveu São Francisco de Sales: "Em nenhuma outra ação pode o Salvador ser considerado nem mais terno nem mais amoroso do que nesta, na qual Se aniquila, por assim dizer, e Se reduz a manjar, afim de entrar em nossas almas, e unir-Se aos corações dos Seus fiéis".

Numa palavra, porque Jesus nos ama ardentemente, quer unir-Se conosco pela Eucaristia, afim de que nos tornemos  uma coisa só com Ele, e o Seu Coração seja um só coração com o nosso. "Voluisti, ut tecum unum cor haberemus", diz São Lourenço Justiniani: "Quisestes que tivéssemos um só coração convosco". E primeiro já o dera a entender o próprio Jesus: Qui manducat meam carnem, in me manet et ego in illo – "Quem come a minha carne permanece em mim e Eu nele". – Assim, na comunhão, Jesus une-se com a Alma, e a Alma com Jesus, e esta união não é de mero afeto, mas verdadeira e real. "Como dois pedaços de cera derretidos se misturam", diz São Cirilo de Alexandria, "assim o que comunga se torna uma coisa com Jesus Cristo". Ó condescendência infinita de um Deus para com os homens! Mas como é então possível que estes não O amem, e Lhe respondam com ingratidão?

II. Para nos mantermos sempre em união com Jesus Cristo, aproximemo-nos frequentemente e com as devidas disposições da Mesa Eucarística; e se és diretor de almas, exorta as tuas dirigidas à comunhão frequente. Costumava o Bem-aventurado João de Ávila dizer que os que censuram as pessoas que frequentam a comunhão fazem o papel do demônio, que tem grande ódio a este Sacramento, porque dele as almas recebem o fervor para progredirem na perfeição. – Quando comungamos, afiguremo-nos que Jesus Cristo nos diz o que um dia disse à Sua querida serva Margarida de Ypres: "Vê, minha filha, a bela união entre nós; pois, ama-Me, fiquemos sempre unidos no amor e nunca mais nos separemos"

Ah, meu Jesus! Eis o que Vos peço e quero sempre pedir-Vos na santa comunhão: Unidos fiquemos sempre, e jamais nos separemos. Sei que não Vos separareis de mim se não for eu o primeiro a me separar de Vós. Ai! Todo o meu medo é que no futuro venha eu a separar-me de Vós pelo pecado, como fiz outrora. Por piedade, não o permitais, ó meu Amadíssimo Redentor: Ne permittas me separari a te. Até à morte, estarei sempre exposto a este perigo; ah! Conjuro-Vos, pelos merecimentos de Vossa Paixão, deixai-me antes morrer do que cair nesta desgraça. Repito-o, e Vos peço a graça de repeti-lo sempre: Não permitais que me separe de Vós! Não permitais que me separe de Vós! 

Ó Deus de minha alma, amo-Vos, amo-Vos; quero amar-Vos sempre, e não amar senão a Vós. Protesto à face do Céu e da Terra, só a Vós quero, e nada mais. Jesus meu, escutai-me, eu o repito: só a Vós quero, e nada mais. Ó Mãe de misericórdia, Maria, intercedei neste momento por mim; obtende-me a graça de não me separar mais de Jesus, e não amar mais senão a Jesus. (II 405.)


Santo Afonso Maria de Ligório. in, "Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive". Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 367-369. 





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