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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Os Remédios Contra o Orgulho

Os Remédios Contra o Orgulho 


Já dissemos em outro lugar que o melhor remédio contra o orgulho é de reconhecer que Deus é o autor de todo o bem, e que, por consequência, a Ele só pertence toda honra e toda glória. De nós mesmos, não somos mais que nada e pecado, e não merecemos senão o esquecimento e o desprezo.

- Não somos mais que nada. Os principiantes devem estar convencidos na meditação, ruminado lentamente, à luz divina, os pensamentos seguintes: não sou nada, não posso nada, não valho nada.

A)   Eu não sou nada: sem dúvida, quis a bondade divina me escolher entre milhões de possibilidades para me dar a existência, a vida, uma alma espiritual e imortal, e eu O devo agradecer todos os dias por isso.  


Mais:  
a) eu saí do nada, e meu próprio peso ma arrasta ao nada, e eu aí cairei infalivelmente se meu Criador não me conservar por Sua ação incessante; meu ser não me pertence, mas todo e inteiro a Deus, e é a Ele que devo render homenagem.
 
b) Este ser que Deus me deu é uma realidade viva, uma imensa graça, a qual eu não saberei jamais agradecer suficientemente; mas, por mais admirável que seja, este ser comparado ao Ser divino é como o nada, de tal modo é imperfeito.  

1) é um ser contingente, que poderia desaparecer sem que nada faltasse a perfeição do mundo;  
2) é um ser emprestado, que me foi dado sob a reserva expressa do soberano domínio de Deus;  
3) é um ser frágil,  que não pode subsistir por ele mesmo e que tem necessidade de ser sustentado a cada instante por Aquele que o criou.  

É, pois, um ser essencialmente dependente de Deus e que não tem outra razão de existir que para render glória a seu Autor. Esquecer essa dependência, agir como se nossas qualidades fossem completamente nossas, e disso nos vangloriar, é um erro inconcebível, uma loucura uma injustiça. 

Isto que dissemos do homem na ordem da natureza vale muito mais na ordem da graça essa participação na vida divina, que faz minha grandeza e minha nobreza, é um dom essencialmente gratuito que tenho de Deus e de Jesus Cristo, que eu não posso guardar muito tempo sem a graça divina, que não cresce em mim senão pelo concurso sobrenatural de Deus. Que ingratidão e que injustiça de atribuir a si mesmo a menor parcela desse dom essencialmente divino?

B)   Eu não posso nada por mim mesmo: sem dúvida, recebi de Deus faculdades preciosas que me permitem conhecer e amar a verdade e a bondade; estas faculdades foram aperfeiçoadas pelas virtudes sobrenaturais e pelos dons do Espírito Santo; jamais saberemos admirar perfeitamente esses dons da natureza e da graça que se completam e se harmonizam tão bem. Mas, de mim mesmo, de minha própria iniciativa, eu não posso nada para o colocar em marcha e o aperfeiçoar: nada na ordem natural sem o concurso de Deus; nada na ordem sobrenatural sem a graça atual, nem mesmo ter um bom pensamento, nem um bom desejo sobrenatural. E, sabendo disso, poderia eu me orgulhar destas faculdades naturais e sobrenaturais como se elas foram inteiramente propriedades minhas? Ainda aqui seria ingratidão, loucura, injustiça.

C)   Eu não valho nada: sem dúvida, se considero isso que Deus colocou em mim, isso que opera por Sua graça, sou de um grande preço, tenho um valor: eu valho isso que custei e eu custei o Sangue de um Deus!  


Mas esta honra de minha redenção e santificação vem de mim ou de Deus? A resposta não pode ser duvidosa.  

Mas, enfim, diz o amor-próprio vencido, eu tenho algo, entretanto, que pertence a mim mesmo e me dá algum valor, é meu livre consentimento em concurso à graça divina. Seguramente, temos ai alguma parte, mas não a principal: este livre consentimento não é outra coisa senão o exercício das faculdades que Deus nos deu gratuitamente, e, no momento mesmo onde nós o utilizamos, é Deus quem opera em nós como causa principal: “Ele opera em vós o querer e o fazer”. (Fl II,13). E, uma vez que decidimos seguir o impulso da graça, quantas vezes ao contrário nós lhe resistimos? Quantas vezes nos cooperamos imperfeitamente? Verdadeiramente, não há ai um motivo para nos vangloriar mas sim para nos humilhar. 

Quando um grande mestre pinta uma obra de arte, é a ele que se atribui o valor, e não aos artistas de terceiro ou quarto escalão que foram seus auxiliares. Além disso, devemos atribuir nossos méritos a Deus como causa primeira e principal, se bem que, como canta a Igreja conforme Santo Agostinho, Deus coroa Seus dons quando coroa nossos méritos: “coronando merita coronas dona tua”.
 

Assim, pois, de qualquer lado que consideremos, e seja qual for preço dos dons que estão em nós, de nossos méritos, não temos o direito de nos vangloriar, mas o dever de fazer homenagem a Deus e de Lhe agradecer do mais profundo do coração. Temos ainda que Lhe pedir perdão pelo mau uso que fizemos de Seus dons.

2° - Eu sou pecador e como tal mereço o desprezo, todos os desprezos que agradar a Deus me enviar. Para nos convencer disto, basta nos lembrarmos o que dissemos sobre o pecado mortal e venial.

A)   Se tive a infelicidade de cometer um só pecado mortal, eu mereço eternas humilhações, pois que mereço o Inferno. Sem dúvida, tenho a doce confiança que Deus me perdoou; mas não deixa de ser verdadeiro que cometi um crime de lesa-majestade divina, uma espécie de deicidio, um suicídio espiritual, e que, para expiar a ofensa à majestade divina, devo estar pronto a aceitar, a desejar mesmo, todas as humilhações possíveis, as maledicências, as calunias, as injúrias, os insultos: tudo isto está bem abaixo daquilo que merece aquele que uma única vez ofendeu a infinita majestade de Deus. E eu que O ofendi um grande numero de vezes, qual não deve ser a resignação, minha alegria mesmo, quando tenho a ocasião de expiar meus pecados por opróbrios de curta duração?

B)   Todos nós cometemos pecados veniais, e sem dúvida, de propósito deliberado, preferindo voluntariamente nossa vontade à glória de Deus. Isto é uma ofensa à majestade divina, ofensa que merece humilhações tão profundas que, malgrado uma vida passada na prática da humildade, não poderíamos devolver a Deus toda a glória que injustamente roubamos. Se esta linguagem parece exagerada, lembremo-nos das lágrimas e penitencias austeras dos santos que não tinham cometido senão faltas veniais. Esses santos tinham uma visão mais clara que a nossa; e se ainda pensamos diferentemente deles é por que ainda somos cegos pelo nosso orgulho.

Devemos, pois, como pecadores, não somente não procurar a estima dos outros, mas nos desprezar a nós mesmos e aceitar todas as humilhações que agradar a Deus nos enviar.

AD. Tanquerey – Précis de Théologie Ascétique et Mystique.

Visto em: http://unicacoisanecessaria.blogspot.com.br/2012/12/os-remedios-contra-o-orgulho.html.
 

 

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