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quarta-feira, 3 de junho de 2015

CORES E ORNAMENTOS NA LITURGIA

CORES E ORNAMENTOS NA LITURGIA




As cores que a Igreja geralmente adota são cinco: o branco, o vermelho, o verde [ou dourado], o roxo e o preto. 


BRANCO é emblema da inocência, da alegria que ela procura, e da glória que é sua herança.

Eis as festas no qual ele é empregado:

Do Natal à Epifania. Cristo, que nos é dado, é livre do pecado original. Além disso, o Verbo é o esplendor de seu Pai. Salvador do mundo, Ele é o sol da justiça. Além do mais, em seu nascimento, o Filho de Deus celebrou o casamento místico com sua natureza humana, e a virgindade de Maria lhe foi a cama nupcial.

Na quinta-feira santa. É o dia em que se consagra o santo crisma, pelo qual, as unções purificam as almas. Na tarde deste dia, Nosso Senhor, para purificar seus Apóstolos, lhes lava os pés. Baronio(78) diz que a veste que Cristo utilizou na Cena era da cor branca.

No sábado santo. Pois o anjo que anuncia a ressurreição estava vestido de branco tão deslumbrante quanto a neve.

No dia da Santíssima Trindade. Deus é luz e Nele não há trevas. Qual ser há de mais puro? As três pessoas divinas, em suas manifestações feitas ao homem, tomaram a cor branca. O Pai, em Daniel, é representado com uma veste branca como a neve, e seus cabelos brilhantes como a lã mais pura (79). A lã, a neve e o sol emprestam sua brancura e sua luz às vestes do Filho na visão de S. João. Foi sob a forma de uma pomba branca que o Espírito Santo se mostrou no nosso meio no batismo do Salvador.

Corpus Christi. Tudo é branco no que tange ao augusto Sacramento. Os ornamentos sacerdotais têm de ser, nesse dia, da cor. Além do mais, essa festa não é mais do que a solene instituição da Eucaristia, estabelecida na quinta-feira santa. E como Jesus tinha se vestido de branco nesse dia, convém que esta circunstância seja lembrada pelo padre que utiliza a mesma cor.

Transfiguração. Em memória das vestes de Jesus, que se tornaram brancas como a neve, e da nuvem brilhante que envolve os Apóstolos sobre o Tabor.

Festas da Virgem. Após Deus, não há nada mais puro que Maria. No livro dos Cânticos, o Espírito Santo a compara aos lírios radiantes de brancura, com a pomba imaculada, ao leito de flores apoiado sobre colunas de prata, com a torre de marfim, a fonte límpida.

As festas dos Anjos. Deus falava de sua luz, quando Ele dizia à Jó: "Onde estavas quando os astros da manhã publicavam meus louvores? (80)". Eles aparecem sempre revestidos de branco.

A festa de S. João Batista. Em sinal de alegria, pois o anjo havia dito a Zacarias, que "muitos se alegrariam em seu nascimento". Em sinal de seu ministério, porque ele foi um anjo testemunhando Nosso Senhor. Em sinal de sua santidade e de sua santificação desde o seio de sua mãe.

A festa de S. João Evangelista. Ele foi virgem. Por excelência, filho adotivo da santa Virgem. Entre os Apóstolos, ele é o único que não é celebrado pela cor vermelha, pois foi o único que não expirou nos tormentos do martírio.

Cátedra de S. Pedro(82). Nós veneramos nesse dia o chefe dos Apóstolos como pontífice, e o branco é a cor atribuída às celebrações dos papas. A Igreja os intitula como luzes. Eles cumprem literalmente a recomendação do Salvador: "Que vossa luz brilhe, de tal modo, diante os homens, que eles vejam vossas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus (81)". É por esse mesmo motivo que se encapam de véus brancos as cátedras episcopais.

Na festa de S. Pedro . A cor branca é uma lembrança da luz celeste que ilumina as trevas de sua masmorra, e do anjo que foi seu libertador.

Na conversão de S. Paulo. Para se saber a razão simbólica do branco nesta festa, não esqueçamos que Paulo tornou-se uma pomba, um cordeiro, um vaso de eleição e graças. Segundo Inocêncio III, seria uma lembrança da santidade que lhe foi conferido após o batismo (83).

Na festa de todos os Santos. A glória e a luz da Jerusalém celeste são figuradas por esta cor: pedras brancas formam o pavimento de suas praças. Um rio brilhante como cristal irriga suas águas. Seus habitantes vestidos de branco (84).

Para os doutores e confessores. A auréola dos doutores é branca, segundo o profeta Daniel, pois eles brilham como as estrelas. O branco indica, para os confessores, a pureza de sua moral.

Para as Virgens, que Pedro de Blois(85) chamava: as irmãs dos anjos.

Para a dedicação e consagração das igrejas. A razão fundamental é a analogia do templo material com o templo espiritual. Da Igreja da terra com aquela do céu, e o branco nos diz que a pureza e a santidade convenientes à casa do Senhor. Inocêncio III via ai uma alusão ao nome de virgem que S. Paulo dava à Igreja.

Para a consagração do Sumo Pontífice e dos bispos.

Nas missas de casamento. Quem não ama de ai ver o símbolo da pureza que os esposos devem fazer neste augusto sacramento?

VERMELHO, cor do sangue e do fogo, reservado aos seguintes dias:

Pentecostes, para marcar os ardores do Espírito Santo que descem em forma de línguas de fogo.

A festa da santa Cruz, que foi consagrada pelo sangue do Redentor do mundo.

A festa dos Mártires, que derramaram seu sangue por Jesus Cristo.

A festa de S. João diante a porta latina. Ele teve a glória do martírio, segundo seu ardente desejo.

As festas das Virgens mártires, porque o martírio é preferido à virgindade. Nosso Senhor o coloca acima de tudo: "Não podemos dar um testemunho de amor mais brilhante do que derramar seu sangue por aqueles que se ama (86)". Eis porque o lírio da virgindade cede às rosas do martírio.

VERDE, na liturgia, assim como na natureza, é um símbolo de esperança. É o emblema dos bens por vir. A Igreja o emprega nos domingos comuns, durante o tempo nomeado de peregrinação por vários liturgistas, porque, assim como o veremos mais tarde ao tratarmos das festas, ele recorda a vida da Igreja aqui em baixo, desde a descida do Espírito Santo até o fim do mundo.

Esse tempo compreende os domingos e as semanas de Pentecostes ao Advento. Da oitava da Epifania à Septuagésima, também encontraremos o verde na liturgia. "Essa escolha mostra, diz Dom Guéranger, que no nascimento do Salvador, que é a flor dos campos, nasceu também a esperança de nossa salvação, e que após o inverno dos pagãos e do judaísmo, a verdejante primavera da graça começou seu curso (87)".

ROXO é a cor ordinária do luto da Igreja, a cor da carne mortificada pela penitência. 


Ele é usado no tempo de penitência, como o Advento, a Quaresma, os "Quatro tempos", as Vigílias, as "Rogações", e na procissão de S. Marcos, para recordar que devemos nessas diferentes épocas expiar no jejum e na mortificação uma vida sensual, e chorar sobre nossas almas, ou daquelas de nossos irmãos mortos na graça. Se o roxo é preferido ao negro, Monsenhor Gaume nos dá a razão: "O violeta, diz ele, cuja cor é metade escura e metade clara, se emprega nos momentos onde a dor e a esperança são o fundo do culto divino. Assim, durante o Advento, se geme ou se suspira, mas são suspiros que chamam o Justo, e o fazem descer. Na Quaresma, se chora pelas faltas, mas se vê o perdão no fim da santa quarentena. Se chora os sofrimentos de Jesus Cristo, mas se vê aparecer o dia glorioso da ressurreição. Se chora nas calamidades, nas aflições publicas ou particulares, mas se espera o fim das lágrimas que se derramam. Esta inefável mistura de tristeza e consolação, de dor e de esperança é exprimida pelo violeta. Como a morte dos reis, onde o poder não morre, e ao mesmo tempo em que se faz cair a coroa da cabeça de um, se a coloca sobre outro (88)".

PRETO


Não é necessário insistir sobre o sentido desta cor, pois, mesmo sem dizer nada, o padre com suas roupas lúgubres, é seu pregador mais eloqüente. Parece que desta casula coberta de lágrimas saem uma voz: "Lembra-te, ó homem, que tu és pó e ao pó retornarás". "Tu não sabe nem o dia, nem a hora, esteja pronto. Para teu irmão ontem, para ti amanhã, e quem saiba, hoje talvez (89)".




(78) N.d.t.: Cesare Baronio, Cardeal (Sora, 1538 – Roma, 1607). Historiador, e membro da Congregação do Oratório, seu nome é associado com a preparação dos primeiros vgolumes dos Annales ecclesiastici (a história da Igreja desde suas origens até 1198).
(79) Dn 7, 9
(80) Jó 38, 7
(81) Mt 11,10
(82) Libertação de São Pedro quando preso em Jerusalém.
(83) De Sacro alt.myst.
(84) Tb 13, 22
(85) N.d.t.:Pedro de Blois (1135-1203). Foi diplomata e poeta latino da Idade Média. Estudou direito e teologia em Bolonha.
(86) Jo 15, 13
(87) Catecismo de perseverança, VII, vol. 13
(88) Idem
(89) Idem.

  
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