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sábado, 31 de janeiro de 2015

O Pai Nosso e a Ave Maria - São Tomás de Aquino - VII

Publicaremos, em capítulos, este texto sobre o Pai Nosso e a Ave Maria. Hoje publicaremos a introdução e o prólogo do capítulo sobre o Pai Nosso. 


O Pai Nosso e a Ave Maria por São Tomás de Aquino


São Tomás de Aquino,
protetor da Universidade de Cusco
Anônimo da Escola de Cusco
2. A Oração Dominical  

O Pão Nosso de cada dia nos dai hoje

53. — Muitas vezes, a grandeza da ciência e da sabedoria tornam o homem tímido, e então é preciso ter força no coração, para que o homem não desanime diante das necessidades.

O Senhor, diz Isaías (40, 29), dá força aos cansados e vigor aos que são fracos. E Ezequiel (2, 2) também diz: Entrou em,mim o Espírito, e me firmou sobre os meus pés.

O Espírito Santo, de um lado, dá força para impedir que o homem desfaleça com o medo de não ter o necessário, e por outro lado, para que o homem creia firmemente que Deus o proverá de tudo que precisar.

Assim o Espírito Santo, dispensador desta força, nos ensina a dizer: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. E o chamamos Espírito de força.


54. — É preciso saber, que nos três pedidos precedentes do “Pai Nosso”, pedimos bens espirituais, cuja possessão começa neste mundo, mas só será perfeita na vida eterna.

Com efeito, quando pedimos a santificação do nome de Deus, pedimos que reconheçamos Sua santidade; pedindo a vinda de Seu reino, pedimos alcançar a vida eterna; pedir para que a vontade de Deus seja feita é pedir que Deus cumpra Sua vontade em nós. Todos esses bens, parcialmente realizados neste mundo, só o serão perfeitamente, na vida eterna.

Também é necessário pedir a Deus alguns bens indispensáveis, cuja possessão perfeita é possível na vida presente. Por isso, o Espírito Santo nos ensina a pedir estes bens, necessários à vida presente e perfeitamente possuídos aqui em baixo.

Ao mesmo tempo nos faz mostrar que é Deus que nos provê em nossas necessidades temporais, quando dizemos: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.

55. — Por estas palavras, Jesus nos ensina a evitar os cinco pecados que se comete habitualmente por um desejo imoderado das coisas temporais.

O primeiro destes pecados é que o homem, insaciável, quanto às coisas que convêm a seu estado e a sua condição, e impelido por um desejo desregrado, pede bens que estão acima de sua condição. Age como um soldado que se queira vestir de oficial ou um clérigo, como um bispo.

Este vício desvia o homem das coisas espirituais, porque o prende excessivamente a coisas temporais.

O Senhor nos ensina a evitar tal pecado, mandando-nos pedir somente o pão, quer dizer, os bens necessários a cada um nesta vida, segundo a sua condição particular: sob o nome de “pão”, estão compreendidos todos esses bens. O Senhor não nos ensinou a pedir coisas delicadas, variadas e exóticas, porém pão, sem o qual o homem não pode viver e que é o alimento comum a todos. O essencial da vida do homem, diz o Eclesiástico (29, 28), é a água e o pão. E o Apóstolo escreveu a Timóteo (1,6, 8): Tendo pois com que nos sustentar e com que nos cobrirmos, contentemo-nos com isso.

56. — Um segundo vício consiste em cometer-se injustiças e fraudes na aquisição dos bens temporais.

Este é um vício perigoso, porque é difícil restituir os bens roubados e, segundo Santo Agostinho, “tal pecado não é perdoado, se não restituímos o que foi roubado”.

O Senhor nos ensina a evitar este vício, pedindo para nós, não o pão de outrem, mas o nosso. Os ladrões comem o pão dos outros e não o seu próprio.

57. — O terceiro pecado é a solicitude excessiva para com os bens terrenos. Há pessoas que nunca estão satisfeitas com o que têm e querem sempre mais.

Senhor, não me deis nem a Pobreza nem a riqueza: dai-me somente o que for necessário para viver, dizem os Provérbios (30, 8).

Jesus nos ensina a evitar este pecado pelas palavras: “de cada dia nos dai hoje”, quer dizer, o pão de um só dia ou de uma só unidade de tempo.

58. — O quarta vício, causado pela apetite desmesurado das coisas daqui de baixa, consiste numa insaciável avidez das bens terrenas, uma verdadeira voracidade.

Querem consumir em um só dia o que é suficiente para muitas dias. Estes não pedem o pão de um dia, mas o de dez. Gastando sem medida, chegam a dissipar todas os seus bens, segundo a palavra dos Provérbios (23, 21): Passando o tempo a beber e a comer se arruínam, e segunda esta outra palavra (Ecl. 19, 1): O operário dado ao vinho não enriquecerá.

59. — O deseja desregrada dos bens terrestres engendra um quinto pecado, a ingratidão.

Este é o deplorável vício do homem que se orgulha de suas riquezas e não reconhece que as deve a Deus, autor de todos os bens espirituais e temporais, segunda a palavra de Davi (I Par. 29, 14): Teu é tudo e o recebemos de tua mão.

Para afastar esse vício e fixarmos que todos esses bens vêm de Deus, Jesus nos faz dizer: “Dai-nos nosso pão”.

60. — Recolhamos a lição da experiência e das Sagradas Escrituras a respeito do caráter perigosa e nociva das riquezas.

Quantas vezes se possui grandes riquezas e não se tira qualquer utilidade delas, mas, ao contrário, males espirituais e temporais.

Há homens que morrem par causa de suas riquezas. Há ainda um mal que tenho visto debaixo do sol, diz o Eclesiastes (6, 1-2), e ordinário por certo entre os homens: um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra; nada falta à sua alma de tudo o que pode desejar, e Deus não lhe concedeu o poder de gozar destes bens, mas virá um homem estranho a devorar suas riquezas. E diz ainda o Eclesiastes (5, 12): Ainda há outra enfermidade bem má debaixo do sol: as riquezas acumuladas em detrimento de seu dono.

Devemos, portanto, pedir a Deus que nossas riquezas nos sejam úteis. Quando dizemos: “Dai-nos o nosso pão”, é isso que pedimos, que os nossos bens nos sejam úteis e que não se verifique conosco o que está escrito do homem mau (Jo 20, 14,15): o pão, em suas entranhas, se converterá em fel de áspides. Vomitará as riquezas que devorou e Deus lhas fará sair das entranhas.

61 — Voltando ao vício de uma solicitude excessiva em relação aos bens terrenos, vemos homens que se inquietam hoje com o pão de um ano inteiro, e se chegam a possuí-lo, nem por isso, deixam de se atormentar. Mas o Senhor lhes diz (Mt 6, 31): Não vos inquieteis, pois, dizendo: que comeremos ou o que beberemos ou com que nos vestiremos? Também Deus nos ensina a pedir para hoje o pão nosso, quer dizer, o necessário para o momento presente.

62. — Existem além do pão, alimento do corpo, duas outras qualidades de pão. O pão sacramental e o da palavra de Deus.

Na Oração Dominical também pedimos nosso pão sacramental que é todo dia preparado na Igreja e que recebemos como sacramento, como penhor de nossa salvação.

Jesus declarou aos Judeus (Jo 6,5): Eu sou o Pão vivo que desceu do céu. — Quem come deste pão, e bebe do cálice do Senhor indignamente, come e bebe para si a condenação (1 Cor 11, 29).

Pedimos também na Oração Dominical este outro pão que é a palavra e Deus. Deste pão disse Jesus (Mt 4, 4): Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus.

Pedimos assim que nos dê pão, isto é, o Verbo de Deus, de onde provém para o homem a bem-aventurança da fome e sede de justiça. Quanto mais bens espirituais possuímos, mais desejamos e este desejo aguça o apetite e a fome, que será saciada na vida eterna


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Fonte e tradução: http://permanencia.org.br. 


  
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