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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Pe. Cestac e o exorcismo diário para uso dos leigos.

Eram os primeiros dias do ano de 1864, quando o Rev. Padre Louis-Édouard Cestac[1] (Bayona, 06/01/1801 - Anglet, 27/03/1868) teve a visão da destruição indescritível causada pelos demônios sobre a Terra. Foi quando Nossa Senhora lhe apareceu dizendo-lhe que os demônios andavam à solta por toda a Terra, e que era chegada a hora de recorrer à Sua valiosa proteção, como “Rainha dos Anjos”, rogando-Lhe para que enviasse as Santas Legiões Angélicas para combaterem e desbaratarem as potências infernais. Isso se deu quase trinta anos antes de Papa Leão XIII compor o Pequeno Exorcismo de São Miguel. Hoje, publicamos a Vita deste Sacerdote que era considerado, pelos que o conheciam, o “novo Cura d’Ars”. Publicamos, também, a oração que a Virgem lhe ditou.   


O SERVO DE DEUS LUÍS EDUARDO CESTAC


foto de 1867, por Harmand,
Faubourg St Antoine, em Paris
Foi considerado, por quem o conheceu, um “novo cura d’Ars”, e era um extraordinário fundador de Obras. Nasceu em Bayonne (Baixos Pirineus, França) em 6 de janeiro de 1801, filho de Domingos e Joana Amitessarobe. Por volta dos três anos de idade, sofrendo de uma incurável nevralgia e um completo mutismo, a mãe o consagrou à Virgem de São Bernardo. Curado, nutriu por toda a vida uma grande devoção pela Virgem. Em 1813, a família se muda para Puntous (Altos Pirineus), à época da invasão da França pela Espanha e a Inglaterra. Aos dezessete anos, entrou no Pequeno Seminário de Aire, onde reencontrou Michele Garicoïts[2], outro grande fundador, que conhecera em Bayonne, já filosofo e que seria canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII. Transferido para São Sulpício (Paris) em 1820, recebeu as Ordens menores no dia de Natal de 1821. No ano seguinte, por causa de uma enfermidade, retornou a Bayonne, onde passou a frequentar o Pequeno Seminário de Larressorre, onde era ecônomo e professor de matemática e música. Aqui se deparou com seu confessor, de ideias jansenistas[3], que por longo tempo lhe negou a absolvição, criando-lhe dificuldades e sofrimentos espirituais.

Foi ordenado sacerdote aos 17 de dezembro de 1825, tornando-se também professor de filosofia. Foi suspeito de ser sequaz do celebre sacerdote filosofo, político e escritor Hughes Félicité Robert de Lamennais, co-idealizador, com seu irmão João, do Ultramontanismo. Lamennais era adepto da ideia de um Catolicismo democrático para reaproximar a Igreja à sociedade moderna. O Papa Gregório XVI, em 1832, desautorizou as opiniões de Lamennais na Encíclica "Mirari vos". Não houve uma citação específica a ele e nem a seu jornal, mas tão somente uma censura implícita a ambos. Por causa desses fatos, Cestac teve que se defender e afirmar a sua fidelidade a Roma.  


Em 1831, o Bispo de Bayonne, Mons. Etienne-Bruno-Marie d'Arbou, dispensou os professores do Seminário, e Cestac se tornou vigário da Catedral de Notre-Dame de Bayonne, até 1838. Naqueles anos e seguintes, começou a fundação de obras de notável importância: A Associação das Filhas de Maria, para as domésticas; a Obra da Perseverança, para as moças da alta sociedade; Os Círculos de Estudo, para os jovens; a obra dos Orfãozinhos de Maria, em 1836, chamada “Grand-Paradis” (Grande Paraíso), confiada, no ano seguinte, a sua irmã Elisa.  

Em 1838, fundou a obra das Penitentes de Maria, que alojou em uma propriedade adquirida em Chateauneuf, na cidade de Anglet, para que pudessem trabalhar ao ar livre; esta instituição tomou o nome de “Nossa Senhora do Refúgio”, em 1839. Certamente a Obra mais importante.

Em 1839, fundou a Congregação das Religiosas Servas de Maria, em Anglet, cujas bravas religiosas sofreram gravemente o peso da influência negativa do Vaticano II. A primeira superiora foi sua irmã Elisa, que tomou o nome de Irmã Maria Madalena, e permaneceu no encargo por sete anos, até sua morte em 17 de março de 1849. O instituto foi reconhecido em 6 de janeiro de 1842, obteve o pontifício decreto de louvor em 16 de maio de 1870 e a aprovação definitiva em 2 de novembro de 1911. A Congregação começou a trabalhar em missões em 1949, em Marrocos, em conjunto com os Padres do Sagrado Coração de Jesus de Bétharram (vide nota n. 2).

Por fim, aos 15 de agosto de 1846, fundou a Congregação das Solitárias de São Bernardo ou Silenciosas de Maria, chamadas também Irmãs Bernardinas, com voto de silêncio perpétuo. O instituto acolhia as “penitentes” desejosas de uma vida religiosa voltada para o trabalho na solidão e no silêncio.

Além disso, foi nomeado canônico da Catedral de Bayonne, renunciando cinco anos depois, em 1855, para cuidar melhor de suas Obras. Sua atividade se estendeu também à organização de escolas paroquiais (ao todo foram 55), com métodos pedagógicos: compôs um Silabário e um método para aprender a ortografia. Em 1854-56, enviou a Madrid algumas irmãs para dirigir um hospital e um pensionato para moças.

Em 1860, já havia 900 Servas de Maria, 160 Penitentes, cerca de 40 Solitárias, cerca de 60 órfãs. Por causa de suas obras, o imperador da França, Napoleão III, lhe concedeu, em 4 de outubro de 1865, a medalha da Legião de Honra, máxima honraria francesas.

Conta-se que a Imperatriz Eugênia de Montijo, esposa (30/01/1853) de Napoleão III, última rainha dos franceses, foi rezar na capela de Saint Bernard, em Anglet, para pedir um filho, e o Padre Cestac lhe assegurou, publicamente, que sua prece seria atendida. De fato, em 16 de março de 1856, nasce o único filho, o príncipe imperial Napoleão Eugênio Luís.

Túmulo da Imperatriz Eugênia da França na cripta da
Abadia beneditina de São Miguel,
em Farnborough, Hampshire, Inglaterra.

 
O Beato Padre Cestac propagou a Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças; celebrou com solenidade o Dogma da Imaculada Conceição, proclamado pelo Papa Pio IX, através de Bula Ineffabilis Deus, em 8/12/1854; seguiu atentamente os acontecimentos que envolviam o mesmo Papa Pio IX (tomada de Roma). Escreveu “Notas Íntimas”, com detalhes de suas fundações e notas biográficas. Sua vida se concretizou no cumprimento de seus deveres e no amor pelo próximo, devotado com imensa generosidade.

Padre Cestac morreu em odor de santidade em 27 de março de 1868, e está sepultado em Anglet. A causa de sua beatificação foi introduzida em 7 de abril de 1908, tendo a anuência do Papa São Pio X, que assinou o decreto, conferindo-lhe o título de Servo de Deus.  


Decreto para a causa da beatificação e canonização


Os relativos processos apostólicos foram levados a Roma aos 15 de março de 1916, reinante o Papa Pio XII.   

ACTA APOSTOLICAE SEDIS, COMMENTARIUM OFFICIALE, ANNUS XXXVII – SERIES II – VOL. XII, p. 59.

Terça-feira, 13 de fevereiro de 1915, no Palácio Apostólico Vaticano, se reuniu a S. Congregação dos Ritos (preparatória), na qual os Eminentes e Reverendíssimos Senhores Cardeais, os Reverendíssimos Prelados Oficiais e os Reverendíssimos Consultores teólogos discutiram sobre a heroicidade das virtudes do Venerável Servo de Deus Ludovico-Eduardo Cestac, sacerdote secular e fundador do Instituto das Servas de Maria. PDF.

* * *

Só para registro: Há uma outra versão na web, dando conta de que a oração teria sido dada, um ano antes, em 13 de janeiro de 1863, a uma freira que dialogava frequentemente com a Virgem, e que o Padre Cestac seria responsável apenas pela sua divulgação e que precisou intervir no episódio das máquinas impressoras que quebravam. Contudo, além de não indicarem o nome da freira, nem de onde ela era ou qualquer outro detalhe, apenas alguns sites reportavam isso, e, na maioria, reproduziam o mesmo texto, inclusive com os mesmos erros de digitação. Em meu modesto parecer, não me parece crível.     
  






A ORAÇÃO


Esta oração foi recomendada pelo Papa Pio IX, e enriquecida com indulgências pelo Papa Leão XIII e pelo Papa São Pio X, o qual lhe deu 500 (ou 300?) dias de indulgência, com decreto da Sagrada Congregação das Indulgências, de 8 de julho de 1908, e da Sagrada Penitenciária, de 28 de março de 1935. É um exorcismo diário para uso dos leigos, enquanto o de Leão XIII é usado para os casos mais graves e excepcionais.

O texto original da oração, de inspiração privada, foi ditado por Nossa Senhora ao Padre Louis-Édouard Cestac em 13 de janeiro de 1864, quando teve uma visão da destruição indescritível causada pelos demônios na Terra, e Nossa Senhora lhe apareceu dizendo-lhe que os demônios andavam à solta por toda a Terra e que era chegada a hora de recorrer à Sua valiosa proteção, como Rainha dos Anjos, rogando-Lhe que enviasse as Santas Legiões Angélicas para combaterem e desbaratarem as potências infernais.

- Vi a Santíssima Virgem - narra o Padre - que me disse que, efetivamente, os demônios andavam pelo mundo e que havia chegado a hora de Lhe rogar, como Rainha dos Anjos, pedindo-Lhe as Santas Legiões para combater e esmagar os poderes infernais.
- Minha Mãe, sendo Vós tão bondosa, não poderíeis ordenar sem que vo-lo peçam?
- Não - respondeu a Santíssima Virgem - pois a oração é uma condição imposta pelo próprio Deus para alcançar as graças.[4]
- Pois bem, minha Mãe, nesse caso, dignar-Vos-íeis ensinar-me como se deve rezar? 


Foi então que recebeu da Santíssima Virgem a oração “Augusta Rainha”.

Diante da grande batalha espiritual que combatemos, Deus quis prover por nós. Mas devemos rezar se desejamos a Sua ajuda.

O Padre Cestac foi o depositário desta oração, que apresentou, primeiro, ao Bispo de Bayonne, Monsenhor François Lacroix (12/02/1838 a 6/07/1878), que lhe deu a sua aprovação. Imediatamente, mandou imprimir meio milhão de exemplares, que distribuiu gratuitamente por toda parte. Não é demais lembrar que, durante a primeira impressão, as maquinas quebraram duas vezes.

A oração à Rainha dos Anjos se espalhou rapidamente e foi aprovada por muitos Bispos e Arcebispos.

Vinte e seis anos depois, o Papa Leão XIII compôs um exorcismo com o mesmo objetivo. O relato a respeito disso, pode ser lido aqui. Fato é que o papa determinou que, em todas as Missas, logo depois de terminadas, os padres rezassem a oração de exorcismo. É fato, também, que, após o concílio Vaticano II, com a imposição do “Novus Ordo” de Bugnini, autorizado por Paulo VI, esta oração foi retirada. Mas a Igreja de sempre continua a rezá-la na Missa Tridentina.


Oração à Rainha dos Anjos


Augusta Rainha do Céu, soberana Senhora dos Anjos, Vós que, desde o princípio, recebeste de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, humildemente, Vos rogamos, enviai as Vossas Santas legiões para que, sob Vossas ordens e por Vosso poder, persigam os espíritos malignos, os combatam por toda parte, reprimam sua audácia e os lancem ao abismo.

Quem é como Deus?

Ó boa e terna Mãe, sereis para sempre nosso amor e nossa esperança.

Ó Mãe de Deus, enviai os Vossos santos Anjos para nos defender e levar para longe de nós o cruel inimigo.

Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos e guardai-nos. Amém.

_______
Notas 
1 - Não sei o porque, mas o Padre Cestac é chamado também de Ludovico-Eduardo Cestac. Só para registro: Ele foi beatificado em 13/11/1976, por Paulo VI. Francisco publicou o decreto de reconhecimento de milagre que permitirá a beatificação em outubro de 2015. O verbete no Martirologio Romano conciliar: "Em Anglet, França, beato Louis-Édouard Cestac, sacerdote diocesano, fundador do Instituto das Servas de María de Anglet. († 1868)". 
2 - São Michele Garicoïts fundou a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus de Bétharram – próximo à cidade de Lourdes. Padre Garicoïts conhecia a família Soubirous e, depois de uma longa conversa com Bernadete, em 1858, se convenceu da veracidade da Aparição e foi um dos primeiros apoiadores do Santuário de Lourdes.
3 - O Jansenismo, já condenado pelo Papa Inocêncio X, seguia o pensamento de que, por causa da profunda corrupção humana depois do pecado original, havia absoluta necessidade da Graça para a salvação, a qual seria concedida apenas a poucos por imperscrutáveis desígnios de Deus. 
4 - Pedi e vos será dado (Mateus 7,7),

Tradução, edição, organização, notas e links: Giulia d'Amore. 
Fontes de pesquisa: 
  1. Sobre a oração. Em Inglês.
  2. Sobre a oração. Em italiano.
  3. Sobre a oração. Em Espanhol.
  4. Sobre a oração. Em Espanhol.
  5. Beato Luis Eduardo Cestac. Em Espanhol. Biografia mais completa.
  6. Beato Luis Eduardo Cestac. Em Francês.
  7. Beato Luis Eduardo Cestac. Em Espanhol.
  8. Beato Luis Eduardo Cestac. Em italiano.
  9. El Padre Luis Eduardo Cestac fundador de “Nuestra Señora del Refugio” : apuntes biográficos, sus obras, su beatificación. Editora San Sebastian, 1909. Impressão e encadernação J. Baroja e filhos. Em Espanhol.
  10. La Voix des Francs Catholiques, n. 26, outubro 2012, pp. 2, 7 e 8. PDF.
  11. A irmã, Elisa. Em Francês. 
  12. A Congregação das Servas de Maria. Em Italiano.
  13. Sobre São Michel Garicoïts. Em Italiano.
  14. Sobre a Imperatriz Eugênia. Em Português. 
  15. Uma anotação interessante na página do Detran de Pernambuco sobre o dia da Padroeira de Petrolina: Detran-PE.
  16. Catedral de Notre Dame du Refuge. Em Francês. 
  17. Hughes Félicité Robert de Lamennais. Em Português.  
  
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