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terça-feira, 12 de agosto de 2014

12 de agosto - Santa Clara de Assis, Virgem

12 de agosto 

Santa Clara de Assis

Virgem 

Fundadora da Congregação das Irmãs Clarissas

Sob a regra e direção de São Francisco de Assis 


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Santa Clara, nasceu em Assis, na Itália, filha de pais ricos e piedosos. O nome de Clara foi-lhe dado em virtude de uma voz misteriosa que a mãe Hortulana ouviu, quando, antes de dar à luz a filha, fazia fervorosas orações diante de um crucifixo. “Nada temas! – disse aquela voz – o fruto de teu ventre será um grande lume, que iluminará o mundo todo”.

Desde pequena, Clara era em tudo bem diferente das companheiras. Quando meninas dessa idade costumam achar agrado nos brinquedos e bem cedo revelam também qualidades pouco apreciáveis, Clara fazia exceção à regra. O seu prazer era rezar, fazer caridade e penitência. Aborrecia a vaidade e as exibições e tinha aversão declarada aos divertimentos profanos.

Vivia naquele tempo o grande Patriarca de Assis, São Francisco. A este se dirigiu Santa Clara, comunicando-lhe o grande desejo que tinha de abandonar o mundo, fazer o voto de castidade e levar uma vida da mais perfeita pobreza. São Francisco reconheceu em Clara uma eleita de Deus e animou-a a persistir nas piedosas aspirações. Depois de ter examinado e sujeitado a duras provas o espírito da jovem, aconselhou-lhe abandonar a casa paterna e tomar o hábito de religiosa.


Foi num Domingo de Ramos que Clara executou este plano, dirigindo-se à Igreja de Porciúncula, onde São Francisco lhe cortou os cabelos e lhe deu o hábito de penitência. Clara tinha apenas 18 anos quando disse adeus ao mundo e entrou para o convento das Beneditinas de Assis.

O procedimento estranho de Clara provocou os mais veementes protestos dos pais e parentes, que tudo tentaram para tirar a jovem do convento. Clara opôs-lhes firme resistência. Indo à igreja, segurou-se ao altar e com a outra mão mostrou aos pais a cabeleira cortada e disse-lhes: “Deveis saber que não quero outro esposo, senão a Jesus Cristo. A Este escolhi e não mais o deixarei”.

Clara tinha uma irmã mais moça, de quatorze anos, de nome Inês. Esta, não suportando a separação e animada por Clara, poucos dias depois, abandonou também a casa e entrou para o convento onde Clara estava. Com este gesto não se conformaram os parentes, que foram ao convento no intuito de obrigar a jovem a voltar ou trazê-la à viva força para casa, fosse qual fosse a resistência que encontrariam.

A resistência realmente foi tão resoluta da parte de Inês que tiveram de desistir das suas tentativas. Também a ela São Francisco deu o hábito religioso. A estada das irmãs no convento das Beneditinas podia ser apenas provisória. Francisco devia, pois, tomar providências para colocá-la em outra local.

Adquiriu a Igreja de São Damião e uma casa contígua para as novas religiosas, às quais logo se associaram a outras companheiras. Sob a direção de Clara, formaram estas a primeira comunidade que, desenvolvendo-se cada vez mais, tomou a forma de nova Ordem religiosa. Esta Ordem, de origem tão humilde, tornou-se celebérrima na Igreja Católica, a quem deu muitas santas e muito trabalhou pelo engrandecimento do Reino de Cristo sobre a Terra.

Obedecendo à ordem de São Francisco, Clara aceitou o cargo de superiora e o exerceu durante quarenta e dois anos. Deu à Ordem regras severas sobre a observância da pobreza. Uma oferta de bens imóveis, feita pelo Papa, foi respeitosamente recusada por Clara. Não só na observância da pobreza, como também na prática de outras virtudes, Clara era modelo exemplaríssimo para as suas filhas espirituais. Grande lhe foi a satisfação quando da própria mãe e de outras parentas recebeu o pedido de admissão na Ordem. Além destas, entraram na nova Ordem das Clarissas três fidalgas da casa Ubaldini, que julgaram maior honra associar-se à pobreza de Clara do que viver no meio dos prazeres dum mundo enganador.

Na prática da penitência e da mortificação, Clara era de tanto rigor que seu exemplo podia servir mais de admiração do que de imitação. O próprio São Francisco aconselhou-lhe que usasse de moderação, porque do modo de que vivia e martirizava o corpo, era de recear que não pudesse ter longa vida.

Severíssima para consigo, era inexcedível na caridade para com o próximo. Seu maior prazer era servir aos enfermos. Uma das virtudes que se lhe observava era o grande amor ao Santíssimo Sacramento. Passava horas inteiras do dia e da noite nos degraus do altar. O SS. Sacramento era seu refúgio, em todos os perigos e dificuldades.

Aconteceu que a cidade de Assis fosse assediada pelos Sarracenos que, a serviço do Imperador Frederico II, inquietavam a Itália. Os guerreiros tinham já galgado o muro, justamente onde estava o convento das Clarissas. A superiora, enferma, guardava o leito. Tendo notícia da invasão dos bárbaros no convento, Clara levantou-se e, ajudada pelas filhas, dirigiu-se ao altar do SS. Sacramento, tomou nas mãos o ostensório com a Sagrada Hóstia e assim, munida de Nosso Senhor, dirigiu-lhe o seguinte apelo em voz alta: “Quereis, Senhor, entregar aos infiéis estas vossas servas indefesas que nutris com Vosso amor? Vinde em socorro de vossas servas, pois não as posso proteger.” Ditas estas palavras, ouviu-se distintamente uma voz dizer: “Serei vossa proteção hoje e sempre”.

Os fatos provaram que não se tratava de coisa imaginária. Apoderou-se dos Sarracenos um pânico inexplicável; grande parte deles fugiu às pressas; alguns, que já haviam galgado o cimo do muro, caíram para trás. Foi visivelmente a devoção de Santa Clara ao SS. Sacramento que salvara o convento e a cidade do assalto do inimigo.

Outros muitos milagres fez Deus por intermédio de sua serva, que a estreiteza de espaço não nos permite narrar.

Clara contava sessenta anos, dos quais passara 28 anos sofrendo grandes enfermidades. Por maiores que lhe fossem as dores, nenhuma queixa lhe saía da boca. Na meditação da Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor achava o maior alívio.

“Como passa bem depressa a noite, dizia, ocupando-me com a Paixão de Nosso Senhor”.

Em outra ocasião, disse: “Homem haverá que se queixe, vendo a Jesus derramar todo o seu sangue na Cruz?”.

Sentindo a proximidade da morte, recebeu os Santos Sacramentos e teve a satisfação de receber a visita do Papa Inocêncio IV, que lhe concedeu uma indulgência plenária.

Quase agonizante, disse ainda estas palavras: “ Nada temas, minha alma; tens boa companhia na tua passagem para a eternidade. Vai em paz, porque Aquele que te criou, te santificou e te guardou como a mãe ao filho, e te amou com grande ternura. Vós, porém, meu Senhor e meu Criador, sede louvado e bendito”.

Nesta visão lhe apareceram muitas virgens, entre as quais uma de extraordinária beleza, que lhe vieram ao encontro para levá-la ao Céu. Santa Clara morreu em 12 de agosto de 1253, mais em consequência do amor divino, do que da doença que a martirizava.

Foi em atenção aos grandes e numerosos milagres que se lhe observaram no túmulo, que o Papa Alexandre IX, dois anos depois, a canonizou.
   

Fonte: http://www.paginaoriente.com/santos/crsca1108.htm



Da Carta a Santa Inês de Praga, de Santa Clara, virgem


Contempla a pobreza, a humildade e a caridade de Cristo

Feliz a quem foi dado participar do sagrado convívio, de forma a aderir com todas as veras do coração Àquele cuja beleza as santas multidões dos céus admiram sem cessar. Sua ternura comove; sua contemplação fortalece; sua benignidade cumula, sua suavidade satisfaz, sua lembrança ilumina docemente, seu odor revitaliza os mortos, e a sua gloriosa visão encherá de gozo os habitantes da Jerusalém do alto. Ele é o esplendor da eterna glória, fulgor da luz eterna, espelho sem defeito (Sb 7,26). Olha todos os dias neste espelho, ó rainha, Esposa de Jesus Cristo, e contempla sempre nEle a tua face. Assim te adornarás toda inteira, por dentro e por fora, coberta envolta de brocados, enfeitada com as vestes e as flores de todas as virtudes, como convém à filha e esposa castíssima do sumo Rei. Neste espelho refulgem a ditosa pobreza, a santa humildade e a indizível caridade, como poderás contemplar, pela graça de Deus, no espelho todo.

Quero dizer: vê no começo do espelho a pobreza daquele que foi posto no presépio, envolto em faixas. Ó admirável humildade, ó estupenda pobreza! O rei dos anjos, o Senhor do céu e da terra é deitado numa manjedoura! No centro do espelho, considera a humildade, quando não a ditosa pobreza, os inúmeros sofrimentos e penas que suportou pela redenção do Gênero Humano. No fim desse espelho, contempla a indizível caridade que O levou a sofrer no lenho da Cruz e nele morrer a mais ignominiosa das mortes. Este espelho, posto no lenho da Cruz, aos que passavam para ver estas coisas, advertia: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor igual à minha dor (Lm 1,12). Respondamos, então, numa só voz, num só espírito ao que clama e se queixa: Lembro-me intensamente e dentro de mim meu coração definha (Lm 3,20).

Assim te inflamarás cada vez mais fortemente com este ardor de caridade, ó Rainha do Rei celeste.

Contemplando, depois, suas inexprimíveis delícias, riquezas e honras perpétuas, suspirando pela veemência do desejo do coração e do amor, exclames: Atrai-me, e correremos atrás de ti ao odor de teus perfumes (Ct 1,3 Vulg.), ó esposo celeste. Correrei sem parar, até que me introduzas em tua adega, teu braço esquerdo ampare minha cabeça e tua direita me abrace feliz e que me beijes com teu ósculo de suprema felicidade (cf. Ct 2,4.6). Entregue a esta contemplação, não te esqueças desta pobrezinha, tua mãe, pois sabes estar indelevelmente gravada tua suave lembrança nas tábuas de meu coração, e que para mim és a mais querida de todas.

(Edit. I. Omaechevaria, Escritos de Santa Clara, Madrid 1970, pp. 339-341) (Séc.XIII)

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