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sábado, 22 de fevereiro de 2014

“Combater a serpente, eis a missão da mulher!”

Imaculada Conceição com Jesus e Deus Pai
de Francesco Vanni - 1588
O elevadíssimo conceito, que da mulher nos inculca o Cristianismo, podemos entrever desde os primeiros capítulos da Bíblia, nesse estupendo Livro do Gênesis, assim chamado, como sabeis, porque nele se contém a gênese ou origem do mundo e de todos os seres.

Pasmosa é a superficialidade satisfeita, com que olham para esse e outros livros santos, alguns espíritos contagiados pela escola de Voltaire, onde o cânone fundamental da exegese consistia em lançar, sobre tão sagradas cartas, o descrédito e o ridículo. Não leem, não estudam, não meditam, e por isso desprezam e blasfemam. Os maiores sábios, ao contrário, aí se lhes depararam as mais supremas e castas delícias. Nesses estudos consumiram o viço da juventude e neles se lhes cobriram de cãs as frontes venerandas. Já não podiam viver sem essas lucubrações profundas, por onde sentiam reverberarem clarões de eternidade e do infinito. E, deveras, se depois de folhear alguns dos primores das letras profanas, abrimos essas páginas veneráveis, experimentamos a mesma impressão que nos empolga, quando, depois de contemplar um monumento da arte humana, por grandioso que seja, repousamos a vista e o pensamento na majestade dos montes ou na imensidade dos mares.

Pois nesse livro divino, e com a simplicidade adorável dum Deus falando a linguagem dos homens, é que se nos revela a história da criação do primeiro homem e da primeira mulher, com a tremenda catástrofe da queda original e do paraíso perdido. Bem conheceis tudo isso, e quero apenas pedir a vossa atenção para algumas circunstâncias que, em geral, por minúsculas e rápidas, passam despercebidas, e nas quais, entretanto, vejo prefigurada, de alguma forma, a grandeza primitiva da mulher e dos seus destinos.



Aí se nos diz que a mulher foi a última obra, que saiu das mãos de Deus. Diz-se-nos mais, que o homem foi formado do limo da terra, mas a mulher, não; Eva foi tirada do corpo de Adão, adormecido como num profundo êxtase. Assim é que também ela, por certo, vem do pó, mas indiretamente, através dos ossos e da carne do homem, mais do que este, portanto, distanciada e desapegada da terra. Não vedes nisso, não sei que predestinação da mulher a ser menos terra e menos material do que o homem? Não descobris aí, desde logo, a sua vocação a uma espiritualidade maior, que há de ser todo o segredo da sua beleza e da sua glória?

Ouvi agora o que nos ensinam os santos doutores, comentando lindamente tão singelos versículos. A primeira mulher, dizem eles, foi extraída do corpo de Adão, mas não dos pés, nem da cabeça, senão de junto do coração. E por quê? Para indicar-nos que a mulher não é uma escrava do homem, posta a seus pés, nem tampouco sua senhora pela autoridade da razão, que reside no cérebro, mas só pela autoridade do amor, que tem por sede ou símbolo o coração. Tão grande, porém, é esta força e ascendência do coração, que o mais astuto dos animais, a infernal serpente, dela se valeu, como sabeis, recorrendo, desde logo, à mediação de Eva, para abater a santidade do caráter de Adão, o qual desobedece a Deus, para satisfazer à sua esposa. Experiência foi essa tristíssima e fatal, mas bem prova que a mulher não precisa de outros poderes, para firmar no mundo o império da sua fraqueza.

Onde, porém, o futuro da mulher, através dos séculos, refulge com os esplendores dum íris avassalando os céus, é na sentença que, aí mesmo, fulmina o Eterno contra o príncipe do mal, transfigurado na serpe: “Porei inimizades entre ti e a mulher… ela há de esmagar-te a cabeça!” (Gen. III, 15)

Não sei de página literária, em que a aparição da mulher sobre a terra, nos entremostre em tanta beleza, como nesses versetos de ouro, cuja simplicidade escandaliza as vaidades da crítica. As filhas de Eva não precisam buscar fora da Bíblia os pergaminhos da sua nobreza, nem o poema das suas glórias. A própria fantasia grega não se lhe avantaja, nem mesmo com a criação das suas deusas a florirem dentre a espuma dos mares, ou a surdirem, armadas de ponto em branco, do crânio de Júpiter Olímpio. São poéticas fábulas, que não vencem aqui a poesia da verdade. Esta tem a grandiosidade simples do sublime. Vede: Deus prepara todas as suas maravilhas do universo para receber a mulher, a última das suas obras-primas. E ela nasce dum sono do primeiro homem, como um sonho, uma visão, uma flor sagrada do céu, brotando-lhe das mãos de Deus. Não surge como Minerva, armada em guerreira, mas em pacífica dominadora. Deus a coroa, desde logo, com a auréola do sofrimento e da paciência: multiplicabo aerumnas tuas, da submissão e da doçura: sub viri potestate eris (Gen. III, 16). Mas ao mesmo tempo, transformando essa coroa de espinhos em rosas de triunfo, traça-lhe o mais luminoso dos fadários: ela há de ser inimiga irreconciliável da serpente do mal, cuja cabeça esmagará: inimicitias ponam… ipsa conteret! Não importa que o texto se refira propriamente à maior das mulheres: todas devem imitá-la. Resumamos, pois: combater a serpente, eis a missão da mulher; esmagar-lhe a cabeça, eis a sua vitória! Aflora ela assim, no mundo, feita aliada natural de Deus para a guerra do bem contra o mal: que grandeza! que elevação! e que glória!

Dom Aquino Corrêa

Excerto de discurso de Dom Francisco de Aquino Corrêa, servindo de paraninfo a Professoras diplomadas pela Escola Normal Dom Bosco, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, aos 9 de dezembro de 1934. Discursos, vol. II, tomo II. Elevação da mulher. pp. 133-135. Brasília, 1985. O tema do texto é a elevação da mulher.


Visto em: http://beinbetter.wordpress.com/2012/12/28/dom-aquino-de-fibra-combater-a-serpente-eis-a-missao-da-mulher


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