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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Conversas sobre batina: À Minha Veste Negra.

Padre Ernesto Cardozo e Monsenhor Marcel Lefebvre - 1988
Uma homenagem aos heróis de batina, os mártires da Fé de hoje, que "insistem" em vergar essa veste santa e santificante, sem se preocupar com o clima, o falatório e principalmente a "opinião alheia", essa presença onipresente na internet e no mundo real. 
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Infelizmente, a vemos vestida nos "padres modernistas" apenas em eventos sociais, muitas vezes em ocasiões nada edificantes. O mundo a usa para atacar a Igreja sempre que pode! Falam de pedofilia? Publicam a notícia junto com a foto de um padre de batina, mesmo que tal padre não seja o sujeito da notícia. Querem debochar das instituições cristãs? Põe um padre de batina para fazer papel de tolo em uma propaganda de bebida ou de sapato, que seja! 
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Mons. Olgiati morreu e não deve saber que hoje a Igreja não "obriga" nenhum padre a usar a batina. Aquela dispensa "em casos particulares" se tornou regra e rotina. É quase um pecado usá-la. Que o digam os seminaristas que volta e meia confidenciam na internet que foram desencorajados a usá-la nos próprios Seminários que deveriam ensinar a amá-la! E que o digam os padres que deixam de usá-la para "obedecer" a ordens superiores. Deve ser um símbolo fortíssimo, para ser tão odiado pelo mundo, e até mesmo por aqueles que deveriam sentir orgulho por vergá-la! 
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Enfim, cada um sabe de si. Eu sei desses heroicos Sacerdotes que a vestem e a honram, todos os dias. A eles, este texto, que é também minha pessoal homenagem: 
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À Minha Veste Negra

(Mons. Francesco Olgiati, 1959)

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Mons. Olgiati
Ó cara veste negra,

Há algumas semanas, todo mundo está falando de ti. No livro sobre as atividades da Santa Sé, em 1958, foi dito: “atendendo às várias solicitações recebidas acerca da batina, foi iniciada uma ampla pesquisa sobre a questão da forma do hábito eclesiástico, e foi concedido aos ordinários diocesanos (ou seja, os Bispos) certo poder de dispensa, em casos particulares, mantendo-se a regra de sempre usar a batina no exercício do poder de ordem e jurisdição”.

Estas poucas linhas deram origem a muita discussão, até mesmo na nossa imprensa. E as fantasias galoparam.

Alguns apelaram para a história, do século V ao Concílio de Latrão IV (213) e de Viena (1312), que impuseram aos eclesiásticos um hábito diferente do comum; de Sisto V a Pio IX.
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Outros recorreram à moda dos países alemães e anglo-saxões, que concedem aos Sacerdotes o hábito assim chamado à “clergyman”, mesmo impondo a “batina” nas funções sacerdotais, conforme exigido pelo Código de Direito Canônico.

Outros evocaram os tempos da Revolução Francesa, quando até mesmo nos Países latinos - como hoje nas terras comunistas - o clero, por causa da perseguição, não se distinguia em nada, por suas vestimentas, dos leigos.
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Outros, enfim, observaram que “a batina, além de ser fastienta no verão e sempre incômoda, torna-se um ridículo entrave e também um perigo real quando, justamente por razões de seu ministério, o sacerdote deve usar a bicicleta e a moto”, meios que se tornaram definitivamente indispensáveis para quem está no cuidado das almas. Nem se deve omitir, acrescentaram, “a tendência do clero não de se isolar em uma torre de marfim, mas de se aproximar, tanto quanto possível, à vida do povo cristão confiado aos seus cuidados, para dividir os sofrimentos e adversidades”.

Cara minha veste negra, mesmo sabendo que não se trata de uma questão substancial, mas de uma matéria disciplinar de competência exclusiva da autoridade eclesiástica, eu não pude deixar de te olhar e de te meditar.

Estou velho e te quero bem.

Tu me perdoarás se eu não estou interessado nos argumentos mencionados. Não vou discuti-los. Só quero te dizer umas palavras. Visto-te há tantas décadas. Quando eu era uma criança, e antes da idade de onze anos, entrei para o Seminário, era costume vestir-te desde o primeiro ginásio e continuar te vestindo até mesmo nas férias. Te lembras, minha cara veste negra, do dia de minha vestição? Preparou-te a minha santa mãe, pobre e inexperiente, auxiliada por uma velha esforçada costureira. Assistiu [minha mãe] ao rito e chorou quando o velho Pároco me revestiu e aspergiu. Com a bênção do Pároco e as lágrimas maternas sai da igreja. Como eu era feliz, ó minha querida veste negra! Poderia eu conceber um tesouro maior e mais valioso de ti? O foste [um tesouro] sempre durante os meus 12 anos de Seminário e, depois, por toda a minha vida.

No Seminário, imediatamente me ensinaram a beijar-te ao despir-me à noite para ir descansar. Quantos beijos, e de quanto ardor!

Ó veste negra de minha primeira Missa e de tantas Missas celebradas e de tantas ações sacerdotais realizadas! Ó veste negra, que ao lado do leito dos moribundos tinhas um significado e uma linguagem singular! Ó veste negra que nunca me obrigaste a me isolar em uma torre de marfim, mesmo me lembrando em todas as ocasiões o meu Sacerdócio, inclusive no calor de disputas acirradas e nas batalhas pela defesa da verdade, em congressos, em associações, nas escolas!
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Tu conheceste, talvez, sobretudo em alguns tempos, o insulto vilão do vândalo; mas quanto naqueles momentos eu tive orgulho de ti e te amei!

Sempre te considerei como uma bandeira... bandeira negra, sim. Símbolo de morte. Mas não podia me envergonhar, porque tu simbolizavas o Crucifixo, o qual, precisamente porque tal, é ressurreição e vida.

Agora que estou no entardecer de minha vida, ouvindo falar de ti, eu percebo sempre mais e melhor que te amo muito.

Eu não sei te modificarão, se te substituirão, se te mudarão. Terão suas razões. De fato, se estourasse uma perseguição, te arrancariam de mim. Não importa. Mesmo neste caso, tu estarias em meu coração. E lá permanecerás para sempre.

Quando, em breve, fecharei meus olhos, quero que tu desças comigo para o túmulo. Revestido de ti, envolto em tuas pregas, dormirei mais tranquilo o sono da morte. Nunca mais poderei dar-te o beijo de minha afeição. Meu coração nunca mais vai bater. Mas se alguém pudesse ler em suas fibras mais profundas, encontraria esculpida uma palavra de amor e de orgulho por ti, ó cara e diletíssima veste negra...

Maio de 1959

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Visto em: http://www.missagregoriana.it/?p=1497.

Tradução: Giulia d'Amore.

ALGUMAS IMAGENS AUTOEXPLICATIVAS


Padre Giuseppe Sarto - futuro Papa São Pio X
andando tranquilamente a cavalo
 .
ROLANDO RIVI
Crime: recusar-se a tirar a batina
clique para ler
 .

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Biografia de Mons. Francesco Olgiati: 

Francesco Olgiati (Busto Arsizio, 1º de janeiro de 1886 – Milão, 21 de maio de 1962) foi um religioso italiano. Foi ordenado sacerdote, em 13 de junho de 1908, pelo Cardeal Andrea Ferrari. Arquivista da Cúria arqui-episcopal em 1913, dez anos depois é nomeado canônico honorário do Duomo de Milão. Pio XI conferiu-lhe o título de Camareiro Secreto e Pio XII de Protonotário Apostólico. Em 1960, foi nomeado Consultor da Pontifícia Comissão dos Seminários e das Universidades dos Estudos para a preparação do Concilio Ecumênico Vaticano II. Junto com o padre Agostino Gemelli, funda a Universidade Católica do Sagrado Coração, onde, após obter a livre docência em 1924, foi professor da Faculdade de Letras e Filosofia e, a partir de 1930, professor da cátedra de História da Filosofia moderna. Em 1959, depois da morte de padre Gemelli, assumiu a presidência do Instituto Toniolo de Estudos Superiores, ente fundador da Universidade Católica. Era um filósofo neoescolástico, desde sua passagem pela Escola de Lovanio, com o qual compartilhava os pressupostos anti-positivistas, aos quais deu um novo impulso e vigor ao introduzir a categoria da historicidade, o que valei à Neoescolástica a capacidade de comparar-se às novas correntes do historicismo idealista. Contra as doutrinas de derivação kantiana que colocavam o primato da gnoseologia, Olgiati sustenta o primato da metafisica como "ciência da realidade enquanto realidade” (I fondamenti della filosofia classica, 1950). Algumas de suas obras: Il Sillabario del Cristianesimo (1924), Il Sillabario della morale cristiana (1929), Il Sillabario della Teologia (1952). Outras obras notáveis: L'anima di s. Tommaso (1923); L'anima dell'Umanesimo e del Rinascimento (1924); Il significato storico di Leibniz (1930); La riduzione del concetto filosofico del diritto al concetto di giustizia (1932); Cartesio (1933); Neoscolastica, idealismo, spiritualismo (1933; in polemica con A. Carlini); Il realismo (1937; in polemica con F. Orestano); La filosofia di Descartes (1937); Il concetto di giuridicità nella scienza moderna del diritto (1943); Il concetto di giuridicità in s. Tommaso d'Aquino (1943).

Fontes:
http://www.biografiasyvidas.com/biografia/o/olgiati.htm
http://it.wikipedia.org/wiki/Francesco_Olgiati
http://www.donatoriolgiati.org/chi_chi.asp
http://www.treccani.it/enciclopedia/francesco-olgiati/ 
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