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sábado, 29 de junho de 2013

NEO-IGREJA: A questão do brasão do Papa

PRIMO PIANO

Ele renunciou espontaneamente ao pontificado, mas agora quer continuar mantendo os símbolos

RATZINGER QUER MANTER O BRASÃO

Foi infrutífera a missão do Cardeal Montezemolo

por Marco Bertoncini

“Santo Padre, após haver renunciado ao pontificado, não pensa em mudar o brasão?”. “Obrigado, não pretendo mudá-lo”. Este é o resumo da tentativa feita pelo cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo  junto a Bento XVI para que mudasse o brasão usado de 2005 a 2013, passando a adotar um novo, relacionado com a situação (inesperada e com precedentes limitados e perdidos no tempo) de pontífice emérito. É o próprio prelado, especialista em heráldica eclesiástica, quem dá a notícia no fascículo n. 113 da revista Nobiltà, no artigo “Um novo brasão para um papa emérito”. 

O Cardeal Montezemolo havia preparado o brasão para o Papa Bento, logo após sua eleição. Daquele primeiro, assevera, o pontífice emérito deveria abandonar os símbolos “que lhe competiam apena por causa do ofício, ou da dignidade, que agora abandonou”. Portanto, sairiam as grandes chaves cruzadas [decussate, em italiano, ou seja, em forma de cruz de Santo André], símbolo da jurisdição petrina que já não exerce mais. No máximo, elas poderiam figurar no interior do novo brasão, no topo. De fato, poderia, ao contrário, permanecer a mitra, introduzida pelo próprio Bento XVI no lugar da tiara, símbolo habitual dos papas ao longo dos séculos. A mitra, de fato, simboliza a ordem episcopal: hoje, Ratzinger permanece bispo; alias, para alguns ele deveria ter assumido o título de “bispo emérito de Roma” e não de “pontífice emérito”. De acordo com Mons. Montezemolo, no entanto, reduzir-se-ia a “um simples logo”, evidentemente insuficiente para quem esteve no comando da Igreja. Sai, portanto, também a mitra.


Poderia permanecer o pálio, quisto pelo próprio Papa Bento no brasão papal, junto com o abandono da tiara. O Cardeal Montezemolo acredita que o “já Sumo Pontífice” (este é o nome que o prelado acredita que seria mais apropriado para Bento XVI) poderia retomar em seu próprio brasão o lema que usava quando era Arcebispo de Mônaco, ou seja, “Cooperadores Veritatis”. Quanto ao “chapéu” a ser inserido, ele aponta para o galero, tradicional para os cardeais, com quinze borlas: galero e borlas, no entanto, os propõe insolitamente brancos, para distingui-los das diversas cores em uso para outros prelados.

Brasão de Arcebispo de Mônaco
No final, o trabalho do perito heraldista produziu um brasão que recorda o ofício anteriormente exercido por Ratzinger apenas pelas chaves cruzadas, colocadas no topo. Quanto ao resto, o brasão foi adaptado ao novo status. Não se sabe quais brasões teriam usado Celestino V e Gregório XII, após a renúncia. Provavelmente, foi justamente por causa da falta de precedentes que o pontífice emérito tenha preferido, como reconhece Montezemolo, expressar “vivo contentamento e sincera gratidão pelo interessante estudo que lhe foi enviado”, mas fez “saber que prefere não adotar um emblema heráldico expressivo da nova situação que se veio a criar com a renúncia ao Ministério Petrino”.

Haverá, por trás da recusa do papa emérito, considerações históricas, teológicas, canônicas, e certamente também humanas: o novo brasão o faria parecer demasiadamente distante da condição ocupada anteriormente, conduzindo-o a um estado ou a um tipo de cardeal agregado, ou de um simples bispo emérito, já não mais um pontífice, mesmo que renunciatário.

Fonte: Italia Oggi.
Tradução: Giulia d'Amore di Ugento.

Ler também:

Aralda Civica
Heráldica Eclesiástica Católica
Araldica Ecclesiastica 

E também: Quem é o primeiro? , sobre o anúncio, no Annuario Pontificio dos títulos dos dois Papas. 

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