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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Sobre a RCC - Protestantismo na Igreja Católica VII

A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA

Pe. Scott Gardner, FSSPX

Fruto do Concílio Vaticano II, Semente de Destruição.



Paralelos Históricos.

Não podemos negar que extraordinárias manifestações do Espírito Santo ocorreram durante a Era Apostólica e que foram mais do que úteis para ajudar a difundir a Fé Cristã pelos quatro cantos do mundo conhecido até então. Qualquer um pode constatar isso, lendo os Atos dos Apóstolos. Tais manifestações tinham propósitos específicos: espalhar a mensagem do Evangelho a ouvintes de diferentes idiomas (ex.: São Pedro no dia de Pentecostes) ou provar a credibilidade ou santidade do pregador.

Todavia, é também inquestionável que esses fenômenos extraordinários duraram consideravelmente pouco e desapareceram logo após a Era Apostólica. A Igreja tinha então atingido uma universalidade moral e havia se estabelecido de tal maneira que essas manifestações já não eram mais nem úteis ou necessárias.

Apesar disso, de vez em quando, pipocavam ali e acolá alguns grupinhos “espiritualistas” que ganhavam notoriedade devido às suas estranhas crenças e práticas, mas que no fim acabavam por receber a condenação da Igreja. As principais entre essas seitas foram: a dos “Joaquinitas”, seguidores de Joaquim de Fiore por volta do século 12, os Fraticelli que eram alguns franciscanos cismáticos do século 13 e 14, e os Molinistas ou (Quietistas) por volta do século 17.

Joaquim de Fiore (1132-1202) foi um abade da Ordem Cisterciense especializado no estudo das Sagradas Escrituras. Todavia ele tinha uma mente muito voltada para o misticismo e passou anos dissecando as Escrituras, buscando descobrir significados escondidos nas entrelinhas das menores passagens. (Esta prática de se ler nas entrelinhas, “guiados pelo Espírito”, é a marca registrada dos carismáticos dos tempos modernos). No final de sua vida, depois de completar sua obra, Joaquim submeteu seus escritos ao julgamento de Roma.

Em seus escritos, ele expunha erros concernentes à Santíssima Trindade, embora mais tarde tenha se retratado depois que tais erros foram anatematizados pelo Quarto Concílio de Latrão. Todavia, sua ideia mística a respeito da História era o item mais problemático. Joaquim sustentava que a história do mundo tinha sido dividida em três fases distintas, cada uma correspondente a uma pessoa da S. S Trindade. Assim, a primeira fase da história da humanidade teria sido marcada pelo governo majestoso de Deus Pai, a segunda, que são os nossos tempos, pela Sabedoria do Filho e de sua Igreja, e a terceira, ainda por vir, pelo Espírito Santo num derramamento de amor universal e com o desaparecimento de todas as religiões formais em favor de um mundo governado apenas pelo espírito do Evangelho. Todo esse ensinamento foi condenado pelo Papa Alexandre IV logo após a morte de Joaquim no século 13.

A similaridade entre esse antigo ensinamento e o constante jargão Carismático sobre “uma nova era do Espírito”, é algo que dispensa comentários. Pelo contrário, mais preocupante é a fascinação do Santo Padre com a chegada do Novo Milênio. Ao falar dos preparativos para o Grande Jubileu do ano 2000, o Papa João Paulo II designou o ano de 1998 como o “Ano do Espírito”:

“A Igreja não poderia se preparar para o Novo Milênio de outro modo senão pelo Espírito Santo. O que foi conquistado pelo poder do Espírito Santo na plenitude dos tempos, apenas pelo poder do Espírito é que poderá emergir agora da memória da Igreja”.

E o Santo Padre vai ainda mais adiante:

“A tarefa primordial na preparação para o Jubileu incluirá uma renovada apreciação da presença e da atividade do Espírito Santo... [cita sinais de como isso já está ocorrendo]... maior atenção à voz do Espírito através da aceitação dos carismas e da promoção dos leigos, um compromisso mais profundo com a causa da unidade dos cristãos, e um crescente interesse pelo diálogo com outras religiões e com a cultura contemporânea”.

Essas declarações surpreendentes revelam claramente como o atual Papa associa Ecumenismo, Secularismo e Laicismo com o Novo Milênio e com a obra do Espírito Santo. A similaridade entre esse tipo de raciocínio e o pensamento de Joaquim de Fiori [aquele de que o Espírito, através de um derramamento de amor universal, unirá todas as religiões formais no espírito do Evangelho] é alarmante demais, pra não dizer o pior.

Um dos principais seguidores das ideias de Joaquim foi um grupo “espiritualista”, formado por alguns frades da Ordem Franciscana. Os descendentes diretos desse grupo formaram um século depois da morte de Joaquim, o grupo dos Fraticelli, e suas interpretações pessoais do Evangelho renderam-lhes os maiores problemas tanto dentro da Ordem Franciscana como com o Papa. No final, eles acabaram dizendo que a Igreja era corrupta e carnal, em contraste com a sua própria espiritualidade, e que eles eram os únicos verdadeiros seguidores do Evangelho. Eles acabaram sendo excomungados pelo Papa João XXII em 1318.

É interessante notar que os Carismáticos também costumam fazer essa distinção entre “Católicos plenos” e os “outros”, ao fazerem declarações como essa de uma tal Betty Nunez:

“Eu não estou dizendo que os ‘outros’ católicos não creem, mas quando você é renovado pelo Espírito, sua fé se torna viva”.

Agora, dando à Senhora Nunez todo o benefício da dúvida, tal declaração soa como um insulto a qualquer Católico não-Carismático[1], pois seria o mesmo que dizer que temos uma fé morta ao passo que os Carismáticos possuem uma fé viva. Esse tipo de declaração infeliz é muito parecida com a dos Fraticelli.

Miguel de Molinos (1628-1696) confundiu completamente o ensinamento Católico sobre a graça e a natureza. Apesar de ele acreditar que a graça supõe a natureza, ele ensinava que o único caminho para a santificação era o completo abandono da alma às ações de Deus (aqui no caso, o Espírito Santo). Novamente, isso soa como ortodoxo a princípio, ou seja, quando ouvido num contexto ortodoxo. Todavia contém um erro grave. Molinos sustentava que a alma deveria ficar completamente passiva à ação de Deus. Mas seu quarto princípio, também condenado, sustentava todos os demais: “A atividade natural é inimiga da Graça, impedindo a ação de Deus e a verdadeira perfeição, porque Deus deseja operar em nós, sem nós”. Aqui não se trata de conformarmos nosso livre-arbítrio, ou seja, nossa vontade, à Vontade Divina e sim de aniquilarmos nossa própria vontade, substituindo-a pela Vontade Divina. Como consequência disso, depois que ocorre esse “aniquilamento”, a pessoa fica isenta de qualquer responsabilidade pelos seus atos, já que ela se tornou de certa forma, um autômato.

A pergunta mais comum entre os Carismáticos costuma ser: “É Jesus Cristo o Senhor da sua vida?” Naturalmente que todo Católico deseja que Jesus Cristo seja não apenas o “Rei e Centro de todos os corações”, como também do mundo inteiro. Aliás, o Reino Social de Cristo Rei deveria ser uma de nossas bandeiras de luta. É importante, todavia, compreender a diferença entre essas duas posições. Os Católicos querem conformar sua vontade de forma que ela esteja de acordo com a Vontade Divina. As conquistas naturais são plenas de perfeição apenas quando guiadas e ordenadas para o sobrenatural. Já os Molinistas (e Carismáticos) querem aniquilar seu próprio livre-arbítrio, tornando-se vasos completamente passivos sob a ação da Vontade Divina. A seguinte passagem é um trecho típico da literatura carismática a esse respeito:

Jesus aprendeu a vontade do Pai, vivendo num relacionamento pessoal diário com Ele. Será que eu estou crescendo na prática da Presença de Deus através do meu dia-a-dia? Eu faço as coisas ou progrido de um modo compulsivo ou como resposta? Será que meu ouvido interior está treinado para ouvir, buscando ouvir o Espírito Santo e seguir sua doce moção? Seguir o Espírito é como pisar na corrente de um rio, permitindo que ela lhe dê a direção. (Patti Harrison — “Jesus Lord of my life”)

Qualquer um pode imaginar sendo esta a disposição na qual um Carismático se encontra antes de ter uma manifestação física do “espírito”. Afinal o que mais poderia proporcionar o clima ideal para que pessoas ordinárias sejam capazes de contorcer-se, saracotear, lançando-se em uma verdadeira algazarra dentro da Igreja? Uma das duas explicações parece ser o mais provável: que o sujeito realmente deseja — talvez até inconscientemente — realizar essa performance por causa da dinâmica de grupo ou histeria coletiva, ou que seu estado de relaxamento deixa-o completamente aberto e passivo a mercê de uma verdadeira manifestação do “espírito” — naturalmente que aqui não se refere ao Espírito Santo! Pois como sempre foi ensinado pela Igreja, o ato de se falar uma língua estranha que ninguém compreende é um sinal clássico de possessão diabólica.


Autor: Scott Gardner, do Seminário São Tomás de Aquino, Winona, Minnesota — EUA — Publicado pela THE ANGELUS PRESS — Março de 1998.

FONTE: http://permanencia.org.br/drupal/node/2235
  




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