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quarta-feira, 13 de março de 2013

Breve reflexão sobre o texto da declaração doutrinal de 15 de abril de 2012

LA SAPINIÈRE: BREVE REFLEXÃO SOBRE O TEXTO DA DECLARAÇÃO DOUTRINAL DE 15 DE ABRIL DE 2012

De um padre anônimo da FSSPX


Pediram-me que expressasse uma primeira impressão sobre o texto publicado, hoje, no La Sapinière e em outros bons sites de Resistência à Reintegração[1]. Espero que alguém mais qualificado do que eu tenha tempo para estudar todas as sutilezas dessa afirmação, mas alguns pontos problemáticos são facilmente individuáveis, desde já. Eis, então, conforme solicitado, algumas reflexões preliminares.

Como dizia o próprio Mons. Fellay, em maio ou junho de 2012, a reação a este texto vai depender da disposição de espírito de cada um ("óculos cor de rosa ou negros..."). Na verdade, após vários parágrafos que reafirmam o apego ao Papa e à doutrina tradicional, encontramos declarações escandalosas. Esta mistura de verdadeiro e falso recorda o procedimento dos modernistas, como denunciado na Pascendi[2] por São Pio X. Portanto, é apropriado dizer que se trata de um texto ambíguo, coisa que, em si, é uma falta grave, já que não se pode tentar reconstruir a Igreja baseando-se sobre um mal-entendido. Isto não é a honestidade, nem em relação a Roma, nem em relação à Tradição. O Concílio Geral nos mostra, na prática, que acredita que o fim justifica os meios. No mínimo, sobre eles recai uma leve desonra, visto que a Resistência se viu obrigada a publicar este texto.

Eis, então, brevemente, alguns dos pontos problemáticos, para não dizer pior.

1 - Neste texto se encontra, sem surpresa alguma, o que já se sabia há tempo, visto que revelado por Don Pfluger[3], aos 05 de junho de 2012, em Saint-Joseph-des-Carmes, [na cidade de] Carcassonne, no [departamento de] Aude, eu acho, e que é, em si, uma abominação (cf. ponto 3.4 da declaração[4]). Dizer que o Vaticano II explicita "certos elementos", contidos implicitamente na inteira Tradição da Igreja, significa colocar este concílio "pastoral" (de qualquer forma, derrotado, pirateado, pelos maçons e pelos modernistas[5]) no mesmo plano que os Concílios legais e doutrinais. Quando se reflete a respeito disso, o Vaticano II, mesmo que tenha se desenvolvido sob a presidência e a aprovação de dois Papas, parece ser mais próximo de um conciliábulo do que de um verdadeiro concílio, porque esses Papas serviram-se[6] dele de uma maneira ilegítima, ou seja, para produzir uma revolução dentro da Igreja. Por isso eu falo de conciliábulo. A primeira coisa que um Papa católico fará será declarar este Concílio como ilegítimo e como nunca acontecido, como ocorreu com vários concílios orientais no início da Igreja.
2 - A segunda falta grave nesta parte do texto está em não mencionar quais são os elementos da Tradição que teriam sido explicitados pelo Vaticano II. Trata-se da liberdade religiosa? Da colegialidade? Do "subsistit in"? Do ecumenismo? Da permissão para que as leituras da missa se fizessem em vernáculo? Da permissão para trajar o clergyman em vez do hábito?
3 - A terceira coisa que faço notar é que, ao invés de dizer que há textos errôneos, que não podem, de maneira alguma, ser interpretados bem, se diz que há modo de discuti-los para se chegar a uma boa interpretação (cf. ponto 3.5[7]). E nem se diz que o Vaticano II ensina doutrinas condenadas precedentemente pelos Papas tradicionais. Ora, isso contraria a nossa posição de sempre, segundo a qual, no Vaticano II há três tipos de documentos: os "bons", os que devem ser interpretados no sentido de Tradição e os que devem ser absolutamente corrigidos (veja-se o “Catecismo Católico da Crise na Igreja”, de Don Gaudron, n º 29).
4 - No geral, esta declaração diz que queremos permanecer fieis à Tradição, mas que estamos prontos a colocar de lado a questão doutrinal. Estamos prontos a assinar um acordo, e que, para o futuro, uma comissão de estudos se encarregará de elucidar os pontos do Vaticano II que parecem contrários à Tradição (cf. ponto 3.6[8]). Trata-se, portanto, da formulação do princípio pelo qual estaríamos prontos a assinar um acordo puramente prático, sem a prévia correção dos erros do Vaticano II.
5 - Em vez de uma declaração contra a nova Missa, enquanto atenta gravemente contra a majestade de Deus e enquanto pecado grave contra o 1 º Mandamento, nós nos contentamos em reconhecer a sua validade sob determinadas condições (cf. ponto 3.7[9]). Coloca-se debaixo do alqueire o fato de que o Novus Ordo Missae atenta diretamente contra ao maior tesouro da Igreja, a fonte sobrenatural, que é o Sacrifício do Chefe da Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo.
6 – Há, também, no texto, o reconhecimento do Direito Canônico de 1983, sob cuja autoridade estaríamos aceitando nos colocar. Mons. Lefebvre dizia que detestava este Código envenenado pelas teorias do Vaticano II. Lembremo-nos do cânon 844[10], que permite a "communicatio in sacris", a partilha dos sacramentos entre católicos e não-católicos (cf. ponto 3.8[11]).

Em conclusão, esta declaração doutrinária nos mostra o quão profundo o Conselho Geral caiu no abismo. Ela confirma a advertência do Catecismo de Don Gaudron, que nos alertava para o grave perigo de contaminação que permite a frequentação das autoridades romanas (vide as pp. 291 e 294 da edição de maio de 2008). Utinam! Quisera o Céu tivesse permitido que o Conselho Geral tivesse feito do Catecismo de Gaudron seu livro de cabeceira. Nós não estaríamos aqui!

Por um padre, anônimo, da FSSPX.

N.d.E.: é Fanjeaux, mas Saint-Joseph-des Carmelitas em Carcassonne no Aude.





[1] NdTª: “Resistência à Reintegração”. Penso que o autor – padre “anônimo” da FSSPX – não compreendeu nada sobre a Resistência. Em sendo verdade a expressão, os resistentes não passariam de insurgentes, revolucionário, desobedientes à “Roma Eterna”. A resistência não é à “reintegração à igreja da Roma atual, apóstata”, mas justamente o contrário: é a resistência à INTEGRAÇÃO à igreja Conciliar. Tal como desejado e planejado pelo Fundador. O texto começa mal.
[3] NdTª: Aqui, em francês, de onde extraio um trecho: “l’entière Tradition de la foi catholique doit être le critère et le guide de compréhension des enseignements du Concile Vatican II, lequel à son tour éclaire certains aspects de la vie et de la doctrine de l’Église, implicitement présents en elle, non encore formulés. Les affirmations du Concile Vatican II et du Magistère Pontifical postérieur relatifs à la relation entre l’Église catholique et les confessions chrétiennes non-catholiques doivent être comprises à la lumière de la Tradition entière”.
[4] NdTª: “A inteira Tradição da fé católica deve ser o critério e o guia para a compreensão dos ensinamentos do Concílio Vaticano II, o qual por sua vez esclarece – ou seja, aprofunda e explicita ulteriormente – certos aspectos da vida e da doutrina da Igreja, nela implicitamente presentes ou ainda não formulados conceitualmente”.
[5] NdTª: Este padre também está diminuindo a gravidade do Concílio? Está dizendo que os maçons e os modernistas desfiguraram o CVII? Ou seja, que ele “era bom” e “ficou mau”? Já não estaria eivado de erro desde sua concepção?
[6] NdTª: SIC! O padre anônimo realmente acha que o problema foi o mau uso do Concílio?
[7] NdTª: “As afirmações do Concílio Vaticano II e do Magistério pontifício posterior relativas à relação entre a Igreja Católica e as confissões cristãs não-católicas, e também ao dever social de religião e ao direito à liberdade religiosa, cuja formulação é dificilmente conciliável com as afirmações doutrinais precedentes do Magistério, devem ser compreendidas à luz da Tradição inteira e ininterrupta, de maneira coerente com as verdades precedentemente ensinadas pelo Magistério da Igreja, sem aceitar nenhuma interpretação dessas afirmações que possa levar a expor a doutrina católica em oposição ou em ruptura com a Tradição e com este Magistério”.
[8] NdTª.: “É por essa razão que é legítimo promover, mediante uma discussão legítima, o estudo e a explicação teológica de expressões e de formulações do Concílio Vaticano II e do Magistério subsequente, nos casos em que elas não pareçam conciliáveis com o Magistério anterior da Igreja”.
[9] NdTª.: “Nós declaramos reconhecer a validade do Sacrifício da Missa e dos Sacramentos celebrados com a intenção de fazer o que a Igreja faz em conformidade com os ritos indicados nas edições típicas do Missal Romano e dos Rituais dos Sacramentos promulgados pelos Papas Paulo VI e João Paulo II.”.
[10] NdTª: “Canon 844, §4, permite a administração do sacramento da penitência (confissão), Extrema Unção e até mesmo a Santa Eucaristia a não-católicos que manifestarem a ‘Fé Católica’ nesses sacramentos”.
[11] NdTª.: “Seguindo os critérios enunciados acima (III, 5), bem como o Cânon 21 do Código, nós prometemos respeitar a disciplina comum da Igreja e as leis eclesiásticas, especialmente aquelas que estão contidas no Código de Direito Canônico promulgado pelo Papa João Paulo II (1983) e no Código de Direito Canônico das Igrejas Orientais promulgado pelo mesmo Pontífice (1990), ficando salva a disciplina que será concedida à Fraternidade Sacerdotal São Pio X por uma lei particular”.

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