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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

FSSPX: E agora?

Operação Memória: hoje, publicamos o Editorial n. 121, do Superior do Distrito da América do Sul, vindo à luz quando do "levantamento das excomunhões", em 2009. O texto foi traduzido de uma forma lastimável, mas serve para o fim a que se destina; contudo, tive que fazer umas correções necessárias. Notas no final; grifos em vermelho, nossos.


E AGORA?


Quantas coisas foram lidas ou escritas a propósito do decreto que Roma publicou no dia 21 de janeiro passado sobre a “excomunhão” que concernia ao quatro bispos da FSSPX desde 1988! A publicação deste documento, mesmo sendo imperfeito, constitui um ato valente do Papa Bento XVI, cujas consequências convêm analisar agora, depois que a tormenta da imprensa se acalmou um pouco.

Antes de tudo, há um fato histórico: no dia 1º de julho de 1099, o então Prefeito da Congregação para os Bispos publicou um decreto de excomunhão contra Dom Lefebvre, Dom Antônio de Castro Mayer e os quatro bispos da FSSPX que tinham sido sagrados por eles, difamando suas pessoas, a própria Fraternidade e suas obras.

Certamente, como dirá Dom Fellay, Superior Geral, esta censura era nula, tanto diante de Deus como para o Direito Canônico, de modo que não temos necessidade de sermos absolvidos dela, pois não existe. No entanto, o decreto do dia 21 de janeiro de 2009 é muito bem-vindo porque, nos fatos, a Tradição estava excomungada pelo antigo decreto.

Com efeito, quantas pessoas, sem terem as luzes necessárias, tiveram medo desta sentença e não tinham coragem de passar as portas de nossas capelas e igrejas, durante mais de 20 anos! O atual decreto é lamentável no sentido de que não declarou nulo o de 1988; mas, por outra parte, é compreensível que Roma deseje guardar certa compostura e não se desdizer, dando pé para abater ainda mais a autoridade que já está posta em discussão.

Nossa alegria, no entanto, não é completa, porque nosso Fundador, Dom Lefebvre, não foi explicitamente reabilitado; assim se expressava Dom Fellay na sua carta aos fiéis do dia 24 de janeiro passado, na qual desejava esta “sua próxima reabilitação”.

O desejo que este decreto expressa de abordar a questão doutrinal, isto é, o tema de fundo que nos opõe a Roma já faz 40 anos, é uma resposta à condição apresentada por Dom Lefebvre no dia seguinte das sagrações e que ele expressava neste termos: “Se querem que voltemos a falar, neste momento serei eu que porei as condições (…) Eu situarei a questão no nível doutrinal: Estão de acordo com as grandes encíclicas de todos os papas que vos precederam? Estão de acordo com Quanta Cura de Pio IX, Immortale Dei e Libertas de Leão XIII, Pascendi de Pio X, Quas Primas de Pio XI e Humani Generis de Pio XII? Estão em plena comunhão com estes papas e suas afirmações? Aceitam o juramento anti-modernista? Estão a favor do reinado social de N Senhor Jesus Cristo? Se não aceitam a doutrina dos seus predecessores será inútil falar”
[1].

Depois de ter esperado mais de 20 anos, é o próprio Papa quem convoca para estas discussões doutrinais: “Até que as questões relativas à doutrina não sejam esclarecidas, a Fraternidade não tem nenhum estado canônico na Igreja, e seus membros, apesar de terem sido liberados da sanção eclesiástica, não exercem legitimamente nenhum ministério na Igreja”[2]. Bento XVI lembra que “Quem quiser ser obediente ao Concílio, deve aceitar a fé professada no decorrer dos séculos e não pode cortar as raízes da qual a árvore vive”[3].

Deste modo, o problema foi proposto em toda sua exatidão. O Papa ensina que existe continuidade entre os Concílios de ontem e o Vaticano II, enquanto a Fraternidade afirma que este último concílio está em evidente ruptura com a Tradição.

Dom Fellay, como digno sucessor de Dom Lefebvre, deseja que os textos conciliares sejam passados pelo crivo da Tradição: “Longe de querer deter a Tradição em 1962, desejamos considerar o Concílio Vaticano II e o ensinamento post-conciliar à luz da Tradição, que São Vicente de Lérins definiu como ‘o que foi crido sempre. Por todos e em todas partes’ (Comonitório), sem ruptura e conforme a um desenvolvimento perfeitamente homogêneo. Só assim poderemos contribuir eficazmente para a evangelização que pediu o Salvador”
[4]. Deste modo, sairão à luz todas as ambiguidades e erros de que estão cheios os textos conciliares.

Temos que estar convencidos de que o fim primeiro das discussões da Fraternidade São Pio X com Roma não é a obtenção de um estatuto canônico para ela mesma, mas sim realizar um serviço em favor da Igreja, ajudando as Autoridades eclesiásticas para que voltem à Tradição. A questão canônica, que tem sua importância, não será abordada a não ser quando tenham sido assentadas as bases desta restauração. A Fraternidade não trabalha para si mesma, mas para a Igreja!

Alguém poderia objetar o seguinte: “Por acaso não será utópico e ingênuo
[5] querer esperar esta reabilitação da Tradição na Igreja considerando quanto o Modernismo penetrou em Roma?

Raciocinar deste modo implicaria esquecer que a Igreja é divina, tanto na sua origem como na sua constituição. Podemos esperar, com efeito, que Deus recompensará a
inegável coragem que Bento XVI manifestou concedendo as duas premissas solicitadas pela FSSPX, e que lhe alcançará forças e luzes necessárias para concretizar uma restauração que parece impossível do ponto de vista humano. Quanto tempo levará isso? Só Deus sabe! Recordemos, no entanto, que, quando São Pedro tinha sido posto na prisão, “a Igreja rezava incessantemente por ele”[6] e que sua inesperada libertação encheu os seus discípulos “de assombro”,[7] precisamente porque era imprevisível.

É importante considerar também as reações furiosas dos que se opõem à Tradição como resultado da publicação do Motu Proprio que reabilita a Missa de São Pio V e o decreto sobre as excomunhões. Gerou uma indizível oposição, não só contra a Fraternidade São Pio X, mas também contra o Papado, e foi levada adiante por Episcopados inteiros, como é o caso do da Alemanha.

É claro que, quanto mais o Papa quiser
[8] afastar-se do espírito do mundo e dos seus princípios para aproximar-se da Tradição Católica, outro tanto terá que sofrer a perseguição que NSJC predisse aos seus Apóstolos, na Quinta feira Santa: “Se o mundo vos odeia, sabei que Me odiou a Mim antes que a vós”[9]. Os acontecimentos recentes põem luz sobre a profecia de Nª. Sra em Fátima: “O Papa terá muito que sofrer”. A Fraternidade conhece estas perseguições já faz 30 anos, e talvez ajude o Papa a pensar, agora que ele mesmo está no centro da tormenta.

O que acontecerá agora? Já veremos qual forma concreta tomarão estas discussões doutrinais. É evidente
[10] que a FSSPX guardará sua liberdade de palavra, a que não deixou de exercer desde sua fundação. Continuaremos defendendo a Tradição, seguiremos denunciando[11] os erros do Modernismo que corroem a Igreja no seu próprio interior e prosseguiremos trabalhando pelo restabelecimento do Reino de Cristo Rei.

Neste contexto cada um deve conservar o seu posto, convencido de que os superiores são os únicos
[12] que têm as graças de estado para guiar-nos nas inúmeras emboscadas que nos rodeiam. Saibamos que têm consciência diante de Deus dos deveres que lhes incumbem, no intuito de ajudar Roma a voltar à Tradição, graças a estas discussões doutrinais que se anunciam. Rezemos por eles, cooperemos com eles com nossos sacrifícios e renovemos nossa confiança. Deixemos de lado os rumores, e olhemos unicamente os textos oficiais publicados pela Fraternidade, em lugar de procurar comentários mais ou menos duvidosos que são publicados em Internet e noutras partes.

Acabamos de assistir à Semana Santa, na qual seguimos de perto N. Senhor na sua Paixão, Morte e sepultura até sua gloriosa Ressurreição. A Igreja, que é “Cristo continuado”, também sofre, tem seu Calvário e é crucificada pelos inimigos que a querem levar ao sepulcro. Devemos convencer-nos de que esta Paixão também chegará ao seu fim. Isso dependerá de Deus. Ele saberá acolher nossas orações e sacrifícios. Rezemos pelo Papa e pelos Superiores da FSSPX. Não convém aos católicos o desespero! Afastemos a suspeita, os rumores mortificantes, lembrando que Cristo está junto da sua Igreja e especialmente junto do seu Vigário, até o fim dos tempos, posto que rezou por ele “para que sua fé não desfaleça”
[13]. Isso é de Fé.

Que Deus os abençoe! 

Padre Christian Bouchacourt
Superior de Distrito América del Sur


[1] Dom Lefebvre, “Fideliter”, nº 66. – Do Blog: Ler trechos aqui.
[2] Carta de Bento XVI aos bispos da Igreja Católica, 10 de março de 2009. – Do Blog: Remissão da Excomunhão aos Quatro Bispos da FSSPX.
[3] Ibidem.
[4] Comunicado de Dom Fellay, 12 de março de 2009. – Do Blog: ler aqui.
[5] Do Blog: os adjetivo não são estes. Claramente, é o mesmo que querer entrar em um chiqueiro e não se sujar. Então, alguns adjetivos vem à mente rapidamente...
[6] Atos 12, 5.
[7] Ibidem, 12, 16.
[8] Do Blog: Bom, depois de Assis III, das visitas a mesquitas e sinagogas, de rezar junto com o Arcebispo de Canterbury (reconhecendo nele um Arcebispo), de colocar papeizinhos com orações no Muro das Lamentações, de se reunir com protestantes e hereges de todo tipo, de continuamente ufanear o ecumenismo como coisa boa, depois disso tudo e de todas os demais escritos, ações, manifestações etc. de BXVI que mostram claramente que ele está caminhando cada vez mais longe da Tradição e da Fé Católica, podemos concluir que ele não quer se afastar do espírito do mundo e dos seus princípios para aproximar-se da Tradição Católica... e mais adjetivos me vêm à mente!
[9] Mt, 15, 18-20.
[10] Do Blog: Well, não aprece tão evidente assim, agora.
[11] Do Blog: como será feito isso, reverendo, quando Roma exige que se aceite o CVII?
[12] Do Blog: Se os Superiores são os únicos que “têm as graças de estado para guiar-nos nas inúmeras emboscadas que nos rodeiam”, porque não confiar cegamente e obedecer cegamente ao Papa, que, me parece, é superior a qualquer Superior dentro da Igreja?
[13] Lc, 22, 32.