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terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Soberba

A soberba


I – O teu sacerdócio, filho, não admite fumos de soberba; mas sim exige humilde caridade para servir aos povos; pois estás constituído servo de quantas almas há para salvar, e servo para este fim, estipendiado pela Minha Igreja, se tens benefício.

Como é possível acolher a soberba sob a divisa de humildade, e combiná-la com um ministério que é todo humildade?

Sendo soberbo como poderás cumprir este ministério? Exercê-lo-ás só para comprazer com os homens, sem proveito deles e com dano teu; e só naqueles empregos que te parecem mais elevados.

A tua soberba não te deixará evangelizar aos meus pobrezinhos; só para com os ricos te fará afável e delicado, e até adulador. Levar-te-á a corrigir com grosseria, ou só por ostentação, os pecadores; ou antes, a deixá-los dormir nos escândalos, para não incorreres no seu desagrado, nem te expores a motejos e humilhações.

Não serás pai que dê a mão e console; mas tirano que oprima os povos. Não serás mãe que alimente e acaricie, nem ama que sustente nos braços as Minhas almas; mas fera que as afugenta e devore.

A catequese, as aldeias pobres, cárceres imundos, hospitais hediondos, enfim, tudo o que te parecer humilde e ignóbil, e que Eu tenho por glória Minha, tu o considerarás como desonroso e indigno de ti[1]. (1).

Ah, filho, quão grande é a tua cegueira, se não aprecia a Minha humildade, que é a melhor jóia do teu sacerdócio, e se convertes em fonte de soberba um ministério que só respira humildade!

II – Que vantagens poderás tirar do agradecimento, estimação e louvores do mundo? Não, filho, não é grande quem é estimado pelo mundo; mas quem é estimado por Mim.

Insensato! Sustentas-te do ar e do nada; e só por comprazer com os homens Me desgostas, a Mim, que Sou teu maior amigo! Julgas conciliar o respeito à tua pessoa com esse ar altivo nas palavras, nos vestidos, no trato e no mais que podes? Mas não vês que com isso mesmo granjeias o desprezo, sendo tido por caprichoso, por vaidoso, por ladrão e usurpador do patrimônio de Cristo dos pobres, por obstinado, soberbo e cheio de vento, por coisas vãs, mundanas e feminis, ou por coisas que te deveriam fazer corar de vergonha?[2]

Considera por um pouco os Meus humildes servos, que buscam não a sua, mas a Minha glória, e vê como são ricos de merecimentos e até estimados do mundo, que os ama e louva por sua humilde modéstia e sincera doçura[3].

III – Entra em ti mesmo, filho, e considera, não só de quantos bens te privas, mas quantos pecados cometes e a quantos te expõe, de ódio, de desobediência, de injustiça, de simonia, de imodéstia, de hipocrisia, de escândalo, etc.[4]

E como te emendarás de teus pecados, se com a tua soberba repeles quem te pode corrigir, e escarneces das repreensões?[5]

Cuidado, filho; não permita Eu, para te humilhar, que caias nas mais infames desonestidades[6]; e em seguida te deixe perder a fé, como tem sucedido a tantos outros soberbos; e por fim chegues ao apogeu da iniquidade, alardeando e jactando-te de teus crimes, excessos e libertinagem!

Oxalá que os perigos que te ameaçam, que os teus pecados te façam tremer e fugir à Minha ira!

Toma os Meus exemplos; volve os olhos ao teu ministério; toma a peito os interesses da tua alma. Pois Eu te juro que, assim como não perdoei a Lúcifer a soberba, não a perdoarei a ti. Se és soberbo, ter-Me-ás contra ti; se, pelo contrário, és humilde, e a tua humildade é verdadeira e sólida, quantas graças possuo em Meus tesouros, todas serão para ti[7].

Frutos – Conserva paz com todos, e não dês lugar à ira. A vingança pertence só a Deus. Converte o mal em bem. Conserva esta paz principalmente com os domésticos e familiares e com os outros Sacerdotes.

Ama a quem te corrige, não confiando em ti mesmo; pois quem compraz e pede conselho a si mesmo, compraz e pede conselho a um néscio.

A ninguém desprezes; despreza-te a ti mesmo, foge do luxo, e ama os ministérios mais humildes. S. Cipriano Mártir e S. Paulino de Nola, sendo tão nobres e famosos, não se envergonhavam de varrer a Igreja. S. Mela, apesar de ser Bispo, tratava da lâmpada.

Não procures os empregos mais elevados, procura a mais elevada virtude. Diz o venerável Cardeal Bellarmino que achara, em todos os tempos, muitos varões santos que fugiram e recusaram as dignidades, e só constrangidos as aceitaram: mas que não achara um só que as solicitasse ou ambicionasse.

(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte, traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910).

Fonte: Web.

[1] Spiritus Domini super me: evangelizare pauperibus misit me,... ut mederer contritis corde, ut consolarer omnes lugentes. (Luc., IV, 18; e Isai., LXI, 1.).
[2] Odibilis coram Deo est et hominibus superbia. (Eccli., X, 7.).
[3] Sapientia humiliati exaltabit caput illius, et in medio magnatorum considere illum faciet. (Ibidem., XI, 1.) – Quia omnis, qui se humiliat, exaltabitur. (Luc., XIV, 11; e XVIII,14.).
[4] ... Initium omnis peccati est superbia. Qui tenuerit illam, adimplebitur maledictis, et subvertet eum in finem. (Eccli., X, 15.) Vitiorum haec radix esse monstratur, a qua pullulant... Septem nimirum principalia vitia de hac virulenta radice proferuntur: scilicet, inanis gloria, invidia, ira, tristitia, avaritia, ventris ingluvies, luxuria, etc. (Greg., Moral, 34, 31,17.)
[5] Aperte cognoscimus, quod evidentissimum reproborum signum superbia est. (Ibidem, 34,18.)
[6] ... Evanuerunt in cogitationibus suis... dicentes se esse sapientes... Propter quod tradidit eos Deus in desideria cordis eorum, in inmunditiam, in passiones ignominae, ut contumeliis afficiant corpora sua in semetipsis. (Ad Rom., I, 21-24.) Multis saepe superbia luxuriae seminarium fuit...: ut quia superbiendo se hominibus praeferunt, luxuriando usque ad jumentorum similitundinem devolvantur. (Greg., Moral.)
[7] Omnes humilitatem invicem insinuate: quia Deus superbis resistit, humilibus autem dat gratiam. (Petrus, I, 5; e Luc., V) Tanquam suae contumeliae propulsator, veluti quoddam suscepit adversus superbiam Deus speciale certamem, tanquam dicat: meus iste adversarius est, qui me lacessit, mihi debetur usta congressi. (Ambro., In Psal. 118, 51.)