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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cegos, surdos, mudos e... arrogantes!

 

Quando um doutor erra

Muitas vezes nós nos perguntamos por que alguns sacerdotes piedosos, tradicionais, bem formados, com muito mais conhecimentos do que nós, leigos, não conseguem enxergar coisas que são tão óbvias. É certo que nós nos aplicamos nos estudos, lemos os documentos dos papas pré-conciliares, estudamos os catecismos tradicionais, obras tomistas ou mesmo tratados de teologia ou filosofia. Mas jamais poderíamos supor que tenhamos uma formação que sequer se assemelhe a de uma padre tradicional. Sem contar que eles, e não nós, possuem graça de estado para defender de maneira especial a Fé. E, no entanto, é para nosso espanto que vemos estes padres tão bem formados não conseguirem enxergar os desvios que os seus superiores estão tomando, mesmo quando estes desvios são claríssimos e enormes.
Para que eu não busque uma explicação que seja minha,  de um simples leigo, evoco aqui as palavras de um gigante na defesa da Fé católica:
Contudo, eu ponho a seguinte questão: por que Deus não impede que se ensine o que ele proíbe que se escute?Porque o Senhor vosso Deus vos põe à prova, para se tornar manifesto se O amais ou não de todo o vosso coração e de toda a vossa alma”.
Assim, pois, está mais claro que a luz do sol o motivo pelo qual de vez em quando a Providência de Deus permite mestres da Igreja que preguem novos dogmas: “Porque o Senhor vosso Deus vos põe à prova”. E certamente que é uma grande prova ver um homem tido por profeta, discípulo dos profetas, doutor e testemunho da verdade, um homem sumamente amado e respeitado, que de repente se põe a introduzir a escondidas erros perniciosos. Ainda mais quando não há possibilidade de se descobrir imediatamente esse erro, visto que toma as pessoas de surpresa, já que se tem por tal homem um juízo favorável por causa de seus ensinamentos anteriores, e se resiste a condenar ao antigo mestre ao qual nos sentimos ligados pelo afeto. (Lérins, São Vicente de; Comonitório; Editora Permanência; 2009; página 34)
Dizíamos que na Igreja de Deus o erro de um mestre é uma tentação para os fiéis; e a tentação é tanto maior quanto mais douto é quem erra. (Ibidem, página 49)
Deus não extirpa imediatamente os autores de heresias para que os que são de uma virtude provada se manifestem, isto é, para se mostrar até que ponto se é tenaz, fiel e constante no amor à fé católica.  (Ibidem, página 55)
Poderiam ser mais atuais estas palavras? Deus permite a queda de doutores para provação dos fiéis. E não qualquer tipo de queda, mas até mesmo a heresia. Se amamos a Deus, continuamos crendo o que a Sua Santa Igreja sempre ensinou, e não o que um homem inventou. Não importa o quanto um varão seja ilustre, douto, eloquente, poderoso, influente. Se ele se aparta da doutrina da Igreja, nós não o seguimos. Por mais que, no passado, ele tenha ensinado corretamente, se se desvia da verdade, já não merece mais ser crido. A regra é clara: aceita-se a doutrina que vem de Deus, rejeita-se a que foi inventada pelo homem. 
Sublinhei, no texto de São Vicente, algumas palavras pelas profundas implicações psicológicas que elas trazem. O que foi dito no meu parágrafo anterior é sumamente racional. Mas nós sabemos que muitas vezes o ser humano não se move pela razão. A nossa natureza debilitada pelo pecado original acaba por inverter os valores e antepõe as potencias inferiores da alma às superiores. Muitas vezes o ser humano não quer acreditar no que está vendo. Quando se tinha um juízo favorável sobre alguém que se conhece há muito tempo, não é fácil desfazer este juízo. Ainda mais quando se está ligado pelo afeto. Imaginem um padre que conviveu longos anos com um bispo, que talvez tenha sido ordenado por ele, de quem sempre recebeu boa doutrina e bons exemplos. É difícil para este padre acreditar que o bispo tenha se desviado do caminho. E, no entanto, este padre tem a obrigação de aderir à verdade assim que ela seja conhecida. Para seu próprio bem, para o bem dos fiéis que lhe foram confiados e até mesmo para o do superior que se desviou, ao qual filialmente o padre deve se opor, e não confirmá-lo no erro com uma obediência cega.
Se algum padre ou leigo tiver tido a bravura de contrariar a ditadura estalinista e estiver lendo este texto, por favor, reflita no que acabou de ler. Não é a opinião de um simples leigo, e sim o que o grande São Vicente de Lérins já havia observado: a queda de um doutor é motivo de provação para os fiéis, mas a nossa fidelidade é à doutrina da Igreja, a qual é imutável ao longo dos séculos, e não às palavras de uma homem, que podem mudar em alguns poucos anos. Não sobreponham  sentimentos à objetividade da defesa da Fé. Não fechem os olhos: a análise objetiva das palavras de Dom Fellay e de seus assistentes diretos demonstra clara e inegavelmente que eles se apartaram daquilo que a FSSPX sempre defendeu. Pois, agora, ou eles acusam os outros bispos de enxergarem “super-heresias” no Vaticano II, ou dizem que “muitos dos erros que nós atribuíamos ao concílio, na realidade não são do concílio, mas sim do seu entendimento comum”, ou ainda que a “liberdade religiosa da Dignitatis Humanae é muito, muito limitada”, ou até mesmo que “rechaçar a oferta [de acordo prático] de Bento XVI é cair no sedevacantismo”. Ora, quem é capaz de dizer que estas afirmações não são tipicamente neo-conservadoras? E, no entanto, saíram da boca de Dom Fellay e do Pe. Niklaus Pfluger, seu primeiro assistente. Diante de tão grandes evidências, ninguém pode negar a mudança de rumo que eles querem imprimir à FSSPX. Não temos o direito de nos fazermos de cegos, surdos e mudos, não temos o direito de negar uma verdade que se nos apresenta [grifo do Pale Ideas]. O que fez a FSSPX tão temível aos inimigos da Igreja é exatamente a sua firmeza contra os erros do Concílio em uma época em que todos os outros se curvaram ao falso conceito de obediência. E, para continuar sendo útil à Igreja, ela precisa continuar sendo intransigente com o erro, como aliás, é dever de todo católico.

do Pacientes na tribulação

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