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terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Selva - DÉCIMA INSTRUÇÃO - Sobre o amor para com Deus

 Santo Afonso Maria de Ligório
(27/09/1696 - 02/08/1787)
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas

A Selva


SEGUNDA PARTE - MATERIAIS PARA AS INSTRUÇÕES
DÉCIMA INSTRUÇÃO


Sobre o amor para com Deus


I - O padre deve ser todo de Deus

Sem amardes a Deus, diz Pedro de Blois, bem podereis dizer-vos padre, mas não o sois1. Desde o dia da sua ordenação, o padre não é mais seu, mas de Deus, diz Sto. Ambrósio2. É o que o próprio Senhor declara na antiga Lei: Oferecerão o incenso do Senhor e o pão do seu Deus, e por isso mesmo serão santos3. Assim o padre é chamado por Orígenes, “Um espírito consagradoa Deus”4. Ao pôr o pé no santuário, o padre protestou que não queria outra herança senão Deus, dizendo: Domius pars hereditatis meae. Se pois o padre tem a Deus por sua herança, ajunta Sto. Ambrósio, não deve viver senão para Deus5. Por isso disse o Apóstolo que o que se devotou ao serviço da Majestade divina, não deve ingerir-se nos negócios do mundo, mas aplicar-se por completo a fazer o beneplácito do Senhor, a quem se consagrou6.Respondendo a um jovem que o queria seguir, Jesus Cristo nem ao menos lhe permitiu que voltasse a sua casa, para dar sepultura a seu pai: Segue-me e deixa aos mortos o cuidado de enterrarem os seus mortos7. Segundo a reflexão de Sto. Ambrósio foi uma lição dada a todos os eclesiásticos: mostrava-lhes assim que também eles devem antepor os interesses da glória de Deus a todas as coisas humanas, que os possam impedir de se darem a ele por inteiro8.

Já na antiga Lei, dizia Deus aos sacerdotes que os tinha escolhido dentre todos, para que fossem dele por completo. Nesse sentido lhes declarou que não teriam entre os seculares nem bens nem patrimônio: que ele próprio era sua propriedade e herança9. Oleastro faz esta reflexão: Ó padre, grande é esse benefício, se o o compreendes: Deus quer fazer-te herança sua! Que te poderá faltar, se possuíres a Deus?10 Deve pois o padre dizer com Sto.Agostinho: Que os outros escolham entre os bens terrenos os que mais lhes aprazem, a partilha dos santos é o Senhor, que é eterno; que os outros bebam da taça dos prazeres envenenados; a fonte em que quero saciar-me é o Senhor11.

Que queremos nós amar, se não amamos a Deus? Assim fala Sto.Anselmo, dirigindo-se ao Senhor12. Fez o imperador Dioclesiano apresentar diante de Clemente de Ancira ouro, prata e pedras preciosas, para o mover a abjurar a fé; mas o santo soltou um gemido de dor, ao ver que os homens punham o seu Deus em confronto com um pouco de barro. Ter tudo sem Deus é nada ter; mas ter Deus é ter tudo, embora nenhuma coisa se tenha 13.Assim pensava com razão S. Francisco, que passou uma noite inteira a repetir estas palavras: Deus meus, et omnia! Ditoso pois o que pode dizer com Davi: Meu Deus, só a vós vejo no Céu e na terra; sois e sempre sereis o único Senhor do meu coração e o meu único tesouro14.

Por isso mesmo merece Deus ser amado, — porque é objeto digno dum amor infinito; mas nós devemos amá-lo, ao menos por motivo de reconhecimento, em razão do amor imenso que nos testemunhou no benefício da redenção.Que mais poderia fazer um Deus do que fazer-se homem e morrer por nós? Ninguém pode mostrar mais amor do que dando a vida pelos seus amigos15. Antes da redenção, podia o homem duvidar se Deus o amava com ternura; mas poderá restar-lhe alguma dúvida, depois de o ter visto numa cruz, morto por seu amor? Conforme a expressão de Moisés e Elias no Tabor 16, foi isso um excesso de amor, que nem os anjos todos poderão compreender por toda a eternidade. Quem dentre os homens, pergunta Sto. Anselmo, podia merecer que um Deus morresse por ele?17 E contudo é certo que o Filho de Deus morreu por cada um de nós. O Apóstolo no-lo assegura18, e ajunta que a morte do nosso Salvador, pregada aos Gentios, lhes parecia uma loucura 19.

E por certo não era nem uma loucura nem uma mentira: era uma verdade de fé, verdade tal que, no dizer de S. Lourenço Justiniano, nos faz ver Deus — que é a própria Sabedoria — tornado como que louco por amor do homem20. Ai! Se Jesus Cristo tivesse querido testemunhar o seu amor a seu eterno Pai, teria podido dar-lhe uma prova mais certa do que morrer crucificado, como morreu por cada um de nós? Vou mais longe: se um dos nossos servos tivesse morrido por nós, poderíamos não o amar? Apesar de tudo, onde está o nosso amor e reconhecimento para com Jesus Cristo? Se ao menos recordássemos muitas vezes o que o nosso divino Redentor fez e sofreu por nós! Dá-se muito gosto a Jesus Cristo, quando se pensa com freqüência na sua paixão. Se uma pessoa tivesse sofrido ultrajes, blasfêmias, cadeias por um amigo, quanto não gostaria que esse amigo se lembras-se dele e pensasse muitas vezes em tais sacrifícios! Desde que uma alma pense muitas vezes na paixão de Jesus Cristo, e no amor que este Deus tão bom nos há testemunhado, é impossível que não se sinta impelida por uma força irresistível a amá-lo: O amor de Jesus Cristo, insta conosco 21, exclama o Apóstolo. Mas, se todos os homens devem arder em amor por Jesus Cristo, dum modo mais especial nós os padres, porque ele morreu especialmente para nos fazer sacerdotes. De fato, como ponderamos no princípio (pág. 24), sem a morte de Jesus Cristo, não teríamos a Vítima santa e sem mancha, que agora oferecemos a Deus. É o que nota com razão Sto.Ambrósio e ajunta: Quem mais recebe, mais deve; demos-lhe portanto o nosso amor em troca do seu sangue22.

Cuidemos de compreender o amor que Jesus Cristo nos mostrou na sua paixão, e desse modo por certo se extinguirá no nosso coração o amor das criaturas. Ó! si scires mysterium crucis! exclamava o apóstolo Sto. André, dirigindo-se ao tirano, que tentava forçá-lo a renegar a Jesus Cristo! Queria dizer: Ó tirano! Se soubesses até onde chegou o amor do teu Deus para te salvar, é certo que, longe de me quereres tentar, te devotarias a amá-lo, para lhe testemunhares o teu reconhecimento, por um tal extremo de amor.Ditosos pois os que sempre têm presentes a seus olhos as chagas de Jesus Cristo! Caminhareis radiantes de alegria, a colher água nas fontes do Salvador23. Ó! que preciosa abundância de luzes e sentimentos de devoção colhem os santos nesses mananciais salutares! Dizia o Pe. Alvarez que a desgraça dos cristãos está em ignorarem os tesouros que temos em Jesus Cristo. Gloriam-se os sábios da sua ciência; o Apóstolo só se gloriava de saber Jesus crucificado24. De que servem todas as ciências quando se não sabe amar a Jesus Cristo? Ainda que eu possuísse todas as ciências, dizia o Apóstolo, se não tivesse caridade, não seria nada25. Noutro lugar escreveu que, para ganhar a Jesus Cristo, olharia como nada todos os outros bens 26. E gloriava-se de estar na prisão27 por amor de Jesus Cristo.

Ó! feliz o padre que, ligado por tão doces cadeias, se dá todo a Jesus Cristo! Mais vale para Deus uma só alma, que se lhe dá por completo, do que cem outras que permanecem imperfeitas. Se um príncipe tivesse cem criados, dos quais noventa e nove o servissem com pouca dedicação e sempre lhe causassem alguns desgostos, ao passo que um só o servisse unicamente por amor, atento em lhe fazer sempre e em tudo a vontade, por certo esse príncipe amaria mais este único servo fiel, do que a todos os outros juntos. São inumeráveis as donzelas; a minha pomba, a minha perfeita é uma só28. A tal ponto ama o Senhor uma alma que o serve perfeitamente, que não a amaria mais, ainda mesmo que não tivesse nenhum outro objeto a amar. Daí este aviso de S. Bernardo: Aprendei de Jesus como deveis amar a Jesus 29.Jesus Cristo deu-se todo a nós desde o seu nascimento: Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho30. Ele próprio se nos deu por amor: Amou-nos a ponto de se entregar por nós31. É portanto justo que também por amor nos demos inteiramente a Jesus Cristo. Deu-se-nos sem reserva este divino Salvador, diz S. João Crisóstomo: Totum tibi dedit, nihil sibi reliquit.Deu-vos o seu sangue, a sua vida, os seus merecimentos; exige a justiça que também vos entregueis a ele sem reserva. Dai-lhe tudo quanto sois, diz S.Bernardo, visto que ele se entregou todo para vos salvar32.

Se esta obrigação porém incumbe a todos os homens, com melhoria de razão aos padres. Por isso S. Francisco de Assis, reconhecendo o dever especial que tem um padre de ser todo de Jesus Cristo, escrevia aos sacerdotes da sua Ordem: Nada retenhais para vós do que é vosso; que Jesus Cristo vos receba por inteiro, como inteiro se deu a vós33. Por todos morreu o Redentor, para que todos vivam, não para si mesmos, mas unicamente para aquele Deus, que por eles deu a sua vida34. Ó! Como não teremos sempre com Deus a mesma linguagem de Sto. Agostinho: Morra eu a mim, para que só vos vivais em mim! Mas, para sermos de Deus por inteiro, é necessário que lhe demos o nosso coração, sem o repartirmos. Ama-vos pouco, dizia ainda Sto. Agostinho, quem ama algum outro objeto e não o ama por vós35.

Não se pode ser todo de Deus, quando se ama alguma coisa que não é Deus, e não se ama por Deus. Anima, exclama S. Bernardo, sola esto, ut soli te serves36. Ó alma resgatada por Jesus Cristo! Não repartas o teu coração pelas criaturas; conserva-te só, desprendida de tudo, para seres toda desse Deus, que é o único que merece todo o amor. — Tal é também o sentido do bem-aventurado Gilles: Una uni. Esta alma única que temos devemos dá-la, não em parte, mas por inteiro, a esse Deus que nos ama mais ele só, e merece ser mais amado, que todas as criaturas juntas.

II - Meios a empregar para ser todo de Deus

1. Desejo da perfeição

O padre que aspira a dar-se todo a Deus, deve começar a conceber um grande desejo da santidade. Os santos desejos são como asas, que alevantam as almas para Deus; Porque o começo da sabedoria é um desejo muito sincero de a possuir37. Conforme o Sábio, o progresso dos justos é como a luz do sol, que desde a manhã vai subindo mais e mais à medida que avança38.A luz dos pecadores, ao contrário, é esse crepúsculo da tarde, que vai decrescendo até de todo se desvanecer, de modo que os desgraçados não vêem mais para onde caminham: É tenebrosa a via dos ímpios, que não sabem onde irão parar39.

Desgraçado pois o que está satisfeito com a sua vida e não procura torná-la melhor! Não adiantar é recuar40, diz Sto. Agostinho. Quem se encontra no meio dum rio, ajunta S. Gregório41, e não se esforça por vencer a corrente, infalivelmente será levado por ela. Daqui a censura que S. Bernardo dirige ao tíbio: Se não queres adiantar, queres então retroceder42. — Não, responde o tíbio: quero permanecer tal qual estou, nem melhor nem pior. — Mas isso é impossível, replica o santo43. Não pode dar-se esse caso, porque o homem nunca permanece no mesmo estado44. Para ganhar o prêmio, isto é, a coroa eterna, é necessário, diz o Apóstolo, não afrouxar o passo até que se consiga atingi-la45. O que cessa de correr perde a coroa e tudo quanto tinha feito.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça46. Com efeito, como a divina Mãe disse no seu Cântico, cumula Deus de graças os que desejam santificar-se: Esurientes implevit bonis. Note-se porém esta expressão: Esuriunt, esurientes; significa ela que para nos santificarmos não basta um simples desejo; requere-se um grande desejo, uma certa fome de santidade.Aquele que tem esta fome ditosa, não caminha, corre na estrada da virtude, diz o Salmista, como a chama da lenha seca47. Quem se santificará pois? Quem quiser santificar-se: Se queres ser perfeito, vai...48 Mas é necessário querer com uma vontade resoluta: o tíbio, no dizer do Sábio, também quer, mas não com uma vontade eficaz; deseja, deseja sempre, e os seus desejos o perdem, porque se contenta com eles, e vai caminhando de mal a pior: O preguiçoso quer e não quer... Os seus próprios desejos o matam49.

A sabedoria, ou a santidade, facilmente se deixa encontrar por quem a procura50. Mas não basta desejá-la para a encontrar; é preciso desejá-la com uma resolução firme de a adquirir: Se a procurais, procurai-a51. Quem deseja a santidade com a resolução de chegar a ela, há-de possuí-la. Diz S. Bernardo que não é com os pés, mas com os desejos do coração que se procura a Deus52. E Sta. Teresa escreveu: “Sejam grandes os nossos pensamentos, que deles nos advirá o bem”. — “Não devemos pôr limites aos nossos desejos; devemos ao contrário esperar que, apoiando-nos em Deus, poderemos com a sua graça chegar pouco a pouco aonde muitos santos chegaram”53.

Abre a boca, nos diz o Salvador, e eu a encherei54. Não pode a mãe alimentar o seu filho, se ele não abrir os lábios para lhe sugar o leite. Abre a boca, isto é, segundo a expressão de Sto. Atanásio: dá largas aos teus desejos. Assim, mediante os bons desejos, alguns santos chegaram em pouco tempo à perfeição: Consumado em pouco tempo, efetuou uma longa carreira 55. Em S. Luís de Gonzaga encontramos um exemplo a propósito: em poucos anos chegou a uma santidade tal, que Sta. Maria Madalena de Pazi, tendo-o visto na glória, lhe parecia, dizia ela, que não havia no Céu nenhum santo, que se avantajasse a Luís em felicidade. Soube ela que esse alto grau de glória lhe fôra devido pelo desejo ardente, que tinha alimentado durante a sua vida, de chegar a amar a Deus tanto quanto ele o merece ser. O desejo, diz S. Lourenço Justiniano, dá forças e adoça a pena56. Por isso acrescentava que desejar vencer é quase ter já vencido57. E Sto. Agostinho exprime assim o mesmo pensamento: Quem ama pouco a santidade, acha o caminho apertado, e não o trilha senão a muito custo; quem ama verdadeiramente, encontra-o largo e percorre-o sem dificuldade58. A largura do caminho pois não está no próprio caminho, mas no coração, isto é, na vontade firme de agradar a Deus: Desde que me dilatastes o coração, caminhei a passos largos na via dos vossos mandamentos59. E Luís de Blois afirma que os santos desejos não são menos agradáveis ao Senhor, que um amor ardente60.

O que não tem desejo de se santificar, peça-o ao menos a Deus, e Deus lho dará. Persuadamo-nos bem de que a santificação não é obra difícil para quem a quer. No mundo é difícil a um súdito conseguir a amizade do seu príncipe, quando a deseja; mas — dizia um cortesão dum imperador, de quem fala Sto. Agostinho — se eu quero a amizade de Deus, esta vontade me basta para me tornar amigo seu61. E S. Bernardo assegura que se não pode ter nenhuma prova mais certa da amizade de Deus e da sua graça, que o desejo duma graça maior, para mais lhe agradar62. E acrescenta que pouco importa o caso de no passado se ter sido pecador; porque Deus não examina o que o homem foi no passado, mas o que quer ser de futuro63.

2. Intenção de agradar a Deus em tudo

Em segundo lugar, o padre que se quer santificar, deve fazer todas as suas ações no intuito de agradar a Deus. Todas as suas palavras, todos os seus pensamentos, todos os seus desejos, todos os seus atos, devem ser apenas um exercício de amor para com Deus. A Esposa dos Cânticos umas vezes se fazia caçadora ou guerreira; outras se aplicava à cultura da vinha ou dos jardins; mas sempre, nesses diversos exercícios, se mostrava amante fiel, porque tudo fazia por amor do seu Esposo. Tal é o modelo do padre: quanto diz, quanto pensa, quanto sofre e opera, ou celebre, ou confesse ou pregue, se assiste aos enfermos, faz oração e se mortifica, faça o que fizer, tudo deve derivar do mesmo princípio, porque deve fazer tudo para agradar a Deus.

Jesus Cristo disse: Se o vosso olhar for simples, todo o vosso corpo será alumiado64. Por olhar, entendem os santos Padres a intenção. Assim, diz Sto.Agostinho, é a intenção que torna boa a obra65. A Samuel fez o Senhor ouvir esta palavra: Vê o homem as coisas quanto ao exterior, mas o Senhor penetra o coração66. Contentam-se os homens, com as obras exteriores que vêm; mas Deus, que vê o coração, não se contenta com a obra, se ela não for praticada com a reta intenção de lhe agradar. Eu vos oferecerei holocaustos cheios de medula, dizia Davi67. As ações feitas, sem uma intenção reta, são vítimas sem substância, que Deus rejeita. Nas oferendas que se lhe apresentam, diz Salviano, não é o valor da coisa que ele aprecia, mas a afeição do coração68. Com razão está escrito do nosso Salvador: Ele fez bem todas as coisas69. De fato, em tudo quanto fez, só procurou o beneplácito de seu eterno Pai, como ele próprio declarou70.

Mas, ai! Poucas obras são plenamente agradáveis a Deus, porque poucas há que nós façamos sem algum desejo da nossa própria glória!71 No dia do juízo, quantos padres dirão a Jesus Cristo: Senhor, não é verdade que em vosso nome profetizamos, em vosso nome expulsamos os demônios, e em vosso nome fizemos muitas coisas prodigiosas!72 Senhor, nós pregamos, celebramos missas, ouvimos confissões, convertemos almas, assistimos a moribundos! — Mas o Senhor lhes dirá: Retirai-vos; nunca vos conheci como ministros meus, porque não foi por mim que trabalhastes; foi antes pela vossa glória, pelo vosso interesse!

Tal a razão por que Jesus Cristo nos adverte que conservemos em segredo as boas obras que fizermos73. Segundo Sto. Agostinho, é para que a vaidade não venha destruir o que temos feito por Deus74. Tem Deus horror ao roubo no holocausto75. Roubo quer aqui dizer a procura da própria glória, ou do interesse nas obras de Deus. Quem ama a Deus verdadeiramente, diz S.Bernardo, merece bem a recompensa, mas não a procura; a recompensa única que ambiciona é agradar a Deus, a quem ama. Numa palavra, ajunta ele, o amor verdadeiro contenta-se com ser amor, com amar, e nada quer76.Por que sinais se poderá reconhecer se um padre obra com intenção reta? — Ei-los:

1.º - Se ama as obras que mais lhe custam e menos brilho têm.
2.º - Se fica em paz, quando os seus projetos fracassam; porque o que trabalha por Deus consegue sempre o seu fim, que é agradar a Deus. Se não se perturba, quando se vê mal sucedido, mostra que só trabalha com os olhos em Deus.
3.º - Se se alegra com o bem que os outros fazem, como se fosse ele mesmo, e vê sem inveja que outros abracem empresas como a sua, desejando que todas sejam para glória de Deus e dizendo com Moisés: Prouvera a Deus que todo o povo fosse composto de profetas77.
O padre que faz tudo por Deus tem dias cheios78. Não acontece o mesmo com os que trabalham por interesse pessoa; desses se diz que nem chegam a meio nos seus dias79. Nesse sentido, segundo Sto. Euquério de Lion, devemos dizer que não temos vivido senão os dias, em que temos renunciado à nossa própria vontade80. Uma pequena lembrança que nos é dada por amizade, dizia Sêneca, penhora-nos mais do que ricos presentes dados por interesse81. Certamente fica o Senhor mais satisfeito com uma pequena obra feita em seu beneplácito, que com todas as ações mais brilhantes efetuadas por gosto próprio. Da pobre viúva que no gazofilácio do templo lançara apenas duas pequenas moedas, disse o Senhor que tinha dado mais que todos os outros82; o que S. Cipriano comenta assim: Considerava o Senhor, não o valor da moeda, mas o amor com que era oferecida83.

Ao ver passar uma dama luxuosamente vestida, começou o abade Pambon a derramar lágrimas; e, perguntado porque chorava, respondeu: “Ai!Quanto mais faz esta mulher para agradar aos homens, do que eu para agradar a Deus!” Lê-se na Vida do Rei S. Luís que em certa ocasião se vira uma mulher, que numa mão levava uma tocha acesa e na outra um vaso cheio de água. Um padre dominicano, que exercia o seu ministério na corte do piedoso monarca, aproximou-se dela e perguntou-lhe o que queria fazer; ela respondeu: “Com o fogo quero queimar o Paraíso, e com a água apagar o inferno, para que Deus seja amado só porque o merece”. Ó! Feliz padre que não procura em tudo senão agradar a Deus! É imitar as almas santas do Paraíso, que, como diz o Doutor angélico, sentem mais alegria da felicidade de Deus, que da sua própria, porque amam mais a Deus do que se amam a si mesmos 84.

3. Paciência nas dores e humilhações

Em terceiro lugar, o padre que se quer santificar, deve estar pronto a sofrer em paz por Deus todos os males desta vida: pobreza, humilhações, doenças e morte. O Apóstolo diz: Glorificai e trazei a Deus no vosso corpo 85.Gilberto comenta assim estas palavras: Quer S. Paulo que tragamos Jesus Cristo de bom grado e com alegria; quem o traz descontente ou com lamentações, não o traz, antes o arrasta como que à força 86. — Não é a receber consolações que uma alma prova a Deus o seu amor; é abraçando os desprezos e as penas. Foi o nosso próprio Salvador que o disse, quando caminhou ao encontro dos soldados, que vinham prendê-lo para o conduzirem à morte: Para que o mundo saiba que amo meu Pai... levantai-vos, vamonos daqui87. Também, a exemplo de Jesus Cristo, iam os santos com alegria ao encontro dos tormentos e da morte. Tendo S. José de Leonissa de sofrer certo dia uma operação muito dolorosa, queriam ligá-lo com cordas, mas ele tomando o seu crucifixo exclamou: “Como! Cordas, cordas!...À! eis os meus laços: o meu Senhor, atravessado de cravos por meu amor, me prende e obriga a suportar todas as penas por seu amor”. Sofreu assim a operação sem se lamentar. Quem poderia, dizia Santa Teresa, considerar o Salvador coberto de chagas, aflito e perseguido, sem aceitar como ele os sofrimentos, ou até desejá-los?88” E S. Bernardo: Para quem ama a Jesus crucificado, nada há mais caro que os desprezos e as penas 89.

O Apóstolo diz — dum modo especial para nós padres — que é pela paciência que devemos fazer-nos reconhecer como verdadeiros ministros de Jesus Cristo: Mostremos que somos ministros de Deus pela nossa paciência nas tribulações, nas necessidades, nas angústias... nos trabalhos90. E Tomás de Kempis faz esta reflexão: No dia do juízo, não teremos que prestar contas do que lemos, mas do que fizemos91. Muitas coisas sabem os homens de ciência, mas não sabem ver quanto a sua falta de paciência os prejudica 92.Que aproveita a ciência sem a caridade. Ainda que eu conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, diz S. Paulo, sem a caridade nada sou. E ajunta: a caridade sofre tudo93. Todo aquele que se quer santificar, deve ser perseguido 94.Foi o que o nosso Salvador declarou: Perseguiram-me a mim, também vos perseguirão a vós95. A vida dos santos, escreveu Sto. Hilário, não podia ser tranqüila; é necessário que seja enredada de contradições e provada pela paciência96. Aflige o Senhor os que admite no número dos seus filhos97.— Aqueles a quem amo, repreendo-os e castigo-os98. E porquê? Porque a prova do amor e da perfeita fidelidade duma alma é a paciência99. A Tobias disse o arcanjo Rafael: Era necessário que fosses provado pela tentação, porque eras agradável a Deus 100.

Que importa, diz Sto. Agostinho, que por vezes soframos o castigo por uma falta que não cometemos? Devemos aceitar essa mortificação, ao menos para expiarmos outras culpas de que somos réus101. Estejamos persuadidos do aviso que nos dá Judith: que se Deus nos castiga neste mundo, não é para nos perder, mas para nos corrigir e preservar do castigo eterno102.Desde que, pelos nossos pecados passados, somos devedores à Justiça divina, importa-nos suportar com paciência as tribulações que nos advierem, e dizer até ao Senhor, com Sto. Agostinho: Queimai, cortai, não me poupeis neste mundo, para me poupardes na eternidade103.

Jó dizia: Se temos recebido das mãos de Deus os bens, porque não havemos de receber os males?104 Falava assim, porque sabia bem que, nos males, isto é, nas tribulações desta vida, levadas com paciência, há muito mais a ganhar, que nas vantagens temporais. Demais, as penas da vida presente, têm de se sofrer ou por vontade ou por força: sofrendo-as com paciência, adquirem-se merecimentos para o Céu; levando-as contra vontade, não se sofre menos e trabalha-se para o inferno. Os mesmos golpes, diz Sto.Agostinho, que servem para fazer bons vasos de glória, reduzem os maus a cinza105. Falando do bom e do mau ladrão, diz o santo Doutor: Unidos no mesmo suplício, estavam separados pelo modo de sofrer106. Ambos sofriam a morte, mas um, aceitando-a com resignação, salvou-se; o outro ao sofrê-la blasfemou e condenou-se. — Na visão que o apóstolo S. João teve da felicidade dos eleitos, viu ele que os que gozavam assim da vista de Deus não vinham do meio das delícias da terra, mas do seio das tribulações: Vieram de grande tribulação... por isso estão diante do trono de Deus107.

4. Conformidade com a vontade de Deus

Enfim, quem deseja santificar-se, só deve querer o que Deus quiser.Todo o nosso bem consiste em nos unirmos à vontade de Deus108. Dizia Sta.Teresa: “O que é preciso procurar no exercício da oração, é conformar a própria vontade com a de Deus; e deve-se estar bem persuadido de que é nisso que consiste a mais alta perfeição”109. Tudo quanto o Senhor pede de nós é que lhe entreguemos o nosso coração, ou a nossa vontade110. E no dizer de Sto. Anselmo, é como que mendigando que Deus nos pede o nosso coração; ainda que repelido, não desiste, redobra de instâncias: “Não sois vós, Deus meu, que tantas vezes bateis à nossa porta, mendigando e dizendo: Meu filho, dá-me o teu coração; e ainda que muitas vezes vo-lo recusemos, sempre voltais de novo!”111

Nenhuma coisa, pois, podemos oferecer a Deus, que lhe seja mais agradável que a nossa vontade, dizendo-lhe com o Apóstolo: Senhor, que quereis que eu faça?112 Daqui este pensamento de Sto. Agostinho: Nada podemos fazer mais agradável a Deus do que dizer-lhe: Tomai posse de nós113. Falando de Davi, disse o Senhor, que tinha encontrado um homem segundo o seu coração. E porquê? Porque Davi estava disposto a fazer por inteiro as divinas vontades114. Cuidemos pois de dizer sempre com Davi: Ensinai-me, Senhor, a fazer em tudo a vossa vontade115. Neste intuito nos devemos oferecer muitas vezes a Deus, repetindo com o Rei-Profeta: O meu coração está preparado, ó Deus, o meu coração está preparado116.

Importa porém observar que o mérito para nós consiste em nos conformarmos com a vontade de Deus, não nas coisas que nos agradam, mas nas que repugnam ao nosso amor próprio; é esta a pedra de toque do nosso amor para com Deus. O venerável João de Ávila dizia: “Um Deus seja louvado!nas contrariedades, vale mais que mil ações de graças, quando as coisas nos sorriem”. Estejamos bem persuadidos, diz Santo Agostinho, de que tudo quanto cá nos acontecer contra a nossa vontade, nos acontece por vontade de Deus117. Tal é o sentido das palavras do Eclesiástico: Os bens e os males, a vida e a morte, a pobreza e a riqueza vem de Deus118. Assim, quando recebemos uma injúria, não quer Deus o pecado de quem no-la faz, mas quer que soframos essa ofensa. Quando pois nos despojam da nossa reputação ou dos nossos bens, devemos dizer com Jó: O Senhor me deu, o Senhor me tirou; fez-se como aprouve ao Senhor; seja bendito o nome do Senhor!119

Quem ama a vontade de Deus, goza duma paz constante, mesmo neste mundo. Ponde a vossa alegria no Senhor, nos diz Davi, e ele satisfará os desejos do vosso coração120. Como o nosso coração foi criado para um bem infinito, nem todas as criaturas juntas, por isso que são finitas e limitadas, poderiam satisfazê-lo. Podemos possuir muitos bens, se não possuirmos a Deus, o nosso coração não se aquietará e sempre desejará mais. Desde que encontra a Deus, encontra tudo, e Deus satisfaz todos os seus desejos. É a palavra do Salvador à Samaritana: Quem beber da água que eu lhe der, não terá mais sede121. E ainda noutro lugar: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados122. Por isso quem ama a Deus, nunca se deixa cair no desalento, aconteça o que acontecer123.

É que o justo sabe que tudo quando acontece é efeito da vontade de Deus. Quando os santos são humilhados, diz Salviano, têm o que desejam: se sofrem a pobreza, alegram-se por serem pobres; só querem o que Deus quer, e assim gozam duma paz inalterável 124. É-nos permitido, nas angústias, pedir ao Senhor que nos livre delas, como o fez Jesus Cristo no jardim das Oliveiras: Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice; mas é necessário ajuntar logo com o divino Mestre: Contudo, não se faça a minha vontade, mas sim a vossa 125.

É certo que Deus quer, é o que há de melhor para nós. A um padre enfermo escrevia o venerável João de Ávila: “Meu amigo, não vos detenhais a pensar no que faríeis em estado de saúde; contentai-vos com estar doente o tempo que aprouver a Deus. Se quereis fazer a vontade de Deus, que vos importa estar de saúde ou doente?”126. É preciso que nos resignemos a tudo, até a ser assaltados de tentações, que nos excitem a ofender a Deus. Pedia o Apóstolo ao Senhor que o livrasse duma multidão de tentações impuras que o atormentavam: Tenho estado entregue aos insultos do demônio da minha carne... em razão disso, por três vezes pedi ao Senhor que me livrasse dele. E que lhe respondeu Deus? A minha graça te basta127. Estejamos certos de que Deus, não só deseja, mas toma cuidado do nosso bem128. Visto pois que tanto se interessa por nós, entreguemo-nos nas suas mãos 129.

E na morte, ó! que felicidade para uma alma encontrar-se então em perfeita conformidade com a vontade de Deus! Quem deseja porém morrer neste ditoso estado, deve primeiro durante a sua vida conformar-se em tudo com a vontade divina. Procuremos pois acostumar-nos à resignação em tudo quanto nos contrariar, e a repetir sempre esta grande palavra dos santos, que Jesus Cristo nos ensinou: Seja feita a vossa vontade! ou a dizer como o nosso Salvador: Seja assim, Pai, visto que assim vos aprouve130. Ofereçamonos também continuamente a Deus, dizendo-lhe com a divina Mãe: Senhor! eis aqui o vosso servo131: disponde de mim e de tudo quanto me pertence como vos aprouver; sou todo vosso. — Santa Teresa oferecia-se a Deus cinqüenta vezes por dia. Digamos-lhe ainda com o Apóstolo: Senhor, que quereis que eu faça? Meu Deus, fazei-me conhecer o que quereis de mim: estou pronto para tudo.

Grandes coisas fizeram os santos, para cumprirem a vontade de Deus: uns refugiaram-se nos desertos, outros encerram-se nos claustros; outros sacrificaram a sua vida no meio dos tormentos. Nós que somos padres e temos maior obrigação de nos sacrificarmos, unamo-nos também à vontade de Deus, para chegarmos à santidade. Não nos desanimemos com as nossas faltas passadas; recordemos as palavras de S. Bernardo acima citadas: “Não examina Deus o que o homem fez no passado, mas o que quer ser de futuro”. Uma vontade firme, com o auxílio de Deus, triunfa de tudo.Oremos sempre: quem pede recebe132. Conseguiremos quando pedirmos pela oração133. Amemos dum modo particular e não cessemos de repetir a oração de Sto. Inácio: Senhor! dai-me o vosso amor e a vossa graça; nada mais desejo134. Mas, este dom do amor divino é necessário que o peçamos continuamente e com instância, como o pedia Sto. Agostinho135 nesta oração: Ouvi-me, ouvi-me, meu Deus, meu Rei, meu Pai, vós que sois a minha honra, a minha salvação, a minha luz, a minha vida! ouvi-me, ouvi-me, ouvi-me. Ao presente só a vós amo, só a vós procuro. Curai e abri os meus olhos. Recebei um escravo que tinha fugido da vossa casa; já bastante servi aos vossos inimigos. Fazei que me torne um puro e perfeito amante da vossa sabedoria.

E quanto pedirmos graças — ajuntarei com S. Bernardo — peçamo-las sempre por intercessão de Maria, que obtém para os seus servos tudo quanto pede a Deus. Procuremos a graça, e procuremo-la por Maria; porque ela encontra o que procura, e não pode sofrer nenhuma recusa 136.
 
Notas:
1. Sacerdos dici potes, esse non potes (Serm. 41).
2. Verus minister altaris, Deo, non sibi, natus est (In Ps. 118. s. 8).
3. Incensum enim Domini et panes Dei sui offerent, et ideo sancti erunt (Levit. 21, 6).
4. Mens consecrata Deo (In Lev. hom. 15).
5. Cui Deus portio est, nihil debet curare, nisi Deum (De Esau. c. 2).
6. Nemo militans Deo, implicat se negotiis secularibus, ut ei placeat, cui se probavit (2. Tim. 2,4).
7. Sequere me, et dimitte mortuos sepelire mortuos suos (Matth. 8, 22).
8. Hic paterni funeris sepultura prohibetur, ut intelligas humana posthabenda divinis (In Luc.c. 9).
9. In terra eorum nihil possidebitis, nec habebitis partem inter eos; ego pars et hereditas tua in medio filiorum Israel (Num. 18, 20).
10. Magna dignatio Domini, si eam, sacerdos cognoscas: quod velit Deus esse pars tua.Quod non habebis, si Deum habeas?
11. Eligant sibi alii partes, quibus fruantur, terrenas et temporales; portio sanctorum, Dominus aeternus est. Bibant alii mortiferas voluptates; portio calicis mei, Dominus est (Enarr. in Ps.15).
12. Si non amavero te, quid amabo? (Medit. 13).
13. Unum est necessarium (Luc. 10, 42).
14. Quid enim mihi est in coelo, et a te quid volui super terram?... Deus cordis mei, et pars mea Deus in aeternum (Ps. 72, 25).
15. Majorem dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis (Jo 15,13).
16. Dicebant excessum ejus, quem completurus erat in Jerusalem (Luc. 9, 31).
17. Quis dignus erat ut Filius Dei mortem pro eo pateretur (De Mensura Cruc. c. 2).
18. Pro omnibus mortuus est Christus (2. Cor. 5, 15).
19. Praedicamus Christum crucifixum, Judaeis quidem scandalum, Gentibus autem stultitiam (1. Cor. 1, 23).
20. Vidimus sapientiam amoris nimietate infatuatam (Serm. de Nat. D.).
21. Charitas enim Christi urget nos (2. Cor. 5, 14).
22. Etsi Christus pro omnibus mortuus est, pro nobis tamen specialiter passus est. — Plus debet, qui plus accepit; reddamus ergo amorem pro sanguinis pretio (In Luc. c. 7).
23. Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris (Is 12, 3).
24. Non enim judicavi me scire aliquid inter vos, nisi Jesum Christum, et hunc cricifixum (1.Cor. 2, 2).
25. Et si... noverim... omnem scientiam, charitatem autem non habuero nihil sum (1. Cor. 13,2).
26. Omnia detrimentum feci, et arbitror ut stercora, ut Christum lucrifaciam (Phil. 3, 8).
27. Ego Paulus, vinctus Christi Jesu (Eph. 3, 1).
28. Adolescentularum non est numerus; una est columba mea, perfecta mea (Cant. 6, 7).
29. Disce a Christo quemadmodum diligas Christum (In Cant. s. 20).
30. Parvulus enim natus est nobis, et filius datus est nobis (Is. 9, 6).
31. Dilexit nos, et tradidit semetipsum pro nobis (Eph. 5, 2).
32. Integrum te da illi, quia ille, ut te salvaret, integrum se tradidit (De Modo bene viv. c. 8).
33. Nihil de vobis retineatis vobis, ut totos vos recipiat, qui se vobis exhibet totum.
34. Pro omnibus mortuus est Christus, ut et qui vivunt, jam non sibi vivant, sed ei qui pro ipsis mortuus est (2. Cor. 5, 15).
35. Moriar mihi, ut tu solus in me vivas! — Minus te amat, qui tecum aliquid amat, quod non propter te amat (Cant. l. 10. c. 29).
36. In Cant. s. 40.
37. Initium enim illius verissima est disciplinae concupiscentiae (Sap. 6,18).
38. Justorum autem semita, quasi lux splendens, procedit et crescit usque ad perfectam diem (Prov. 4, 18).
39. Via impiorum tenebrosa; nesciunt ubi corruant (Prov. 4, 19).
40. Non progredi, reverti est (Ep. 17. E. B. app.).
41. Past. p. 3. c. 1.
42. Non vis proficere; vis ergo deficere.
43. Hoc ergo vis, quod esse non potest (Epist. 254).
44. Nunquam in eodem statu permanet (Job. 14, 2).
45. Sic currite, ut comprehendatis (1. Cor. 9, 24).
46. Beati, qui esuriunt et sitiunt justitiam (Matth. 5, 6).
47. Fulgebunt justi, et, tamquam scintillae in arundineto, discurrent (Sap. 3, 7).
48. Si vis perfectus esse, vade... (Matth. 19, 21).
49. Vult et non vult piger... Desideria occidunt pigrum (Prov. 13, 4. — 21, 25)
50. Invenitur ab his qui quaerunt illam (Sap. 6, 13).
51. Si quaeritis, quaerite (Is. 21, 12).
52. Non pedum passibus, sed desideriis quaeritur Deus (In Cont. s. 84).
53. Vie, ch. 13.
54. Dilata os tuum, et implebo illud (Ps. 80, 11).
55. Consummatus in brevi, explevit tempora multa (Sap. 4, 13).
56. Vires subministrat, poenam exhibet leviorem (De Disc. mon. c. 6).
57. Magna victoriae pars est vincendi desiderium (De Canto Conn. . c. 3).
58. Laboranti augusta via est, amanti lata (In Ps. 30. en. 2).
59. Viam mandatorum tuorum cucurri, cum dilatisti cor meum (Ps. 118, 32).
60. Deus non minus sancto desiderio laetatur, quam si anima amore liquefiat.
61. Amicus Dei, si voluero, ecce nunc fio (Conf. l. 8. c. 6).
62. Nullum omnino praesentiae ejus certius testimonium est, quam desiderium gratiae amplioris (De S. Andr. s. 2).
63. Non attendit Deus quid fecerit homo, sed quid velit esse.
64. Si oculus tuus fuerit simplex, totum corpus tuum lucidum erit (Matth. 6, 22).
65. Bonum opus intentio facit (In Ps. 21, en. 2).
66. Homo enim videt ea quae parent; Dominus autem intuetur cor (1. Reg. 16, 7).
67. Holocausta medullata offeram tibi (Ps. 65, 15).
68. Oblata Deo, non pretio, sed affectu placent (Adv. Avarit. l. 1).
69. Bene omnia fecit (Marc. 7, 37).
70. Non quaero voluntatem meam, sed voluntatem ejus qui misit me (Jo. 5, 30).
71. Rarum est, fidelem animam inveniri, ut nihil ob gloriae cupiditatem faciat (Dial. adv.Luciferianos).
72. Domine, nonne in nomine tuo prophetavimus, et in nomine tuo daemonia ejecimus, et in nomine tuo virtudes multas fecimus? — Nunquam novi vos; discedite a me, qui operamini iniquitatem (Matth. 7, 22).
73. Nesciat sinistra tua quid faciat dextera tua (Matth. 6, 3).
74. Quod facit amor Dei, non corrumpat vanitas (Serm. 63. E. B. app.).
75. Ego Dominus... odio habens rapinam in holocausto (Is. 61, 8).
76. Verus amor praemium non requirit, sed meretur; habet praemium, sed id quod amatur. — Verus amor seipso contentus est (De dil. Deo c. 7).
77. Quis tribuat ut omnis populus prophetet! (Num. 11, 29).
78. Et dies pleni invenientur in eis (Ps. 72, 10).
79. Dolosi non dimidiabunt dies suos (Ps. 54, 24).
80. Illum tantum diem vixisse te computa, in quo voluntates proprias abnegasti (Ad Monach. hom. 9).
81. Magis nos obligat, qui exiguum dedit libenter, quam qui non voluntatem tantum juvandi habuit, sed cupiditatem (De Benefic. l. 1. c. 7).
82. Vidua haec pauper plus omnibus misit (Marc. 12, 43).
83. Considerans, no quantum, sed ex quanto dedisset (De Ope et Eleem.).
84. Anima potius vult ipsum esse beatum, quam seipsam esse beatam (De Beatit. c. 7).
85. Glorificat et portate Deum in corpore vestro (1. Cor. 6, 20).
86. Portari vult a nobis Christum, sed gloriose, non cum taedio, non cum murmure; portari, non trahi; trahenti enim onerosus est Christus (In Cant. s. 17).
87. Ut cognoscat mundus quia diligo Patrem... surgite, eamus hinc (Jo. 14, 31).
88. Vie ch. 26.
89. Grata ignominia crucis ei qui Crucifixo ingratus non est (In Cant. s. 25).
90. Exhibeamus nosmetipsos sicut Dei ministros in multa patientia in tribulationibus, in necessitatibus, in angustiis... in laboribus... (2. Cor. 6, 4).
91. Adveniente die judicii, non quaeretur quid legimus (si mala non legimus), sed quid fecimus (De Imit. l. 1. c. 3).
92. Habentes oculos, non videtis (Jer. 5, 21).
93. Et si... noverim mysteria omnia et omnem scientiam, charitatem autem non habuero, nihil sum. — Charitas... omnia suffert (1. Cor. 13, 2).
94. Et omnes qui pie volunt vivere in Christo Jesu, persecutionem patientur (2. Tim. 3, 12).
95. Si me persecuti sunt, et vos persequentur (Jo. 15, 20).
96. Non otiosa aetas religiosi viri est, neque quietam exigit vitam; impugnatur saepe, et haec sunt quae fidem probant (In Ps. 128).
97. Quem enim diligit Dominus, castigat; flagellat autem omnem filium quem recipit (Hebr. 12,6).
98. Ego, quos amo, arguo et castigo (Apoc. 3, 19).
99. Patientia autem opus perfectum habet (Jac. 1, 4).
100. Quia acceptus eras Deo, necesse fuit ut tentatio probaret te (Tob. 12, 13).
101. Etsi non habemus peccatum quod nobis objicit inimicus, habemus tamen alterum, quod digne in nobis flagelletur (In Ps. 68, s. 1).
102. Ad emendationem, et non ad perditionem nostram, evenisse credamus (Judith 8, 27).
103. Hic ure, hic seca; hic non parcas, ut in aeternum parcas.
104. Si bona suscepimus de manu Dei, mala quare non suscipiamus? (Job 2, 10).
105. Una eademque tunsio, bonos producit ad gloriam, malos redigit in favillam (Serm. 52. E. B. app.).
106. Quos passio jungebat, causa separabat (Epist. 185. E. B.).
107. Hi sunt qui venerunt de tribulatione magna... ideo sunt ante thronum Dei (Apoc. 7, 14).
108. Et vita in voluntate ejus (Ps. 29, 6).
109. Chât, int. d. 2. ch. 1.
110. Praebe, fili mi, cor tuum mihi (Prov. 23, 26).
111. Nonne tu es Deus meus, qui tam crebro pulsas et mendicas ad ostium nostrum, dicens: Praebe, fili mi, cor tuum mihi? — imo, et saepe repulsus, te iterum ingeris! (De Mens. cruc. c.5).
112. Domine, quid me vis facere? (Act. 9, 6).
113. Nihil gratius Deo possumus offerre, quam ut dicamus ei Posside nos (In Ps. 131).
114. Inveni David, filium Jesse, virum secundum cor meum, qui faciet omnes voluntates meas (Act. 13, 22).
115. Doce me facere voluntatem tuam (Ps. 142, 9).
116. Paratum cor meum, Deus, paratum cor meum (Ps. 56, 8).
117. Quidquid accidit contra voluntatem nostram, noveritis non accidere nisi de voluntate Dei (In Ps. 148).
118. Bona et mala, vita et mors, paupertas et honestas, a Deo sunt (Eccli. 11, 14).
119. Dominus dedit, Dominus abstulit; sicut Domino placuit, ita factum est; sit nomen Domini benedictum (Job. 1, 21).
120. Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui (Ps. 36, 1).
121. Qui autem biberit ex aqua quam ego dabo ei, non sitiet in aeternum (Jo. 4, 13).
122. Beati qui esuriunt et sitiunt justitiam, quoniam ipsi saturabuntur (Matth. 5, 6).
123. Non contristabit justum, quidquid ei acciderit (Prov. 12, 21).
124. Humiles sunt, hoc volunt; pauperes sunt, pauperie delectantur; itaque beati dicendi sunt (De Gub. Dei, l. 1).
125. Pater mi, si possibile est, transeat a me calix iste; — Verumtamen, non sicut ego volo, sed sicut tu (Matth. 26, 39).
126. Partie 2. Ep. 54.
127. Datus est mihi stimulus carnis meae... propter quod ter Dominum rogavi, ut discederet a me. — Sufficit tibi gratia mea (2. Cor. 12, 7).
128. Dominus sollicitus est mei (Ps. 39, 18).
129. Omnem sollicitudinem vestram projicientes in eum, quoniam ipsi cura est de vobis (1. Petr. 5, 7).
130. Ita, Pater! quoniam sic fuit placitum ante te (Matth. 11, 26).
131. Ecce ancilla Domini.
132. Omnis enin qui petit, accipit (Matth. 7, 8).
133. Quodcumque volueritis, petetis, et fiet vobis (Jo 15, 7).
134. Amorem tui solum cum gratia tua mihi dones, et dives sum satis.
135. Exaudi, exaudi, exaudi me, Deus meus, Rex meus, Pater meus, Honor meus, Salus mea, Lux mea, Vita mea! exaudi, exaudi, exaudi me. Jam te solum amo, te solum quaero.Sana et aperi oculos meos. Recipe fugitivum tuum; satis inimicis tuis servierim. Jubeas me purum perfectumque amatorem esse sapientiae tuae (Solil. l. 1. c. 1).
136. Quaeramus gratiam, et per Mariam quaeramus; quia, quod quaerit, invenit, et frustrari non potest (De Aquaed).


PDF do livro: www.redemptor.com.br
CONTINUA...

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