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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Tradições católicas, a visitação dos "SEPÚLCROS" na Quinta-Feira Santa.

A minha família mantém a tradição de visitar os Sete Sepulcros mesmo aqui, em Campo Grande/MS, embora seja uma tarefa árdua por óbvias razões. Assim, nos visitamos as sete igrejas para manter esta tradição familiar (e popular) de piedade. Não sei se as indulgências relativas a esta piedade ainda estão em vigor, mas não podemos nos furtar de visitar Nosso Senhor neste dia, para lhe fazer companhia por algum tempo... GdA


Adoração diante do Altar de Reposição

O rito dos ‘Sepulcros’ é um ato de devoção antiquíssimo e teria se afirmado em Roma, em 1500 (em reação à Reforma Protestante), provavelmente com São Felipe Neri. Este ato de devoção consistia na visita a sete igrejas e também a sete sepulcros: sete como os sacramentos, como as dores de Nossa Senhora. Há lugares em que são cinco visitas, como são cinco as Santíssimas Chagas de Nosso Senhor. Contudo, já desde a Idade Média sentiu-se a necessidade de visitar, durante o tríduo pascal, um lugar onde simbolicamente se pudesse encontrar Cristo e velá-lo. Este costume se transformou em ato penitencial, no século XVI, justamente com a visita a sete sepulcros, e chegou até nós, com a peregrinação que é feita na noite da Quinta-Feira Santa, nas diferentes igrejas, para participar assim, com a oração e a contrição, das últimas horas de vida de Cristo. Na Missa da Quinta-feira Santa, in Coena Domini, há o Lava-pés, ou seja, o sacerdote lava os pés a doze pessoas, sempre homens e católicos, que simbolizam os doze Apóstolos aos quais Jesus quis lavar os pés durante a última Ceia. 



A VISITAÇÃO DOS SEPULCROS

Tradições da minha terra


"A Quinta-feira era o dia dos sepulcros, os portais das igrejas eram abertos em sinal de luto. Naquela manhã, ao despertar, minha mãe nos disse, com ar de desolação, que Jesus havia morrido e não devíamos ser alegres até à Ressurreição (...) Na véspera daquele dia, minha mãe me vestiu a roupa de veludo com a gola engomada e me levou com ela a visitar os sepulcros (...) De uma igreja para outra, encontrávamos as Marias, carregadas nos braços por homens em túnica branca, com o rosto coberto por um capuz (...) de perto, os rostos quase transparentes das Nossas Senhoras assustavam, tanto eram verossímeis com os lúcidos olhos voltados para o Céu” (de Domenico Cantatore, em Ritorno al Paese).
Este relato narra uma tradição que vai desaparecendo: a noite da Quinta-Feira Santa é tradicionalmente dedicada à visita aos “Altares da Reposição”, popularmente chamados de ‘Sepulcros’, preparados em todas as igrejas e ornados com pratos de trigo germinado no escuro, flores, velas, tapeçarias que confluem na Eucaristia, reposta aí depois da Missa in Coena Domini.  

Segundo uma arraigada tradição, os fieis têm a obrigação de visitar, na noite da Quinta-feira Santa, de cinco (as chagas de Cristo) a sete (as dores da Beata Virgem Maria) igrejas para adorar a Eucaristia.  


Até 1936, na noite da Quinta-feira Santa, em Ruvo, como em muitos outros municípios do Salento italiano, de cada igreja era levado em procissão um simulacro da Virgem das Dores vestida de negro, que, no silêncio do Centro Histórico, visitava os ‘Sepulcros’ junto a multidões de fieis
[eram fieis de sete igrejas em procissão].  

Os rostos cerúleos das sete Marias eram iluminados por uma pirâmide de círios na base, e as vestes em renda negra se mexiam ao vento, tanto que, como lembra o famosíssimo pintor de Ruvo, “pareciam vivas”.  


O lento peregrinar das Nossas Senhoras de uma igreja a outra concluía-se apenas na manhã da Sexta-Feira Santa, quando, na aurora, estavam todas reunidas na 'Praça Grande' da qual, logo que nascia o sol, se disperdiam velozmente percorrendo as estreitas vielas do Centro Antigo. 

Hoje, depois da supressão deste ritual por parte do Bispo Taccone, permanecem em perene memória as palavras de Cantatore e, sobretudo, as Marias expostas à pública veneração nas diversas igrejas, durante a Semana Santa.

Cada cidade italiana é um pequeno país, com seus próprios costumes, dialetos e tradições. Em minha cidade, Ugento, era um pouco diferente e, de fato, não lembro de todos os ritos e rituais da Semana Santa, afinal eu era uma criança ainda. Mas lembro nitidamente que visitávamos os 'Sepulcros' em família: meus pais, eu e minhas duas irmãs e meu irmão. Nossa pequena procissão seguia de dois em dois, de mãos dadas, começando pelas menores (eu, e minha irmã caçula Rossana), depois os mais velhos (Angela e Carlos José) e, por último, sempre vigilantes, meus pais (Carlo e Deusa d'Amore). Lembro das luzes, do Cristo Morto, do altar-maior vazio, sem panos, nem flores, nem cores; das colunas marmóreas nuas; das imagens cobertas. Em casa, minha mãe cobria os espelhos e também nos alertava para não rirmos alto e não brincarmos na rua, até o sábado de Aleluia... Bom, esta era uma tradição brasileira, importada por minha mãe e da qual não tinhamos as melhores expectativas... Mas sinceramente não lembro se minha mãe 'tirava aleluia' na gente ou ficava na ameça simbólica; afinal, para ela, não havia uma data especial para usar da sã pedagogia do chicote! Que Lei Anti-palmada que nada! Minha mãe fez um ótimo trabalho, e eu sou-lhe eternamente grata e devedora. Como dessas tradições piedosas que nos foram passadas por ela e por meu amado pai. Nosso pequeno cortejo encontrava todo domingo, faça chuva ou faça sol, o Nosso Salvador na Catedral de Nossa Senhora Assunta ao Céu, bem no centro de Ugento. Nos dias mais frios, íamos de carro; o resto do ano a pé mesmo, pois nossa casa era muito próxima: uma reta, um pórtico, virava-se à esquerda e logo em seguida à direita, outra reta e em fim a praça principal, com a estátua de São Vicente ao meio e diante dele a antiguíssima Catedral de Ugento, com suas longas colunas. Dentro era uma festa para os olhos, mais colunas, mármores, altares laterais, altar-mor... pacote completo! Um dia fiquei trancada, sozinha, com poucas velas acesas naquela imensa igreja... Mas esta é outra história... O que lástimo, de fato, é que em minhas pesquisas online sobre a visita aos 'Sepulcros' não achei nada sobre Ugento... Terão, em fim, acabado com esta piedosa tradição?

GdA

Uma das 'Marias' de Ruvo, na Apúlia (Itália)




QUINTA-FEIRA SANTA

Trigo germinado no escuro, durante trinta dias
sobre uma cama de algodão úmido e tufo,
em uma tigela colocada debaixo da cama
A Missa in Coena Domini dá, na tarde da Quinta-Feria Santa, solenemente início ao Tríduo Pascal. Nela se recorda a Última Ceia do Senhor com seus Apóstolos, consumada antes de sua Paixão, na qual instituiu os Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e entregou aos discípulos o Mandamento do Amor (João 13,34), depois de ter lavado e beijado seus pés (Rito do Lava-pé).

Depois da Missa, as Hóstias consagradas são levadas em procissão ao altar adequadamente adornado para a Reposição até o dia seguinte. Aqui se faz a Adoração do SS. Sacramento. Inicia aqui um dos eventos mais sentidos pelos fieis: o da visita aos ‘Sepulcros’.

Antes da reforma conciliar da Semana Santa, a prática da Reposição solene assumia a forma – depois considerada impertinente e abusiva (sic) – justamente do ‘Sepulcro’.

O costume era o de visitar pelo menos sete Sepulcros e, dessa forma, prolongar a meditação sobre a Paixão e Morte do Senhor; a visita aos Sepulcros recebia até indulgência plenária.

Não há como datar, com certeza, a adoção do termo ‘Sepulcro’ para indicar o Altar para a Reposição. Mas é certo que o costume de visitar os ‘Sepulcros’, considerando-os impropriamente o Túmulo de Cristo, já era arraigada nas liturgias populares no período barroco, e não faltam documentos que fazem remontar à Idade Média a representação da Reposição Eucarística como ‘Sepulcro’.

É possível encontrar uma explicação para o uso desse termo no Missal Romano de 1983, que explica como, desde o século XVI, se impõe em Itália, para a Reposição provisória da Quinta-feira Santa, o costume de depor a Eucaristia em uma verdadeira urna, fazendo, inclusive, torná-la o lugar da custódia e não mais o simples Tabernáculo; de qualquer maneira, é sempre um local magnificamente ornado.

A Reposição vai adquirir, assim, aos poucos, um aspecto de sepultura. Mas, de fato, já um Sacramentario do século XI prescrevia que o Corpo do Senhor fosse colocado em reserva (a urna) na Quinta-feira, em memória da sepultura, e fosse consumado pelos fieis na Sexta-feira.

Eis, portanto, o símbolo da Sepultura de Jesus neste dia.



VERBO DE DEUS


Erbu te DDiu

Erbu te DDiu e dde nostru Signore
la cruce auta e bbella, nnu razzu a ncielu e unu a nterra.

'Ncera nu campu te fiuri cu l'angili scinucchiuni
Cristu scinnennu le piache mmustrannu
e San Girolamu scia scriennu.

Cranni e ppiccinni te 33 anni ci nun
sape lu erbu te DDiu se lu fazza mparare
ca allu tempu te lu giudiziu li osa bbisugnare.

Come se ncocchia lu nzurfu cu la pice
e treni e dderlampi ne pote bbruciare
ca poi rispunne Maria intra tanta pice.

Iti figliu ci li pueti perdunare.
Mamma nun li pozzu perdunare ca suntu picculi te tre anni
e mme castimane puru le feste cranni,

ca prima era patrunu te celu e dde 'stà terra
mo mane bbandunatu e mmisu a nguerra

ca prima era patrunu te celu e dde tuttu
mo mane bbandunatu e mmisu a sabburcu.


TRADUÇÃO (minha, portanto desculpem algum erro):


Verbo de Deus

Verbo de Deus e de Nosso Senhor
A Cruz alta e vela, um braço no Céu
Um na Terra

Havia um campo de flores com os anjos de joelhos, 
Cristo descia mostrando as chagas 
E São Jerônimo escrevendo.

Grandes e pequenos de 33 anos, quem não conhece
O Verbo de Deus peça para aprender
que no Dia do Juízo vai precisar.

Como se junta a enxofre com o piche
E trovões e relampagos podem queimar
Que depois responde Maria dentro de tanto piche.

Veja Filho se os pode perdoar.
Mãe, não posso perdoá-los, porque são pequenos de (nem ao menos) três anos
E me blasfemam até nos (dias) das festas grandes,

Que antes Eu era o dono do Céu e desta Terra
Agora me abandonaram e me fizeram guerra,

Que antes Eu era o dono do Céu e de tudo
Agora, me abandonaram e me colocaram no sepulcro.

Pesquisa, tradução e organização: Giulia d'Amore di Ugento