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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Obra de Misericórdia Corporal: Visitar os doentes

A Visita dos Doentes


Pe. John Brucciani
O socorro dos doentes e moribundos conta-se entre as Sete Obras de Misericórdia Corporal. A visita dos doentes é, portanto, particularmente eficaz no domínio da graça. Nosso Senhor, Ele próprio, nos dirá : Eu estive doente, e vós me haveis visitado (Mt. 25,36). Jesus se lembrará de nossa misericórdia e nos estabelecerá no Seu Reino.

Todo o bom cristão deveria portanto ser costumeiro nas visitas aos doentes. O mais frequente é serem os doentes pessoas de idade: uma velha tia, um avô, um membro da Capela tornado entrevado... Infelizmente, certas pessoas negligenciam esta caridade elementar, não por malícia, mas por falta de habilidade. Eis, portanto, alguns conselhos práticos, lançados um pouco desordenadamente sobre o papel.

Antes de tudo, não esqueçamos nunca a dimensão espiritual do empreendimento. O Cristão visita os doentes certamente para os distrair, para os alegrar, para os encorajar; mas igualmente para prepará-los, ainda que de forma longínqua, para a morte. Nós devemos recordar aos sofredores, com delicadeza e doçura, que as enfermidades da velhice oferecem uma ocasião de praticar a renúncia, atitude esta que nós negligenciamos frequentemente durante os anos sãos da nossa vida. As longas horas de solidão oferecem igualmente ocasião de rezar, particularmente o terço. É necessário, efetivamente, recuperar as orações perdidas duma juventude sem dúvida um pouco tíbia. É necessário, igualmente, substituir os monges e monjas, os quais não mais existem, e que, portanto, não oxigenam já a Igreja militante e padecente com a sua piedade discreta e regular.

Tomemos, assim, o hábito de recitar o terço com os nossos doentes, na medida do possível. Tal ministra-lhes um enorme conforto. Se os doentes se manifestam reticentes, não hesitemos em insistir junto deles sobre a necessidade desta oração, e deixemos- lhes um terço. Diante de vós, eles não o recitarão; todavia regressados à sua solidão...
Facultemos-lhes livros de devoção simples e sólidos, proponhamos-lhes de lermos um pouco com eles, discutamos sobre as alegrias dos Céus, da bondade de Deus que parte em busca da ovelha perdida.

Ulteriormente, questionemos os doentes, com tacto e discrição, no que concerne ao seu passado. Toda a gente gosta de contar a sua juventude. É refrescante o reviver as nossas alegrias passadas. Interessemo-nos por suas famílias. Os doentes ficarão, frequentemente, felizes por falarem dos seus filhos, netos etc. Por vezes, estarão mesmo, justificadamente, orgulhosos deles. Estarão os doentes muitas vezes desolados, porque os seus filhos vivem longe da Fé e da Graça. Muitos doentes idosos vivem solitariamente acabrunhados sob este fardo bem pesado, e nós devemos procurar ajudá-los, com um ouvido paciente e atento, com os nossos encorajamentos, com a segurança honesta e real da nossa oração.

Se for necessário, falemos aos doentes do sacerdote, dos Sacramentos: da Confissão, da Comunhão. Frequentemente, os nossos amigos, doentes ou idosos, não ousam solicitar o sacerdote, porque têm medo de incomodar. É necessário explicar-lhes que o sacerdote está lá precisamente para isso, a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, O Qual foi literalmente assoberbado pela multidão de doentes, estropiados e coxos.

Ousemos solicitar aos nossos doentes os seus conselhos e advertências. Mesmo alguém muito diminuído fisicamente pode revelar-se duma sabedoria extraordinária, ou dum pragmatismo fabuloso. Os nossos avós possuem ainda assim uma experiência de vida bem maior do que a nossa. E, fundamentalmente, o nosso gesto pode-lhes revelar "que eles servem ainda para qualquer coisa" - para falar sem rodeios. Efetivamente, o mundo moderno não sabe mais o que fazer com os doentes e os moribundos (a total descristianização tornou a morte uma realidade obscena - daí a cremação), e os nossos veteranos da vida sentem-no. Eles podem sentir-se excluídos, ou "a mais". Demonstremos que, muito pelo contrário, pela sua sabedoria, a sua experiência e a sua piedade, eles de maneira nenhuma se encontram a mais!

Em poucas palavras: Quando das nossas visitas junto dos infelizes e sofredores, mostremos-lhes o quanto são amados, o quanto se tem necessidade das suas orações e do seu apoio, como eles são afortunados em dispor de tempo para prepararem o seu decesso. Invejemos esses doentes, enchamo-los de alegria. Recordemo-nos, QUE NÃO SE DEVE DESPREZAR UM HOMEM NA SUA VELHICE, PORQUE TAMBÉM NÓS ENVELHECEREMOS (Ecl. 8,6).

P. John Brucciani, FSSPX


Fonte: Revista “Semper” – Priorado da FSSPX em Lisboa, Portugal.