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quarta-feira, 10 de março de 2010

As conversações romanas: algumas perspectivas

Dom Bernard Fellay: "não haverá triunfo mariano sem restauração da Igreja e, portanto, da missa com o ensinamento da fé".

As conversações romanas: algumas perspectivas



Monsenhor, obrigado por aceitar responder às nossas perguntas. Qual a diferença entre estas conversações doutrinais e os intercâmbios anteriores que ocorreram durante a vida de Mons. Lefebvre, por exemplo, a propósito das Dubia? 

Anteriormente, os intercâmbios eram, na verdade, informais, exceto em algumas raras ocasiões, como no início do pontificado de João Paulo II. Mons. Lefebvre, enquanto apresentando as principais objeções às novidades — e protestando energicamente contra os escândalos que sacudiam a Igreja —, procurava então um acordo prático: ele pensava que Roma poderia deixá-lo fazer "a experiência da Tradição" concedendo à Fraternidade São Pio X uma regularização canônica antes de qualquer debate de fundo. Após 1988, ele indicou claramente o passo a seguir: conduzir a discussão sobre o terreno doutrinal, sobre a própria essência da crise que faz tanto estrago. Hoje, a Santa Sé nos concedeu, sem contrapartida, estas magníficas conversações doutrinais, de maneira oficial. Elas serão para nós a ocasião de testemunhar a fé e de fazer de nós o eco de 2000 anos de Tradição, sem nos privar de retomar certos estudos, como justamente as Dubia sur la liberté religieuse que, à época, não obtiveram resposta satisfatória. 



Só a Fraternidade obteve estas conversações, sérias e quase solenes. Nenhuma comunidade Ecclesia Dei as obteve. Ao seu parecer, isso é o sinal da pertinência de nossa atitude de resistência e recusa de um compromisso ou de um reconhecimento canônico equívoco, ou antes, é o sinal que as comunidades Ecclesia Dei não têm finalmente maiores coisas que as distingam da linha conciliar? 

É, sem dúvida, o sinal dos dois. 

Poderia nos dar uma lista exata dos temas abordados, Monsenhor? 

Você o encontrará no comunicado de imprensa que seguiu o primeiro encontro, em 26 de outubro passado: "Em particular serão examinadas as questões relativas à noção de Tradição, ao Missal de Paulo VI, à interpretação do Concílio Vaticano II em continuidade com a Tradição doutrinal católica, aos temas da unidade da Igreja e dos princípios católicos do ecumenismo, da relação entre o cristianismo e as religiões não-cristãs e à liberdade religiosa". 

A filosofia moderna e os novos conceitos (testemunho, diálogo, abertura, compromisso, experiência, etc.) estarão na pauta das discussões? 

Todos estes assuntos são subjacentes a muitos dos problemas que tocam a nova eclesiologia, e parece inevitável que sejam levantados por ocasião destas conversações que, recordo, giram em torno do Concílio e de seu aggiornamento. 

É possível observar uma discrição total em torno destas conversações? Não há rumores que já tenham vazado? 

Não de meu conhecimento, a não ser alguns aspectos secundários tocantes à organização geral destas conversações. 

Qual é a razão pela qual o Vaticano e a Fraternidade têm de guardar tão grande discrição em torno das conversações doutrinais? 

É muito importante que o clima das discussões seja calmo e sereno. Vivemos na época da midiatização e da democracia universal em que cada um julga de tudo e dá a sua opinião sobre tudo. As questões de teologia e os desafios são tais que é preferível deixar as coisas acontecer na discrição. Chegado o momento, se necessário, será, todavia, tempo de prestar contas publicamente. 

Diz-se freqüentemente que Roma e a Fraternidade não se compreendem porque não têm a mesma linguagem. Isso é verdadeiro da parte de nossos atuais interlocutores romanos? Como fazer para ter a mesma linguagem? 

É ainda muito cedo para lhe responder. Temos, em todo caso, lidado com mentes brilhantes com as quais deveríamos poder conversar. A formação filosófica tomista é evidentemente a melhor maneira de proceder. 

Os teólogos que Roma escolheu, no seu parecer, representam a corrente geral teológica na Igreja hoje? Ou estão mais próximos de uma tendência específica? A sua linha de pensamento está próxima da de Bento XVI? 

Os nossos interlocutores nos parecem muito fiéis às posições do Papa. Situam-se no que se pode chamar de linha conservadora, a dos partidários de uma leitura mais tradicional possível do Concílio. Eles querem o bem da Igreja, mas ao mesmo tempo salvar o Concílio: aí está toda a quadratura do círculo. 

Os teólogos escolhidos pelo Vaticano são tomistas? O são da maneira tradicional? 

Nós o veremos. Temos, em todo caso, lidado com um dominicano, logo, um grande conhecedor de Santo Tomás de Aquino, mas também com um jesuíta e um membro do Opus Dei.
Nas conversações, quais serão os pontos de referência, além da Revelação, da Escritura e da Tradição? Apenas o magistério anterior ao Vaticano II? Ou o posterior?

O problema se refere ao Vaticano II. É, portanto, à luz Tradição anterior que examinaremos se o magistério pós-conciliar é uma ruptura ou não.

Alguns temem que nossos teólogos, tomados pela atmosfera dos escritórios do Vaticano, baixem a guarda nas suas conversações. O senhor poderia tranquilizá-los?

Nós vamos a Roma para testemunhar a fé, e a atmosfera dos escritórios nos importa bem pouco. Nossos teólogos se reunirão a cada dois ou três meses numa grande sala do Palácio do Santo Ofício, não em escritórios…
No que diz respeito à duração dessas conversações, dada a dificuldade da maior parte dos assuntos que pedem pelo menos um ou dois anos cada um, esta duração poderá ser mais curta que cinco ou dez anos?

Espero que não seja assim… em todo caso, quando se trata com uma pessoa, quem quer que seja, a questão da missa, da liberdade religiosa ou do ecumenismo, não é necessário todo esse tempo para convencê-lo!

O senhor não teme que, no curso dessas discussões, Roma viesse finalmente a responder a nossas objeções (concernentes à liberdade religiosa ou à nova missa) pelo argumento de autoridade: Roma decidiu assim, ela não pode se enganar, etc.?

Pode-se temê-lo, certamente, mas neste caso, isso demonstraria que Roma realmente não tinha a intenção de discutir. Ora, não se pode esquivar do debate sobre o Vaticano II. O recente livro de Mons. Gherardini, teólogo romano reconhecido, o prova bastante. O Vaticano II pode ser discutido; ele deve ser.

Não se pode temer que estas conversações terminem em declarações comuns, nas quais as partes se entendam sobre pontos comuns, mas sem acertar os debates de fundo, algo como a Declaração conjunta com os luteranos sobre a justificação?

Não é questão de declarações comuns.

Suponhamos que um dos teólogos do lado romano, após estas conversações, seja conduzido a se alinhar a esta ou aquela tese tradicional, por exemplo, a julgar a liberdade religiosa como não conforme à Tradição. Que poderia ocorrer em seguida?

O que a Providência quiser. Veremos então o que convirá fazer. Não estamos lá ainda.

Os fiéis rezaram o rosário pelo reconhecimento da missa tradicional e pelo levantamento das excomunhões; atualmente, rezam pela consagração da Rússia pelo Papa.  O senhor tem o sentimento que eles rezam igualmente pelo bom resultado das conversações doutrinais?

Vale a pena rezar por esta intenção, como fizeram as crianças da Cruzada eucarística no mês de janeiro. Do nosso testemunho de fé pode resultar um grande bem para a Igreja… Com efeito, me parece que os objetos destas cruzadas do Rosário são encaixados uns nos outros: não haverá triunfo mariano sem restauração da Igreja e, portanto, da missa com o ensinamento da fé.


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