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domingo, 25 de agosto de 2019

Da Prática da Caridade pelo exemplo e oração


Da Prática da Caridade pelo exemplo e oração


1. O melhor exercício de caridade é ter zelo pelo bem espiritual do próximo. Quanto a alma é superior ao corpo, tanto a caridade que se exerce com a alma do próximo vale mais diante de Deus do que a que se exerce com o corpo. Esta caridade se exerce em primeiro lugar pela correção daqueles que pecam. Quem converte um pecador, salva não só o seu irmão, senão também a si mesmo porque Deus, por essa caridade, lhe perdoará todos os pecados, como escreve São Tiago. 

Pelo contrário, diz Santo Agostinho, que aquele que vê seu próximo se perder, irando-se contra seu irmão ou maltratando-o com injúrias, e deixa de adverti-lo, com seu silêncio torna-se pior do que o outro com suas afrontas.  

Não vos escuseis por falta de capacidade. Para corrigir, vos responde São João Crisóstomo, é mais necessária a caridade do que a sabedoria. Fazei a correção no tempo oportuno com caridade e doçura, e vos saireis bem. Se sois superiora [o texto foi dirigido originalmente à orientação espiritual de religiosas], estais obrigada a fazê-la por ofício; se o não sois, estais obrigada por caridade, sempre que houver esperança de bom resultado.  

Quem visse um cego caminhar para um precipício, não seria cruel se o não avisasse para livrá-lo da morte temporal? Muito mais cruel é quem, podendo livrar sua irmã da morte eterna, por negligência deixa de fazê-lo.  

Quando, pois, julgardes prudentemente que a vossa correção será inútil, procurai, ao menos, advertir secretamente a superiora ou outra que possa remediar o caso. Não insteis em dizer: 'Este não é o meu ofício, não quero ser intrometida'. Esta foi a resposta de Caim, que assim dizia: 'Sou eu, pois, guarda de meu irmão?' Cada um está obrigado a impedir a ruína do próximo, quando pode; pois diz o Sábio: Deus encarregou a cada homem de zelar pelo bem de seu próximo (Ecl 17, 12).

2. São Filipe Nery diz que, quando se trata de socorrer o próximo, principalmente nas suas necessidades espirituais, Deus se compraz de ver-nos, se preciso for, deixar a oração.  


Um dia, Santa Gertrudes desejava entreter-se em rezar, quando tinha que fazer uma obra de caridade; e o Senhor lhe disse: 'Dize-me Gertrudes, que coisa quereis? Quereis que Eu te sirva ou queres me servir?'.  

Dizia São Gregório: 'Se quereis ir ter com Deus, não vos apresenteis sós diante Dele'. O mesmo dizia Santo Agostinho: 'Se amais a Deus, atrai todos os homens ao Seu amor'. 

Se, pois, amais a Nosso Senhor, deveis esforçar-vos para não ser a única a amá-lO, mas procurai arrastar ao Seu amor todas as criaturas, os vossos parentes, as pessoas com quem tratais, e sobretudo as vossas irmãs.  

Ah!, uma santa religiosa pode santificar um convento todo com suas palavras e com seus exemplos, fazendo nesta intenção todos os seus atos de piedade, e induzindo as outras a fazer o mesmo que ela. Com isto, não tenhais escrúpulo de vanglória: essas ações, que nada têm de extraordinário, mas convêm a toda religiosa que se aplica à perfeição, como é obrigada, devem fazer-se também no intuito de dar bom exemplo e atrair mais a Deus as irmãs; pois ensinou Jesus Cristo: 'A vossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam as vossas boas ações e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus (Mt 5, 16). 

Assim comungar frequentemente, mostrar-se piedosa, mortificada, exata na observância das regras, aplicada à oração, para dar bom exemplo às outras, não é ato de vaidade, mas de caridade muito agradável a Deus. 

3. Procurai, portanto, auxiliar a todos, quanto for possível, com palavras, obras, e, sobretudo, com as vossas orações. Todas as esposas de Jesus Cristo devem zelar a Sua honra, como Ele mesmo exigiu de Santa Teresa, quando a constituiu sua esposa. Se uma Esposa de Jesus Cristo não toma a peito os interesses de Sua glória, quem o fará? 

Todos conhecem a promessa feita por Nosso Senhor de ouvir a quem pedir qualquer coisa a Seu Eterno Pai em Seu nome (Jo 16, 23). Muitos doutores, apoiados na autoridade de São Basílio, ensinam que essa promessa vale também para todas as pessoas por quem se pede, contanto que elas não ponham nenhum óbice positivo ao efeito da oração. 

Sendo assim nas orações comuns, nas ações de graças depois da comunhão e nas visitas ao Santíssimo Sacramento, nunca deixeis de recomendar a Deus os pobres pecadores, os infiéis, os hereges e todos os outros que vivem afastados de Deus. 

Ó quanto agrada a Jesus Cristo ser rogado por suas esposas pelos pecadores! Ele mesmo disse um dia à venerável Soror Serafina de Capri: 'Ajuda-Me, filha, a salvar almas com tuas orações'. De modo semelhante, disse um dia a Santa Maria Madalena de Pazzi: 'Vês, Madalena, como os cristãos estão de braços com o demônio? Se os meus eleitos os não livrassem com suas orações, seriam devorados'.  Pelo que a santa assim falava às suas monjas: 'Irmãs, Deus nos separou do mundo não só para que cuidássemos do nosso bem espiritual, senão também para que trabalhássemos pelos pecadores'. Outra vez, lhes dizia: 'Minhas irmãs, nós temos de dar contas por tantas almas perdidas'. 

4. Não vos esqueçais de rezar também pelas Almas do purgatório. A caridade nos aconselha e até nos obriga, como diz um douto autor, a rezar por essas Almas santas que tanto precisam de nossas orações.   

São Tomás ensina que a caridade cristã se estende não só aos vivos, mas também a quantos morreram em estado de graça. Assim como somos obrigados a socorrer o nosso próximo durante a vida, quando tem necessidade do nosso auxílio, assim também devemos socorrer aquelas Almas prisioneiras. As penas que elas padecem, acrescenta o Doutor Angélico, ultrapassam a todas as penas desta vida; e necessitam do nosso adjutório, porque por si mesmas não se podem ajudar. 

Assim o declarou um monge da Ordem de Císter que, aparecendo, depois da morte, ao sacristão do seu mosteiro, lhe disse: 'Socorre-me com tuas orações, porque por mim mesmo nada posso obter'. 

Ora, se todos os fiéis estão obrigados a rezar pelas Almas do purgatório, tanto mais devem socorrê-las com suas orações as religiosas recolhidas por Deus aos mosteiros, que todos são casa de oração. Não deixeis, pois, passar nenhum dia, sem recomendar a Deus em todas as vossas orações às benditas Almas, esposas de Nosso Senhor que pedem o vosso auxílio. Sede generosas com elas, oferecendo-lhes alguns jejuns e outras mortificações. Sobretudo aplicai-lhes as Missas que ouvirdes, pois este é o grande sufrágio por essas santas Almas, que não sabem ser ingratas. Ainda que do fundo do seu cárcere, alcançarão a Deus para vós grandes graças e, quando entrarem no Paraíso, ainda maiores.


"A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo", de Santo Afonso Maria de Ligório.
  

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