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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Segunda-feira Santa - Sto. Afonso Ligório

A SEMANA SANTA DE SANTO AFONSO DE LIGÓRIO: SEGUNDA-FEIRA



Jesus é levado a Pilatos, e a Herodes e posposto a Barrabás

Et vinctum adducerunt eum, et tradiderunt Pontio Pilato pracsidi E preso conduziram e entregaram ao governador Poncio Pilatos” (Math 27,2).

Sumário - Imaginemos ver Jesus Cristo que, em meio de uma multidão de gentalha insolente, é conduzido ao Tribunal de Pilatos, depois ao de Herodes e, afinal, novamente ao de Pilatos. Este, para livrá-lo, apresenta-O ao povo, juntamente com um ladrão e assassino; mas o povo responde: “Seja livre Barrabás, e Jesus seja crucificado”. Ó céus! Todas as vezes que pecamos fizemos o mesmo, pospondo nosso Deus a um vil interesse, a um pouco de fumo, a um vil prazer.

I. Ao amanhecer, os príncipes dos sacerdotes novamente declaram Jesus réu de morte, e depois conduzem-no a Pilatos, afim de que este o condene a morrer crucificado. Pilatos, tendo interrogado diversas vezes, tanto os Judeus como Nosso Salvador, reconhece que Jesus é inocente e que todas as acusações são calúnias. Sai, pois, para fora e declara que não acha em Jesus culpa alguma para condená-lo. Vendo, porém, que os Judeus se empenhavam sumamente em fazê-lo morrer, e ouvindo que Jesus era da Galileia, para tirar-se dos apuros “remisit eum ad Herodem” — “Devolveu-O a Herodes”. 

Herodes ficou muito contente ao ver Jesus levado à sua presença. Esperava ver um dos muitos milagres obrados pelo Senhor e dos quais tinha ouvido falar. Interrogou-O muito, mas Jesus se calou e não lhe deu resposta alguma; castigando assim a vã curiosidade daquele insolente: “At ipse nihil illi respondebat. Ai da alma a qual o Senhor não fala mais”. – Meu Jesus, eu também tinha merecido este castigo, por ter resistido tantas vezes às Vossas misericordiosas inspirações. Mas meu amado Redentor tende piedade de mim e falai-me: “Loquere, Domine, quia audit servus tuusFalai, Senhor, porque o vosso servo escuta”. Dizei-me o que desejais de mim; quero obedecer-Vos e contentar-Vos em tudo.

Herodes, vendo que Jesus não lhe respondia, desprezou-O e tratando-O como a um doido fez escárnio d’Ele mandando-O vestir uma túnica branca, e motejou d’Ele com toda a sua corte, e, assim desprezado e escarnecido, mandou-O de novo a Pilatos. Eis que Jesus, vestido com aquele escárnio, é levado pelas ruas de Jerusalém. — Ó meu desprezado Salvador, faltava-Vos ainda esta injúria, a de ser tratado como doido. Cristãos, vede como o mundo trata a Sabedoria eterna! Feliz de quem se compraz em ser considerado pelo mundo como doido, e não quer saber outra coisa senão a Jesus crucificado, amando os sofrimentos e os desprezos! Perante Deus, terá mais valor um desprezo suportado em paz por amor d’Ele do que mil disciplinas.

II. O povo israelita tinha direito a exigir do governador romano, no grande dia de Páscoa, que deixasse ir livre um dos prisioneiros. Pelo que Pilatos mostrou à massa Jesus e Barrabás, um homem criminoso, dizendo: “Quem vultis dimittam vobis, Barabbam an Iesum? — Qual quereis que vos solte, Barrabás ou Jesus?”. Pilatos esperava que o povo com certeza preferisse Jesus a Barrabás, um celerado, homicida e salteador, que todos devia detestar. Mas o povo, instigado pelos príncipes da Sinagoga, de repente e sem deliberar pede Barrabás. — Pilatos, surpreso e indignado, ao ver um inocente posposto a tão grande malfeitos, diz: “Quid igitur faciam de Iesu?Que farei então de Jesus?” Todos gritam: “Seja crucificado!”. Pergunta outra vez Pilatos: “Mas, que mal fez Ele?” Eles, porém, gritam com mais força: “Seja crucificado!” — “Crucificatus!”.

Assim como Jesus e Barrabás foram apresentados ao povo, assim também se perguntou ao Padre Eterno qual Ele queria que fosse salvo, seu Filho ou o pecador. E o Padre Eterno respondeu: “Morra meu Filho e seja salvo o pecador”. É o que nos afirma o Apóstolo; é o que nos diz Jesus Cristo mesmo: “Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daretTanto amou Deus ao mundo que lhe deu seu Filho Unigênito”. — Mas como é que os homens correspondem a estas supremas finezas do amor?

Ai de mim, meu Senhor! Todas as vezes que cometi o pecado fiz como os Judeus. A mim também se perguntava o que desejava: a Vós ou ao vil prazer; e respondi: “Quero o prazer e pouco se me dá perder o meu Deus”.

É assim que falei então; mas agora estou arrependido de todo o coração, e digo que prefiro a Vossa graça a todos os prazeres e tesouro do mundo. Ó Bem infinito, ó meu Jesus, amo-Vos acima de todos os outros bens; só a Vós quero e nada mais. — Ó Mãe das dores, minha Mãe Maria, impetrai-me a santa perseverança. 



MEDITAÇÃO PARA A TARDE DO MESMO DIA




Jesus preso à coluna e flagelado

Tunc ergo appregendit Pilatus Iesum et flagellavit — Pilatos tomou então a Jesus, e o mandou açoitar” (Io. 19, 1).

Sumário - Contemplemos como os algozes pegam dos açoites e, a um sinal dado, começam a bater por toda a parte em Nosso divino Redentor. Seu Corpo virginal primeiro torna-se roxo; depois começa a correr o sangue, e com tão grande abundância que ficam manchados não só os açoutes, senão também as vestes dos algozes e a própria terra. Pelo que o Senhor ficou transfigurado como um leproso, coberto de chagas desde a cabeça até aos pés. Eis como Jesus quis satisfazer pelos pecados de sensualidade! E nós continuaremos a acariciar esta carne rebelde?

I. Vendo Pilatos que falharam os dois meios empregados para não ter de condenar ao inocente Jesus, isto é, a remessa para Herodes e a apresentação ao lado de Barrabás, toma o alvitre de lhe dar um castigo qualquer e depois mandá-Lo embora. Convoca portanto os Judeus e lhes diz: “Apresentastes-me este homem como um agitador; não acho, porém, nele culpa alguma, nem tampouco a achou Herodes. Todavia, para vos contentar mandarei castigá-lo e depois mandá-lo-ei embora”. Ó Deus, que injustiça clamorosa! Declara-o inocente, e depois manda-o castigar!

Mas, qual é o castigo, ó Pilatos, a que condenas este Inocente? Vais condená-Lo a ser açoitado? A um Inocente infliges uma pena tão cruel e tão vergonhosa? Sim, foi o que se fez. “Tunc ergo apregendit Pilatos Iesum, et flagellavit —Então Pilatos tomou a Jesus e mandou que o açoitassem”. — Minh’alma, contemple como, depois de uma ordem tão injusta, os algozes agarram, furiosos, o Cordeiro mansíssimo e, entre gritos e alaridos, O levam ao Pretório e O prendem à coluna. E Jesus, que faz Jesus? Todo humilde e submisso, aceita por nossos pecados o tormento tão doloroso e ignominioso. Eis como os verdugos já pegam dos açoutes e, ao sinal dado, levantam os braços e começam a bater por toda a parte, na carne sagrada do Senhor. — Ó algozes, estais enganados, o criminoso não é Ele; fui eu que mereci esses castigos.

Ó minha alma, queres ser do mesmo número daqueles que indiferentes contemplam um Deus açoutado? Considera a dor, e mais ainda o amor com que o Teu dulcíssimo Senhor padece por Ti tão grande suplício. — Com certeza, entre os açoutes, Jesus pensava em ti. Se Ele tivesse sofrido por amor de ti um golpe só, já deverias estar abrasado de amor para com Jesus e dizer: “Um Deus quis ser batido por amor de mim!”. Jesus, porém, quis, para satisfação de teus pecados, que Lhe fossem rasgadas e dilaceradas todas as carnes, segundo a profecia de Isaías: “Ipse autem vulneratus est propter iniquitates nostrasEle foi ferido pelas nossas iniquidades”.

II. O Corpo virginal de Jesus primeiro torna-se todo roxo; depois o sangue começa a correr por toda a parte. Ó Céus! Os algozes já Lhe rasgaram a carne toda e, sem piedade, continuam a bater nas feridas e a juntar novas dores. Assim, o mais formoso de todos os homens fica tão desfigurado que impossível é reconhecê-Lo. Em suma, Jesus é reduzido a um estado tão lastimável que parece como que um leproso coberto de chagas desde a cabeça até aos pés: “Et nos putavimus eum quasi leprosum — E nós o julgámos como que um leproso”.

E para que tudo isto? Para me livrar dos suplícios eternos. Desgraçado e infeliz de quem não Vos ama, ó Deus de amor!

Mas, enquanto os algozes o açoutam tão cruelmente, que faz o Nosso amável Salvador? Não fala, não se queixa, não geme; mas paciente oferece tudo a Deus, afim de abrandá-Lo para conosco. “Sicut agnus coram tondente se, sine voce, sic non aperuit os suum — Como um cordeiro diante do que o tosquia, emudeceu, e não abriu a sua boca”.

Ah, meu Jesus, Cordeiro inocente! Os bárbaros algozes Vos tiram já não a lã, mas, sim, a pele e a carne. É esse o batismo de sangue pelo qual suspirastes durante a Vossa vida toda! Eia, minh’alma, lava-te no sangue precioso de que foi embebida aquela terra ditosa. — Meu dulcíssimo Salvador, como poderei duvidar do Vosso amor vendo-Vos todo ferido e dilacerado por meu amor? Cada Chaga é uma prova inegável do afeto que me tendes. Cada ferida pede-me que Vos ame. Uma só gota do Vosso Sangue seria o bastante para a minha salvação, mas Vós quereis derramá-Lo todo, sem reserva, afim de que eu também me dê a Vós sem reserva. Sim, meu Jesus, sem reserva alguma me dou todo a Vós; aceitai-me e ajudai-me a ser-Vos fiel. Fazei-o pelas dores de Vossa e Minha querida Mãe Maria



 


Amanhã, publicamos a meditação da Terça-feira Santa. Acompanhe. 


       

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