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quinta-feira, 18 de abril de 2019

Quinta-feira Santa - Sto. Afonso Ligório

A SEMANA SANTA DE SANTO AFONSO DE LIGÓRIO: QUINTA-FEIRA





O dia do Amor

Sciens Iesus quia venit hora eius, ut transeat ex hoc mundo as Patrem, cum dilexisset suos, qui erant in mundo, in finem dilexit eos - Sabendo Jesus que era hora de passar deste mundo ao Pai, como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Io. 13, I).

Sumário - Embora Jesus Cristo em todo o curso de sua vida mortal nos tivesse amado ardentemente e nos tivesse dado mil provas do Seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos Seus dias, quis dar-nos a prova mais patente, pela instituição do Santíssimo Sacramento. Aí o Senhor Se faz, não só nosso constante companheiro, mas ainda nosso sustento e Se nos dá todo inteiro. Com muita razão, portanto, Santa Maria Magdalena de Pazzi chamava a Quinta-feira Santa o “dia do Amor”.

I. Um pai amoroso nunca patenteia melhor a sua ternura e o seu afeto para com os filhos do que no fim da sua vida, quando os vê em torno ao seu leito, aflitos e com os olhos em pranto, e pensa que em breve deve abandoná-los. Tira do seu coração e põe sobre os seus lábios o resto de sua vida prestes a extinguir-se, abraça aqueles queridos do seu amor, exorta-os a serem sempre bons, imprime-lhes no rosto os mais ternos beijos, e, misturando as suas lágrimas com as dos filhos, lança-lhes a bênção. Depois, manda trazer o que de mais precioso possui e, dando a cada um uma última lembrança: “Tomai”, diz, “e lembrai-vos sempre do amor que vos tenho dedicado”.


Foi exatamente assim que quis fazer conosco Jesus Cristo, verdadeiro Pai da nossa alma e Pai tão amante que na Terra não tem havido nem jamais haverá outro igual. Embora em todo o curso da Sua vida mortal nos tivesse amado com amor ardente, e nos tivesse dado mil provas do Seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos Seus dias, quis dar-nos a prova mais patente, pela instituição do Santíssimo Sacramento. E, por isso, na mesma noite em que devia ser traído, reuniu os Seus Discípulos ao redor de Si, instituiu a Santíssima Eucaristia e disse-lhes, para os consolar de Sua próxima partida: “Filhos meus, vou morrer por vós, para vos mostrar o amor que vos tenho dado. Posto que, escondido debaixo das espécies sacramentais, deixo-vos o meu corpo, a minha alma, a minha divindade, a mim mesmo todo. Numa palavra, não quero nunca estar separado de vós, enquanto estiverdes na terra”: “Ecce ego vobiscum sum, usque ad consummationem saeculi - Eis que estou convosco, até à consumação dos séculos”. - Meu irmão, que tal te parece esta extrema fineza de Jesus Cristo? Não tinha razão Santa Maria Magdalena de Pazzi de chamar a Quinta-Feira Santa o “dia do Amor”?

II. Jesus Cristo não satisfez o Seu amor fazendo-Se nosso constante companheiro; quis ainda fazer-Se nosso sustento, afim de Se unir intimamente à nossa alma, e santificá-la com a Sua presença. E, nesta manhã, qual amante apaixonado, que deseja ser correspondido, de dentro da Hóstia consagrada, onde nos observa sem ser visto, está espreitando todos os que se preparam para alimentar-se com a Sua carne divina, observa em que pensam, o que amam, o que desejam e as ofertas que irão apresentar-Lhe.

Irmão meu, prepara-te para recebê-Lo com as devidas disposições. Aviva a tua fé na Presença Real de Jesus Cristo neste inefável mistério; dilata o teu coração pela confiança, lembrando-te que te pode fazer todo o bem, muito te ama e vem a ti exatamente para te enriquecer com as Suas graças. Humilha-te profundamente diante da Sua divina Majestade, e, lembrando-te que no passado, em vez de amares um Deus tão bom, O tens magoado, voltando-Lhe as costas e desprezando a Sua amizade, pede-Lhe perdão e toma a resolução de que para no futuro antes quererás morrer do que tornar a ofendê-Lo - Mas prepara-te sobretudo para receber Jesus Cristo com amor, e convida-O pelo desejo.

Vinde, ó meu Jesus, vinde depressa e não tardeis. Ó meu único e infinito Bem, meu Tesouro, minha Vida, meu Paraíso, meu Amor, meu Tudo, quisera receber-Vos com aquele amor com que Vos receberam as almas mais santas e mais amantes, com que Vos recebeu Maria Santíssima. Uno a minha comunhão de hoje com as Suas. - Santíssima Virgem e minha Mãe Maria, eis que vou receber o Vosso Filho. Quisera ter o Vosso Coração e o amor com que recebíeis a santa Comunhão. Dai-me hoje o Vosso Jesus, assim como O destes aos pastores e aos santos Magos. Desejo recebê-Lo de Vossas mãos puríssimas. Dizei-Lhe que sou Vosso servo devoto, porque assim me olhará com olhar mais amoroso e me apertará mais estreitamente contra o Seu Coração, quando vier a mim. 



MEDITAÇÃO PARA A TARDE





Quinta Dor de Maria Santíssima - Morte de Jesus

Et erit vita tua quasi pendens ante te - A tua vida estará como suspensa diante de ti” (Deut. 28, 66).

Sumário - Contemplemos a acerba dor de Maria Santíssima no Calvário, obrigada a assistir a Jesus moribundo, a ver todas as penas que Ele padecia, sem contudo Lhe poder dar alívio. Então, a aflita Mãe não cessou de oferecer a vida do Filho à divina Justiça pela nossa salvação. Lembremo-nos que pelo merecimento de Suas dores cooperou para nos fazer nascer para a vida da graça. Por isso todos nós somos Seus filhos. Oh, como a Virgem exerceu sempre e ainda exerce bem o ofício de Mãe! Mas como nos havemos nós como filhos?

I. Fogem as mães da presença dos filhos moribundos; e, se por acaso alguma mãe se vê obrigada a assistir a um filho que está para morrer, procura-lhe todos os alívios que pode dar. Ajeita-lhe a cama, para que esteja em posição mais cômoda; serve-lhe refrescos, e assim a pobre mãe procura mitigar a própria dor. Ah, Mãe, a mais aflita de todas as mães, ó Maria! incumbe-Vos o assistir a Jesus moribundo, mas não Vos é permitido dar-Lhe algum alívio.

Maria ouviu o Filho dizer: “tenho sede”; mas não Lhe foi permitido dar uma gota de agua para Lhe mitigar a sede. Só pôde dizer-Lhe, como contempla São Vicente Ferrer: “Fili, non habeo nisi aquam lacrimarum”. Via que, sobre aquele leito de morte, Jesus, pregado com três cravos de ferro, não achava repouso. Queria abraçá-Lo para Lhe dar alívio, ao menos para O deixar expirar entre Seus braços; mas não podia. Via o pobre Filho, que naquele mar de aflições buscava quem O consolasse, como Ele já tinha predito pela boca do profeta Isaías. Mas quem entre os homens O desejava consolar, se todos eram seus inimigos? Mesmo sobre a Cruz, um O blasfemava e escarnecia de uma maneira, outro de outra, tratando-O como impostor, ladrão, usurpador sacrílego da divindade, digno de mil mortes.

O que mais aumentou a dor de Maria e a Sua compaixão para com o Filho, foi ouvi-Lo sobre a Cruz lamentar-Se de o Eterno Pai também O ter abandonado: “Deus, Deus meus, ut quid dereliquisti me? - Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”. Palavras, como disse a Bem Aventurada Virgem a Santa Brígida, que não puderam nunca mais sair-Lhe da ideia enquanto viveu. De modo que a aflita Mãe via o Seu Jesus atormentado de todas as partes; queria aliviá-Lo, mas não podia. Pobre Mãe!

II. Pasmavam os homens, diz Simão de Cássia, vendo que a divina Mãe guardava o silêncio, sem Se queixar no meio da Sua grande dor. Mas, se Maria guardava o silêncio com a boca, não o guardava com o Coração, porquanto naquelas horas não fazia senão oferecer à Justiça divina a vida do Filho pela nossa salvação. Saibamos, pois, que, pelo mérito de suas dores, Ela cooperou para nos fazer nascer para a vida da graça, e por conseguinte somos filhos das Suas dores: “Mulier, ecce filius tuus - Mulher, eis aí o teu filho”.

Naquele mar de amargura era este o único alívio que então A consolava: o saber que por meio de Suas dores nos conduzia à salvação eterna. - Desde então começou Maria a exercer para conosco o ofício de boa Mãe; pois que, como atesta São Pedro Damião, foi pelas súplicas de Maria que o bom ladrão se converteu e se salvou, querendo a divina Mãe recompensá-lo assim pela delicadeza que outrora Lhe mostrou na viagem ao Egito. E o mesmo ofício de mãe tem a Bem Aventurada Virgem continuado sempre e continua a exercer. Nós, porém, com as nossas obras mostramo-nos deveras Seus dignos filhos?

Ó Mãe, a mais aflita de todas as mães! Morreu enfim Vosso Filho, tão amável e que tanto Vos amava! Chorai; que tendes razão para chorar. Quem jamais poderá consolar-Vos? Só Vos pode consolar o pensamento que Jesus, com a Sua morte venceu o Inferno, abriu o Céu fechado aos homens, e ganhou tantas almas. Do trono da Cruz reinará sobre tantos corações que, vencidos pelo amor, com amor Lhe servirão. Não recuseis, entretanto, ó minha Mãe, que Vos acompanhe a chorar com’Vosco, já que mais que Vós tenho razão de chorar pelas ofensas que tenho feito a Vosso Filho. Ah, Mãe de misericórdia! em primeiro lugar pela morte de meu Redentor, e, depois pelos merecimentos de Vossas dores, espero o perdão e a salvação eterna



 


Amanhã, publicamos a meditação da Sexta-feira Santa. Acompanhe. 


       

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