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terça-feira, 28 de maio de 2013

Sermão sobre a Pureza - parte II

PURA como MARIA
HUMILDE como MARIA

Sermão sobre a Pureza

S. João Maria Vianney

 
Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mat. 5, 8).

I – Quanto a pureza nos torna agradáveis a Deus.

 

II - O amor que os Santos tinham por esta virtude


Todos os Santos fizeram o maior caso dela e preferiram perder seus bens, sua reputação e sua própria vida a descorar esta virtude.


Nós temos um belo exemplo disto na pessoa de Santa Inês. Sua formosura e suas riquezas fizeram com que, à idade de doze anos, ela fosse procurada pelo filho do prefeito da cidade de Roma. Ela lhe fez saber que estava consagrada ao bom Deus. Ela foi presa sob o pretexto de que era cristã, mas em realidade para que consentisse nos desejos do rapaz. Ela estava de tal modo unida a Deus que nem as promessas, nem as ameaças, nem a vista dos carrascos e dos instrumentos expostos diante de si para amedrontá-la, não a fizeram mudar de sentimentos. Não tendo conseguido nada dela, seus perseguidores a carregaram de cadeias, e quiseram colocar uma argola e anéis em seu pescoço e em sua mãos; eles não puderam fazê-lo, tão débeis eram suas pequenas mãos inocentes. Ela permaneceu firme em sua resolução, no meios destes lobos enraivecidos, ela ofereceu seu corpinho aos tormentos com uma coragem que espantou aos carrascos. Arrastam-na aos pés dos ídolos; mas ela confessa bem alto que só reconhece por Deus a Jesus Cristo, e que os ídolos deles não são mais que demônios. O juiz, cruel e bárbaro, vendo que não consegue nada, crê que ela será mais sensível diante da perda daquela pureza que ela estimava tanto. Ele ameaça expô-la num lugar infame; mas ela responde com firmeza; “Vós podeis fazer-me morrer, mas não podereis jamais fazer-me perder este tesouro: o próprio Jesus Cristo é zeloso deste tesouro”. O juiz, morrendo de raiva, manda conduzi-la ao lugar das torpezas infernais. Mas Jesus Cristo, que velava por ela duma maneira particular, inspira um tão grande respeito aos guardas, que eles só a olhavam com uma espécie de pavor, e manda a Seus anjos que a protejam. Os jovens que entram naquele quarto, inflamados de um fogo impuro, vendo um anjo ao lado dela, mais belo que o sol, saem dali abrasados do amor divino. Mas o filho do prefeito, mais perverso e mais corrompido que os outros, penetra no quarto onde estava santa Inês. Sem ter consideração por todas aquelas maravilhas, ele se aproxima dela na esperança de contentar seus desejos impuros; mas o anjo que guarda a jovem mártir fere o libertino que cai morto a seus pés. Rapidamente se espalha em Roma o boato de que o filho do prefeito tinha sido morto por Inês. O pai, enfurecido, vem encontrar a santa e se entrega a tudo o que seu desespero lhe pode inspirar. Ele a chama de fúria do inferno, monstro nascido para a desolação de sua vida, pois tinha feito morrer seu filho. Santa Inês lhe responde tranqüilamente: “É que ele quis fazer-me violência, então o meu anjo lhe deu a morte”. O prefeito, um pouco acalmado, lhe diz: “pois bem, pede a teu Deus para ressuscitá-lo, para que não se diga que foste tu que o mataste”. –“Sem dúvida, diz-lhe a Santa, vós não mereceis esta graça; mas para que saibais que os cristãos nunca se vingam, mas, pelo contrário, eles pagam o mal com o bem, saí daqui, e eu vou pedir ao bom Deus por ele”. Então Inês se põe de joelhos, prostrada com a face em terra. Enquanto ela reza, seu anjo lhe aparece e lhe diz: “Tenha coragem”. No mesmo instante o corpo inanimado retoma a vida. O jovem ressuscitado pelas orações da Santa, se retira da casa, corre pelas ruas de Roma gritando: “Não, não, meus amigos, não há outro Deus que o dos cristãos, todos os deuses que nós adoramos não são mais que demônios que nos enganam e nos arrastam ao inferno”. Entretanto, apesar de um tão grande milagre, não deixaram de a condenar. Então o tenente do prefeito manda que se acenda um grande fogo, e faz lançá-la nele. Mas as chamas entreabrindo-se, não lhe fazem nenhum mal e queimam os idólatras que acudiram para serem espectadores de seus combates. O tenente, vendo que o fogo a respeitava e não lhe fazia nenhum mal, ordena que a firam com um golpe de espada na garganta, afim de lhe tirar a vida; mas o carrasco treme como se ele mesmo estivesse condenado à morte... Como os pais de Santa Inês chorassem a morte de sua filha, ela lhes aparece dizendo-lhes: “Não choreis minha morte, pelo contrário, alegrai-vos de eu Ter adquirido uma tão grande glória no Céu”.



Estais vendo, meus irmãos, o que esta Santa sofreu para não perder sua virgindade. Formai agora idéia da estima em que deveis ter a pureza, e como o bom Deus se compraz em fazer milagres para se mostrar-se seu protetor e guardião. Como este exemplo confundirá um dia estes jovens que fazem tão pouco caso desta bela virtude! Eles jamais conheceram seu preço. O Espírito Santo tem, portanto, razão de exclamar: “Ó, como é bela esta geração casta; sua memória é eterna, e sua glória brilha diante dos homens e dos anjos!” É certo, meus irmãos, que cada um ama seus semelhantes; também os anjos, que são espíritos puros, amam e protegem duma maneira particular as almas que imitam sua pureza.


Nós lemos na Sagrada Escritura que o anjo Rafael, que acompanhou o jovem Tobias, prestou-lhe mil serviços. Preservou-o de ser devorado por um peixe, de ser estrangulado pelo demônio. Se este jovem não tivesse sido casto, é certíssimo que o anjo não o teria acompanhado, nem lhe teria prestado tantos serviços. Com que gozo não se alegra o anjo da guarda que conduz uma alma pura!


Não há outra virtude para conservação da qual Deus faça milagres tão numerosos como os que ele pródiga em favor duma pessoa que conhece o preço da pureza e que se esforça por salvaguardá-la. Vede o que Ele fez por Santa Cecília. Nascida em Roma de pais muito ricos, ela era muito instruída na religião cristã, e seguindo a inspiração de Deus, ela Lhe consagrou sua virgindade. Seus pais, que não o sabiam, prometeram-na em casamento a Valeriano, filho de um senador da Cidade. Era, segundo o mundo, um partido bem considerado. Ela pediu a seus pais o tempo de pensá-lo. Ela passou este tempo no jejum, na oração e nas lágrimas, para obter de Deus a graça de não perder a flor daquela virtude que ela estimava mais que sua vida. O bom Deus lhe respondeu que não temesse nada e que obedecesse a seus pais; pois, não somente não perderia esta virtude, mas ainda obteria... Consentiu, pois, no matrimônio. No dia das núpcias, quando Valeriano se apresentou, ela lhe disse: “Meu caro Valeriano, eu tenho um segredo a lhe comunicar.” Ele lhe respondeu: “Qual é este segredo?” – “Eu consagrei minha virgindade a Deus e jamais homem algum me tocará, pois eu tenho um anjo que vela por minha pureza; se você atenta contra isto, você será ferido de morte”. Valeriano ficou muito surpreso com esta linguagem, porque sendo pagão, não compreendia nada de tudo isto. Ele respondeu: “Mostre-me este anjo que a guarda.” A Santa replicou: “Você não pode vê-lo porque você é pagão. Vá ter com o Papa Urbano, e peça-lhe o batismo, você em seguida verá o meu anjo”. Imediatamente ele parte. Depois de Ter sido batizado pelo Papa, ele volta a encontrar sua esposa. Entrando no seu quarto, vê o anjo velando com Santa Cecília. Ele o acha tão bonito, tão brilhante de glória, que fica encantado e tocado por sua formosura. Não somente permite à sua esposa permanecer consagrada a Deus, mas ele mesmo faz voto de virgindade ... Em breve eles tiveram a alegria de morrerem mártires. Estais vendo como o bom Deus toma cuidado duma pessoa que ama esta incomparável virtude e trabalha por conservá-la?


Nós lemos na vida de Santo Edmundo que, estudando em Paris, ele se encontrou com algumas pessoas que diziam tolices; ele as deixou imediatamente. Esta ação foi tão agradável a Deus, que Ele lhe apareceu sob a forma de um belo menino e o saudou com um ar muito gracioso, dizendo-lhe que com satisfação o tinha visto deixar seus companheiros que mantinham conversas licenciosas; e, para recompensá-lo, prometia que estaria sempre com ele. Além disto, Santo Edmundo teve a grande alegria de conservar sua inocência até a morte. Quando Santa Luzia foi ao túmulo de Santa Águeda para pedir ao Bom Deus, por sua intercessão, a cura de sua mãe, Santa Águeda lhe apareceu e lhe disse que ela podia obter, por si mesma, o que ela pedia, pois que, por sua pureza, ela tinha preparado em seu coração uma habitação muito agradável ao seu Criador. Isto nos mostra que o bom Deus não pode recusar nada a quem tem a alegria de conservar puros seu corpo e sua alma...


Escutai a narração do que aconteceu a Santa Pontamiena que viveu no tempo da perseguição de Maximiano. Esta jovem era escrava dum dissoluto e libertino, que não cessava de a solicitar para o mal. Ela preferiu sofrer todas as sortes de crueldades e de suplícios a consentir nas solicitações de seu senhor infame. Este, vendo que não podia conseguir nada, em seu furor, entregou-a como cristã nas mãos do governador, a quem prometeu uma grande recompensa se a pudesse conquistar. O juiz mandou que a conduzissem ante seu tribunal, e vendo que todas as ameaças não a faziam mudar de sentimentos, fez a Santa sofrer tudo o que a raiva pôde lhe inspirar. Mas o bom Deus concedeu à jovem mártir tanta força que ela parecia ser insensível a todos os tormentos. Aquele juiz iníquo, não podendo vencer sua resistência, faz colocar sobre um fogo bem ardente uma caldeira cheia de pez, e lhe diz: “Veja o que lhe preparam se você não obedece a seu senhor”. A santa jovem responde sem se perturbar: “Eu prefiro sofrer tudo o que vosso furor puder vos inspirar a obedecer aos infames desejos de meu senhor; aliás, eu jamais teria acreditado que um juiz fosse tão injusto de me fazer obedecer aos planos de um senhor dissoluto”. O tirano, irritado por esta resposta, mandou que a lançassem na caldeira. “Ao menos mandai, diz-lhe ela, que eu seja lançada vestida. Vós vereis a força que o Deus que nós adoramos dá aos que sofrem por Ele”. Depois de três horas de suplício, Pontamiena entregou sua bela alma a seu criador, e assim alcançou a dupla palma do martírio e da virgindade.

continua: III - Como esta virtude é pouco conhecida e apreciada no mundo


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VIANNEY, São João Maria. Sermão sobre a Pureza.


visto em: http://osegredodorosario.blogspot.com.br/2012/05/s-joao-maria-vianney-sermao-sobre.html